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Histórias jocosas são narrativas breves que retratam, normalmente, episódios humorísticos da vida quotidiana. São, por isso, alegres e divertidas. Estas histórias aproximam-se muito das anedotas, porém a sua intencionalidade crítica é mais acentuada. No aspecto formal, apresentam uma narrativa linear e curta, tanto no tempo decorrente da acção, como na sua extensão. A acção decorre num espaço único, envolve poucas personagens e todas as acções se encaminham directamente para o desfecho. A linguagem utilizada é simples e directa e, normalmente, não recorre a figuras de estilo.

A primeira história(113) relata um episódio passado num funeral. A viúva, cumprindo uma promessa, a um pedido formulado pelo marido antes de falecer, cria uma situação caricata e divertida. O marido pede à esposa que, quando ele morrer, coloque uma garrafa de vinho e dois salpicões na urna, juntamente com ele. Após a sua morte, a esposa cumpre o prometido e coloca a encomenda entre as pernas do morto. Já na cerimónia, a viúva começa a gritar, não com saudades provocadas pela morte do marido, como seria normal e de esperar, mas pela falta que lhe fazia o que ele transportava entre as pernas: “ai que eu só tenho pena do que ele leva no meio das pernas”. Esta frase cria espanto nas vizinhas que, atraiçoadas por pensamentos maliciosos, imaginam outras situações: “Ó mulher então ainda agora vai a caminho e já estás aí a gritar.” É uma história simples e muito breve, com duas personagens que se movimentam em torno de uma acção única. A chave do conto, a qual provoca a situação de humor e diversão, traduz-se apenas nas duas frases citadas, o restante texto serve apenas de enredo.

A segunda história(114)descreve um episódio passado na primeira noite de núpcias. A

113Anexo 124. 114Anexo 125.

perda de virgindade antes do casamento, com outro homem, leva a mulher a engendrar um cenário para arranjar coragem de contar ao marido o seu estado. A solução encontrada foi realizar uma serenata a dois: “Então bamos, antes de ir para a cama, fazer uma serenata”. O cântico é iniciado pela mulher que, de imediato, conta a sua condição “Já não tenho virgo, já não tenho não…”. O marido, surpreendido perante tal declaração, responde: “Ó que puta, ó que puta, antão…”. Após várias repetições dos cânticos, o homem, apercebendo-se que nada havia a fazer, resignado com a situação, responde-lhe: “Olha, quer tenhas ou não, o trabalho já não no levo tanto. Bamos lá a isso”, e lá foram para a cama.

Novamente uma história simples, curto, que decorre num espaço único e apenas com duas personagens.

A terceira história(115) retrata as provocações feitas por um papagaio a um casal que, diariamente, passava junto à sua porta. A história começa com os desafios que o papagaio fazia ao seu dono e a repreensão que este lhe deu. Esta pequena introdução serve de preparação para o desenvolvimento da acção. A partir deste episódio, as provocações são dirigidas a uma mulher que passava naquela rua: “lá bai ela toda emproada, de dia bai p’ó trabalho e de noite bai p’á noitada”. Não ficando contente com os repetidos insultos, resolve contar ao marido o sucedido. Perante tal facto, o marido decide vestir-se de mulher para confirmar a versão da esposa e resolver o problema. Em plena rua, ao aproximar-se do papagaio, este reconhece-o e diz-lhe: “Ena, ena, lá bai ele todo gaiteiro, durante a semana é corno ao sábado é paneleiro!”

A quarta história(116) refere a curiosidade que uma mãe viúva demonstra em relação às características do sexo dos genros. No dia seguinte ao casamento da filha mais velha, resolve indagar sobre a “coisinha” do marido. A resposta dada pela filha, “é comprida, mas é delgadinha”, não lhe causando grande entusiasmo. Após o casamento da segunda filha, a cena repete-se. A resposta dada, “curtinha, mas grossa”, também não lhe desperta grande interesse. Quando a terceira filha casa, a mãe interroga-a como às demais irmãs. Perante a resposta da filha, “comprida e grossa”, a mãe mostra-se satisfeita mas, ao mesmo tempo, carente de sexo: “- Oh filha, que rica coisa para a tua mãezinha!”

115Anexo 126. 116Anexo 127.

A quinta história(117)retrata a inocência de uma jovem relativamente à sexualidade. A mãe desta jovem, como forma de a proteger de más intenções do namorado, preveniu-a de que, dançando, lhe poderia “cair a passarinha”. A filha, na sua ignorância, não compreendendo a mensagem que a mãe lhe quis transmitir, justificou a recusa da dança com os conselhos que a mãe lhe havia dado. O namorado, apercebendo-se da sua fraqueza, tirou partido da situação, sugerindo irem a “um recanto” para lhe dar “dois pontos”. Após ter levado os “dois pontos, a jovem, sente-se feliz e pede-lhe para lhe dar mais dois ao que ele recusa por não ter “mais linhas”. A jovem revelou, novamente, a sua inocência quando contou à mãe que o namorado lhe resolveu o problema de não poder dançar, dando-lhe dois pontos na “passarinha” e que tinha ficado perplexa por ele se recusar a dar-lhe mais dois por não ter linha, quando encontrou, “pro abaixo”, ainda “dois novelos”.

A sexta história(118) apresenta a inocência de uma menina em oposição à malícia de seu irmão. Perante a descoberta do órgão genital do irmão, a menina, cheia de curiosidade, pergunta à mãe “- O mano que tem ali no meio das pernas?”, tendo obtido como resposta “é uma pilinha”. Encantada com a novidade, a menina mostrou desejo de, também, ter uma, ao que a mãe lhe respondeu “quando fores grande e se te portares bem… também vais ter uma”. O irmão, revelando enorme malícia, intrometeu-se na conversa e acrescentou “E se te portares mal, tu vais ter muitas…”

A sétima história(119) desenrola-se num casamento em que a rebeldia do irmão do noivo choca com a atitude exibicionista de uma convidada. No momento em que alguns convidados lavavam as mãos para se dirigirem à mesa de refeição, o irmão do noivo fez um elogio às mãos de uma convidada, “tão lindas, tão delicadas, tão branquinhas”. A convidada, em modo de superioridade, disse-lhe “Pois é, porque eu uso luvas.” Não agradado com a resposta, respondeu-lhe em tom maledicente, como era de seu costume, que não seria por esse motivo porque ele também usava cuecas e tinha os “colhões pretos”.

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