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De acordo com Vercruyssen e Hendrick (2011), as hipóteses podem ser de três tipos: nulas, que servem para fins estatísticos apenas, as experimentais, que são simples predições de um experimento, e as teóricas, que são usadas para sustentar ou refutar um posicionamento teórico sobre um assunto. Este último tipo é pautado na literatura e faz nos termos dela suas predições para confirmar e/ou refutar uma teoria ou corrente teórica. Desta forma, o presente trabalho estabeleceu hipóteses deste tipo como ponto de partida, para então planejar um experimento com predições de resultados baseados nelas. Estas predições são as hipóteses experimentais do experimento, à partir da qual foi montada uma sistematização entre os cenários de aceitação e/ou rejeição das hipóteses do domínio experimental e sua tradução para as hipóteses do domínio teórico.

Conforme discutido na seção 2.1.2, a Teoria da Utilidade Esperada, se tomada como modelo descritivo, nos traria como hipótese que o sujeito, racional, somente teria sua tomada de decisão influenciada pelas chances e possíveis ganhos de cada alternativa existente, buscando aquela que oferece a melhor combinação entre as probabilidades e os possíveis ganhos (utilidade esperada). Esta hipótese poderia, ainda, ser incrementada ao se incorporar a noção de amantes e/ou avessos ao risco, adicionando de acordo com o perfil de risco do sujeito ao final da cláusula da hipótese, conforme discussão deste tema na seção 2.1.1.

No contexto do presente trabalho, isso implicaria em, indiferente de haver recomendação de expert ou de não expert, na escolha da alternativa, o participante escolheria a de maior utilidade esperada para investir o seu dinheiro (GITMAN; ZUTTER, 2011).

Na perspectiva da Teoria do Prospecto, por outro lado, o indivíduo escolheria predominantemente a alternativa que tem a possibilidade de maior risco caso as alternativas fossem formatadas como perdas; ou a de se menor risco caso as alternativas fossem apresentadas no domínio dos ganhos. Com a perspectiva de se trabalhar apenas com questões no domínio positivo no presente estudo, a opção pela alternativa de menor risco (que assegura algum ganho superior ao mínimo possível) seria uma hipótese razoável com base na descrição da teoria na seção 2.1.3 (KAHNEMAN; TVERSKY, 1979).

Também com base na Teoria do Prospecto e no paradigma das Finanças Comportamentais – que admite o comportamento não racional e portanto o desvio da norma de racionalidade na tomada de decisão – se passaria a aceitar as ideias de que uma recomendação de um Expert (alta AC relativa) ou de um Não Expert (baixa AC relativa) poderiam influenciar a tomada de decisão.

Isso retoma a discussão da AC na seção 2.2.2. A AC é, por definição, o grau de aceitação do emissor da informação como autoridade, e da informação como conhecimento válido, implicando, por esta perspectiva da teoria, que diante de uma recomendação de alguém com alta AC o indivíduo aceitará a recomendação, indiferente dela ser a melhor alternativa ou não (ENGELMANN et al., 2009; ZALESKIEWICZ et al., 2016).

Além da AC, a CS pode ser um fator interveniente na aceitação da recomendação, conforme discutido na seção 2.2.1. O que diferenciaria os dois mediadores seria o estudo de uma recomendação de alguém que não possua AC, como o Não Expert. Desta forma, utiliza-se a CS para sustentar como hipótese, quanto à influência de alguém sem AC, a de que este consultor também afetaria a tomada de decisão no mesmo sentido que a recomendação.

Diante destas discussões, e contemplando a viabilidade do estudo, serão testadas aqui as seguintes hipóteses teóricas, em ordem de relevância para os objetivos do presente estudo:

H1. A Autoridade Cognitiva (AC) afeta a tomada de decisão na direção da recomendação, independentemente de sua assertividade.

H2. A Conformidade Social (CS) afeta a tomada de decisão financeira na direção da recomendação, independentemente de sua assertividade.

H3. O Viés da Confirmação (VC) de um tomador de decisão semirracional afeta a tomada de decisão financeira na direção da recomendação mais assertiva. O presente estudo não propõe como hipótese, mas também controla, a possibilidade de a assertividade da recomendação ser um fator interveniente na tomada de decisão.

Além das hipóteses teóricas, existem as hipóteses estatísticas, mais relacionadas às variáveis operacionais do estudo, que serão discutidas na seção 3.2. Estas hipóteses são:

a. A recomendação correta de um Expert, com alta AC estabelecida, afeta a tomada de decisão financeira na direção da recomendação, aumentando o investimento no prospecto avaliado como ótimo pelo teorema da utilidade esperada (𝑥̅𝐺𝐶 < 𝑥̅𝐺𝐸).

• Hipótese nula: A recomendação correta de um Expert, com alta AC estabelecida, não afeta a tomada de decisão financeira na direção da recomendação (ou afeta na direção oposta), mantendo igual o investimento no prospecto avaliado como ótimo pelo teorema da utilidade esperada (𝑥̅𝐺𝐶 ≥ 𝑥̅𝐺𝐸).

b. A recomendação incorreta de um Expert, com alta AC estabelecida, afeta a tomada de decisão financeira na direção da recomendação, reduzindo o investimento no prospecto avaliado como ótimo pelo teorema da utilidade esperada (𝑥̅𝐺𝐶 > 𝑥̅𝐺𝐸).

• Hipótese nula: A recomendação incorreta de um Expert, com alta AC estabelecida, não afeta a tomada de decisão financeira na direção da recomendação (ou afeta na direção oposta), mantendo igual o investimento no prospecto avaliado como ótimo pelo teorema da utilidade esperada (𝑥̅𝐺𝐶 ≤ 𝑥̅𝐺𝐸).

c. A recomendação correta de um Não Expert, com alta AC estabelecida, afeta a tomada de decisão financeira na direção da recomendação, aumentando o investimento no prospecto avaliado como ótimo pelo teorema da utilidade esperada (𝑥̅𝐺𝐶 < 𝑥̅𝐺𝐸).

• Hipótese nula: A recomendação correta de um Não Expert, com alta AC estabelecida, não afeta a tomada de decisão financeira na direção da recomendação (ou afeta na direção oposta), mantendo igual o investimento no prospecto avaliado como ótimo pelo teorema da utilidade esperada (𝑥̅𝐺𝐶 ≥ 𝑥̅𝐺𝐸).

d. A recomendação incorreta de um Não Expert, com alta AC estabelecida, afeta a tomada de decisão financeira na direção da recomendação, reduzindo o investimento no prospecto avaliado como ótimo pelo teorema da utilidade esperada (𝑥̅𝐺𝐶 > 𝑥̅𝐺𝐸). • Hipótese nula: A recomendação incorreta de um Não Expert, com alta AC estabelecida, não afeta a tomada de decisão financeira na direção da recomendação (ou afeta na direção oposta), mantendo igual o investimento no prospecto avaliado como ótimo pelo teorema da utilidade esperada (𝑥̅𝐺𝐶 ≤ 𝑥̅𝐺𝐸).

Para ilustrar a relação entre as hipóteses teóricas e as experimentais, foi elaborado o Quadro 4 .

Quadro 4 – A relação entre as hipóteses teóricas e as hipóteses experimentais do presente estudo.

Cenário Hipóteses Experimentais

Confirmadas Hipóteses Experimentais Rejeitadas Significado em termos das hipóteses teóricas

AC a,b c,d A AC influencia a tomada de

decisão

CS a, b, c, d - A CS influencia a tomada de

decisão

VC a,c b,d O TDF é semirracional e é

influenciado pela confirmação de suas expectativas.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Desta forma, se são estabelecidos pressupostos sobre quais hipóteses experimentais precisam ser confirmadas e/ou rejeitadas para a aceitação de cada uma das hipóteses teóricas.