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3.1 DIRETRIZES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

3.1.1 a Teoria das Representações Sociais como uma possibilidade de análise de uso das TIC

O que é uma sociedade pensante? Moscovici (2007) parte desta indagação no desenvolvimento de sua obra seminal sobre o fenômeno das representações. Para o autor, as pessoas não são receptoras passivas e, sim, pensam por si mesmas, produzem e expressam-se o tempo todo em suas próprias ideias e representações diante dos contextos e de questões presentes na sociedade em que estão inseridas. Buscando compreender o mundo em que vivem, as pessoas constroem representações que modificam este mesmo, criam realidades próprias de um grupo, de uma sociedade.

Moscovici (2007) propõe dois caminhos que auxiliam na compreensão do pensamento do homem em sociedade. O primeiro caminho, para o autor, é “estudar as circunstâncias em que os grupos se comunicam, tomam decisões e procuram tanto revelar, como esconder algo” (p.43). O segundo caminho consiste no estudo das ações e crenças pertinentes ao grupo, ou seja, suas ideologias, ciências e representações.

No presente estudo, optamos pelo segundo caminho para analisar as representações de alunos de 8ºs e 9°s anos do Ensino Fundamental sobre Informática Educativa na escola.

O uso das TIC - Tecnologias da Informação e Comunicação – está presente na vida cotidiana da escola e torna-se parte da realidade comum dos educandos e da sociedade em

geral. Buscar as representações sociais do uso por parte dos estudantes significa identificar como as ideias são incorporadas, constituindo-se em um conhecimento de senso comum deles.

O suporte teórico das representações sociais na área educacional é reconhecido por Jodelet (2001) como de relevância e é identificado, pela autora, relacionado a: instituição escolar; papéis e formação; e domínio cultural, relativo a cultura e religião.

Estudos baseados nos pressupostos teóricos e metodológicos da teoria das Representações Sociais entendem o objeto de pesquisa como um “processo pelo qual o fenômeno de representação social é simplificado e tornado compreensível pela teoria, para a finalidade da pesquisa” (SÁ, 1998, p.23).

As representações sociais são fenômenos, produzidos coletivamente, no seio dos grupos sociais. Trata-se, assim, de conhecimentos ou saberes que envolvem um conjunto de informações e atitudes em relação a um determinado objeto que se organiza num contexto de tradições partilhadas em um campo (MOSCOVICI, 1976).

Em um movimento constante para manutenção de sua identidade, neste processo produzem representações que permitem assegurar o pensamento coletivo do grupo. Quando os sujeitos pertencentes a um grupo são expostos a um novo objeto, este suscita um novo desafio, ou seja, um novo movimento do grupo para tornar familiar o desconhecido (objetivação) e ancorá-lo em ideias existentes. Neste sentido, Andrade (2006) assinala que um objeto somente pode ser considerado objeto de representação quando desafia a identidade de um grupo, colocando em risco sua compreensão e interpretação diante de aspectos da realidade.

Nesses termos, a Sala de Informática Educativa, tendo se revelado um novo espaço do contexto escolar, trazendo consigo desafios que podem “desequilibrar” as formas convencionais de ensino e aprendizagem, utilizadas por grande parte das escolas ao longo dos tempos, acarreta um novo movimento do grupo social escolar em direção à sua familiarização, nomeação. Pode-se afirmar, seguindo as orientações de Andrade (2006),

que os domínios e noções das práticas educativas são, de certa forma, “ameaçados” por novas formas de construção e relação com o saber, presentes neste novo espaço, que tem o mesmo fim: corroborar para a construção do conhecimento dos alunos.

Ainda nesse sentido, podemos afirmar que na sala de Informática Educativa é possível que se construa representações sociais polêmicas, por ser um contexto novo, que exige soluções adaptativas novas. Segundo Vala (2004 apud Andrade, 2006), representações sociais polêmicas é o melhor nível de análise de representações sociais, por referir-se aos processos produtores de novos significados no interior dos grupos sociais.

Sá (1998) propõe, para a construção do objeto de pesquisa em representações sociais, alguns critérios. São eles:

1. Especificidade do fenômeno enquanto objeto de representação social;

2. Grupo de sujeitos que são levados em consideração para formação e manutenção da representação;

3. Contexto sociocultural levado em consideração para esclarecimento da manutenção e representação.

Com efeito, considera-se que a escolha do objeto de pesquisa do presente estudo (o qual consiste na análise das representações sociais de alunos sobre a Informática Educativa na escola), atenda aos caminhos e critérios propostos, pois:

a. refere-se a um saber científico que transfere-se ao senso comum por meio de vivências escolares e é apreendido como uma etapa de desenvolvimento para os alunos;

b. contempla o critério de ser parte de um discurso advindo de um grupo específico, com sua identidade própria: alunos de uma mesma escola, frequentando a mesma comunidade por anos consecutivos;

c. compreende o critério de ser desenvolvido em um contexto sociocultural específico: alunos que interagem com os mesmos professores, com aulas em comum e, consequentemente, realizam as mesmas atividades, garantindo, dessa forma, a formação e manutenção de representações.

No contexto destas considerações, pode-se então afirmar que a Informática Educativa na escola é um objeto de representação social, uma vez que se configura pela dinâmica das aulas realizadas e pelos conhecimentos construídos e partilhados socialmente pelos alunos inseridos no contexto. Trata-se, portanto, de um objeto de representações, com imagens e significações construídas num contexto histórico-social e será analisado, neste estudo, articulando as dimensões psicossociais da teoria das representações sociais com apontamentos teóricos sobre as TIC na educação, que vêm sendo desenvolvidos por alguns autores, entre eles: Almeida (2003), Belloni (1998), Cysneiros (1999), Prado (2010) e Valente (2010).