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Hemoplasmas em felinos silvestres

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2.4 Estudos Epidemiológicos no Mundo

2.4.2 Hemoplasmas em felinos silvestres

Poucos são os relatos sobre a ocorrência de hemoplasmas em felinos silvestres. Haefner et al. (2003) detectaram a variante Ohio de H. felis – M. haemofelis – em dois tigres (Panthera tigris) mantidos em cativeiro nos EUA. No Brasil, um hemoplasma menos patogênico, ‘Candidatus M. haemominutum’, foi encontrado em um leão (P. leo) mantido em cativeiro no jardim zoológico de Curitiba, Paraná (GUIMARÃES et al., 2007).

Um trabalho mais detalhado acerca da ocorrência de M. haemofelis, ‘Candidatus M. haemominutum’ e ‘Candidatus M. turicensis’ em animais silvestres foi realizado por Willi et al. (2007a) através da técnica de PCR em tempo real. Os autores analisaram 257 amostras de felinos silvestres mantidos em cativeiro em diversos países, bem como de uma população selvagem. No Brasil, apenas felídeos mantidos em cativeiro na Fundação Parque Zoológico de São Paulo foram analisados (n=110). Estes animais incluíam dois guepardos (Acinonyx

jubatus), quatro leopardos (P. pardus), cinco leões (P. leo), 11 tigres siberianos (P. tigris altaica), dois leopardos da neve (Uncia uncia), sete gatos-do-mato grandes (Oncifelis geoffroyi), 23 jaguarundis (Herpailurus yaguaroundi), nove gatos-maracajá (Leopardus wiedii), seis jaguatiricas (L. pardalis), 33 gatos-do-mato pequenos (L. tigrinus), cinco gatos-

dos-pampas (O. colocolo), e dois pumas (Puma concolor). Dentre todos esses animais, um gato-maracajá (1/110; 0,9%) apresentou resultado duplamente positivo para M. haemofelis e ‘Candidatus M. haemominutum’, enquanto uma jaguatirica (1/110; 0,9%) teve o DNA dos três hemoplasmas pesquisados encontrado em seu sangue. Nove dos 110 animais (8,2%) tiveram um resultado positivo apenas para ‘Candidatus M. haemominutum’ (um leão, um gato-do-mato grande, três jaguatiricas, três gatos-do-mato pequenos e um puma). Não houve infecções isoladas por M. haemofelis ou ‘Candidatus M. turicensis’. Neste estudo também foram amostrados 35 linces ibéricos (Lynx pardinus) da Espanha, 36 linces da eurásia (Ly.

lynx) da Suíça, 31 gatos selvagens europeus (Felis silvestris silvestris) da França, e 45 leões

(P. leo) provenientes da Tanzânia. Considerando todos os animais usados no estudo, inclusive aqueles com infecções múltiplas, (n=257), ocorrências de 18% (45/257), 32% (83/257) e 20% (51/257) foram encontradas para M. haemofelis, ‘Candidatus M. haemominutum’ e ‘Candidatus M. turicensis, respectivamente. O trabalho também mostrou o elevado número de casos de infecções por hemoplasmas em animais silvestres (n=129), onde 43 animais (33%) foram positivos para M. haemofelis, enquanto 70 (54%) e 49 (39%) obtiveram um resultado PCR-positivo para, respectivamente, ‘Candidatus M. haemominutum’ e ‘Candidatus M. turicensis.

2.4.3 Transmissão

O modo de transmissão dos hemoplasmas felinos permanece nebuloso. Experimentalmente, os hemoplasmas felinos podem ser transmitidos por inoculação intraperitoneal, parenteral e até mesmo por ingestão de sangue contaminado (FLINT; MOSS, 1953; FLINT et al., 1959; HARVEY; GASKIN, 1977).

A disseminação da infecção por meio de artrópodes hematófagos, como pulgas, é considerada por muitos autores como sendo o modo primário de transmissão do parasito (HARVEY, 2006). Em um estudo recente, Shaw et al. (2004) descobriram DNA de hemoplasmas em 40% das pulgas coletadas de cães e gatos no Reino Unido. Este número se

elevou para 49% quando abrangeu apenas a população de pulgas encontradas nos gatos domésticos. Ademais, várias amostras obtidas a partir de indivíduos ou de um pool de pulgas revelaram a presença de DNA de mais de um patógeno, incluindo Bartonella henselae,

Rickettsia felis e hemoplasmas. A participação de Ct. felis na transmissão de hemoplasmas

ainda não foi totalmente elucidada e, de acordo com Lappin et al. (2006), carece de informações, sendo alvo de diversos estudos. A transmissão dos hemoplasmas por meio da pulga Ct. felis foi testada experimentalmente por Woods et al. (2005), sugerindo que a transferência hematófaga de ‘Candidatus M. haemominutum’ e M. haemofelis do animal para o inseto é viável, corroborando inclusive estudo anterior realizado por Lappin et al. (2003), entretanto o caminho inverso não pôde ser comprovado. Subseqüentemente, Woods et al. (2006) sugeriram que a ingestão de Ct. felis infectadas por hemoplasmas não se consiste em um importante meio de transmissão desses parasitos para gatos.

Carrapatos são outros artrópodes suspeitos de transmitirem os hemoplasmas felinos. DNA de ‘Candidatus M. haemominutum’ foi encontrado em carrapatos Ixodes ovatus coletados da vegetação, o que além de sugerir a participação do carrapato como vetor, levanta a possibilidade de haver transmissão transestadial do parasito (TAROURA et al., 2005). Willi et al. (2007b) também encontraram DNA de hemoplasmas em diferentes espécies de artrópodes. Enquanto o DNA de ‘Candidatus M. haemominutum’ foi encontrado em carrapatos do gênero Ixodes e em pulgas Ct. felis, o DNA de ‘Candidatus M. turicensis’ foi achado em carrapatos da espécie Rhipicephalus sanguineus.

Outros estudos apontam para a importância da transmissão direta no ciclo de vida dos hemoplasmas. Dean et al. (2005) encontraram DNA de ‘Candidatus M. haemominutum’ na saliva e em glândulas salivares de gatos domésticos experimentalmente infectados. Abscessos por mordedura parecem ser a alteração mais freqüente reconhecida como precedente da hemoplasmose felina. Apesar dos abscessos serem indubitavelmente estressantes e com isso poderem ser um fator de ativação de uma infecção latente, a possibilidade da transmissão direta do agente através da mordedura deve ser considerada (HARVEY, 2006). Esses resultados estão de acordo com um estudo mais recente, que ao monitorar dois gatos domésticos experimentalmente infectados com ‘Candidatus M. turicensis’ pôde detectar o DNA do referido hemoplasma na saliva e fezes dos animais até nove semanas após a infecção (WILLI et al. 2007b). Esse mesmo estudo sugere, entretanto, que interações agressivas seriam necessárias para a transmissão direta dos hemoplasmas, devido à pequena quantidade de DNA encontrado.

Mycoplasma haemofelis também pode ser transmitido de fêmeas com doença clínica

para sua prole na ausência de um vetor artrópode. Entretanto, é desconhecido se a transmissão ocorreria in utero, durante o parto, ou ainda durante os cuidados da mãe com a sua cria nos momentos seguintes (HARBUTT, 1963; HARVEY; GASKIN, 1977; HARVEY, 2006). A transmissão iatrogênica dos hemoplasmas pode ocorrer também por transfusão de sangue (WILLI et al., 2006b; GARY et al., 2006). Assim, gatos utilizados como doadores de sangue devem ser investigados para a presença de infecções por hemoplasmas, uma vez que os parasitos conseguem sobreviver até por uma hora (M. haemofelis) e uma semana (‘Candidatus M. haemominutum’) em sangue estocado sob refrigeração (GARY et al., 2006).

Hemoplasmas de felídeos selvagens mostraram mais de 97% de identidade na seqüência do gene 16S rRNA quando comparada com isolados da mesma espécie de hemoplasma derivada de gatos domésticos (WILLI et al., 2007a). Este fato pode indicar a possibilidade de transmissão entre felídeos selvagens e domésticos através de artrópodes vetores (WILLI et al., 2007c).

2.5 Diagnóstico

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