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Selkirk (1984) afirma que os constituintes ou categorias prosódicas4 formam parte da representação fonológica sob uma dada hierarquia e sugere que esta hierarquia deve obedecer à seguinte ordem vista em (7):

(7)

Frase entonacional – intonational phrasing (IP)

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Frase fonológica – phonological phrase (PhP) Palavra fonológica – phonological word (Wd) Pé – foot (Ft)

Sílaba – syllable (Syl)

A autora propõe que uma categoria estabelecida em um nível n5, imediatamente, domine uma categoria ou uma sequência de categorias que seja n-1. Selkirk ainda afirma que a melhor representação dos fenômenos fonológicos que ativam níveis suprassilábicos, ou seja, acima do nível 1, é através do alinhamento na grade métrica das sentenças em questão.

Para entender melhor o que seriam constituintes prosódicos, comecemos retomando a noção básica da linguística do que é um constituinte. De acordo com Bisol (1996, 2010, p. 259) “constituinte é uma unidade linguística complexa, formada de dois ou mais membros e que estabelecem entre si uma relação de dominante / dominado”. Todo constituinte pressupõe um cabeça e um ou mais dominados.

Nespor & Vogel (1986) propõem uma hierarquia de domínios prosódicos, assumidos como contexto de aplicação de regras fonológicas e como lugar de interface da fonologia com os outros módulos da gramática. Para tanto, a construção dos domínios obedece a regras de mapeamento, que fazem uso de informações linguísticas de vários tipos - fonológicas, morfológicas, sintáticas, semânticas. Os constituintes prosódicos assim definidos não têm qualquer compromisso de isomorfia com outros constituintes da gramática, Este, inclusive, é o objetivo central do modelo. Nos constituintes prosódicos mais baixos há uma relação com elementos morfossintáticos. Na medida em que os constituintes vão ficando mais altos, ocorre uma relação com níveis mais altos da árvore sintática e os níveis mais altos da cadeia prosódica se relacionam com noções semânticas da língua.

1.2.1 A hierarquia prosódica

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Selkirk (1984) ao assumir que a sílaba está no nível 1, determina que os demais constituintes prosódicos estarão nos níveis 2... 3... n. A autora chama esse processamento de strict layer hypothhesis e diz que cada unidade suprassilábica na hierarquia representa potencialmente um papel descritivo das regras fonotáticas de palavras e/ou frases (o que inclui padrões de acento, ritmo e entonação).

Seguindo a proposta inicial de Selkirk (1984), Nespor & Vogel (1986) estabelecem sete constituintes prosódicos dispostos hierarquicamente da seguinte forma:

Enunciado → U Frase entonacional → I Frase fonológica → φ Clítico → C Palavra fonológica → ω Pé → Σ Sílaba → σ

Bisol (2010, p. 260)) representou essa hierarquia por um diagrama arbóreo6:

U → enunciado

I (I) → frase entonacional φ (φ) → frase fonológica C (C) → grupo clítico ω (ω) → palavra fonológica Σ (Σ) → pé σ (σ) → sílaba 1.2.2 Hierarquização dos domínios

Abousalh (1997) afirma que as categorias prosódicas estão organizadas em estaturas arbóreas que refletem indiretamente a hierarquia de constituintes sintáticos. Como dito anteriormente, a

6 Selkirk (1984) não considera o clítico (C) como constituinte de um nível da hierarquia prosódica. Neste

extensão dos constituintes construídos pelas regras de mapeamento aumenta à medida que se sobe na hierarquia prosódica, ao incorporarem noções pertinentes a níveis comparativamente altos da árvore sintática e até noções semânticas. A construção da hierarquia prosódica respeita princípios universais:

Segundo Bisol (2010), estes princípios que regulam a hierarquia prosódica acima representada estão subcitados:

i) Cada unidade da hierarquia prosódica é composta de uma ou mais unidades da

categoria imediatamente anterior, ou seja, mais baixa;

ii) Cada unidade está exaustivamente contida na unidade imediatamente superior a que faz parte;

iii) Os constituintes são estruturas n-árias;

iv) A relação de proeminência relativa entre os nós irmãos é de forte (s) para um e fraco

(w) para os demais.

A construção de constituintes prosódicos é demonstrada pelo algoritmo (8) abaixo:

(8)

X P = todos os X P-1 sob domínio de X P.

Nesta representação, XP é um dado domínio (Σ, ω, φ, I, etc) e XP(-1) é um constituinte imediatamente inferior.

1.2.3 Os domínios prosódicos e a resolução de choque acentual

Justificamos a utilização dos domínios prosódicos na presente tese por ser o lugar para representação de operações fonológicas para resolver encontros acentuais. Fundamentamo- nos na Fonologia Prosódica, na qual regras de reajuste rítmico como o movimento de batida ocorrem em um domínio prosódico – a frase fonológica - que é construído em interface com a sintaxe - e na Fonologia Rítmica. A Fonologia Rítmica é a teoria que organiza o sintagma

fonológico através da grade métrica. A grade é o lugar onde o ritmo é estabelecido. Aqui se projetam as alternâncias primárias e secundárias, que constituem o ritmo.

Pode coincidir de a frase fonológica, que é um domínio prosódico, ser um sintagma fonológico determinado pela teoria métrica. Todavia, nem todo sintagma fonológico pode ser uma frase fonológica. Por exemplo, uma seuqência verbo-advérbio compõe uma φ, no entanto, não é sintagma composto. A teoria métrica não defende necessariamente uma interface com outros domínios gramaticais.

Uma frase fonológica pode aumentar sua extensão pelo acréscimo de uma palavra, em geral, um adjetivo à sua direita, ou seja, do lado recursivo sintaticamente das línguas com esta configuração. Este processo denomina-se reestruturação, definido por Nespor & Vogel (1986).

Por se tratar de um trabalho que envolve estratégias de resolução de colisão de acentos primários, excluímos os constituintes mais altos do que a frase fonológica. Também excluímos o grupo clítico em vista de que no inglês e no PB eles podem se incorporar ao domínio de φ.

As regras que licenciam as estratégias de resolução de choque acentual se dão em interface fonologia-sintaxe. A condição fonológica é idêntica à Regra Rítmica; cada φ pode apresentar casos propensos a sofrer modificações quanto ao locus do acento como os da sequência ‘thirteen men’ em que na primeira palavra fonológica – thirTEEN, o acento primário deve constar na sílaba final e na segunda – MEN, na sílaba inicial. Quando subimos um nível prosódico, temos uma reestruturação em THIRteen MEN, no domínio de φ. Já condição sintática seria dizer que há a mesma sequência de duas palavras sendo que a primeira palavra situa-se do lado não-recursivo fazendo com que as operações fonológicas que licenciam a resolução de colisão acentual ocorram na primeira palavra. Vale frisar que as condições sintáticas devem obedecer aos limites de uma mesma φ. Uma sequência de palavras nome- verbo, por exemplo, extrapolam os limites de uma mesma φ, sendo, pois, φs distintas. Logo thirteen men constituem uma φ, todavia, *thirteen drink, não.

Vejamos como se dá sua formação de uma φ através do algoritmo7

estabelecido por Nespor & Vogel (1986, p. 168)):

I –Φ domain

The domain of Φ consists of a C which contains a lexical head (X) and all Cs on its nonrecursive side up to the C that contains another head outside of the maximal projection of X.

II –Φ construction

Join into an n-ary branching Φ all Cs included in a string delimited by the definition of the domain of Φ.

III –Φ relative proeminence

In languages whose syntactic trees are right branching, the rightmost node of Φ is labeled s; in languages whose syntactic trees are left branching, the leftmost node of Φ is labeled s. All sister nodes of s are labeled w.

Partindo do algoritmo de Nespor & Vogel (1986), uma vez a φ construída, temos a possibilidade de representar, fonologicamente, operações rítmicas usando a grade métrica como ferramenta. Partindo dos domínios prosódicos, é através da Fonologia Métrica que visualizamos a aplicação de regras para distribuição do acento. Essa distribuição ocorre em níveis a partir de φ. Como estamos lhe dando com o fenômeno do choque de acento primário entre cabeças lexicais dentro de uma mesma φ, as grades servirão para que representemos as estratégias usadas para resolução desses choques.