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Hipóteses jurisprudenciais de relativização da impenhorabilidade da

4.3 IMPENHORABILIDADE DA CONTA POUPANÇA

4.3.1 Hipóteses jurisprudenciais de relativização da impenhorabilidade da

A pesquisa de julgados, exposta a seguir, foi realizada nos Tribunais de Justiça de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo, bem como do Superior Tribunal de Justiça. O pesquisador acessou o sítio eletrônico de cada tribunal e, no link “pesquisa de jurisprudência”, inseriu diferentes combinações dos seguintes termos: impenhorabilidade; poupança; falecimento; espólio; herança; herdeiros;

saisine. A partir desse critério, foram selecionados os principais julgados destes

tribunais para análise individualizada sobre o tema.

Diante do que é tratado durante este trabalho, nota-se que a manutenção da impenhorabilidade da conta poupança (até quarenta salários mínimos) após a morte do executado não é prevista em lei. Na resolução deste impasse, a jurisprudência não é unânime, e divide-se em duas interpretações.

A primeira delas entende que a impenhorabilidade prevista no art. 833, X, do Código de Processo Civil, deve ser literalmente aplicada, independentemente se o executado, titular da conta, está vivo ou morto, visto que a característica de segurança

alimentícia pessoal e familiar deve ser mantida. O benefício da impenhorabilidade “recai exclusivamente sobre a caderneta de poupança, de baixo risco e retorno, visando à proteção do pequeno investimento, voltada à garantia do titular e sua família contra imprevistos, como desemprego ou doença”31 (BRASIL, 2013).

Esse foi o entendimento adotado pela Vigésima Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em que, ainda na vigência do Código de Processo Civil de 1973, reconheceu a legitimação dos herdeiros “para oposição de embargos à penhora efetivada sobre numerário em caderneta de poupança do executado falecido”, bem como a impenhorabilidade absoluta dos valores depositados em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos (RIO GRANDE DO SUL, 2014b).

AGRAVO. APELAÇÃO CÍVEL. POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO NA FORMA MONOCRÁTICA, FORTE NA REGRA DO ART. 557 DO CPC. Tratando-se de matéria compreendida entre as hipóteses do art. 557 do CPC, havendo orientação jurisprudencial deste Tribunal de Justiça a respeito do tema, autorizado estava o Relator ao julgamento singular. DIREITO TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À PENHORA. LEGITIMIDADE ATIVA DOS HERDEIROS. Os herdeiros detém legitimidade ativa para oposição de embargos à penhora efetivada sobre numerário em caderneta de poupança do executado falecido, diante do interesse na defesa da propriedade dos bens transmitidos pela herança, nos termos dos artigos 1784 e 1.791 combinado com o artigo 1.314, todos do Código Civil. Precedentes do TJRS. PENHORA. NUMERÁRIO DE CADERNETA DE POUPANÇA. IMPENHORABILIDADE. É absolutamente impenhorável, até o limite de 40 salários mínimos, quantia depositada em caderneta de poupança, única modalidade de aplicação financeira protegida pela norma processual invocada, que não abrange outros fundos, passíveis de penhora. Inteligência dos arts. 649, X do CPC. Precedentes do TJRGS. Agravo desprovido. (RIO GRANDE DO SUL, 2014b). Do inteiro teor do julgado acima, depreende-se que foi negado provimento ao recurso interposto pelo Estado do Rio Grande do Sul, no qual argumentava-se, em síntese, que a impenhorabilidade só pode ser alegada pelo titular da poupança.

Nesse mesmo sentido, colhe-se julgado do Tribunal de Justiça de Santa Catarina em que, também na vigência do Código de Processo Civil anterior, reconheceu a impenhorabilidade absoluta da quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, e, além disso, consignou a irrelevância do falecimento ser anterior ou posterior à realização da penhora:

31REsp 1330567/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/05/2013,

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXECUÇÃO. FALECIMENTO DO DEVEDOR ORIGINÁRIO, APÓS A CITAÇÃO. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL PELOS HERDEIROS. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE INDEFERIU O PEDIDO DE LIBERAÇÃO DA PENHORA ON-LINE, BEM

COMO A ALEGAÇÃO DE EXCESSO DE EXECUÇÃO E

IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA. AGRAVO INTERPOSTO PELOS EXECUTADOS. 1 - ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA [...]. 2 - PENHORA ON-LINE REALIZADA DE OFÍCIO. NECESSIDADE DE PRÉVIO REQUERIMENTO DO EXEQUENTE. EXEGESE DO ART. 655-A DO CPC. ADEMAIS, CONSTRIÇÃO REALIZADA SOBRE ATIVOS DE CONTA POUPANÇA, EM VALOR INFERIOR A 40 (QUARENTA) SALÁRIOS MÍNIMOS. IMPENHORABILIDADE ABSOLUTA. ART. 649, X, DO CPC. FALECIMENTO DO EXECUTADO ANTES DO BLOQUEIO. IRRELEV NCIA. RECURSO PROVIDO. 3 - IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA. DETERMINAÇÃO DE PENHORA DE 50% (CINQUENTA POR CENTO) DO IMÓVEL DE MATRÍCULA N. 9.888. ESCRITURA PÚBLICA DE INVENTÁRIO, JUNTADA PELOS EXECUTADOS, QUE INFORMA QUE O DE CUJUS POSSUÍA APENAS UM IMÓVEL RESIDENCIAL. INEXISTÊNCIA DE PROVA EM CONTRÁRIO. CASO CONCRETO QUE DEMANDA A PROTEÇÃO DO ART. 1º DA LEI N. 8.009/1990. RECURSO PROVIDO. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO (SANTA CATARINA, 2015).

Os dois próximos julgados refletem essa mesma ideia de impenhorabilidade absoluta e, diferentemente dos anteriores, foram lavrados na vigência do Código de Processo Civil de 2015:

APELAÇÃO CÍVEL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. PROCESSUAL. RECURSO DE TERCEIRO INTERESSADO. CPC/73, Art. 499 [CPC, art. 996]. Cabimento do recurso interposto pelo espólio. Bloqueio de importe da conta poupança da de cujus. Impenhorabilidade. Quantia inferior a 40 s.m. Restituição da importância objeto do bloqueio. Sentença desconstituída. APELO PROVIDO a esses fins. (RIO GRANDE DO SUL, 2016).

Agravo de instrumento. Ação de cobrança em fase de cumprimento de sentença. Decisão que deferiu o pedido de desbloqueio de valores constritos em caderneta de poupança. Inconformismo da exequente. Falecimento do executado, titular da conta-poupança após a penhora on-line, passando a integrar a lide os seus herdeiros. Alegação de que os herdeiros não comprovaram se tratar de efetiva caderneta de poupança. Valor depositado em caderneta de poupança que é inferior a 40 salários mínimos. Impenhorabilidade, nos termos do art. 833, X, do CPC. Precedentes do C. STJ. Desnecessidade de comprovação do caráter alimentar do detentor do numerário. Herdeiros que receberam a herança automaticamente e nos mesmos moldes em que ela se encontrava. Decisão mantida. Agravo não provido (SÃO PAULO, 2018).

Sob outra perspectiva, entende-se que após o falecimento do executado, titular da conta, não há mais falar em impenhorabilidade da conta poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos. Isso porque o montante depositado na conta, com o falecimento do executado, passaria a integrar o acervo hereditário deste, de

maneira que tais valores seriam imediatamente transferidos aos herdeiros do de cujus (não alcançados pela impenhorabilidade do art. 833, X, do Código de Processo Civil). Como aprofundado no terceiro capítulo, em decorrência do princípio da

saisine, com a abertura da sucessão, a herança deixada pelo falecido é transmitida,

imediatamente, aos herdeiros. Também é visto que a abertura da sucessão ocorre no exato momento da morte.

Não fosse isso suficiente, nessa mesma linha de pensamento, argumenta- se que a mens legis do dispositivo, isto é, a finalidade da lei, é resguardar uma reserva pessoal para situações de necessidade e imprevistos, assegurando, assim, a dignidade da pessoa humana (ASSIS, 2017). Desta forma, sustenta-se que, com a morte do executado, este propósito não mais subsistiria, e os valores depositados perderiam o seu caráter alimentar.

Sobre a possibilidade de penhora da conta poupança nessas hipóteses, colhe-se jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo:

AÇÃO MONITÓRIA. FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. Bloqueio das contas poupanças do falecido com saldos inferiores a 40 salários mínimos. Impenhorabilidade absoluta prevista no art. 649, X, do Código de Processo Civil, que não se estende aos herdeiros do falecido. Acervo de bens, obrigações e direitos que se transmite aos herdeiros. Princípio da saisine. Responsabilidade limitada à herança recebida. Valores objeto de bloqueio que devem ser resguardados para o pagamento do débito. Recurso provido em parte. (SÃO PAULO, 2014).

Interessante notar que, no julgamento supracitado, houve divergência entre os próprios desembargadores integrantes da Vigésima Oitava Câmara de Direito Privado acerca da manutenção da impenhorabilidade da conta poupança. No caso, prevaleceu (por maioria) a tese de que a penhora realizada sobre a quantia depositada na conta poupança deveria ser mantida, uma vez que “a proteção legal é conferida apenas ao titular da conta poupança, não sendo estendida aos herdeiros do falecido”, e, ainda, porque “aplicável ao caso o princípio da saisine” (SÃO PAULO, 2014).

Esse também foi o entendimento exarado pela Décima Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que deu provimento ao recurso interposto pela parte exequente, a fim de possibilitar a penhora sobre valores da conta poupança, “já que, na hipótese, ausente prova mínima do caráter subsistencial da quantia armazenada. Ademais, os bens havidos por herança não são impenhoráveis, servindo

à quitação dos débitos do falecido, na forma do art. 1.997 do Código Civil” (RIO GRANDE DO SUL, 2015).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXECUÇÃO. PENHORA DE VALORES DEPOSITADOS EM CONTA-POUPANÇA DO DE CUJUS. POSSIBILIDADE. I. A impenhorabilidade prevista no art. 649, X, do CPC pode ser relativizada, caso não comprovado o caráter subsistencial da verba aos herdeiros. II. Com o falecimento do devedor e pretendendo, o espólio, a reservada dos valores depositados em poupança para fins de garantia da partilha entre os herdeiros, não há mais falar em impenhorabilidade, passando a compor o acervo da herança a fim de saldar as dívidas contraídas, na forma do art. 1.997 do CC. DERAM PROVIMENTO AO RECURSO. UN NIME. (RIO GRANDE DO SUL, 2015).

Nessa lógica, o Tribunal de Justiça de São Paulo ao apreciar um recurso, agora da parte executada, em que se pretendia a liberação dos valores constritos, também concluiu pela viabilidade da penhora, “porquanto constituem direitos sucessórios da executada, os quais não estão vinculados com qualquer cláusula de impenhorabilidade”:

IMPENHORABILIDADE – Penhora no rosto dos autos – Valores oriundos de ação de cobrança de expurgos inflacionários – Conta poupança mantida pelo cônjuge falecido da agravante – Quantia que configura direito sucessório – Não incidência do art. 649, inc. X, do Código de Processo Civil – Precedentes do Superior Tribunal de Justiça: – Não incide a regra da impenhorabilidade prevista no artigo 649, inc. X, do novo CPC, sobre direito sucessório decorrente de crédito oriundo de ação de cobrança de expurgos inflacionários de poupança, cuja titularidade era do cônjuge falecido da executada. RECURSO NÃO PROVIDO. (SÃO PAULO, 2016).

Frisa-se que, no caso anterior, o desprovimento do recurso da parte executada se deu já na vigência do atual Código de Processo Civil.

O próximo julgado, mais uma vez do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, não foge dessa linha de pensamento:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO MONITÓRIA. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. PENHORA DE VALORES EM CONTA-CORRENTE. APLICAÇÕES FINANCEIRAS. VERBA DE NATUREZA PREVIDENCIÁRIA. FALECIMENTO DO DEVEDOR. Em tese, os proventos de aposentadoria são impenhoráveis (art. 833, IV, do CPC/15), bem como os valores não superiores a 40 salários mínimos depositados em caderneta de poupança (art. 833, X, do CPC/15), podendo- se estender tal entendimento às aplicações financeiras do tipo CDB, pois igualmente configuram uma reserva de manutenção do devedor. No caso concreto, porém, a impenhorabilidade das verbas constritas desaparece diante do falecimento do devedor, passando a integrar o monte mor do espólio, que responde pelas dívidas do falecido, não se podendo mais cogitar

de sua natureza alimentar. Manutenção da penhora. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. (RIO GRANDE DO SUL, 2017).

Mais recentemente, a Quarta Câmara de Direito Comercial do Tribunal de Justiça de Santa Catarina também decidiu pela relativização da impenhorabilidade prevista no art. 833, X, do Código de Processo Civil. Nota-se, pela ementa do acórdão, que o entendimento de que a finalidade de proteção legal das economias pessoais cessa com o falecimento, também já foi aplicado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO QUE INDEFERE O PEDIDO DE IMPENHORABILIDADE. RECURSO DO EXECUTADO. VIABILIDADE DE PENHORA DE VALOR DEPOSITADO EM CONTA POUPANÇA. FALECIMENTO DO DEVEDOR ANTERIOR AO BLOQUEIO. VALORES QUE PASSAM A INTEGRAR A HERANÇA. "A impenhorabilidade da quantia depositada em caderneta de poupança, na forma do art. 833, X, do CPC/2015, somente subsiste enquanto o titular da conta está vivo, já que a mens legis, nesse caso, foi a proteção das economias da pessoa, para uso em momentos de necessidade. Com o falecimento, os valores passam a integrar a herança, com a mesma qualidade dos demais bens, perdendo sentido a distinção" (TRT3, Agravo de Petição n. 0011165- 59.2016.5.03.0039, Nona Turma, rela. Desa. Olivia Figueiredo Pinto Coelho, j. 27-6-2017). RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (SANTA CATARINA, 2019).

Desse modo, sendo possível a realização da penhora sobre tais valores, seria dado prosseguimento ao processo de execução, com a prática dos atos necessários à satisfação da obrigação, como apreciado na seção 4.2 deste trabalho.

A título de curiosidade, convém colacionar, ainda, um julgado da Vigésima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul em que, muito embora tenha reconhecido o entendimento de que os valores depositados em caderneta de poupança perdem a característica de impenhorabilidade com o falecimento do titular, resolveu manter a constrição, já que se tratava de pequena quantia e com fortes indícios de caráter alimentar, pois destinada à subsistência da viúva.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. MONITÓRIA. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PENHORA ON LINE. BLOQUEIO DE VALOR EM CONTA POUPANÇA. IMPENHORABILIDADE. CASO CONCRETO. O valor depositado em conta poupança inferior a 40 salários mínimos é impenhorável. Inteligência do disposto no inciso X do art. 649 do CPC, introduzido pela Lei nº 11.232, de 06.12.2006. Diante da comprovação de que o valor bloqueado da conta poupança do executado falecido possui natureza alimentar e considerando as condições financeiras da viúva, temerário o afastamento da decretação da impenhorabilidade.

Decisão interlocutória mantida. NEGARAM PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. UNÂNIME. (RIO GRANDE DO SUL, 2014a).

Da análise dos julgados, depreende-se que a entrada em vigor do novo Código de Processo Civil não alterou a divergência sobre a manutenção, ou não, da impenhorabilidade da conta poupança. Aliás, a partir dos julgados colacionados, constata-se que esta divergência jurisprudencial já ocorria na vigência do antigo Código de Processo Civil.

Por fim, cumpre informar que o Superior Tribunal de Justiça, até o momento, não se manifestou sobre a possibilidade de penhora em tais casos.

5 CONCLUSÃO

Ao longo deste trabalho pode-se entender o momento processual em que o Estado-juiz, mediante provocação, procede à prática de atos executivos sobre o patrimônio do devedor, a fim de satisfazer uma obrigação reconhecida em um título executivo.

Como é visto, considerando que o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, somente com o seu patrimônio (à exceção do inadimplemento de obrigação alimentícia), a penhora permite a apreensão judicial de bens que vão responder pela execução e satisfazer o crédito executado.

No entanto, a legislação prevê o rol de bens que não estão sujeitos à penhora e, consequentemente, à execução. Dentre eles, está a quantia depositada em caderneta de poupança, considerada impenhorável até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, conforme o art. 833, X, do Código de Processo Civil.

A respeito desse dispositivo, surge o entendimento de que a sua aplicação deve ser relativizada nas hipóteses em que o executado não mais estiver vivo. Ou seja, aquele montante depositado em conta poupança passaria a ser penhorável em razão da morte do titular da conta.

O argumento preponderante para essa relativização é a adoção, pelo ordenamento jurídico brasileiro, do princípio da saisine. Segundo este, o patrimônio deixado pelo de cujus transfere-se imediatamente aos herdeiros com a abertura da sucessão que, como aprofundado no terceiro capítulo, ocorre no exato momento da morte.

Nesse sentido, outra justificativa para a possibilidade de relativização refere-se à finalidade da norma. Isso porque, a mens legis de garantir o sustento mínimo do executado e sua família, não mais subsistiria com o falecimento do devedor.

Por outro lado, defende-se que o falecimento do executado é irrelevante para a aplicabilidade da norma, já que a impenhorabilidade é absoluta e, por este motivo, deve ser aplicada em sua literalidade.

Em que pese esses dois últimos argumentos, conclui-se que o princípio da

saisine, por si só, já seria suficiente para possibilitar a penhora dos valores

depositados em caderneta de poupança, uma vez que estes passariam a integrar o acervo hereditário, envolto pelos procedimentos do direito sucessório.

Evidentemente, a legislação não é clara a respeito dessa possibilidade e, por isso, cabem interpretações acerca da sua aplicação nesses casos. Fato é que o art. 833 do Código de Processo Civil vem sofrendo inúmeras relativizações, inclusive pelo próprio Superior Tribunal de Justiça. A divergência sobre a relativização do art. 833, X, do Código de Processo Civil, nesses casos, tende a permanecer até eventual manifestação do Superior Tribunal de Justiça sobre o assunto.

Assim, este trabalho procurou aprofundar a divergência jurisprudencial acerca da impenhorabilidade da conta poupança, até o limite de 40 (salários mínimos), bem como contribuir para o estudo das hipóteses de relativização do rol do art. 833 do Código de Processo Civil.

REFERÊNCIAS

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