• Nenhum resultado encontrado

Cálculo dos rendimentos em xilose e XOS

8.3.2 Hidrólise da fração solúvel de xilana de madeira de faia

Os extratos de A. niger, A. ochraceus e A. phoenicis foram utilizados para hidrolisar a fração solúvel de xilana de madeira de faia (25 g.L-1, tampão de citrato de sódio

50 mmol.L-1, pH 5,6, 50 °C). A Tabela 8.3 apresenta o perfil e rendimento em XOS e xilose

após 24h de reação. Os três complexos enzimáticos apresentaram conversões acima de 60%. O rendimento mais elevado de 93% foi alcançado quando A. ochraceus foi utilizado, sendo os demais de 71% e 67% obtidos com A. niger e A. phoenicis, respectivamente. Quando a xilose é o produto desejado, o complexo de A. niger obteve os melhores resultados em comparação com os outros complexos, produzindo 9,6 g.L-1 após 24h de reação. Considerando a produção

de XOS, os melhores resultados foram obtidos com o complexo de A. ochraceus, que produziu 12,9 g.L-1 de X

2, 2,5 g.L-1 de X3, 0,3 g.L-1 de X4, 0,12 g.L-1 de X5 e 0,18 g.L-1 de X6. Estes

resultados são semelhantes aos obtidos com complexos comerciais de xilanases na hidrólise da xilana de faia descritos por Milessi (2017), nas mesmas condições aplicadas nesse trabalho. Segundo a autora, dentre os complexos xinalolíticos estudados a maior conversão de 79% foi alcançada utilizando o complexo comercial Multifect CX XL, onde foram produzidos 13,24 g.L-1 de xilose, 6,48 g.L-1 de X

2, 1,85 g.L-1 de X3, 0,31 g.L-1 de X4 e 0,18 g.L-1 de X5.

Tabela 8.3. Perfil de xiloligossacarídeos após 24h de hidrólise da fração solúvel de xilana de madeira

de faia (25 g.L-1) catalisada pelos complexos xilanolíticos de A. niger, A. ochraceus e A. phoenicis

(150 UI.gxilana) - 50 °C pH 5,6.

Xilanase Concentrações (g.L

-1) Rendimento (%)

Xilose X2 X3 X4 X5 X6 XOS Total

A. niger 9,6 6,8 2,5 0,3 0,1 0,2 37,4 71,2

A. ochraceus 8,1 12,9 3,3 0,4 0,2 0,2 64,4 93,0

A Figura 8.3 mostra o curso da hidrólise de xilana de faia catalisada pelos complexos xilanolíticos estudados. Pode-se observar que todos os complexos enzimáticos foram estáveis a 50 °C durante as 4 horas iniciais. Após 8 horas de reação, as velocidades das reações de A. niger e A. phoenicis foram consideravelmente menores, acompanhando o lento aumento em termos de conversão. Por outro lado, não pôde ser detectado a estabilização da conversão nos ensaios com o complexo A. ochraceus, indicando que, se mais tempo fosse permitido, a conversão total provavelmente seria alcançada.

Figura 8.3. Evolução da hidrólise de xilana de madeira de faia (25 g / L) em função do tempo catalisada por complexos xilanolíticos de (A) A. niger, (B) A. ochraceus e (C) A. phoenicis (150

UI.gxilana-1) - 50 °C pH 5,6.

Os excelentes resultados obtidos nessa etapa desse trabalho desmostram o potencial dos complexos xilanolíticos produzidos por fungos do gênero Aspergillus, cujos desempenhos são equivalentes e até mesmo superiores aos apresentados por algumas preparações comerciais de xilanase que vinham sendo testadas no grupo para hidrólise do mesmo substrato. O complexo produzido por A. ochraceus se destaca dos demais devido às elevadas conversões obtidas, tanto em termos de xilose como xilobiose liberadas em solução, sendo o complexo produzido por esse microrganismo muito promissor.

Os resultados descritos nesse capítulo foram realizados em caráter preliminar e não puderam ser aprofundados. Após obtenção dos resultados descritos anteriormente, buscou-se o fungo A. Ochraceus para ser cultivado nos laboratórios do DEQ/UFSCar, visando

aumento de escala para obtenção de complexo xilanolítico mais concentrado e em maior quantidade. Infelizmente, não foi possível reproduzir os resultados iniciais, obtidos com o extrato fornecido e usado nos ensaios de conversão mostrados na Figura 8.3. Apesar de várias tentativas terem sido feitas, infelizmente não foi possível reproduzir o desempenho daquele extrato. Uma possível justificativa seria a cultura estoque utilizada para propagação do fungo não ser a mesma que foi utilizada nos cultivos que originaram os extratos enzimáticos inicialmente caracterizados. Os resultados de atividade enzimática obtidos são

semelhantes aos descritos por Michelin et al. (2010, 2012a, 2012b, 2014). Desta forma, uma saída seria utilizar a cultura estoque descrita pelos autores (número 604), que se encontra depositada na Coleção de Culturas Micoteca URM do Departamento de Micologia do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Pernambuco (Recife, Brasil). Diante dessa dificuldade, decidiu-se dar prosseguimento aos trabalhos utilizando o complexo xilanolítico comercial Multifect CX XL A03139 para os ensaios de SHIF.

8.4 Conclusão

Complexos xilanolíticos de A. niger, A. ochraceus e A. phoenicis foram estudados para a hidrólise de xilana de bétula e madeira de faia. Os três complexos apresentaram maiores atividades de endoxilanase em pH ácido (pH 5,6), enquanto A. niger apresentou a maior atividade de β-xilosidase. No entanto, devido ao baixo teor de proteína nos caldos de cultivo (alta diluição), foi necessário um passo de concentração antes de sua aplicação em ensaios de longa duração. A hidrólise a longo prazo da xilana de madeira de faia atingiu conversões superiores a 60%, comparáveis às obtidas em preparações comerciais de xilanase. Dentre os complexos estudados, A. niger apresentou alto rendimento de xilose (9,6 g.L-1), enquanto que A. ochraceus apresentou melhor produção de XOS com 13 g.L-1 de X

2, 3

g.L-1 de X

3 e 0,4 g.L-1 de X4. Os complexos de xilanases produzidos por fungos do gênero Aspergillus apresentaram grande potencial para aplicação em processos biotecnológicos que

envolvem o uso de hemicelulose.

8.5 Referências

BAILEY, M. J.; BIELY, P.; POUTANEN, K. Interlaboratory testing of methods for assay of xylanase activity. Journal of Biotechnology, v. 23, n. 3, p. 257–270, 1992.

BAJPAI, P. Xylan. In: _____. Xylanolytic Enzymes. Amsterdam: Cademic Press, 2014a. p. 9–18.

BAJPAI, P. Microbial Xylanolytic Systems and Their Properties. In: _____. Xylanolytic

Enzymes. Amsterdam: Cademic Press, 2014b. p. 19–36.

BIELY, P. et al. Endo-β-1,4-xylanase families: differences in catalytic properties. Journal of

Biotechnology, v. 57, n. 1–3, p. 151–166, set. 1997.

BIELY, P. Xylanolytic Enzymes. In: WHITAKER; VORAGEN; WONG (Eds.). Handbook of

food enzymology. Boca Raton: CRC Press, 2003. p. 879–916.

BIELY, P.; SINGH, S.; PUCHART, V. Towards enzymatic breakdown of complex plant xylan structures: State of the art. Biotechnology Advances, v. 34, n. 7, p. 1260–1274, 2016.

BRADFORD, M. M. A rapid and sensitive method for the quantitation of microgram quantities of protein utilizing the principle of protein-dye binding. Analytical Biochemistry, v. 72, n. 1– 2, p. 248–254, 1976.

CANTAREL, B. L. et al. The Carbohydrate-Active EnZymes database (CAZy): an expert resource for Glycogenomics. Nucleic Acids Research, v. 37, n. Database, p. D233–D238, 2009.

DIOGO, J. A. et al. Development of a chimeric hemicellulase to enhance the xylose production and thermotolerance. Enzyme and Microbial Technology, v. 69, p. 31–37, 2015.

DODD, D.; CANN, I. C. K. O. Enzymatic deconstruction of xylan for biofuel production. GCB

Bioenergy, v. 1, n. 1, p. 2–17, 2009.

EBRINGEROVÁ, A.; HEINZE, T. Xylan and xylan derivatives - biopolymers with valuable properties, 1. Naturally occurring xylans structures, isolation procedures and properties.

Macromolecular Rapid Communications, v. 21, n. 9, p. 542–556,

2000.

EBRINGEROVÁ, A.; HROMÁDKOVÁ, Z.; HEINZE, T. Hemicellulose. In: HEINZE, T. (Ed.).

Polysaccharides I: Structure, Characterization and Use. Berlin, Heidelberg: Springer Berlin

Heidelberg, 2005. p. 1–67.

GÍRIO, F. M. et al. Hemicelluloses for fuel ethanol: A review. Bioresource Technology, v. 101, n. 13, p. 4775–4800, 2010.

HENRISSAT, B. A classification of glycosyl hydrolases based on amino acid sequence similarities. The Biochemical journal, v. 280 (Pt 2), p. 309–16, 1991.

LI, K. et al. Relationships between activities of xylanases and xylan structures. Enzyme and

Microbial Technology, v. 27, n. 1–2, p. 89–94, 2000.

MASLEN, S. L. et al. Structure elucidation of arabinoxylan isomers by normal phase HPLC– MALDI-TOF/TOF-MS/MS. Carbohydrate Research, v. 342, n. 5, p. 724–735, 2007.

MICHELIN, M. et al. Production and properties of xylanases from Aspergillus terricola Marchal and Aspergillus ochraceus and their use in cellulose pulp bleaching. Bioprocess and

Biosystems Engineering, v. 33, n. 7, p. 813–821, 2010.

MICHELIN, M. et al. Xylanase and β-Xylosidase Production by Aspergillus ochraceus: New Perspectives for the Application of Wheat Straw Autohydrolysis Liquor. Applied Biochemistry

and Biotechnology, v. 166, n. 2, p. 336–347, 2012a.

MICHELIN, M. et al. A novel xylan degrading β-d-xylosidase: purification and biochemical characterization. World Journal of Microbiology and Biotechnology, v. 28, n. 11, p. 3179– 3186, 2012b.

MICHELIN, M. et al. Purification and Biochemical Properties of Multiple Xylanases from

Aspergillus ochraceus Tolerant to Hg2+ Ion and a Wide Range of pH. Applied Biochemistry

and Biotechnology, v. 174, n. 1, p. 206–220, 2014.

MILESSI-ESTEVES, T. et al. An Innovative Biocatalyst for Continuous 2G Ethanol Production from Xylo-Oligomers by Saccharomyces cerevisiae through Simultaneous Hydrolysis, Isomerization, and Fermentation (SHIF). Catalysts, v. 9, n. 3, p. 225, 2019.

MILESSI, T. S. S. et al. Immobilization and stabilization of an endoxylanase from Bacillus

subtilis (XynA) for xylooligosaccharides (XOs) production. Catalysis Today, v. 259, p. 130

139, 2016.

MILESSI, T. S. S. Produção de etanol 2g a partir de hemicelulose de bagaço de cana-de-

açúcar utilizando saccharomyces cerevisiae selvagem e geneticamente modificada imobilizadas. 2017. 190 f. Tese (Doutorado em Engenharia Química) – Departamento de

Engenharia Química. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2017.

MILLER, G. L. Use of dinitrosalicylic acid reagent for determination of reducing sugar.

Analytical Chemistry, v. 31, n. 3, p. 426–428, 1959.

MUSSATTO, S. I.; MANCILHA, I. M. Non-digestible oligosaccharides: A review.

Carbohydrate Polymers, v. 68, n. 3, p. 587–597, 2007.

PEDERSEN, M. et al. Identification of thermostable β-xylosidase activities produced by

Aspergillus brasiliensis and Aspergillus niger. Biotechnology Letters, v. 29, n. 5, p. 743–748,

2007.

POLIZELI, M. L. T. M. et al. Xylanases from fungi: properties and industrial applications.

Applied Microbiology and Biotechnology, v. 67, n. 5, p. 577–591, 27 2005.

RIZZATTI, A. C. S. et al. Influence of temperature on the properties of the xylanolytic enzymes of the thermotolerant fungus Aspergillus phoenicis. Journal of Industrial Microbiology and

Biotechnology, v. 31, n. 2, p. 88–93, 2004.

WILSON, D. B. Microbial diversity of cellulose hydrolysis. Current Opinion in Microbiology, v. 14, n. 3, p. 259–263, 2011.

WOLF, L. D. Pré-tratamento organossolve do bagaço de cana-de-açucar para a

produção de etanol e obtenção de xilooliômeros. 2011. 147f. Dissertação (Mestrado em

Engenharia Química) - Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2011.

CAPÍTULO 9: SUGESTÕES PARA A CONTINUIDADE DO