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4. O lúdico como ponto nodal de uma contadora de histórias

4.2. Histórias

Como nossa protagonista menciona em seu trabalho de Dissertação: “As histórias encantam as crianças e podem por si só entretê-las por muitas horas. São também usadas combinadas com outro tipo de atividades: Para dar introdução em um jogo que usará um enredo especial, para sustentar uma dramatização.”

Urna definição de história infantil pode ser tirada do livro "A Arte de Ler e Contar histórias" de Malba Tahan que se distinguiu por sua criatividade na composição de contos estilo "mil e uma noites" e publicou este livro em 1957. É um dos livros mais completos sobre o assunto e serviu de orientação tanto a educadores como a artistas que se dedicaram à arte de contar histórias para crianças.(DOHME, 2002, p.25)24

[...] as histórias constituem objeto de acurados estudos, observações e pesquisas, cujo fim essencial consiste em tirar todo o partido possível de tão atraente atividade pedagógica, separando-se o joio do trigo, aprimorando-se

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DOHME, D’Angelo Vânia, Atividades lúdicas na educação – O caminho de tijolos amarelos do aprendizado. 2002. Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura)-Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2002.

o que for bom, e suprimindo-se as toxinas que a ignorância ou a malícia humana hajam ali enxertado. (TAHAN, 1957, apud DOHME 2002)

De acordo com o autor, a história não se limita a um relato; não é uma criação sem conseqüências, é fruto de um conjunto de saberes que permitem que ela seja bem aceita, se perpetue e seja utilizada como um veículo de comunicação entre a criança e o adulto.

De acordo com a primeira página deste trabalho, onde explicamos o porquê da utilização da grafia com a letra h, para as palavras história e história, voltamos a frisar:

Apalavra "história" deriva do grego "historía" através do latim "historia". Na evolução do português, a forma registrada da palavra era "estoria" no

século XIII, depois "hystoria" no século XIV, passando a "história" no século XV. Embora a palavra "história" seja encontrada em textos em português antigo, não tem nada a ver com uma diferenciação entre história e história, pois na época (século XIII) essa era a única grafia da palavra (não se usava "história").

O termo "história" foi introduzido no século XX, artificialmente, por analogia à língua inglesa (story) e alegando-se a necessidade de diferenciar de história ("history") .

A primeira vez que a palavra história (sem h e com e) apareceu foi através de Gustavo Barroso, orador em uma celebração na Academia Brasileira de Letras sobre o centenário na morte de Walter Scott intitulado "0 último menestrel". Posteriormente, a grafia apareceu em um prefácio de urna coletânea de "Os melhores contos históricos de Portugal". Estes dois fatos incentivaram Gustavo Barroso a, em um artigo publicado no Jornal do Comércio no Rio de Janeiro em 5 de agosto de 1956, propor a sua utilização:25

Através de minhas citações, de onde saiu a distinção que, como invenção nova e estalo genial, em nosso folclore se pretende estabelecer entre história com h e com e.( BARROSO in TAHAN, 1957, apud DOHME 2002) Porém, o maior incentivo ao uso das duas palavras veio através do respeitável Câmara Cascudo no seu Dicionário do folclore Brasileiro: Lembro a necessidade de ser empregada HISTÓRIA para as narrativas, os contos tradicionais, ficando HISTÓRIA para o sentido oficial do vocábulo. Os ingleses dizem STORY e HISTORY. Parece haver necessidade em distinguir HISTÓRIA DO BRASIL, com seu longo roteiro de fatos, da HISTÓRIA DA CAROCHINHA, com seu amontoado de lendas. (CASCUDO

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DOHME, D’Angelo Vânia, Atividades lúdicas na educação – O caminho de tijolos amarelos do aprendizado. 2002. Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura)-Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2002.

in TAHAN, 1957, apud DOHME 2002)

Embora outros autores respeitados tenham feito o mesmo uso, como Guimarães Rosa que chamou seus livros de Primeiras Histórias e Terceiras Histórias, a diferenciação não é gramaticalmente justificável e o próprio dicionário Aurélio, que registra a palavra, desaconselha seu uso.

Assim sendo neste trabalho a palavra empregada será história indistintamente, porém, para manter fidelidade aos originais, nas citações será respeitada a grafia utilizada por cada um de seus autores. 26

Uma classificação para as histórias infantis poderia ser feita quanto ao seu teor, mais especificamente quanto às características sobre as quais a trama se de- senrola.(DOHME, 2002, p.27)

4.2.1. Histórias de fadas

A palavra fada de imediato nos transporta para algo mágico, sua origem é grega e indicava na sua forma primitiva o que tinha fulgor, que brilhava. Fatum, no latim, provém da mesma raiz grega e quer dizer brilho e claridade. A palavra fábula tem a mesma origem.(DOHME, 2002, p.27).

A fada era um ser fantástico, representado sob a forma de uma mulher, e à qual se atribuía poder mágico e o dom de adivinhar o futuro. Dentro do Folclore, as fadas se apresentam sob uma infinidade de figuras e revelam possuir os mais desencontrados atributos. Esta tem sob a sua proteção os fracos e os inocentes; outra, freqüenta o palácio do Rei e zela pela vida das Princesas; uma terceira dispõe de objetos mágicos (varas, anéis, flores, etc.) com virtudes sobrenaturais. Ao lado de fadas boas e protetoras surgem,às

vezes, fadas maléficas, perigosas, cujos vaticínios são temidos. (TAHAN, 1957, apud DOHME 2002)

Os contos de fadas são chamados por alguns de contos maravilhosos, uma vez que estes entendem que os personagens não são somente fadas:27

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DOHME, D’Angelo Vânia, Atividades lúdicas na educação – O caminho de tijolos amarelos do aprendizado. 2002. Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura)-Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2002.

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Contos maravilhosos muitas vezes chamados impropriamente contos de fadas, visto que esses personagens intervêm em muito poucos contos. Os personagens sobrenaturais podem muito bem ser feiticeiros, bruxos, duendes, ogros, etc. Na verdade, essa categoria é bastante reduzida no repertório geral. (GILLlG, 1999, apud DOHME 2002)

O narrador elabora e faz um discurso que se trata de uma ficção, se utiliza aqui da fantasia, dons sobrenaturais, podendo existir ou não pessoas comuns, enfeitiçados ou não, mas em sua maioria os fatos são justificados pela magia. Além das fadas, encontramos magos, duendes, príncipes, bruxas, reis, animais com dons como a fala, mas em quantidade não tão significativa.

Na fala de Vânia: “O maniqueísmo28 é uma constante nos contos de fadas e as pessoas ou são boas ou más, de uma forma simples e pura, isto permite que as crianças compreendam melhor a história, cada personagem tem um comportamento esperado e lógico.” 29

É assim também que o conto de fadas retrata o mundo: as figuras são a ferocidade encamada ou a benevolência altruísta. Um animal ou é totalmente devorador ou totalmente prestativo. Cada figura é essencialmente unidimensional, capacitando a criança a entender suas ações e reações facilmente. (BETTELHE/N, 1980, apud DOHME 2002)

A frase inicial dos contos o "Era uma vez ... " tem uma razão de ser, dá independência de tempo e espaço, dispensando a necessidade de algumas justificativas, explicações.

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O maniqueísmo é uma forma de pensar simplista em que o mundo é visto como que dividido em dois: o do Bem e o do Mal. A simplificação é uma forma primária do pensamento que reduz os fenômenos humanos a uma relação de causa e efeito, certo e errado, isso ou aquilo, é ou não é.

http://www.espacoacademico.com.br/007/07ray.htm 17/12/2008

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4.2.2. Mitos

Os Mitos podem ser classificados como histórias onde os personagens têm poderes divinos e podem realizar coisas além do humano como voar em carruagens, viver no Olimpo. Nestas narrações os fatos comuns entre os humanos acontecem sem maiores explicações, como nascimentos, homicídios, casamentos etc. e as mensagens, em sua grande maioria, encontram-se dissolvidas ou embutidas, provavelmente em virtude das transmissões orais, de pai para filho e assim por diante.

De acordo com BETTELHEIN, 1980, apud DOHME 200230:

Colocado de forma simples, o sentimento dominante que um mito transmite é: isto é absolutamente singular, não poderia acontecer com nenhuma outra pessoa, ou em qualquer outro quadro; os acontecimentos são grandiosos, inspiram admiração e não poderiam possivelmente acontecer a um mortal comum como você ou eu. A razão não é tanto que os eventos sejam miraculosos, mas porque são descritos assim. Em contraste, embora as situações nos contos de fadas sejam com freqüência inusitadas e improváveis, são apresentadas como comuns, algo que poderia acontecer a você ou a mim ou a pessoa do lado quando estivesse caminhando na floresta. Mesmo os mais notáveis encontros são relatados de maneira casual e cotidiana.

Uma diferença ainda mais significante entre estas duas espécies de histórias e o final, que nos mitos a quase sempre trágico, enquanto sempre feliz com os contos.

O mito é pessimista, enquanto a história de fadas é otimista, mesmo que alguns traços sejam terrivelmente sérios. É esta diferença decisiva que separa o conto de fadas de outras histórias nas quais igualmente ocorrem coisas fantásticas, que o resultado seja feliz devido às virtudes do herói, a sorte, ou a interferência de figuras sobrenaturais.

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DOHME, D’Angelo Vânia, Atividades lúdicas na educação – O caminho de tijolos amarelos do aprendizado. 2002. Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura)-Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2002.

Histórias extraídas da mitologia grega mais conhecidas em nossos dias são: A caixa de Pandora, O rei Midas, Os doze trabalhos de Hércules, Teseu e o Minotauro, Orfeu e Euridece, Pigmaleão e a Deusa de marfim.

4.2.3. Histórias de aventuras

São as histórias que estão muito próximas da realidade, onde os personagens não são dotados de poderes mágicos, porém vêm carregados de habilidades e qualidades que lhes dão destaque e estão diretamente associados à constituição de caráter, código de ética etc. Exemplos destas histórias são:

"Robson Crusoé", de Daniel Defoe, "Guilherme Tell", de Robin Hood.

Para quem conta a história, muitas vezes é difícil extinguir o sobrenatural, fazendo assim com que ela, mesmo aproximando-se do real, venha com uma gama de elementos fantásticos como: “As viagens de Guliver" de Swift, "Dois anos de Férias" de Julio Verne e histórias dos Cavaleiros da Távola Redonda.

4.2.4. Lendas

Estas são histórias que relatam fatos reais, que normalmente estão alterados e ampliados pela imaginação de quem conta. O querer enaltecer os heróis e cativar a atenção para as histórias, automaticamente produz dons sobrenaturais aos

personagens e aos fatos, o que também pode transformar a história em algo fantasioso, incutindo a dúvida se realmente aconteceu ou existiu, como o caso de "Simbá, o Marujo", que traz o encantamento e o mistério das mil e uma noites.

[...]A ligação com o passado é uma marca forte no folclore e suas lendas. Este recontar sucessivo do passado, de pai para filho, dentro de uma cultura sugere o folclore com uma subdivisão geográfica, assim falamos das lendas brasileiras, lendas indígenas, onde destacamos: 0 negrinho do Pastoreio, A lenda da lara, Chico Rei, Cobra Norato.(DOHME, 2002, p.31)31

4.2.5. Fábulas

Este tipo de histórias não utilizam o sobrenatural ou dons mágicos.

Evidenciam os comportamentos humanos sem a carga de pressões sociais ou preconceitos. No decorrer dos acontecimentos, de forma natural, sobressaem e vencem a justiça e a verdade.

“Narram histórias de animais que falam e têm características humanas, acentuada- mente as virtudes e os defeitos. Os fatos que se desenrolam buscam identidades com relacionamento social e suas conclusões geralmente são uma mensagem de ordem moral.”(DOHME, 2002, p. 32)32

Este tipo de histórias são bem utilizadas pelos educadores, como modelos de condutas morais e éticas, o que não quer dizer com isso que agradem às crianças. Geralmente, em virtude desta observação final, são histórias um tanto secas, diretas, sem grande riqueza de detalhes ou que envolvam certa graça. Assim, muitas delas necessitam de adaptações onde demonstre os personagens com

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DOHME, D’Angelo Vânia, Atividades lúdicas na educação – O caminho de tijolos amarelos do aprendizado. 2002. Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura)-Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2002.

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DOHME, D’Angelo Vânia, Atividades lúdicas na educação – O caminho de tijolos amarelos do aprendizado. 2002. Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura)-Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2002.

alguma qualidade, potencializando assim a emoção e prepare o ouvinte para o ponto culminante do desfecho.

“[...]Atribui-se a Esopo a criação de histórias curtas com caráter alegórico e moral usando animais com vícios e virtudes humanos. Porém a figura deste escravo grego, que teria vivido no século VI A.C., é lendária, sendo difícil comprovar a sua existência por falta de dados biográficos consistentes.”(DOHME, 2002, p.33)

A história atribui a Fedro, provavelmente também uma figura lendária, que teria sido um escravo alforriado na Trácia no século I d. C., o fato de recontar as fábulas de Esopo em forma de poesia, através delas satirizava sua revolta contra as injustiças e o crime.”(DOHME, 2002, p.33)33

Leonardo da Vinci (1452/1519) imortal pela sua pintura e considerado um "gênio universal" em virtude se seu vasto conhecimento em diversas áreas também tinha o hábito de dar mensagem com a finalidade moral através de fábulas, de acordo com os escritos de nossa protagonista, estas fábulas se relacionavam com Ésopo e Fedro e os bestiários medievais, porém, como fazia questão de enfatizar, eram de sua criação.

Quem introduziu as fábulas no Brasil foi Monteiro Lobato, que nos anos 30 recontou as fábulas de La Fontaine no livro "Fábulas". O livro reúne cerca de 75 fábulas por Dona Benta no Sítio do Pica-pau Amarelo.

“E também Lobato que ousa rever alguns conceitos contidos nas fábulas, um exemplo está na famosa fábula "A cigarra e a formiga" , a história apare- ce em duas versões "A formiga má", em que, como nas fábulas de Ésopo e La Fontaine, a formiga bate a porta na cara da cigarra; e "A formiga boa", em que a formiga acolhe a cigarra, reconhecendo que seu canto alegrou-Ihe o trabalho durante todo o verão. Em um exemplo que valoriza a solidariedade dos tempos modernos em detrimento da intransigência quanto ao não cumprimento do dever do trabalho árduo.”(DOHME, 2002, p.34)34

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4.2.6. Histórias reais

“As crianças gostam de histórias reais, porém deve-se tomar extremo cuidado para que as mesmas estejam de acordo com o desenvolvimento intelectual e emocional das crianças, sob pena de elas não entenderem e não aproveitarem. Vejamos o que ensina Bettelhein:”35

Histórias estritamente realistas correm contra as experiências internas da criança; ela as escutará e talvez extraia alguma coisa dela, mas não pode extrair muito significado pessoal que transcenda ao conteúdo óbvio. (BETTELHE/N, 1980, apud DOHME 2002)

Este tipo de história também pode ser contada para as crianças menores. Elas as entendem e podem interessar-se a partir do momento em que relatem fatos semelhantes ao seu dia-a-dia, do contato com os amiguinhos, de aventuras possíveis de serem realizadas por elas.

Podemos também chamar de reais as histórias que discorrem sobre fatos que não necessariamente aconteceram, mas que são viáveis de acontecer para qualquer um.

[...]Existem diversos contos para pré-adolescentes que falam sobre relações familiares, na escola, de primeiros amores; para os menores podemos citar as histórias da Mônica e sua turma, de Maurício de Souza.

Estes fatos do cotidiano podem se combinar com a fantasia e assumir dimensões surpreendentes e muito interessantes. Neste estilo é inquestionável a supremacia de Monteiro Lobato. A turma do sítio convive tanto com a realidade que discute sobre causas sociais, políticas, fatos históricos e das ciências naturais, como conversa com bonecos, peixes e

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DOHME, D’Angelo Vânia, Atividades lúdicas na educação – O caminho de tijolos amarelos do aprendizado. 2002. Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura)-Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2002.

sabugos falantes, em um ambiente de fantasia tipicamente animista, maniqueísta, com a racionalidade cedendo espaço à farta criatividade.(DOHME, 2002, p. 35)

4.2.7. O aspecto educacional das histórias

Em seu trabalho, nossa protagonista menciona que há uma afirmação de que ouvir histórias ajuda a desenvolver a criatividade, isto porque ouvir histórias pressupõe-se uma atitude passiva, sem oportunidade de contribuir com o que está se contando. Assim, propondo que esta frase tenha maior reflexão porque esta atitude passiva seria meramente aparente. “Enquanto o corpo se prosta perante o êxtase e o turbilhão de sensações que as histórias provocam a mente navega pelos mares da fantasia.”

[...]As histórias transportam o ouvinte para outro mundo, o mundo da fantasia e a sua narrativa cuidadosa permite que ela sinta novas e diferentes emoções. Isto amplia a sua visão, que sai da limitação do que pode perceber ao seu redor no dia-a-dia, para ter contato com outras emoções e sensações que a fantasia desperta.(DOHME, 2002, p.104)

A fantasia rica e variada é fornecida à criança pelas histórias de fadas, que ajudam a impedir que a sua imaginação fique atada aos limites reduzidos de alguns devaneios ansiosos ou de realizações de desejos, circulando ao redor de algumas preocupações Iimitadas. BETTELHEIM, 1998, apud DOHME 2002)

4.2.7.a As histórias e a criatividade

De acordo com nossa protagonista em seu trabalho:

[...]Quando falamos em ensinar alguém a ser criativo, nesta estruturação de um processo que, por sua essência, é natural, existe o perigo de se estruturar demais e torná-Io enfadonho, muito próximo do real. E uma forma para que isto não aconteça é aceitar os domínios da fantasia, pois ela é um dos melhores veículos para o desenvolvimento da criatividade.

A fantasia está na liberdade da imaginação, em deixá-Ia flutuar por sua livre vontade sem a colocação de freios, sem direção. E acreditar que o bem e o belo podem se manifestar de diversas formas e que têm significações próprias para cada um.(DOHME, 2002, p. 105)

As historias são muito melhor aproveitadas por aqueles que têm, ou se deixam levar pela fantasia, pois entre um e outro existe um elo de ligação muito forte.

O exercício da fantasia e da imaginação leva a elaboração do pensamento. A trama da história encerra exemplos de conclusões de possibilidades, caminhos que podem ser seguidos.

O convívio com a fantasia proporcionado pelas atividades lúdicas leva a criança a construir uma cultura própria, que vem a ser o produto de como interpreta as propostas culturais fornecidas pela sociedade de adultos.

4.2.7.b As histórias e a formação do senso crítico

“As histórias preparam a estrada para um pensamento coerente, preparam para pensar, e pensar é um ato que envolve o senso crítico. Assim, elas são grandes auxiliares na formação do senso crítico.”(DOHME, 2002, p.106)

Nem todas as pessoas têm opinião própria sobre determinados assuntos. Isto não é assim tão natural, mas é algo que pode ser desenvolvido, através de exposições a situações as quais as convidem a refletir.

Para que esta situação ocorra com as crianças, elas precisam ser de fácil compreensão, ter significado em seus mundos e que lhe atraiam a atenção. É neste momento que as histórias são instrumentos de grande utilidade.

Para que Ihe (a criança) serve a fábula? Para construir estruturas mentais, para estabelecer relações como "eu, os outros", "eu, as coisas", "as coisas verdadeiras e as coisas inventadas". (RODARI, 1982, apud DOHME 2002)

[...]o momento em que uma história está sendo narrada cada criança acompanha fazendo pequenos julgamentos, acentuadamente devido ao caráter maniqueísta da maioria delas, especialmente as histórias de fadas. Por que será que esta madrasta é tão má? Será que o pequeno e frágil duende não se perderá na selva? E também toma partido o que, freqüentemente, se manifesta pela torcida que faz por determinados personagens.(DOHME, 2002, p.107)

A criança necessita muito particularmente que Ihe sejam dadas sugestões em forma simbólica sobre a forma como ela pode lidar com estas questões

e crescer a salvo para a maturidade. O conto de fadas, em contraste, confronta a criança honestamente com os predicamentos humanos básicos. É característico dos contos de fadas colocar um dilema existencial de forma breve e categórica. Isto permite à criança aprender o problema em sua forma mais essencial, onde uma trama mais complexa confundiria o assunto para ela. O conto de fadas simplifica todas as situações. Suas figuras são esboçadas claramente e, detalhes, a menos que muito importantes, são eliminados. Todos os personagens são mais típicos do que únicos.

Ao contrário do que acontece em muitas histórias infantis modernas, nos contos de fadas o mal é tão onipresente quanta a virtude. Em praticamente todo conto de fadas o bem e o mal recebem corpo na forma de algumas figuras e de suas ações, já que bem e mal são onipresentes na vida e as propensões para ambos estão presentes em todo homem. E esta dualidade que coloca o problema moral e requisita a luta para resolvê-Io.

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