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CAPÍTULO 2 A HISTÓRIA DA FORMAÇÃO OPERÁRIA NO CONTEXTO DAS FONTES DO DIREITO DO TRABALHO

2.1 A HISTÓRIA DAS FONTES

A palavra fonte traduz a idéia de origem, nascimento ou causa de alguma coisa. Assim, no plano jurídico, a noção de origem das normas de direito pode ser apreendida em duas dimensões:

I – como fatores que levam à emergência da norma jurídica (fontes materiais); e

II – como mecanismos exteriores e estilizados (portanto formais) pelos quais essas normas se revelam (fontes formais).

As fontes materiais, também conhecidas como reais ou primárias, são os “substratos fáticos”, que imprimem conteúdo à norma. Como fatores culturais, essas fontes pertencem mais ao campo da sociologia jurídica e da filosofia do Direito do que à ciência jurídica (BARROS, 2007:100).

As fontes formais são mecanismos através dos quais o Direito, as normas jurídicas se exteriorizam, se manifestam. São fontes formais do Direito: Constituição, lei, costume, convenção coletiva, sentença normativa.

A doutrina clássica divide as fontes em: fontes materiais e fontes formais. No positivismo jurídico, apenas é possível falar em fontes formais. Como exemplo disto, o magistrado ao proferir julgamento de acordo com os usos e costumes, somente o faz uma vez que autorizado pelo sistema normativo.

As fontes, em Savigny, são a origem ou causa do nascimento do Direito geral ou suas manifestações. Este também é o entendimento do professor Nelson Saldanha que defende que a denominação “fontes”, como forma jurídica, é equivocada, desta forma:

“Fontes deveriam ser as condições e os fatores que criam o Direito, ou os moldes iniciais das instituições jurídicas. Entretanto, a Ciência do Direito, desde muito tempo, ficou consagrando esta denominação para designar formas assumidas pelo próprio Direito positivo (lei, costume, jurisprudência), incluindo na respectiva lista a doutrina por motivos convencionais”.

Como o Direito do Trabalho nasceu das lutas operárias, essa última opção é a que melhor se enquadra para o presente estudo, sobretudo, no momento em que há o domínio expresso do ultraliberalismo e existe a necessidade de reconstituição dos movimentos coletivos organizados.

A reconfiguração teórico-prática da negociação coletiva como fonte de produção de norma jurídico-trabalhista deve estar sincronizada com estes fenômenos.

A doutrina clássica, no contexto das fontes, defende que fonte não é norma, e para o presente estudo o que interessa é o Direito do Trabalho.

2.2 LUDISMO E CARTISMO

Na Inglaterra, no início do século XIX, surgiu o Ludismo, tendo o movimento recebido esse nome em face de seu idealizador Ned Ludd. Operários vítimas de jornadas exaustivas de labor, com duração de quatorze horas, chegaram a ter problemas psicológicos e neurológicos, em conseqüência do estresse da velocidade da produção nas fábricas e da repetição ininterrupta de movimentos durante a jornada.

Esse esforço humano em trabalhar igual a um relógio, dentro de uma sistemática de repetição mecânica, de forma contínua e cronometrada, induz a pessoa a sérios problemas de ordem neurológica e psicológica. Os mais fortes acabam sobrevivendo como se máquinas fossem.

Uma parte da população começava a ser substituída pelas máquinas, que produziam maior quantidade a menor custo. Nesse instante, o sentimento de terrores da miséria levou Ludd e seus discípulos a destruírem as máquinas, tidas como seus principais inimigos, responsáveis pelo desemprego e pelo pagamento de baixos salários.

Os seguidores do movimento tinham um sentimento de revolta enorme, o movimento se espalhou pela França, Bélgica e até pela Suíça, onde os trabalhadores unidos destruíram máquinas, aos gritos “Quebrai as máquinas!”. Foi importante pelo fato de ter sido um marco inicial em se falando de revoltas, mesmo que inconscientemente, da força operária contra o sistema capitalista. O resultado do movimento não foi satisfatório haja vista não ter proporcionado melhoria nas condições de trabalho dos operários.

Quanto ao movimento Cartista, originário na Inglaterra, berço do industrialismo, teve o seu estopim quando o governo inglês baixou medidas para garantir a ordem social e abafar as manifestações em todo em país em face de normas desumanas de trabalho impostas pela burguesia. O auge da crise culminou com a concessão do direito de voto pelo Parlamento Inglês à pequena burguesia e aos pequenos proprietários rurais, em 1832, fruto da pressão realizada com a Revolução Liberal de 1830, que aconteceu na França.

Em 1832, o Parlamento britânico também aprovou o “Reform Act”, lei que privou os operários do direito de voto. Reagiram a tal atitude os operários por meio do documento chamado “Carta do Povo”, elaborada por William Lovett. Por meio desta carta, teve origem o movimento Cartista, tido como o primeiro movimento revolucionário da classe operária, cujo programa

continha, dentre várias reivindicações, o sufrágio universal, direitos eleitorais homogêneos, voto secreto e eleição parlamentar anual. O proletariado chegou à conclusão de que não podia votar pois sua força política se constituía em uma ameaça para a ordem social.

Os operários passaram a incentivar e a insistir na união política da classe para que suas reivindicações passassem a ser fortalecidas. Neste ambiente, surge a Associação dos Operários, que se traduz como meio de encaminhar ao Parlamento britânico vários abaixo assinados com pedidos e ainda de organizar grandes manifestações populares nas ruas de Londres.

Neste movimento Cartista, havia duas tendências: a dos moderados, para estes os meios de reivindicar eram pacíficos, e os revolucionários, que empregavam a luta armada para ascensão da classe operária. Como não havia a homogeneidade dos comportamentos, divergências entre as duas tendências, levou ao enfraquecimento do Cartismo.

O Cartismo teve fim por volta de 1848, mas colaborou para a conscientização política da união e da força dos trabalhadores, não só os da Inglaterra, mas os europeus como um todo.

Os trabalhadores, com o movimento cartista, se uniram de forma organizada, estabelecendo um programa de reivindicações na sua “Carta de Povo”, daí a origem do nome Cartismo. É tido como o primeiro movimento nacional operário de forma organizada. Ajudou na melhoria das condições de vida dos operários e ainda propiciou a experiência de articulação política.

Foram ganhos trazidos pelo movimento: a limitação da jornada de labor das crianças em oito horas, em 1833, o trabalho das mulheres em minas foi proibido em 1842 e ainda em 1847, ocorreu a redução da jornada de trabalho para dez horas. O Cartismo deixou cientes os operários que a miséria não era conseqüência apenas da ganância e da busca sem cessar pelo aumento do lucro dos empresários como também do próprio sistema capitalista.