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Capítulo 1 – Capital e cultura: economia política da comunicação como

1.3 História da indústria cultural no Ceará

Pouco se produziu sobre a história da indústria cultural no Ceará, talvez por conta da ausência de um programa de pós-graduação na área de Comunicação até 2008. A Introdução à história do jornalismo cearense produzida pelo historiador Geraldo da Silva Nobre em 1974 define como seu objetivo narrar “fatos marcantes da atividade jornalística neste Estado, procurando interpretar as condições em que ela se desenvolveu, e sua repercussão no processo cultural – sob todos os aspectos – influenciador da formação do povo cearense”. O texto traz um vigoroso inventário de títulos e nomes confrontados com as disputas políticas e com o quadro socioeconômico. Divide a história em uma fase inicial, um período de jornais partidários, outro de transição e encerra com o momento da chegada dos “novos jornais”, mais modernos. A obra de Nobre é anterior à criação do Diário do Nordeste, do Sistema Verdes Mares, o que exclui de antemão qualquer referência ao jornal.

O jornal O Povo ganhou atenção especial na dissertação de mestrado de Márcia Vidal, que virou livro em 1994 com o título Imprensa e Poder. A autora analisou a relação do impresso com os dois governos do Coronel Virgílio Távora, em que foram promovidos surtos de industrialização via programas de governo como os Plameg (Plano de Metas do Governo) I

e II. No entanto, a ênfase é posta sobre o discurso do jornal, seu conteúdo político, e não sobre o vínculo entre a industrialização e a imprensa.

A história do rádio cearense ganhou capítulo à parte no artigo de Cid Carvalho publicado na Revista de Comunicação Social, em 1979, denominado “O rádio cearense”. No ensaio, o autor relata o início das emissoras do Ceará, levantando nomes e apresentando o perfil de cada um dos veículos. Não perdeu de vista as condições político-econômicas em que se opera o desenvolvimento do rádio no estado.

Além disso, existem relatos em estilo não-acadêmico como a biografia João Dummar, um pioneiro do rádio, escrita por João Dummar Filho (2004), história do homem que fundou a primeira rádio no estado; a Patriolino Ribeiro: um desbravador de caminhos, escrita por Blanchard Girão (2003), sobre a vida do antigo proprietário da TV Cidade de Fortaleza; a Edson Queiroz: um homem e seu tempo, organizada por Mário Ernesto Humberg (1986), e a Edson Queiroz, de Eduardo Campos (2006), ambas sobre o falecido dono do Sistema Verdes Mares; e a Traços de União, escrita por Adisia Sá (1999), sobre a vida Demócrito Rocha, fundador do jornal O Povo. Do mesmo modo, existem escritos sobre a trajetória da primeira emissora de rádio em 50 anos de Ceará Rádio Clube, de Eduardo Campos (1984), e sobre a rádio Dragão do Mar em Só as armas calaram a Dragão, de Blanchard Girão (2005). Os últimos dois autores participaram da história dessas emissoras, o primeiro como diretor- executivo, o segundo como repórter.

A televisão cearense foi o tema da obra A televisão no Ceará, de Gilmar de Carvalho (2004)16, em que traça um panorama da história da TV Ceará, canal 2, no período de 1960- 1965. Narra desde os preparativos para a inauguração da emissora até a chegada do videoteipe passando por uma descrição das estruturas e conteúdos de programas por categoria. Esse livro apresenta muito claramente a falência da tentativa de criação de uma indústria cultural cearense a partir do enfoque da televisão. Por isso, nos referimos neste trabalho a uma indústria cultural no ceará, e não cearense. O que é produzido no Ceará até hoje em termos de indústria cultural é inexpressivo. Embora existam focos e tentativas de superar essa barreira, como o exemplo da TV Diário, que além de programação produz também conteúdo, os veículos cearenses têm se restringido a basicamente difundir o que é produzido fora do estado.

Outra obra sobre o assunto é a TV Ceará: a fábrica de sonhos, escrita por Eduardo Campos(1999), homem que respondia pelos Diários e Emissoras Associados no Ceará. Esta,

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muito mais do que um relato, pode ser considerada um arquivo de registros fotográficos de cenários e momentos da história da televisão mais antiga do estado.

Os estudos sobre a emissora associada no Ceará receberam mais um capítulo em 2003 (ou melhor, mais quatro), com a dissertação de mestrado TV Ceará: processo de modernização da cultura local, em que Mariana Mont’Alverne Lima analisa a relação da televisão no Ceará com a modernização das formas de cultura e sua mercantilização.

Godofredo Pereira dedicou-se à TV educativa do Ceará – ano 6, na Revista de Comunicação Social de 1979. O delineamento da história e do perfil da emissora estatal cearense foi acompanhado da apresentação de um roteiro de programa. A emissora foi concebida como um instrumento do governo para a educação a distância, acrescentando a isso uma dimensão informativo-cultural oficial, destoando do sistema comercial privado, hegemônico no Brasil.

O livro Estudos de comunicação no Ceará, de Vianney Mesquita e Gilmar de Carvalho (1985), fez um apanhado geral sobre o contexto das comunicações no estado, abordando a publicidade, a telefonia e a “grande imprensa”. Neste capítulo, traçouum perfil das empresas que atuam no campo da indústria cultural. O livro foi escrito em forma de coletânea de ensaios, não realizando uma síntese teórica ou aprofundamento.

Adísia Sá (1981) também se preocupou em mapear as empresas de comunicação, desta vezenfocando a concentração dos veículos sob os auspícios de grupos de mídia locais (ver nota 1). O artigo, publicado na Revista de Comunicação Social, que reúne boa parte da produção dos pesquisadores cearenses, foi intitulado Os Meios de Comunicação de Massa e os Grupos Dominantes no Ceará. O texto é fruto do levantamento da autora realizado para auxiliar a pesquisa da ABEPEC que fundamentou o trabalho de Capparelli sobre a televisão brasileira. Resume-se a uma breve introdução seguida por uma enumeração de veículos e classificação dos grupos, de acordo com o proprietário e seu vínculo político.

A publicidade recebeu atenção especial em O gerente endoidou: ensaios sobre publicidade e propaganda, de Gilmar de Carvalho (2008). A coletânea reuniu textos sobre a história da publicidade no Ceará, sua relação com governos, ecologia e cordel, além de alguns ensaios mais abrangentes.

Alexandre Barbalho se ocupou do papel do Governo do Ceará na promoção da cultura no estado. Após tratar das políticas desenvolvidas pela primeira secretaria de cultura estadual do Brasil em Relações entre Estado e Cultura no Brasil, de1998, trata da mudança qualitativa nas políticas públicas para essa área durante as gestões que modernizaram o Estado, em A modernização da Cultura de 2005.

Além dessas publicações, existe um grande volume de monografias de conclusão de curso da Universidade Federal do Ceará que abordam os temas mais variados no campo da comunicação e que preferimos não nos debruçarmos sobre elas pois alongariam muito esta lista e, se tocam no assunto da história da indústria cultural como concebida aqui, fazem-no geralmente de forma pontual ou como subsídio para outras discussões.

Cabe ressaltar aqui a identificação nessas obras do mesmo processo de modernização referido anteriormente, quando discutimos a indústria cultural no Brasil. Entretanto, destaca- se o atrofiamento desse desenvolvimento no setor criativo. Os grupos cresceram, se modernizaram, mas houve o retraimento do setor responsável pela concepção. Isso se torna patente na necessidade de artistas como Renato Aragão, Emiliano Queiroz, Raimundo Fagner, Ednardo, Belchior, entre outros, se deslocarem para o Rio de Janeiro para “voltar em videoteipes e revistas supercoloridas, pra menina meio distraída repetir a minha voz”. Mesmo saindo na frente e criando a primeira secretaria de cultura estadual do país, o Ceará não conseguiu fomentar o desenvolvimento desse setor. O Sistema Verdes Mares se destaca nesse contexto por rapidamente se integrar no processo, tornando-se afiliado da Rede Globo na televisão e seguir a vertente “vitrola” no rádio.

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Os trabalhos apresentados neste capítulo são alguns do que nos dão subsídios para a formação de um quadro de análise do tema aqui definido. A lista, apesar de extensa, não é completa. Certamente existem títulos que ficaram de fora. No entanto, acreditamos que selecionados os de maior influência nas pesquisas posteriores ou os mais “atuais” (no sentido de que o valor heurístico de suas análises para a atualidade é grande), não incorreremos em grandes perdas. Todos, de uma forma ou de outra, encaram o Sistema Verdes Mares enquanto objeto deste estudo e desafiam-no a posicionar-se diante das teses que pressupõem.