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DO DESRESPEITO A SUPERIOR E A SÍMBOLO NACIONAL OU A FARDA

9. Heróis afeminados?

Não me defina Não me deprima

Não menospreze o meu poder Não me defina

Viva sua vida e vem sentir o prazer (GA31)

Inicio esse tópico retomando algumas ideias e conceitos importantes discutidos até o momento, para que possamos refletir melhor sobre como a heteronormatividade e a masculinidade são vivenciadas por bombeiros militares gays do CBMMG. Até o momento, o que fiz foi pincelar e destacar breves interseções entre sexualidade e o contexto desses bombeiros. Para prosseguir, não posso deixar de voltar, de maneira breve e sucinta, ao conceito de heteronormatividade e masculinidade que serão guias nessa parte das análises.

Como descrito anteriormente, a heteronormatividade e a masculinidade podem ser entendidas como um conjunto de práticas, crenças e discursos que criam verdades acerca de uma expressão da sexualidade legítima, deslegitimando todas as outras. Assim, ser heteronormativo e másculo é seguir padrões de comportamentos voltados para uma norma heterossexual, não afeminada e de forte virilidade.

Obviamente, a masculinidade e a heteronormatividade são características várias ao longo do tempo e do espaço e a sua construção social que determina o que é visto como “normal” e o que é entendido como “anormal”. Portanto, essa discussão está fortemente amalgamada com a ideia de norma social. As normas e convenções sociais, quando pensadas em termos heteronormativos e de masculinidade hegemônica, no contexto dos bombeiros militares, estão direcionadas a uma série de características entendidas como naturais de um militar: força física, controle emocional, determinação, masculinidade, virilidade, vigor, bravura, heroísmo.

Busquei discutir como a imagem dos bombeiros mineiros foi construída tendo como base um ar de heroísmo, a centralidade da farda na vida desses homens e mulheres e a importância dos vários discursos que rodeiam e sustentam essa imagem. Claramente, essa imagem se associa sempre a sujeitos que se encaixam dentro da norma heterossexual: homens

másculos, fortes e centrados; mulheres determinadas, masculinizadas e com capacidade de autocontrole.

Entretanto, existe uma verdadeira lacuna entre esse imaginário popular e o que, de fato, são os bombeiros no dia a dia. A vida real da corporação de bombeiros é construída, também, por sujeitos diversificados: homens, mulheres, gays, lésbicas, negros, brancos. A diversidade se faz muito presente nesse ambiente, mesmo que, aparentemente, todos pareçam padronizados. Assim, busco nesse tópico mostrar como os mais variados feixes discursivos, práticas e crenças criam regimes de verdade que recaem sobre esses sujeitos considerados desviantes. Até esse ponto, nos capítulos anteriores, muitos discursos e reportagens analisados mostram, intrinsecamente, o peso da heteronormatividade e da masculinidade. Assim, nesse tópico, busco reforçar essa discussão e evidenciar como ela se encontra velada e naturalizada no dia a dia de um bombeiro militar.

Inicio a análise refletindo sobre as “regras” existentes no jogo de reconhecimento/não reconhecimento pautadas em um comportamento másculo e heteronormativo existente na corporação dos bombeiros e na sociedade como um todo. Quero dizer com isso que os reconhecimentos entre os sujeitos passam por um crivo social em que algumas características são entendidas como hierarquicamente superiores e desejáveis e outras inferiores e dignas de silenciamento. Assim é construída e exaltada a imagem do másculo e afeminado, heteronormativo e não heteronormativo.

João: Eu já me senti reduzido por ser gay. Tem momentos que você sente que eles não confiam em você por isso. Porque não existe outro erro comigo, então só pode ser pelo fato de ser gays mesmo. Como eu te disse, as várias transferências que fizeram comigo de setor e de batalhão sempre foram estranhas. Sem explicações, sabe? Eu acho que eles inventam desculpa pra te trocar de setor, pra não deixar você trabalhando no operacional. Agora que estou no administrativo, eu tenho menos problemas, mas é porque a maioria é mulher. E mesmo assim já teve cochichos que eu precisava engrossar a voz pra atender o telefone.

Túlio: Eu tenho a sensação que às vezes meu esforço não é reconhecido. Já teve vários casos que eu falo alguma coisa e ninguém dá ideia. Depois outro bombeiro fala a mesma coisa e todo mundo fica: nossa, muito bom! Quando eu trabalhava no operacional, eu cansei de ouvir que viadinho não podia dirigir, que eu ia bater o carro..

Sabe aquela coisa chata de escola de chamar você de mulherzinha? Fica parecendo que eu não sou capaz de fazer o trabalho e eu passei no concurso igual todo mundo.

Esses discursos deixam claro como os bombeiros se sentem diminuídos e alvos de pouco reconhecimento pelo simples fato de não se adequarem às normas aqui discutidas. O sentimento de sentir-se reduzido por ser gay e que o esforço não é reconhecido é fruto da “incompatibilidade” desses corpos com a norma heterossexual e de masculinidade. Por isso, logo após, o próprio sujeito justifica esse acontecimento ao dizer que “não existe outro erro comigo, então só pode ser pelo fato de ser gays mesmo”. Nessa fala, fica entendido que o próprio entrevistado introjetou a ideia de que ser gay é um erro e, sendo um erro, é um elemento que dificulta a troca de reconhecimento e valorização.

Por meio dessas trocas– ou não– de reconhecimento, pela presença ou ausência de empatia, é que se cria o que Rosa (2007) chama de divisão de quem é “mais” ou “menos” militar. Ser merecedor de reconhecimento profissional passa não necessariamente pelo bom desempenho das tarefas, mas pela avaliação do corpo físico dos sujeitos, de tal forma que a aproximação ou afastamento de uma norma heterossexual e de masculinidade hegemônica cria desníveis de poder e, ao mesmo tempo, de resistência.

João: É claro que a gente (gays) não somos santos, né? (risos) Quantas vezes eu e meus outros colegas gays tentamos combinar de ficarmos juntos no alojamento pra evitar os heteros (risos). Uma coisa que eu costumo fazer também é evitar usar o vestiário quando tá muito cheio. Evitando isso, a gente fica mais em paz. Porque parece que eles acham que, só porque eu sou gay, eu pego qualquer muxiba.

Túlio: Eu faço um tanto de coisa pra me proteger, mas a principal é: sou discreto demais! Pessoal lá sabe pouco da minha vida social, posto pouca coisa em rede social... e tem bombeiro que eu nem aceito no Facebook. É claro que eu queria poder ter amigos no trabalho, não ficar medindo o que eu posto ou não no meu Facebook, mas é a maneira que eu tenho de evitar fofoca.

Vale ressaltar que “ser discreto” é uma forma de resistir e sobreviver dentro da instituição. Não dar pinta e não dar pistas sobre sua sexualidade ou negá-la é uma estratégia usada por alguns bombeiros na tentativa de não ser alvo de rechaços. Assim, como ressaltado mais à frente, estar dentro do armário pode servir como uma armadura. Ainda sobre formas de resistir, é importante lembrar que os bombeiros entrevistados resistem, até mesmo, ao cederem entrevistas. Falar, tornar público, refletir essa situação é uma maneira de resistir e subverter o silêncio que ronda suas vivências e expressões de sexualidade.

Nesse último discurso, a fofoca surge como um mecanismo de cerceamento e controle da sexualidade no CBMMG. A fofoca, segundo Nunes (2018), configura-se como uma técnica de controle e vigilância que causa constrangimentos aos sujeitos, como podemos observar:

Túlio: O mais difícil pra mim é ter que lidar com a fofoca. Porque é uma praga. Eu já sofri muito com isso e agora eu tento não ligar mais. Depois você acostuma. Mas eu já tive vários problemas com isso. Tinha colega de trabalho meu que vivia fazendo fofoca pros superiores, falando que eu tinha um comportamento ruim fora do trabalho. Inventavam histórias ou aumentavam, sabe? Uma vez fui numa boate gay e aí falaram que me viram na boate muito louco, usando drogas. E a verdade é que eu nem bebi (risos). Mas como era uma boate gay, pessoal aumenta muito. Já associam boate gay com droga, loucura.

Amaral: Eu tento ficar atento o tempo todo pra não ser alvo de fofoca. Você não imagina a falazada que é aquele lugar. E é falazada de tudo: dos seus amigos, da sua família, da pessoa que você saiu no final de semana. Eu nem sei como eles conseguem vigiar tanto a vida dos outros. Tem que ter tempo, né? Eu acho que rede social que fode muito com isso. Mas aí a gente tenta não ficar caindo nisso, né? Quando falam uma fofoca comigo, ou me perguntam sobre algo que eu fiz, eu falo: tá te prejudicando?! Fico com ódio.

Assim, esses cuidados e verdadeiros “protocolos” para não serem alvos de fofocas são, também, formas de os bombeiros resistirem. Nesse ponto, podemos perceber o quanto a resistência faz parte da vida de bombeiros gays. A resistência no plano micro é perceptível nas pequenas ações de organização entre esses sujeitos, seja para ocupar um dormitório e não outro, seja por meio do deboche ou ao contar a própria história. O que chama atenção é o nível de organização presente entre eles e o quanto essa organização permite a eles subverterem a ordem.

Túlio: O que eu uso bastante também é o grupo dos viados (risos). A gente tem um grupo só com os bombeiros gays e a gente mantém esse grupo por debaixo dos panos, porque a gente usa pra comentar sobre as coisas que acontecem. Por exemplo, se o vestiário tá vazio, a gente avisa quem quer tomar banho em paz... Ou em qual dormitório não tem a presença de alguns bombeiros chatos “pra caralho”. Acaba que

existem grupos paralelos também, por exemplo tem um que tem bombeiros de outros estados que combinam passeios. É o nosso cantinho, né? Mas tem que ter muito cuidado pro pessoal não ver as conversas, porque isso ia dá um bafafá (risos).

Essas formas de resistências permitem que os sujeitos vivam em um verdadeiro pêndulo: da aproximação, mesmo que forçada, de comportamentos normatizados e do afastamento desses comportamentos que lhes permitem formas criativas de viverem sua sexualidade. Mas essas resistências e formas criativas em grupo de lidarem com os problemas não são recursos usados por todos os gays que estão nos bombeiros, muitos deles se encontram separados e rechaçados dessa “união”.

Mais uma vez esse movimento de reconhecer/não reconhecer o que se encontra dentro da norma se faz presente. Entretanto, agora destaco como a heteronormatividade e masculinidade também são pautas importantes no reconhecimento, ou não, entre os próprios gays. Os achados de Moulin de Souza (2013) são confirmados e reforçados nessa pesquisa no que tange à repulsa e negação da feminilidade. Os sujeitos gays que fogem do padrão hegemônico de masculinidade e heteronormatividade são vistos como inferiores e excluídos por gays que são másculos e heteronormativos.

Edmar: Eu já evitei andar com alguns gays por serem muito mulherzinha. Eu odeio aquele tipo de gay que fica dando gritinho, risadinha. Isso mancha demais o nome, eu acho muita mancada. Então eu prefiro nem ser amigo. Têm um viado lá que eu tive que parar de andar porque ele dava pinta demais, tava queimando o filme. O pessoal percebe e andar com esse tipo de gente prejudica, né?

Edmar: Mesmo eu sendo gay, eu sou um bombeiro bom, porque eu não sou fresco. Eu sou homem mesmo. Eu acho que, se todos os gays que tivessem lá se dessem o respeito, procurassem ficar na sua, as coisas seriam mais fáceis. Porque é claro que os superiores não vão gostar, vão tentar esconder. O que que a gente pode fazer? Manda quem pode e obedece quem tem juízo.

Túlio: Eu reconheço que às vezes sou afeminado, mas eu tento não ser no meu serviço. Acho que o melhor não é esconder, mas tenho pouca opção. Ou você dá a cara a tapa e sofre humilhação ou você entra na onda deles. Eu procuro viver em paz.

Discursos como esses também convergem com os achados de Moura, Nascimento e Barros (2017), que afirmam que ser gay é “tolerável”, o que de fato incomoda as normas é ser afeminado. Existe uma “passabilidade” (no sentido de aceitação, passar despercebido) em relação aos bombeiros gays másculos que os bombeiros afeminados não acessam. O que quero dizer com isso é que os gays

afeminados rompem com a norma heterossexual e de masculinidade hegemônica de maneira mais abrupta e evidente, pois o seu corpo, seus trejeitos, sua maneira de falar e agir são, por si só, uma “afronta” à norma. Por isso são alvos de sanções normalizadoras com maior frequência.

heteronormativos vivenciam menos discriminação. Entretanto, esses sujeitos contam com um certo “privilegio” de não serem notados como afeminados e homossexuais em algumas situações. Esse fato pode ser pensando por três ângulos ou pela mescla deles: 1) os entrevistados, de alguma maneira, internalizaram as normas e recriminam gays afeminados; 2) os entrevistados utilizam o in closeted como mecanismos de resistência; e 3) os entrevistados internalizam os preconceitos e agem de maneira a se protegerem de seus efeitos.

de uma masculinidade hegemônica para classificarem e hierarquizarem seus pares, é possível perceber que esses sujeitos (re)produzem discursos como “odeio afeminados”, “viado escandaloso não dá”, “eu não curto mulherzinha”, falas que apareceram recorrentemente nas entrevistas e que reforçam os estigmas que recaem sobre esses sujeitos. Mesmo assim, conforme Almeida (2002), todos os sujeitos, em menor ou maior grau, afastam-se do “ideal” de masculinidade e heteronormatividade. Assim, os próprios bombeiros gays (re)criam e reforçam verdades que recaem sobre si próprios.

português, no armário, alguns gays utilizam desse recurso como estratégia de resistência e sobrevivência no trabalho e na vida pessoal. Segundo Irigaray e Freitas (2013), alguns sujeitos veem essa estratégia como “ter o melhor de dois mundos” visto que não sofrem preconceito e exercem, mesmo que de forma velada, sua verdadeira sexualidade. Vale lembrar que o mecanismo in closeted, em alguns casos, é utilizado como um modo de evitar os efeitos da pedagogia do insulto (JUNQUEIRA, 2009). Nessa forma de “pedagogia”, os sujeitos são, constantemente, humilhados e rechaçados, causando medo e constrangimento aos bombeiros gays.

Túlio: Eu tento não ser afeminado pra não ficar sendo alvo de chacota o tempo todo. Porque eles não perdoam mesmo. No primeiro batalhão que eu trabalhei, era isso 24 horas por dia. “viadinho pra lá e pra cá”, tinha um tanto de apelido. Então pra também não dar motivos, eu tento ser mais machinho lá.

João: Pra mim, o pior são o que as pessoas ficam falando e o pior de tudo inventando, né? Tem alguns que são mais babacas que não medem as palavras mesmo não. Já fui chamado de gay nojento e descobri que tinha um colega que se referia a mim como chupador de rola. A minha

Dizer isso não é, de maneira alguma, afirmar que homossexuais com comportamentos

Pensando na perspectiva de que os bombeiros gays se baseiam em critérios heteronormativos e

maneira de lidar com isso foi ignorar, por que eu ia fazer o quê? Mas por dentro eu tava muito mal... eu já chegava no serviço querendo sumir.

apelidos e difamações que podem ocorrer contra sujeitos gays e afeminados. Nesse ponto, gostaria de afirmar que “se esconder no armário” não pode ser visto unicamente como um ato de covardia. Estar dentro do armário é, também, resistir e se precaver de consequências piores. No caso dos bombeiros gays, que estão inseridos num ambiente altamente conservador, estar no armário pode se mostrar como a única opção viável de sobrevivência no emprego.

Edmar: Eu acho que, em alguns casos, não é tão necessário falar que é gay e isso dá um impacto muito negativo na nossa vida. E também é preciso pensar com muito cuidado em relação ao trabalho, porque a gente sabe que isso prejudica muito a imagem e as relações no serviço.

práticas consideradas afeminadas ou menos másculas para os colegas gays. Um discurso recorrente ao longo das entrevistas foi a questão da posição sexual que os bombeiros ocupam em seus relacionamentos. Os discursos apresentam forte binarismo entre ser ativo e passivo sexualmente. Nesse discurso, a posição de versatilidade foi muito pouco discutida. Muito dos bombeiros preferes deixar in closeted sua posição sexual.

Túlio: Entre os gays lá do bombeiro ninguém assume que é passivo jamais (risos). Mesmo a gente sabendo que alguns são, entre a gente ninguém assume. É quase um paraíso lá (risos). Só tem ativo.

João: Eu não gosto muito de revelar isso. Isso é muito íntimo. Mas algumas vezes falamos disso e o pessoal acha que quem é ativo nem é gay. O complicado é ser passivo, porque eles têm a ideia de que, quem é passivo, é mais gay, é mulherzinha. Mal sabem eles que todo mundo é gay mesmo (risos).

ideia de ser “menos homem”, indicando, de maneira pejorativa, uma posição inferior da feminilidade e de gays que parecem “mulherzinhas”. Assim, ser visto como uma mulher pode acarretar, para bombeiros Assim, é possível dizer que a maneira de resistir in closeted é uma forma de escapatória de insultos,

A estratégia de resistência in closeted se desdobra em outras estratégias, como não revelar algumas

gays, uma comparação que fere a masculinidade. É como se ser mulher, ou ser feminino, fosse algo depreciativo. Aproveito essa observação para reafirmar os achados de Capelle (2006) sobre o trabalho das mulheres em instituições militares e instigar pesquisadores a se debruçar sobre a recente presença de mulheres no CBMMG.

importante na instituição e, também, para os bombeiros gays. Os bombeiros gays sinalizam que existe uma comparação entre os bombeiros gays e as mulheres. Como evidenciado anteriormente, o discurso oficial do CBMMG em relação à entrada das mulheres é que elas passaram por um criterioso processo seletivo em que foi preciso provar que são capazes de realizar os serviços com a mesma destreza do que os homens. Assim, a entrada das mulheres foi vista como duvidosa. E ainda é comum encontrar discursos nesse sentido:

Túlio: Eu tenho um pouco de pena das mulheres também, porque elas também sofrem um pouco. Não tem moral com o pessoal. O tempo todo a gente ouve piadas, brincadeiras. O pessoal duvida da capacidade delas no operacional, fala que elas são fracas. Eu acho que com o tempo isso melhora, porque ainda têm poucas mulheres.

Amaral: Eu acho que as mulheres sofrem, mas os gays mais. Porque o pessoal acha que mulher não é tão capaz, mas é algo da natureza. E gay? Aí o pessoal acha que é corpo mole, que a gente escolheu ser assim.

Edmar: O pessoal zoa muito as mulheres lá. Elas são conhecidas como “Fem” de feminino, né? Aí tem brincadeiras entre a gente, quando alguém não consegue fazer algo, perguntam se estamos querendo ir pra turma das fem. Mas tudo é mais brincadeira mesmo, ninguém quer ofender ninguém.

Na mesma direção de Rosa (2007), é possível perceber, no caso do CBMMG, que as mulheres ainda sofrem discriminação e lidam com situações machistas nos ambientes militares. O segundo discurso nos traz a discussão de uma possível equiparação entre homens gays e mulheres. Não é possível equiparar o sofrimento e as experiências de sujeitos diferentes; o que é possível dizer é que mulheres e homens afeminados têm como ponto em comum a feminilidade como alvo de discriminação no CBMMG.

Essa hierarquização e desnível de poder, para além dos discursos dos bombeiros, são ancorados por outros discursos. Como discutido na parte teórica, não existem discursos que não se referenciam a outros e todos os discursos possuem uma remanência em si (FOUCAULT, 1988). A questão do não reconhecimento de bombeiros não másculos, por vezes, parece retrógrada, mas é atual. No concurso da Polícia Militar do Paraná (PMPR), no ano de 2018, foi pedido em edital público como elemento classificatório que os sujeitos apresentassem “masculinidade”.

Um concurso da Polícia Militar (PM) do Paraná com 16 vagas para cadetes, que abre inscrições nesta segunda-feira (13), tem a “masculinidade” como um dos 72 critérios da avaliação psicológica, que vai analisar se os candidatos possuem o perfil pré- estabelecido para o cargo.

Podem concorrer às vagas homens e mulheres, com idade até 30 anos. No entanto, o número de vagas preenchidas por mulheres não pode ultrapassar 50% do total, em respeito à Lei Estadual nº 14.804/2005.

Em nota, a PM afirmou que foi dada, por parte de alguns setores da sociedade, uma interpretação equivocada ao critério “masculinidade” e que o objetivo é “avaliar a estabilidade emocional e a capacidade de enfrentamento, aspectos estes extremamente necessários para o dia a dia da atividade policial militar”.

O critério masculinidade é descrito no anexo II do edital como “capacidade de o indivíduo em não se impressionar com cenas violentas, suportar vulgaridades, não emocionar-se facilmente, tampouco demonstrar interesse em histórias românticas e de

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