• Nenhum resultado encontrado

Prevalência dos Vírus da Imunodeficiência e Leucemia Felina nos Gatos Testados

No documento Download/Open (páginas 53-55)

3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Animais

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 1 Análise Descritiva dos Dados Obtidos

4.2 Prevalência dos Vírus da Imunodeficiência e Leucemia Felina nos Gatos Testados

Dos 149 animais testados 72 apresentaram um resultado positivo para a presença de pelo menos um dos retrovírus pesquisados. Na Tabela 2 estão apresentados os resultados descritivos completos acerca da prevalência de infecções pelos retrovírus testados e intervalos de confiança a 95% nos animais utilizados neste estudo.

Tabela 2. Soroprevalência por ELISA e intervalos de confiança (IC) a 95% para todos os

animais testados (n=149) para a presença de anticorpos contra o Vírus da Imunodeficiência Felina (FIV) e/ou antígenos do Vírus da Leucemia Felina (FeLV) em uma clínica exclusiva no atendimento de gatos domésticos na Cidade do Rio de Janeiro, Brasil, de fevereiro/2005 a fevereiro/2006.

Condição retroviral (ELISA) n/149 (%) IC 95%*

Retrovírus-positivo 72/149 (48,3) [40,0 - 56,7] FIV e FeLV-negativos 77/149 (51,7) [43,4 - 59,9] FIV-positivo 25/149 (16,8) [11,2 - 23,8] FeLV positivo 39/149 (26,2) [19,3 - 34,0] FIV e FeLV-positivos 8/149 (5,4) [2,3 - 10,3] *Intervalos de confiança a 95% exatos para Proporção Binomial

As prevalências encontradas neste estudo são bem mais elevadas do que as descritas na literatura, principalmente em relação aos retrovírus como um todo e ao FeLV. Ao se interpretar resultados de estudos de prevalência, é imperativo que se tenha em mente a população selecionada. Em estudos analisando populações de uma forma geral (incluindo animais sadios e doentes), as taxas de prevalência são reduzidas (COURCHAMP; PONTIER, 1994; LEVY et al., 2006). Estes números caem ainda mais quando se analisam apenas animais assintomáticos, conforme estudo realizado nos EUA, onde a prevalência das infecções por FIV, FeLV e mistas (FIV e FeLV) foi de, respectivamente, 6,8%, 4,0% e 0,5% ao se observarem apenas animais assintomáticos (O`CONNOR et al., 1991). Quando analisados apenas os animais em risco ou com sintomas, as prevalências de infecção para FeLV, FIV ou infecções mistas aumentaram para 21,1%, 11,6% e 2,6%, sendo de 37,7% a prevalência de infecção para ao menos um retrovírus (Ibid). Prevalências de FIV reduzidas em grupos de animais sadios também foram observadas por Yamamoto et al. (1989) e Shelton et al., (1989). Tais fatos corroboram os resultados obtidos por Shelton et al. (1989), Yamamoto et al. (1989) e Courchamp e Pontier, (1994), os quais identificaram uma prevalência mais elevada de FIV em populações levadas a clínicas e hospitais veterinários. Diversos trabalhos, incluindo outras doenças infecciosas, indicam que a prevalência de uma infecção estaria diretamente relacionada ao risco da população selecionada apresentar o agente em questão (O`CONNOR et al., 1991; COURCHAMP; PONTIER, 1994; KEWISH et al., 2004). Souza et al. (2002) identificaram uma ocorrência de positividade para FIV de aproximadamente 20% dentre animais doentes (20/99), enquanto apenas um animal dentre os 27 sadios (3,7%) teve o mesmo resultado. Tais achados justificam o fato de que a prevalência de infecção por FIV e/ou FeLV entre gatos no presente estudo ser consideravelmente maior do que a população geral, visto que, salvas razões profiláticas em uma minoria, os animais aqui utilizados foram testados com base em indicações clínicas. Ademais, podemos sugerir que a prevalência de infecções por retrovírus vem crescendo, principalmente se analisados os animais atendidos na Clínica Veterinária que forneceu as amostras para o presente trabalho. Souza et al. (2002) sugeriram com seus achados um aumento na prevalência da infecção por retrovírus no Brasil. Uma maior eficiência dos métodos de diagnóstico poderia explicar esse aumento, entretanto, devido à elevação da população de gatos domésticos, bem como da densidade populacional dos mesmos, é realmente provável que esses achados reflitam uma nova distribuição dos agentes patogênicos na população de estudo. Levando-se em conta que o presente trabalho utilizou amostras provenientes da mesma Clínica e uma coorte semelhante de animais, encontrando prevalências maiores, principalmente para a presença de FeLV, esta hipótese encontra sustentação. O contrário ocorre nos EUA, onde a prevalência geral de infecções por FeLV vem caindo gradativamente ao longo dos anos, uma vez que a

disponibilidade de testes de diagnóstico permite que medidas profiláticas seja tomadas, como, por exemplo, eliminar animais positivos de uma determinada população ou mesmo impedir que estes sejam introduzidos entre gatos sadios (HARTMANN, 2006). A vacinação contra o FeLV também contribuiu para esta queda, entretanto, estudos epidemiológicos sugerem que as estatégias profiláticas previamente citadas teriam um efeito maior na redução das infecções (ROMATOWSKI; LUBKIN, 1997).

De acordo com o fabricante, o teste de ELISA utilizado para a detecção de anticorpos para FIV e antígeno para FeLV apresenta uma sensibilidade de 97,6% e 100% e uma especificidade de 99,1% e 99,5% para o diagnóstico de FIV e FeLV respectivamente. Entretanto, a confiabilidade dos resultados de um teste de diagnóstico também depende diretamente da prevalência da infecção na população testada (HARTMANN et al., 2001). Uma baixa prevalência do agente em questão pode levar a um valor preditivo positivo (VPP) baixo dos resultados do teste, assim, a probabilidade de que retrovírus estejam realmente infectando os animais quando o resultado do teste fosse positivo seria baixa (HARDY, 1991; JACOBSON, 1991). Em um estudo prévio, o qual havia testado soros de gatos atendidos em uma clínica veterinária exclusiva para o atendimento de felinos na Cidade do Rio de Janeiro, Brasil, observou prevalências de 17,46% e 16,66% para FeLV e FIV em animais com indicação para o teste, respectivamente (SOUZA et al., 2002). Baseado nesses resultados de prevalência, assumindo a sensibilidade e especificidade do teste ELISA conforme previamente determinadas, e utilizando os cálculos sugeridos por Jacobson (1991), uma confiabilidade de um teste positivo foi prevista em 95%. Os fatores que poderiam levar a um resultado falso positivo na técnica de ELISA para anticorpos contra FIV foram provavelmente eliminados nesse trabalho. Anticorpos maternos para FIV em filhotes de até seis meses de idade já foram encontrados e responsabilizados como variáveis de confundimento na interpretação de um teste positivo (RICHARDS, 2003; LEVY et al. 2003). Ainda, a vacinação contra FIV resulta em uma rápida produção de anticorpos em animais vacinados persistindo por pelo menos um ano, induzindo a um resultado falso-positivo no ELISA (LEVY et al., 2004). Entretanto, não havia até o momento da realização do presente trabalho uma vacina para FIV comercializada no Brasil e, além disto, todos os gatos testados FIV-positivos eram adultos, o que eliminaria uma transferência materna de anticorpos. Em relação ao FeLV, pode-se dizer que diversos animais utilizados neste estudo possuíam um histórico de vacinação contra a infecção pelo referido agente patogênico. Entretanto, uma vez que o teste realizado para o diagnóstico de FeLV detecta a presença de um antígeno específico do vírus livre na circulação, não há interferência da vacinação nos resultados do teste ELISA (LEVY et al. 2003).

Apesar de resultados falso-positivos terem sido documentados no teste de ELISA para ambos os retrovírus, a freqüência dessas reações é reduzida quando os testes são realizados de acordo com as instruções do fabricante e boas práticas de laboratório (BARR et al., 1991; LOPEZ; JACOBSON, 1989). Outra causa possível para um teste falso-positivo ocorre pelo uso de sangue total, ao invés de soro ou plasma, conforme já sugerido por Hawks et al. (1991) e Barr, (1996). Todos os testes do presente estudo foram realizados por profissionais capacitados, utilizando-se soro ou plasma como amostra, sendo, portanto pouco provável a ocorrência de resultados falso-positivos.

No documento Download/Open (páginas 53-55)