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Nesta seção veremos algumas possibilidades de resolução de choque acentual no PB baseadas nos estudos de alguns teóricos como Abousalh (1997); Sandalo & Trckenbrodt (2001) Santos (2002, 2003, 2004); Tenani (2002, 2006) dentre outros estudos que reafirmam a proposta de interface fonologia-sintaxe, ou seja, a resolução de choques de diferentes categorias sintáticas internos à uma mesma φ como um nome-adjetivo ou verbo-objeto que possuem entre seus constituintes acentos lineares e adjacentes. Este estudo foi pioneiro no Brasil a partir do trabalho de Abousalh (1997). Assim como Abousalh (1997), outros teóricos brasileiros – Sandalo & Truckenbrodt (2001); Santos (2002, 2004); Tenani (2002, 2006); Moraes & Santos (2009) – trabalharam à luz da fonologia-sintaxe seguindo os pressupostos de Nespor & Vogel (1986).

A teoria prosódica, proposta por Nespor & Vogel (1986) postula que qualquer enunciado é mapeado em uma estrutura prosódica e, a partir dessa estrutura, o enunciado se constrói na grade métrica. A construção da grade deve obedecer à hierarquia prosódica tendo como base dois princípios:

i) Strict Layer Hypothesis– os elementos de um nível prosódico só podem ser formados por elementos de níveis inferior, por exemplo, só se pode formar φs a partir de ωs; ii) Regra de Projeção– uma sílaba só pode ser acentuada em um domínio se no domínio

inferior ela também for acentuada.

Moraes & Santos (2009) definem que a colisão acentual interrompe a alternância de sílabas fortes e fracas, tal como se observa no exemplo (51) abaixo em que há um choque acentual entre a última sílaba do verbo e a primeira sílaba do objeto:

(51)

x x x x x x x x x x x x x x o josé comeu bolo.

Segundo as autoras, ao citarem Liberman & Prince (1977), Selkirk (1984) e Nespor & Vogel (1986), as línguas procuram uma otimização rítmica, contudo variam quanto ao grau de tolerância em aceitar choques de acentos ou sequências de sílabas não acentuadas, como as duas primeiras sílabas do exemplo (51). Esses teóricos concordam que as línguas tendem a evitar os encontros acentuais devido à tendência de eurritmia, capturada por Selkirk pelo Princípio de Alternância Rítmica (PAR), mas que as línguas variam nos níveis em que aceitam o encontro acentual.

Com a mesma abordagem, Moraes & Santos (2009) defendem que a estruturação sintática é condição importante para que se possa ou não desfazer encontros acentuais como haviam já observado Santos (2002) e Nunes & Santos (2009).

Para Grabe & Warren (1995 apud Moraes & Santos 2009), no campo fonético, a fonologia métrico-prosódica não consegue resolver as questões relacionadas aos choques de acento e, portanto, levantam que uma visão entonacional26 subjacente a valores como qualidade vocal e fala contínua é mais adequada para o sucesso nos eventos em que ocorrem os choques acentuais. Eles citam, por exemplo, a palavra ‘balloon’ que, dependendo da posição na frase entonacional, pode estar na posição nuclear, pré-nuclear ou pós-nuclear. Em todas as posições, do ponto de vista métrico, ‘balloon’ mantém a relação de proeminência – fraco/forte – mas os correlatos fonéticos desta relação (fraco/forte), contudo, variam. Na posição nuclear, um aumento na inflexão de F0 da sílaba tônica é a característica mais saliente para uma forte proeminência. Na posição pré-nuclear a sílaba tônica exibe menor inflexão de F0 do que na posição nuclear; e na posição pós-nuclear, o parâmetro de F0 não é uma característica

26 Esta proposta já havia sido tratada e defendida por Couper-Kuhlen (1993) e faz parte da fundamentação

marcante para distinção de proeminência nesta relação (forte/fraco), mas contrastes na qualidade vocálica podem ser relevantes. Grabe & Warren ainda citam que nas frases (52) e (53) abaixo citadas, a fonologia métrica preveria a retração de acento nos dois casos [TV soaps], mas os resultados foram um aumento dos valores dos parâmetros na segunda palavra do choque acentual

(52) When John watches [TV soaps], he is happy.

(53) When John watches [TV (*), SOAPS] are his favorite.

Vogel, Bunnell & Hoskins (1995 apud Moraes & Santos 2009) examinam a Regra Rítmica dos dois pontos de vista: o fonético e o fonológico. Fonologicamente, assim como outros teóricos em trabalhos anteriores, os autores descrevem que há dois tratamentos para a Regra Rítmica: i) Reversal Analysis (RA, a estratégia de retração acentual) e ii) Deletion analysis (DA27, a estratégia de apagamento). De acordo com a RA, quando há um choque entre acentos primários de palavras adjacentes, aplica-se a regra rítmica de modo a aliviar o choque pela retração do acento da primeira palavra.

Estes autores concordam que a percepção da retração acentual deve ser explicada pelo caráter relacional do acento, ou seja, o reforço do acento da primeira palavra em sequências como thirtèen mén, situação de colisão, reforçando os parâmetros fonético-acústicos (F0 e duração) da primeira sílaba da primeira palavra, thír, diminuindo assim a proeminência da segunda sílaba da mesma palavra - teen - de modo a favorecer a percepção de um troqueu (Rule of Iambic Reversal).

Moraes & Santos (2009) apontam seus holofotes para uma análise do ponto de vista fonético. Barbosa (2001, 2002) e Madureira (2002) discutem especificamente a questão da retração acentual, e Barbosa (2001, 2002) implementa um modelo de osciladores acoplados de produção do ritmo da fala para analisar os padrões de duração de unidades do tamanho da sílaba em PB, examinando os casos de encontro acentual para investigar se havia algum indício da estratégia da retração acentual.

27 A regra de apagamento (Deletion Analysis – DA) somente requer que o acento da sílaba final da primeira

palavra seja reduzido para minimizar o efeito do encontro acentual sem causar danos à palavra seguinte. A DA é bastante presente em nosso objeto de estudo.

Através de um estudo experimental, Barbosa (2001, 2002) analisou as medidas de duração da rima, da sílaba e de unidades de ataque de vogal à vogal (V-V), para sequências com e sem encontro acentual. Seus resultados apontaram um não favorecimento para o fenômeno da retração acentual na situação de encontro acentual; ao contrário, houve um aumento da duração da sílaba oxítona da primeira palavra do encontro acentual nesta situação. O mesmo aconteceu com as sentenças do contexto de não encontro acentual, havendo um aumento da duração em direção ao acento frasal. Em outras palavras, isso significa que há um favorecimento para situação de choque acentual, ou seja, da manutenção de encontro acentual.

Madureira (2002), assim como Barbosa (2002), questiona o fenômeno da retração acentual em PB como postulado pela Regra do Ritmo, baseando-se em evidências acústicas provenientes da análise de contornos de frequência fundamental (F0) de sintagmas fonológicos contendo sequências de palavras de contexto ou não de choque acentual. Moraes & Santos (2009), salientam que não há estudos concretos que discutam a estratégia do alongamento por falantes do PB.

Assim como Moraes & Santos (2009); Barbosa (2002) e Madureira (2002), trabalhamos os dados do ponto de vista fonético-acústico para verificação de estratégias que propiciam o alívio dos choques acentuais. Na próxima seção, os correlatos utilizados na presente tese serão explanados, bem como, a justificativa para escolha de algum correlato em específico.