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HERDEIROS IMPERIAIS E A QUEDA DO REGIME

3.1 HERDEIROS E TENDÊNCIAS

O título deste tópico pode parecer de interesse do conjunto monárquista, no entanto, é necessário compreender que a definição do herdeiro do trono de d. Pedro II, por certo, influenciará na escolha e aceitação por parte da Casa da consorte, o que       

30  Realizou‐se,  em  1893,  a  união  entre  a  infanta  Maria  Ana  de  Bragança  com  o  grã‐duque  de  Luxemburgo, Guilherme IV de Nassau. 

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 O duque Carlos Teodoro da Baviera  contraiu núpcias  em 1873 com a infanta Maria José de Bragança. 

32  Em  1877,  o  infante  Miguel  de  Bragança  se  casou  com  a  princesa  Elisabeth  de  Thrun‐Taxis,  filha  da  duquesa Helena da Baviera, irmã do duque Carlos Teodoro da Baviera. 

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 Junção entre a Casa do consorte da rainha Fernando de Saxe‐Coburgo‐Gotha com a Casa da própria  Maria II que era a de Bragança, produzindo assim a Casa portuguesa de Saxe‐Coburgo e Bragança. 

determinará de modo substancial, as relações familiares da Casa imperial brasileira. Neste cenário ainda configura, uma quebra da descendência varonil, o que já ocorrera em Portugal em 158135 sendo o ramo brasileiro o próximo a sofrer tal quebra. No caso português houve modificação da lógica de matrimônios, e no caso brasileiro haverá? Esta é a questão fundamental que deve ser compreendida quando se coloca qual Casa sairá vencedora, a latina Orléans e Bragança, ou a germânica tal qual o exemplo português, a Saxe-Coburgo e Bragança.

O casamento da Princesa Imperial do Brasil com o conde d’Eu se realizou na capela imperial da cidade do Rio de Janeiro no dia 15 de Outubro de 1864, estes necessariamente deveriam residir no Brasil, embora não os tenha sido limitado o numero de visitas ou o tempo de estadia fora do país.

Por sua vez, o casamento da Princesa do Brasil com o príncipe de Saxe-Coburgo-Gotha teve lugar na mesma capela imperial da cidade do Rio de Janeiro, no dia 15 de dezembro de 1864.

Em carta após a realização do matrimonio destinada a princesa Clementina de Orléans, a então imperatriz do México, Charlote de Saxe-Coburgo-Gotha, por nascimento princesa da Bélgica, faz a seguinte consideração reveladora.

(...) as minhas felicitações pelo casamento de Gusty que parece ter-se realizado sob os melhores auspícios. Eu teria gostado que tivester-se casado com a mais velha, mas seu coração atirou para a segunda, o que é um elogio de ter sacrificado, pelo amor, uma coroa e uma grande posição (...) aqui estamos muito satisfeitos pela nossa posição que nos interessa cada dia mais.

(BRAGANÇA, 2012, p.174)

A carta de Charlote deixa claro o projeto que era compartilhado pelos Saxe-Coburgo-Gotha, isto é, a conquista e ampliação de tronos sob sua égide dinasta e que com o Brasil não seria diferente. É possível ainda atentar ao entrelaçamento do segundo grupo [sob proteção dos estados alemães] que se tornar mandatário em reinos que denominei do terceiro grupo, o inglês, no trono da própria Inglaterra e da Bélgica, bem como do primeiro grupo [os latinos] com os tronos de Portugal, México [ex-colônia da Espanha e, portanto, sub-ramo latino] e a tentativa do brasileiro. No entanto, apesar de tais manobras dinásticas, é necessário considerar que a conquista de tais tronos, em grande parte, se deve à proximidade familiar existente e entrelaçadora entre estes, à       

exceção do trono do México, conquistado por um Habsburgo, que tinha por esposa uma Saxe-Coburgo-Gotha.

Em dezembro de 1864, mesmo ano do casamento das princesas, o Paraguai invadira a então província brasileira de Mato Grosso e aprisionara a embarcação que levava o presidente da Província. A despeito dessas questões, a princesa Imperial e seu consorte receberam autorização para deixar o país, e partiram em janeiro de 1865 para a Europa, tendo como justificativa a necessidade de Gastão apresentar sua esposa à família.

A princesa de Joinville, tia do casal, havia escrito ao irmão, o imperador Pedro II, tentando fazê-los desistir de visitar Claremont: “Pense bem no que fazem permitindo a Isabel, princesa do Brasil, visitar este país, aonde não pode vir incógnita e ainda ser mal recebida [...] insista, então, para a visita ser adiada”36.

Essa fora a primeira vez que a princesa imperial havia deixado o país em sua primeira parada no exterior, visto que sua embarcação fizera escala em Salvador e Recife, onde o casal foi calorosamente recebido pela população, dirigindo-se a Portugal, a fim de conhecer o tio Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha e seus primos, os infantes de Portugal e a princesa Amélia de Leuchtenberg, grande articuladora de seu casamento. Em seguida, partiram para a Inglaterra, onde desembarcaram em fevereiro, atendendo aos pedidos de Nemours que tinha pressa na chegada do casal à Inglaterra.

Embora a viagem de Gastão e Isabel não tivesse sido um evento diplomático, ao mundo europeu era impossível recebê-la tão somente como condessa d’Eu, título que passaria a utilizar mais tarde, após o golpe republicano no Brasil, ou como a princesa esposa de Gastão de Orléans. A viagem não era oficial, mas era impossível separar Isabel da sua condição de herdeira do império brasileiro e esposa de um Orléans. O segundo fator impediu que ela conhecesse a França, sob o governo de Napoleão Bonaparte, que mantinha o decreto de exílio da família Orléans, bem como a expropriação de seus antigos bens e propriedades que se encontrassem em território francês. Cumpre acrescentar que o primeiro fator causou um incomodo muito maior que o segundo.

Aqui importa um parêntese para lembrar que, desde 1848, quando a família real francesa deixou o país, foi acolhida por S. M.37 a rainha Victória da Inglaterra, entronada em 1837 e feita esposa de um príncipe de Saxe-Coburgo-Gotha, em 1848,       

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 DEL PRIORE, 2013 p.79. 

família à qual sua própria mãe pertencia. As relações entre ambas as famílias, Orléans e Saxe-Coburgo-Gotha, que foram exploradas no capítulo anterior, são claras, o que garante à família exilada proteção e tutela da soberana britânica, em sua propriedade Claremont House, posteriormente batizada pelos Orléans de Palácio Claremont, situado em Esher, cidade nos arredores de Londres, onde inclusive residiam o sogro de Isabel, o duque de Neumours e seus cunhados Fernando, duque d`Aleçon, Margarida e Branca de Orléans.

A Princesa Imperial do Brasil não foi recebida oficialmente pela Rainha da Inglaterra, visto que as relações diplomáticas entre os países estavam rompidas, desde 1863, por iniciativa do governo brasileiro, por causa da chamada questão Christie. Isabel e o conde d`Eu, foram recebidos pela rainha Vitória “in private” por ser esta nora da prima-irmã da rainha inglessa, a princesa Vitória de Saxe-Coburgo-Kohary, mãe do conde d`Eu38.

Incognitos da visita de Isabel a rainha Vitória, a imprensa brasileira imerça no cenário da guerra do Paraguai, passa a bombardear a viagem da princesa imperial e seu esposo à Europa.

Choviam artigos criticando o casal. Vir à Europa e não ser recebida nas duas maiores Cortes – da Inglaterra e da França? Aceitar ir a um país cujo ministro maltratava o Império? [E não ser recebida por Sua Majestade a Rainha, sendo ainda ignorada por esta] Deplorável. (DEL PRIORE, 2013, p. 74)

Neste contexto, se indicam dois fatores. O primeiro deles, possivelmente, o início de uma relação tensa e problemática entre o casal herdeiro do império com as elites39, a imprensa e as classes médias, que, com o lento avanço da indústria no país, começava a surgir com algum relevo, como indica e defende a autora Mary Del Priore.

Porém, a primeira estadia dos condes d’Eu na Europa não se prolongaria, pois em maio Gastão passou a receber cartas do Presidente do Conselho de Ministros e do próprio imperador, solicitando o retorno dos príncipes imperiais, em decorrência do agravamento da situação da guerra com o Paraguai.

Antes do retorno, os príncipes foram recebidos na corte vienense, uma das principais cortes da Europa, onde reinava o primo-irmão de seu pai, Francisco José I de       

38 Segundo a fala do próprio duque de Nemours em carta ao filho Aleçon. DEL PRIORE, 2013, p.80. 

39  Em  linhas  gerais  um  dos  interesses  da  elite  surgente  no  Brasil  era  a  sua  incersão  no  modelo  de  civilização  europeu.  A  princesa  herdeira  do  império  não  ser  recebida  nas  principais  cortes  da  Europa,  causara  relevante  macula  na  sua  imagem,  tendo  como  agravante  o  país  estar  em  guerra  durante  sua  ausência. 

Habsburgo, irmão do imperador do México, amigo próximo de seu cunhado Augusto de Saxe [Gusty]. Mas a princesa revelou em carta ao pai “Já estou farta de tantos príncipes que não me interessam (...) jantares sobre jantares, visitas sobre visitas”40. A princesa demonstrava não estar ambientada ao cenário de corte, sendo reconhecidamente a corte dos Habsburgo uma das maiores e mais agitadas da Europa nos séculos XVIII e XIX, situação esta bem oposta à enfrentada por sua avó, a imperatriz Leopoldina, arquiduquesa da Áustria, que, pela ausência de atividades e ambiente de corte nos trópicos, entre outras questões, mergulhara em profunda melancolia e estado depressivo,

chegando uma viajante descrever sua inconformidade ao ser recebida pela princesa41

com os cabelos desgrenhados, algo inadmissível a uma Habsburgo.

A herdeira do trono imperial do Brasil, não se demonstrava fortemente interessada nos assuntos relevantes para a sua própria Casa dinástica, dando vários sinais entre eles o que nos interessa de que, a escolha dos consortes de seus herdeiros, seguiria a lógica ou direcionamento da Casa de seu esposo [Orléans] e não o da Casa do Brasil. Em alguma medida este comportamento era desejável as mulheres. No entanto, Isabel era a princesa herdeira de um império que buscava se inserir dignamente no jogo das monarquias europeias, não aceitando impunimente, a ascenção de um representante estrangeiro [conde d`Eu] aos interesses nacionais, em uma espécia de trauma pelo período da colonial e julgo português, e mera possibilidade de ver tal cenário presente novamente, ainda que ressignificado, causava certa repulsa a político e parte da elite nacional.

De volta ao Brasil, Isabel se juntou à mãe e à irmã, na Quinta da Boa Vista, ou no “mosteiro de São Cristovão” como preferia chamar ironicamente a princesa Leopoldina á residência de seus pais, visto que Gastão fora encontrar o sogro [d. Pedro II] e o primo [Augusto de Saxe] que já estavam no sul do Império.

As três mulheres - a Imperatriz, a princesa imperial e a princesa do Brasil - permaneceram no Palácio de São Cristovão enquanto seus esposos estavam no sul. No entanto, a princesa Leopoldina já estava grávida do primeiro filho do casal de Saxe, menos de um ano após o matrimônio.

Com o retorno dos cônjuges, ambos os casais se instalaram em suas respectivas residências, contudo tanto Gastão quanto Augusto manifestaram em cartas o desejo de fixar residência em local onde pudessem afastar as esposas do contato excessivo e

       40  DEL PRIORE, 2013, p.82  41  A Imperatriz do Brasil e Arquiduquesa da Áustria, Maria Leopoldina de Habsburgo, primeira esposa de  d. Pedro I do Brasil e IV de Portugal. 

influência, da madame de Barral, segundo palavras de Augusto, e da imperatriz nas considerações de Gastão42.

No contexto dinástico, a felicidade doméstica se estendia aos filhos e, nesse ano, o casal de Saxe (Leopoldina e Augusto) já tinham dois filhos do sexo masculino, Pedro Augusto, que nascera em 1866, e Augusto Leopoldo, em 1867, sendo a princesa imperial madrinha de Pedro Augusto, a qual acompanhou de perto a gravidez da irmã.

No mundo ocidental do século XIX, o destino da mulher era gerar e criar filhos. Conforme a opinião prevalecente, as qualidades que a tornam inferior ao homem eram exatamente as mesmas que a habilitavam a ser mãe. A pior coisa que podia acontecer a uma mulher era ficar ‘solteirona’ e não ser mãe. (BARMAN, 2005 p.168)

A responsabilidade em gerar filhos estava vinculada a uma espécie de função social feminina, de muita responsabilidade, sobretudo em Casas dinásticas, pois seu insucesso significaria a inexistência sucessória da família, portanto, a perda do poder político, econômico, assim como do prestigio. No caso de Isabel, além de desempenhar o papel de esposa e o desejável papel de mãe, ainda era esperada a realização a contento do papel de princesa imperial e herdeira do Império, havendo esse misto no que se referia à condição de herdeira do trono, mulher e mãe. Os dois ultimos papéis, a desqualificavam, para os padrões brasileiros da época, a exercer o de líder da monarquia brasileira.

A princesa Isabel engravidou pela primeira vez apenas nove anos após a realização de seu matrimônio, tendo realizado diversos tratamentos terapêuticos e médicos no Brasil e na Europa, que pareciam não ter surtido efeito antes de 1874 quando a princesa deu à luz a uma menina natimorta. Por outro lado, sua irmã, a princesa Leopoldina, entre os anos de 1866 e 1870, tivera quatro filhos do sexo masculino, o que garantia a sucessão do trono brasileiro, não aos Orléans, mas sim, aos Saxe-Coburgo.

      

42  Em  1867  o  Saxe‐Coburgo  parece  não  ter  tido  dificuldades  para  mobiliar  a  casa,  pois  há  muitas  correspondências  nas  quais  Augusto  pedia  à  mãe,  a  princesa  Clementina  de  Orléans,  que  enviasse  móveis e objetos, bem diferente do casal Orléans, que estivera  na Europa e comprara  apenas algumas  poucas  coisas  de  uma  única  vez,  devido  à  situação  financeira  difícil.  A  avó  materna  de  Augusto,  a  princesa de Kohary era milionária, tendo herdado os duques de Saxe (pai de Augusto e o rei Fernando II  de  Portugal)  boa  parte  dessa  fortuna, diferentemente  dos  Orléans,  que  viviam  exilados,  acolhidos em  Claremont e com seus bens bloqueados na França. 

O contrato nupcial entre a princesa Leopoldina e o duque de Saxe fixavam algumas questões relevantes nesse sentido, contidas nos artigos 4 e 5.

Art. 4º Em quanto no entender de Sua Magestade O Imperador a Sucessão de Sua Alteza Imperial a Senhora Princeza Dona Izabel, Herdeira Presumptiva da Corôa do Brasil, não estiver bem firmada, Sua Alteza o Senhor Príncipe Luis Augusto Maria Eudes de Coburgo e Gotha, Duque de Saxe, obriga-se a trazer ao Brasil Sua Augusta Esposa, para que ahi tenha logar o nascimento de Seus Augustos Filhos.

Art. 5º Alem do convencionado no artigo precedente, Sua Alteza o Senhor Príncipe Luis Augusto Maria Eudes de Coburgo e Gotha, Duque de Saxe, obriga-se a residir periodicamente no Brasil com Sua Alteza A Senhora Princeza Dona Leopoldina Thereza, Francisca, Carolina, Michaela, Gabriela, Raphaela Gonzaga, Sua Futura Esposa. 43

Os referidos artigos do contrato nupcial impõem exatamente as mesmas questões que foram expostas no contrato de casamento entre a princesa Januária e o conde d`Áquila, uma vez que esta era a herdeira de seu irmão, o imperador, que ainda não tinha filhos.

Com o nascimento do primogênito do duque de Saxe, dois meses depois, S.M.I44 concedeu permissão para que o casal deixasse o país com destino à Europa, principalmente para apresentar o pequeno Pedro Augusto aos familiares. Nessa curta viagem que terminaria menos de um ano depois, a princesa Leopoldina fixou residência com sua sogra, a princesa Clementina de Orléans, no palácio Coburgo, construção de 1840, localizada no centro de uma das principais cortes europeias, a corte de Viena.

Os padrinhos do primogênito do casal Saxe eram, evidentemente, o casal Orléans, herdeiros do trono brasileiro. Na tradição católica, os padrinhos desempenhavam o papel de segundos pais do afilhado, e este papel que fora conferido a Isabel e Gastão poderia ser interpretado por duas perspectivas.

Na primeira perspectiva, deve-se considerar a profunda amizade existente entre as irmãs Isabel e Leopoldina, que se verifica por meio das correspondências trocadas por ambas, bem como o fato de seus cônjuges serem primos irmãos, duas vezes, embora       

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 Artigos extraídos da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, volume 243, abril‐junho de  1953,  p.80 e 81. 

o que possuísse maior relevância no cenário nobiliárquico - o conde d`Eu por ser um príncipe de sangue da França - não era detentor de fortuna, diferentemente do esposo de

Leopoldina (duque de Saxe), que detinha prestígio nobiliárquico em ascensão45 e,

portanto, não tradicional, além de grande fortuna. Por outro lado, a ausência de herdeiros por parte de Isabel e Gastão, fazia com que, no plano romântico desse casal, o afilhado seria herdeiro legítimo do Império no real caso de ausência de filhos dos condes d`Eu, o que evitaria disputas, tensões e formações de partidos no que se refere à sucessão do trono.

Em 1868, Princesa Leopoldina e Augusto Leopoldo à esquerda. À direita, madrinha (condessa d’Eu) e  afilhado, príncipe Pedro Augusto de Saxe‐Coburgo e Bragança. 

(Imagem: Arquivo Nacional) 

A imagem anterior, poderia anos mais tarde ser traduzida e interpretada pelos monarquistas, na ausência de herdeiros por parte da princesa imperial, como a confirmação de sua sucessão na figura do sobrinho primogênito Pedro Augusto, enquanto a Augusto Leopoldo, irmão do primeiro, caberia as honras do título de príncipe de Saxe-Coburgo-Gotha, assim como o pai. Leopoldina cedia herdeiros à irmã sucessora de d. Pedro II, até então sem filhos.

Os pais do príncipe Augusto de Saxe-Coburgo eram próximos dos Imperadores da Áustria, tendo presença e passagem livre nas principais recepções, festas e salões da corte vienense, tudo o que havia cansado a condessa d’Eu, em sua visita a Viena. Este fato, a presença nos grandes salões, aliado a imensa fortuna da família e a tradição que       

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 Basta citar a parentela próxima com os reis de Portugal, Inglaterra e Bélgica. Os dois primeiros países  em crise de sucessão masculina, o que os leva a recorrer à família Saxe‐Coburgo, e o último entronado  pelo Parlamento de um país recém‐emancipado na Europa.  

gozavam os príncipes pela ascendência materna [Bragança] e da avó-paterna [Orléans] poderia conferir a estes casamentos vantajosos no cenário monárquico, para além de serem príncipes de Saxe-Coburgo-Gotha e aparentados com países de expressão na Europa. Tais fatores poderiam ser mais vantajosos, do que a herança de um império tropical distante da Europa, imenso, mas pobre.

Em 1857, a princesa Clementina de Orléans e sua família se tornaram ainda mais próximas da Casa da Áustria, sobretudo ao se tornar tia46 do arquiduque Maximiliano de Habsburgo, irmão do Imperador Francisco José da Áustria. Por sua vez, a princesa Leopoldina, embora educada fisicamente distante desse ambiente, detinha o passaporte dinástico legítimo para seu ingresso, pois seu pai era primo-irmão do imperador austríaco. Diferentemente da condessa d’Eu, a princesa Leopoldina, aparentemente, se adaptara facilmente ao ambiente.

No Brasil em 1867, nasceu o príncipe Augusto Leopoldo, segundo filho do casal e, em 1869, o príncipe José, sendo os três partos realizados na residência do casal, o Palácio Leopoldina, com a assistência de parteiras e do médico brasileiro47, Dr. Cândido Borges Monteiro48. Enquanto isso, Isabel buscava inúmeros tratamentos de fertilidade com especialistas na Europa. Três meses depois do parto, segundo o artigo de Carlos Tasso Coburgo e Bragança, estava previsto o retorno dos duques de Saxe para a Europa com os filhos, mas “Dom Pedro tinha sugerido que D. Pedro Augusto permanecesse no Brasil sob a sua custódia. D. Leoplodina o achou pequeno demais e assim o pequeno Príncipe seguiu com os pais”. Este já é um indício de que o monarca pretendia construir uma proximidade maior com o neto, bem como uma ligação deste com o Brasil. Ainda que a criança contasse tão somente três anos de idade, ele já era o símbolo da continuidade monárquica no país, o possível d. Pedro III.

Então, os três filhos49 do casal Leopoldina e Augusto nasceram na cidade do Rio de Janeiro, acumulando ao título de príncipes de Saxe-Coburgo-Gotha o de príncipes

brasileiros50, por vontade de S.M. o Imperador d. Pedro II, como consta em seus

      

46 A esposa deste, além de filha do rei da Bélgica (Saxe‐Coburgo‐Gotha) é filha da princesa da França,  irmã de Clementina de Orléans. 

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 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 169 (438):281‐303, jan./mar. 2008 pg. 287 – Carlos Tasso de Saxe Coburgo e Bragança 

48  Cândido  Borges  Monteiro  (1812‐1872),  Presidente  da  Província  de  São  Paulo;  barão  e  visconde  de  Itaúna.  Ou  seja,  um  político  do  império,  o  que  significa  a  valorização  de  um  nacional,  fator  que  foi  criticado quando do nascimento dos filhos da condessa d`Eu, que solicitou médico francês. 

49

 Pedro Augusto (*1866); Augusto Leopoldo (*1867) e José Fernando (*1869). 

discursos na “fala do trono51” ao referir-se aos netos como “príncipes brasileiros”, filhos