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A teoria das Representações Sociais deve ser compreendida no contexto da psicologia social. O foco da psicologia social está em como os sujeitos constroem a realidade, processo pertinente à maneira como os indivíduos trabalham suas ideias, conhecimentos e experiências (MOSCOVICI, 2007).

Segundo Moscovici:

“Há inúmeras ciências que estudam a maneira como as pessoas tratam,

distribuem e representam o conhecimento. Mas o estudo de como, e por que, as pessoas partilham o conhecimento e desse modo constituem sua realidade comum, de como eles transformam as ideias em prática – numa palavra, o poder das ideias – é o problema específico da psicologia social” (1990 in MOSCOVICI, 2007, p.8).

Nessa perspectiva, o conhecimento não é uma simples cópia da realidade, e sim uma elaboração do sujeito, produzido por meio da interação e comunicação, além de ser intencional, ou seja, em sua expressão estão presentes os desejos e interesses dos sujeitos envolvidos.

“O conhecimento emerge do mundo onde as pessoas se encontram e interagem, do mundo onde os interesses humanos, necessidades e desejos encontram expressão, satisfação ou frustração. Em síntese, o conhecimento surge das paixões humanas e, como tal, nunca é desinteressado; ao contrário, ele é sempre produto dum grupo específico de pessoas que se encontram em circunstâncias específicas” (p.8-9). Contudo, a teoria das Representações Sociais centra seus interesses nos processos pelos quais o conhecimento é gerado, transformado e projetado na sociedade.

Nesses termos, percebe-se que o mundo virtual é compreendido como um espaço em que as pessoas, por meio da interação e comunicação, produzem conhecimentos. A utilização desses espaços virtuais em que interesses humanos, necessidades e desejos se encontram, expressam e comunicam, traduzem construções de conhecimentos e de realidades que impactam os próprios sujeitos em sua cotidianidade. Portanto, ao eleger como objetivo principal do presente estudo as representações sociais sobre a Informática Educativa na escola, busca-se analisar os conhecimentos constituintes deste espaço.

2.1.1 Raízes da Teoria das Representações Sociais

Segundo Moscovici (1976), “se a realidade das representações sociais é fácil de captar, o conceito não o é” (p. 39). O autor define o conceito de Representações Sociais na encruzilhada entre conceitos psicológicos e sociológicos.

A teoria das representações sociais baseia-se na ideia de que a explicação da realidade necessita tanto dos conhecimentos advindos da sociologia quanto da psicologia, entre outras ciências, uma vez que acredita-se que os campos científicos não co-existem se vistos separados e sem relação um com o outro.

Para a elaboração da teoria das representações sociais, Moscovici utilizou um arcabouço teórico amplo e diverso. Suas principais origens foram: a contribuição da Sociologia (especialmente da obra de Durkheim); os estudos antropológicos de Lévy- Bruhl; a teoria da linguagem de Saussure; a teoria das representações infantis de Piaget e a teoria do desenvolvimento cultural de Vigotsky.

No entanto, Jovchelovitch (2008) afirma que a influência de Durkheim para a teoria das representações sociais de Moscovici vai além de uma contribuição de seus conceitos centrais. Segundo a autora, “o conceito de representações sociais é uma transformação psicossocial do conceito durkheimiano de representações coletivas” (p. 96). Considerado um dos pais da sociologia moderna, Émile Durkheim foi reconhecido como um dos mais importantes teóricos da coesão social e o conceito de representações coletivas é um dos mais importantes em sua obra. Segundo Jovchelovitch (2008), foi a partir do conceito de representações coletivas que Moscovici formulou características principais das representações sociais, “em particular a dimensão que se refere ao seu caráter material, ao fato de que elas constituem um ambiente, ainda que simbólico” (p.97).

Embora Durkheim tenha formulado sua teoria afirmando que um fenômeno social, quando explicado diretamente por um fenômeno psicológico, resulta numa explicação errônea, Moscovici, em seu trabalho The Invention of Society (1988/1993), analisou as explicações para os fenômenos sociais, elaboradas pelos sociólogos Weber, Simmel e Durkheim e evidenciou que, para explicar os fenômenos sociais, os sociólogos também necessitavam introduzir alguma referência aos processos psicológicos para fornecer coerência e integridade às suas análises, ou seja, o referencial explanatório exigido para tornar os fenômenos sociais inteligíveis deveria incluir tanto conceitos psicológicos quanto sociológicos (Duveen, 2007).

Duveen (2007) afirma que uma das grandes diferenças entre Durkheim e Moscovici, o que faz com que a psicologia social não seja simplesmente uma vertente da sociologia de Durkheim, está no fato de as representações coletivas de Durkheim terem um caráter mais estático, fixo, enquanto as representações de Moscovici apresentam-se dinâmicas. Complementarmente, Jovchelovitch (2008) comenta que Durkheim, em sua discussão sobre as representações coletivas, as “concebeu como externas e coercitivas em relação a indivíduos, bem como estáveis ao longo do tempo” (p. 97).

Durkheim (1912/1995) preocupou-se em criar uma generalização das representações coletivas, buscando o que mantém as sociedades coesas, conservadas e preservadas contra qualquer desintegração, enquanto Moscovici, insatisfeito com os modelos sociais de conformidade e submissão, preocupa-se com as questões que trazem

mudanças e inovações à sociedade, afirmando que, se os modelos de influência social “fosse(m) o único processo de influência social que tivesse existido, como seria possível qualquer mudança social?” (DUVEEN, 2007, p. 15). Nesse sentido, Moscovici visou estudar o que varia e diversifica no pensamento das sociedades, uma vez que essa diversidade evidencia as desigualdades e nuanças das sociedades, as quais produzem representações diferenciadas e não homogêneas.

Duveen (2007) explica:

“É esse interesse com a inovação e a mudança social que levou também Moscovici a ver que, da perspectiva sociopsicológica, as representações não podem ser tomadas como algo dado nem podem elas servir simplesmente como variáveis explicativas. Ao contrário (...) é a construção dessas representações que se torna a questão que deve ser discutida, daí sua insistência (...) em enfatizar o caráter dinâmico das representações, contra seu caráter estático de representações coletivas da formulação de Durkheim” (p. 15).

No campo da psicologia, os primeiros estudos teóricos de representações surgem na psicologia cognitiva, quando as representações são mencionadas como elemento central, no que diz respeito à construção mental dos objetos do ambiente externo. Do ponto de vista de algumas teorias de cognição social, as representações também são vistas como um dos deslocamentos que o pensamento comum realiza em relação ao pensamento científico, mas não se aprofunda a questão do significado de tal deslocamento, bem como o sentido e as influências sociais relacionadas a ele (DUVEEN, 2007).

O presente estudo compreende representações sociais como uma forma de conhecimento construída, produzida e mantida por grupos específicos de pessoas, os quais estão inseridos num determinado momento histórico e, portanto, sofrem influências de uma época. Na teoria das representações sociais, o próprio conceito das representações não se refere a um elemento estático da cognição, como visto nas teorias cognitivas, mas possui

um caráter dinâmico, tanto nos processos pelos quais as representações são produzidas, quanto nas estruturas de conhecimento que esses processos estabelecem.

Tal dinamismo tem sua fonte na própria função das representações sociais: “tornar familiar algo não-familiar" (MOSCOVICI, 2007, p. 54). Tal processo de familiaridade (que será aprofundado a posteriori neste estudo) não se limita apenas a compreender um evento/objeto externo, mas também contempla a forma como, simbolicamente, o sujeito identifica ou define o fenômeno, o que expressa suas capacidades e valores simbólicos, pois se trata de um saber pertinente a um processo que liga um sujeito a um objeto (JODELET, 2001).