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CAPÍTULO 2 A HISTÓRIA DA FORMAÇÃO OPERÁRIA NO CONTEXTO DAS FONTES DO DIREITO DO TRABALHO

2.3 SOCIALISMO UTÓPICO

Em 1827, ouvi-se pela primeira vez, na imprensa, falar na expressão socialismo, em um texto elaborado por Robert Owen na Cooperative magazine. Na evolução histórica deste movimento, há duas fases: socialismo utópico e socialismo científico.

O Socialismo Utópico caracterizou-se, assim, como versão do socialismo porque apresentava uma alternativa apenas idealista. Desprezava a importância das condições de vida na sociedade e seu histórico desenvolvimento, enquanto mecanismos de atrelamento à sociedade capitalista. Apesar de ter desempenhado um papel importante no desenvolvimento do próprio socialismo, em razão de manter uma crítica cerrada às contradições do capitalismo, não delimitava as razões das mazelas desse modelo de sociedade e não tinha uma proposta teórica bem sedimentada para justificar a ruptura com ele.

Criticando a sociedade e o Estado da época, os utopistas apresentam um modelo de Estado que não existe em lugar nenhum (utopos = em lugar nenhum) (CICCO, AZEVEDO, 2008:174).

Descreve Thomas More (1478-1535) um Estado imaginário, grande jurista inglês, em seu livro Utopia, sem propriedade privada nem dinheiro. Este Estado preocupa-se apenas com a felicidade coletiva e a organização da produção, além de lançar as bases do socialismo econômico. Além de More, Tommaso Campanella (1568-1639), em sua obra Cidade do Sol, propõe sua cidade utópica ou ideal, imaginando-a sem hierarquias, na qual todos trabalham e as várias funções são adequadamente repartidas (CICCO, AZEVEDO, 2008:175).

Os utopistas imaginam ainda o fim da propriedade privada, de toda habitação separada, da família e tudo o que alimenta o egoísmo, devendo o bem individual ser subordinado ao bem da comunidade.

Os socialistas utópicos não descartaram as greves como alternativas de transformação do modelo individual/contratualista de relações de trabalho. Os males do capitalismo tratados por Robert Owen, foram também abordados por Fourier, em sua obra “Traité d’ Association”, que sugeriu uma solução por meio de uma nova forma de associação que começaria com uma comunidade aldeã, utópica, onde as pessoas trabalhavam de acordo com o seu talento e gosto para o bem de toda comunidade. A maior contribuição de Fourier foram, assim, os ensinamentos gerais sobre o valor da atividade comunal para a produção e para a vida social.

Essa denominação socialismo utópico foi dada pelos opositores marxistas, os quais se intitulavam socialistas científicos. Essa denominação vem do fato de seus teóricos exporem os princípios de uma sociedade ideal, sem contudo, indicar os meios de alcançá-la.

Constituindo uma fundamentação ideológica do moderno comunismo e abrangendo uma filosofia e uma sociologia, o Socialismo Científico mudou o rumo da Economia Política, principalmente com a obra de Marx.

2.4 OS ANARQUISTAS

Outra vertente filosófica e social do contexto histórico que se destaca é o anarquismo. Uma das definições desse movimento conceitua o anarquista como um homem que acredita ser preciso que o governo morra para que a liberdade possa viver. Outra conceituação prega que o anarquismo é um mero promotor da desordem, que não oferece nada para substituir a ordem que destruiu.

Anarchos é uma palavra grega e significa “sem governante”. Para uns essa significação pode ser usada tanto para se referir a uma sociedade sem governo, em desordem,

como para caracterizar uma sociedade que não tem governo, por ser este desnecessário à manutenção da ordem. Para o entendimento comum, trata-se o anarquismo como um caos.

Na fase da Revolução Francesa, foi usada a expressão anarquismo para descrição dos métodos de atuação política tidos como destrutivos e ainda para insultar os que faziam parte da oposição.

Um dos líderes da época foi Proudhon, que definia: “A propriedade é um roubo”. A Constituição de 12 de novembro de 1848, então, suprimiu a propriedade industrial e estabeleceu a participação obrigatória dos operários nos lucros das empresas, com a criação de oficinas nacionais. O Presidente da República deveria ser eleito pelo sufrágio universal (CICCO, AZEVEDO, 2008:201). Este foi o primeiro homem a se intitular como anarquista.

Esclarecendo suas convicções, defendia que as suas críticas à autoridade, não resultavam em desordem, asseverava que as leis que organizam a sociedade não vêm da autoridade (inimiga da ordem) e sim da própria sociedade, oriundas do convívio social.

A ideologia anarquista prega a vida societária sem a presença do Estado. Para esta, o Estado, além de nocivo, é absolutamente desnecessário. Os anarquistas não reconhecem os partidos políticos, nem a democracia representativa. Para essa doutrina o Estado é a fonte de maior parte dos problemas sociais, existindo outras formas alternativas viáveis de organização voluntária.

Outros anarquistas tais como Bakunin, Kropotkin surgem, porém, Proudhon discorda dos anarquistas individualistas mais extremados, uma vez que ele desejava reconstruir a sociedade e não extinguir esta, e imagina os homens convivendo, no futuro, reunidos em grandes federações de comunas e cooperativas operárias, onde a base econômica seria um modelo onde os indivíduos utilizando-se de seus próprios meios de produção, ligados através de contratos de permuta e crédito mútuo que garantisse a cada um o produto de seu próprio trabalho.

Essa evolução do pensamento anarquista não implica em progresso nos termos de uma sociedade capitalista. O pensamento anarquista visa a um retrocesso, para que se volte à simplificação. Com vistas à realização de seus objetivos, os anarquistas norteiam suas táticas na “ação direta” e defendem que os instrumentos empregados são sociais e econômicos. Tais meios constam de uma variedade de táticas, como greve geral, a resistência ao serviço militar até a formação de comunidades cooperativas e uniões de crédito – com o fim de extinguir a ordem vigente e não só preparar a revolução.

O pensamento de Proudhon, especialmente o federalismo e a ênfase nas associações operárias, levou ao surgimento de variantes do coletivismo, como anarco-comunismo, anarcossindicalismo e anarcopacifismo, que eram diferentes quanto às lutas e à forma de se articular.

Finalmente, distanciando-se um pouco do caminho que vai do anarquismo individualista ao anarcossindicalismo, chega-se ao tolstoísmo e ao anarquismo pacifista que surgiu principalmente na Holanda, Inglaterra e Estados Unidos, antes e depois da Segunda Guerra Mundial. Tolstoi, que associava o anarquismo à violência, repudiava essa designação, mas sua total oposição ao Estado e a outras formas de autoritarismo o colocava obviamente dentro da órbita do pensamento anarquista. Seus discípulos e os pacifistas anarquistas modernos, que aceitam a designação que ele repudiou, preferiram concentrar suas atenções quase exclusivamente na criação de comunidades libertárias – especialmente comunidades agrícolas – inseridas na sociedade atual, numa espécie de versão pacifista da ‘propaganda pela ação’. Estão divididos, porém, quanto a questão da violência. Tolstoi pregava a não-resistência, e seu mais importante discípulo, Gandhi, tentou dar forma prática a essa doutrina. Os anarcopacifistas aceitam o princípio da resistência e até a ação revolucionária, desde que não incorra em violência, que consideravam uma forma de poder e, portanto, de natureza não-anarquista. Essa mudança de

atitude levou os anarcopacifistas a se unirem aos anarcossindicalistas, já que o conceito desses últimos, que viam na greve geral a grande arma revolucionária, atraía os pacifistas, que aceitavam a necessidade de que houvesse uma grande transformação na sociedade, mas não desejavam comprometer seus ideais utilizando métodos negativos, isto é, violentos (WOODCOCK, 2007:102).