UNIVERSIDADE PRESBITERIANA M ACKENZIE
CIBELE M ARI AN A BIETREZ ATTO P ALHOTO
V ÂNI A D’ANGELO DOHME: UM A CONT ADOR A DE HISTÓRI AS
São Paulo
CIBELE MARIANA BIETREZATTO PALHOTO
V ÂNI A D’ANGELO DOHME:UM A CONT ADOR A DE HISTÓRI AS
D is s er taç ã o a p r e s e n t a d a a o Pr o g r a m a d e
Pó s G r a d u a ç ã o e m E d u c a ç ã o , Ar t e s e
H is tó r i a d a C u lt u r a , d a U n i v er s id a d e Pr es b i ter i a na M ac k e n zi e , c om o r eq u is it o par c i a l à o b t e n ç ã o d o t í t u l o d e M e s t r e e m
E duc aç ã o , Ar t e s e H is t ó r i a d a C u l t u r a .
O r i en t ad or : Pr of . D r . A r na l d o D ar a ya C on t ier
São Paulo
CIBELE MARIANA BIETREZATTO PALHOTO
VÂNIA D
’
ANGELO DOHME:
UMA CONTADORA DE HISTÓRIAS
Dissertação apresentada à
Universidade Presbiteriana
Mackenzie, como requisito parcial à
obtenção do títu lo de Mestre em
Educação, Arte e Histó ria da Cultu ra.
A pr o v a do em
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________ __
Prof. Dr. Arnaldo Daraya Contier Universidade Presbiteriana Mackenzie
___________________________________________________________ __
Profa. Dra. Regina Célia F. A. Gio ra
Universidade Presbiteriana Mackenzie
___________________________________________________________ __
Prof. Dr. Inácio Ro drigues de Olive ira
À minha mãe, um agradecimento
especial, por nã o esmorece r,
AGR ADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Arnaldo Daraya Contier, por aceitar ser meu orientador e conduzir minha proposta de trabalho, por auxiliar na trilha
deste caminho de desenvolvimento acadêmico.
Ao Prof. Dr. Marcos Rizolli, pela coordenação, pe la paciência e
indicações quanto a que cam inhos pe rco rre r.
À Profa. Dra. Regina Cé lia F. A. Giora, pela competência nas
observaçõe s no decorrer do e xame de qualifica ção e disponibilidade
naquele momento para auxílio em qua lquer necessidade durante
pesquisa.
Ao Prof. Dr. Inácio de Oliveira Rodrigues de Olive ira , pela sua
competência, pela perspicá cia em perceber a emoção contida na
admiração pe los co ntadores de h istó rias.
À Contado ra de Histó ria s, Educadora e Professora , Vânia Dohme
por sua receptividade e pela oportunidade a mim concedida de entrevista-la, de conhecer este belo mundo da fantasia, amor, da ética,
do auto-conhecimento.
E, com grande carinho, mas sem palavras para expressar às
pessoas que fizeram e fazem parte desta jornada, sem as quais eu não
teria conseguido realizar este trabalho: André, Anto nio Claud ino,
Beatriz, Carina, Cláud ia Stin co, Fátima Chassot(Profa), Katharina
Beraldo(Profa), Lindberg Clemente de Morais(Prof), Luiz Jacob
Perera(Prof), Marcos Masetto(Prof), Maria da Graça Mizukami(Profa),
Maria Lúcia(Profa), Miro, Sandra Stump(Profa), Sueli Galego(Profa),
Suely, Thaís(Profa), Rafael, Re gia ne, Roberta, W aldomiro Olive ira
“A felicidade de todo país depende
do perfil moral de seu povo, não da
forma de seu governo”
RESUMO
Vânia D´An gelo Dohme – uma contadora de histórias: é um trabalh o
sobre a vida de uma contadora de histórias e edu cadora, que utiliza em
suas atividades um ferramental com recursos lúd icos para, atra vés dos
capacitadores e educadores, proporcionar maior cultura às criança s e
garantir-lhes o desenvolvimento de valores básicos pa ra ensiná-los a
ser cidadãos do m undo, membros da comunidade humana e, portanto ,
futuros criadores de uma sociedade mais evoluída.
ABSTR ACT
Vânia D´An ge lo Do hme - a teller of stories: it is a work on the life of a teller of stories and educator, that uses in her activities a tool with ludic resources in order to, through the coaches and educators, provide larger culture to the children and to guarantee them the development of basic values learning to be citizens of the world, members of the human community and, therefore, futures creators of a society more developed.
SUMÁRIO
Introdução...1
A palavra história...2
1. Vânia Dohme: uma contadora de histórias...4
2. Transmissão dos valores de Cidadania através de uma Contadora de histórias...27
2.1. Coleção as aventuras da Fadinha Geri e os 8 jeitos de mudar o mundo...27
2.1.1. A estrutura da coleção...27
2.1.2. Acabar com a fome e a miséria... 32
2.1.3. Educação Básica de qualidade para todos...34
2.1.4. Igualdade entre os sexos e valorização da mulher...35
2.1.5. Reduzir a mortalidade infantil...37
2.1.6. Melhorar a saúde das gestantes...39
2.1.7. Combater a Aids, a Malária e outras doenças...41
2.1.8. Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente...44
2.1.9. Todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento...48
2.1.10. Conclusão...50
3. As técnicas utilizadas por uma contadora de histórias...55
3.1. Objetivos do material...55
3.2. Estudando uma história...55
3.2.1 A quais temas poderemos recorrer...56
3.2.2 A personalização da história...57
3.2.3 Orientações para as narrações...57
3.2.3.a Conversa informal...57
3.2.3.b Disposição...58
3.2.3.c Local...58
3.2.3.d Horário...58
3.2.3.e Interrupções...58
3.2.3.f Naturalidade e segurança...58
3.2.4. Um pequeno roteiro para as narrações simples...59
3.2.5. Explorando a voz...60
3.2.5.a Alguns elementos fundamentais...60
3.2.5.a.1Dicção...61
3.2.5.a.2Volume...62
3.2.5.a.3Velocidade...62
3.2.5.a.4Tonalidade...63
3.2.5.a.5Vocabulário...64
3.2.6. Expressão Corporal...65
3.2.7. Comunicação do semblante...65
3.2.8. Uso do silêncio...66
3.2.9. Fazer imitações...66
3.2.10. Elementos Externos...66
3.2.12. RecursosAuxiliares...68
3.2.12.a. Usar o próprio livro...68
3.2.12.b Gravuras...68
3.2.12.c Figuras sobre o cenário...68
3.2.12.d Fantoches...69
3.2.12.e Teatro de sombras...69
3.2.12.g Maquete...69
3.2.12.h Bocões...70
3.2.12.i Marionetes...70
3.2.12.j Interação com a narração...70
3.2.12.k Dedoches...70
4. O lúdico como ponto nodal de uma contadora de histórias...72
4.1. O jogo...72
4.1.1. O aspecto educacional do jogo...74
4.2. Histórias...75
4.2.1. Histórias de fadas...77
4.2.2. Mitos...79
4.2.3. Histórias de Aventuras...80
4.2.4. Lendas...80
4.2.5. Fábulas...81
4.2.6. Histórias reais...83
4.2.7. O aspecto educacional das histórias...84
4.2.7.a As histórias e a criatividade...84
4.2.7.b As histórias e a formação do senso crítico...85
4.2.7.c Os contos de fada e a estabilidade emocional das crianças...86
4.3. Dramatização...87
4.3.1. Critérios necessários para um teatro infantil de qualidade...87
4.3.2. O aspecto educacional das dramatizações...89
4.4. Músicas, danças e canções...90
4.4.1 O aspecto educacional da música...91
INTRODUÇÃO
O contar histórias pode ser considerada, talvez, uma das primeiras artes praticadas
desde a existência do homem.
Já naquela época, reuniam-se em volta do fogo, relatando como tinha sido o dia,
suas lutas, suas aventuras.
Também neste mesmo período, deveria atrair maior atenção aquele que melhor
descrevesse o ocorrido, com diferentes pitadas, fossem de humor, de exagero, de
medo, aquele que melhor e com maior ênfase conseguisse desencadear sensações.
E, a atividade que iniciou apenas como um momento de reunião, de sociabilização
de um grupo, passou a ter, com o passar do tempo, outras funções, como a de
educar.
As narrações despertam as atividades mentais, capazes de levar o ouvinte a
formação de conceitos e desenvolver os valores éticos, morais, de auto
-conhecimento, auto-estima, de solidariedade, de comunidade.
Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho é o de investigar esta prática
milenar e quais os recursos existentes para a transmissão desses valores,
contribuindo assim para a construção de um mundo melhor.
Para tanto, nosso objeto de estudo é uma grande Contadora de Histórias,
Educadora, Capacitadora, Professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que
possui um rico trabalho na área: Vânia D’Angelo Dohme.
Para o levantamento deste material, nos utilizamos de entrevista com a nossa
A palavra História
Apenas como explicação quanto ao emprego da grafia história, colocamos abaixo a
explicação encontrada no trabalho de Dissertação da Professora e Contadora de
Histórias, Vânia D’Angelo Dohme, pgs 26 e 27:
[...]Alguns comentários também merecem ser feitos quanto à grafia da
palavra história, uma vez que é freqüente o costume de se usar "história" para designar os contos, narrativas, tradições e lendas do povo, em
contraste com "história", que seriam os fatos realmente ocorridos.
Na evolução natural da Iíngua,·nunca existiram dois termos diferentes para
indicar se o relato era real ou imaginário, sempre se usou um só termo para
isso. Segundo o Dicionário Etimológico Nova Fronteira, organizado por
Antonio Geraldo da Cunha, a palavra "história" deriva do grego "historia"
através do latim "historia".
Na evolução do português, a forma registrada da palavra era "estoria" no
século XIII, depois "hystoria" no século XIV, passando a "historia" no século
XV. Embora a palavra "estoria" seja encontrada em textos em português
antigo, não tem nada a ver com uma diferenciação entre história e história,
pois na época (século XIII) essa era a única grafia da palavra (não se usava
"história").
O termo "estoria" foi introduzido no século XX, artificialmente, por analogia à língua inglesa (story) e alegando-se a necessidade de
diferenciar de historia ("history") .
A primeira vez que a palavra história (sem h e com e) apareceu foi através de
Gustavo Barroso, orador em uma celebração na Academia Brasileira de Letras
sobre o centenário na morte de Walter Scott, intitulado "O Último Menestrel”.
Posteriormente a grafia apareceu em um prefácio de uma coletânea de “Os
melhores contos históricos de Portugal”. Estes dois fatos incentivaram Gustavo
Barroso a, em um artigo publicado no jornal do Comércio no Rio de Janeiro em 5 de
Através de minhas citações, de onde saiu a distinção que, como invenção nova e estalo genial, em nosso folclore se pretende estabelecer entre história com h e com e. (BARROSO in TAHAN, 1957,DOHME 2002)
Porém, o maior incentivo ao uso das duas palavras veio através do respeitável
Câmara Cascudo no seu Dicionário do folclore Brasileiro:
Lembro a necessidade de ser empregada HISTÓRIA para as narrativas, os contos tradicionais, ficando HISTóRIA para o sentido oficial do vocábulo. Os ingleses dizem STORY e HISTORY. Parece haver necessidade em distinguir HISTÓRIA DO BRASIL, com seu longo roteiro de fatos, da HISTÓRIA DA CAROCHINHA, com seu amontoado de lendas. (CASCUDO in TAHAN, 1957, apud DOHME 2002)
Embora outros autores respeitados tenham feito o mesmo uso, como Guimarães
Rosa que chamou seus livros de Primeiras Histórias e Terceiras Histórias, a
diferenciação não é gramaticalmente justificável e o próprio dicionário Aurélio, que
registra a palavra, desaconselha seu uso.
Assim como no trabalho da nossa protagonista, pela justificativa acima e por
1. VANIA D’ANGELO DOHME: uma contadora de história.
Quando iniciamos esta etapa do trabalho, imaginávamos que teríamos contato,
entrevistando e futuramente montando o quebra-cabeças da vida, somente de uma
Contadora de Histórias. Contudo, nossa Protagonista é, além de uma Contadora de
Histórias, um Belo Ser Humano, Chefe de Lobinhos1 (Akela2), Advogada, Esposa,
Mãe, Publicitária, Comunicadora, Gestora de Marketing, Capacitadora, Professora,
Idealista e diversos outros adjetivos.
Em nosso encontro foram inúmeras as informações obtidas. Assim, para que o leitor
pudesse visualizar todo este universo, acrescentamos alguns esclarecimentos ao
corpo deste capítulo.
Quando, em determinado momento de nossas vidas, nos perguntam, quais os
fatores preponderantes, ou características pessoais, que nos fizeram trilhar certos
caminhos ou profissões, muitos de nós não sabem explicar. Ao que tudo indica e
pelas informações recolhidas junto a nossa Protagonista, Vânia D’Angelo Dohme
possui duas características que unidas a induziram a percorrer o caminho da artista
que é.... Ser filha única – que gerou a falta de contato com outras crianças -
naturalmente contribuiu para despertar sua paixão por elas e possuir uma visão
social muito grande, além da preocupação com os outros, com a comunidade, com
o futuro e com as questões políticas.
Como todo jovem, imaginando qual carreira deveria seguir para atuar nos campos
que envolviam seus ideais, pensou que sua primeira opção fosse cursar Ciências
1
Nomeclatura utilizada para referência ao grupo de escoteiros na faixa dos 7 a 11 anos. 2
Sociais. Mais tarde, pensando melhor, achou que o Direito possuía um leque mais
amplo, com o qual poderia trabalhar a questão da justiça. E, somado ao fato de
gostar muito de Direito, não teve mais dúvidas do que deveria estudar.
Verificou que na Pontifícia Universidade Católica(PUC) o Curso de Direito tinha um
leque Social extenso. Foi onde estudou e se formou.
Acredita que isto tenha ajudado bastante na sua visão do mundo.
Ainda no período de estudante, necessitava de sustento, o que a fez conseguir
trabalho na área industrial. Imaginava que, com o tempo, o Curso de Direito viria
somar-se à sua renda.
Porém, na prática, percebeu que as coisas não caminhariam desta forma, pois, em
seu período de estágio – aquele pelo qual todo estudante de Direito deve passar –
teve muito contato com a área de fórum, onde veio a decepcionar-se muito ao
perceber, já naquela época, a existência da “corrupção” ...
Ao mesmo tempo em que desenvolvia esta fase de sua vida, estava
constantemente buscando maior envolvimento com as crianças e também com a
questão Social.
Em dado momento, encontrou uma pessoa que já conhecia o Movimento dos
Escoteiros e falou-lhe sobre o trabalho com as crianças que o freqüentavam. Pelo
relato, Vânia foi percebendo que os Escoteiros tinham como base todas aquelas
causas sociais, de preparar o jovem para participar das transformações no mundo, e
que estavam exatamente dentro de seus ideais, além do fato de serem crianças.
Constatou então, em virtude de sua faixa etária, por volta dos 20 anos, que não
informações que obteve sobre o funcionamento do Movimento Escoteiro, ocorreu
-lhe que poderia integrar o grupo como um Chefe de Lobinhos.
E foi o que aconteceu.
Mas, a bem da verdade, ela própria não tinha idéia do que seria este papel e o que
teria a fazer.. Sua identificação com o Movimento foi tão imediata e tão grande que
a melhor frase para defini-la uso sua expressão: “Me joguei de corpo e alma no
movimento escoteiro. Minha vida passou a ser isso.”
E o que era esse universo dos Escoteiros e quais as suas bases?
O Movimento dos Escoteiros foi criado por Baden Powel3. A metodologia criada por
ele é “aprender brincando”. O objetivo principal é a formação de valores, a formação
de comportamento, desenvolvimento pessoal e social, tudo através da brincadeira.
Quando fundou o Movimento Escoteiro, percebeu uma metodologia educacional e
informal, que poderia ter um sucesso muito grande, apesar do problema de ter uma
técnica difícil de ser aplicada.
Na Ilha de Brownsea, no Canal da Mancha, Inglaterra, Baden-Powell realizou um acampamento com vinte jovens, de 12 a 16 anos de idade, onde ensinava técnicas como primeiro socorros, observação, segurança, orientação, etc. Entusiasmado com os bons resultados deste acampamento, Baden-Powell começou a escrever o livro Escotismo para rapazes , que foi publicado em 1908, inicialmente como seis fascículos, de janeiro a maio, vendido em bancas de jornais. Em maio do mesmo ano, foi editado como livro com ligeiras modificações.
A recepção das idéias de Baden-Powell foi tanta que, em poucas semanas, centenas de Patrulhas Escoteiras estavam formadas, praticando Escotismo. Rapidamente o movimento se espalhou por vários países do mundo, chegando à América do Sul em 1908, ao Chile .
3
Em 1909 , mais de 10.000 jovens realizaram uma exibição de suas perícias escoteiras no famoso Palácio de Cristal , em Londres. Temendo a degeneração das suas idéias e verificando a necessidade de integrar todos dentro de um movimento que crescia rapidamente, Baden-Powell passou a dedicar-se à organização do Movimento Escoteiro, que não era sua proposta original. Desliga-se do Exército, em 1910, e ingressa no que chamou de sua "segunda vida", dedicada ao crescimento e fortalecimento do Escotismo.
[...] Foi em 1916 que, a pedido das crianças menores que queriam fazer parte do Movimento Escoteiro, Baden-Powell criou o Ramo Lobinho, baseado no Livro da Jângal, de Rudyard Kipling, com auxílio de sua irmã, Agnes.[...]
[...]A última presença pública de Baden-Powell para os escoteiros foi em 1937, no Quinto Jamboree Mundial em Vogelezang, Holanda, depois viajou para o Quênia, onde fixou residência a partir de 1938 juntamente com Lady Olave. Morre nesse local. A principal organização representativa internacional é a Organização Mundial do Movimento Escoteiro (OMME), WOSM em inglês. O Escotismo é o maior movimento organizado de educação não-formal. Em setembro de 2005, as estatísticas apontam o Escotismo presente em 216 países e territórios, com um total de 28 milhões de filiados, havendo apenas seis países sem escotismo. Já passaram pelo Movimento Escoteiro mais de 300 milhões de jovens desde a sua criação na Inglaterra. Em 2007, será realizado o Jamboree Mundial do Centenário na Inglaterra.
[...] Escotismo ou escutismo, fundado por Lorde Robert Stephenson Smyth Baden-Powell, em 1907, é um movimento mundial, educacional, voluntariado, apartidária, sem fins lucrativos. Criado com a proposta de desenvolver o jovem, por meio de um sistema de valores, que prioriza a honra, baseados na Promessa e na Lei escoteira, e através da prática, do trabalho em equipe e da vida ao ar livre, fazer com que o jovem assuma seu próprio crescimento, torne-se um exemplo de fraternidade, lealdade, altruísmo, responsabilidade, respeito e disciplina.[...]
[...]Desenvolvimento físico: Proporcionar o desenvolvimento físico do jovem por meio de jogos ao ar livre, exercícios, excursões e acampamentos.
Desenvolvimento moral: A finalidade é o caráter com um propósito. E o propósito é que essa geração seja sadia no futuro, para desenvolver a mais alta forma de compreensão e dever para com Deus, pátria e próximo.
Desenvolvimento Intelectual: Dá-se uma preparação adequada pelo conhecimento adquirido em cada uma das etapas como cozinha; campismo, nós, natação e salvamento; primeiros socorros; regras de segurança, orientação, transmissão de sinais, estudo da natureza, etc, e também pelas insígnias de Especialidades, que desenvolvem a vocação de cada um dos jovens.[...]4
Hoje o trabalho com Lobinhos, Vânia o chama de “Luz da Educação”, na época em
que esteve envolvida com o Movimento Escoteiro não tinha este nome....
Indiretamente, todo este envolvimento com o Movimento Escoteiro foi o que
orientou todo o seu trabalho para o terceiro setor.
Passou a ver o mundo de forma completamente diferente do que ela conhecia, de
como ela havia sido criada e das pessoas que ela conhecia.
De acordo com o seu livro “Técnicas de contar histórias”, DOHME, 2000. p. 95, a
atividade do Escotismo fez aflorar sua vocação: Educadora de crianças para a
Cidadania. Mesmo porque o Escotismo é por definição uma escola de Cidadania,
que privilegia, na base de suas atividades, a honra, a verdade, a solidariedade, a
lealdade, a coragem – em suma, a essência do civismo e da ética nas relações
humanas...
Como a própria Vânia diz: “...isso parecia a corda e a caçamba, exatamente aquilo
que eu tanto queria. Poder fazer transformações, não pelo lado do Direito, que era o
que eu imaginava, mas pelo lado Social, pelo terceiro setor.”
Começou a trabalhar com as crianças como Chefe de Lobinhos (Akela) e, por não
saber exatamente como realizar esta sua nova função, passou a freqüentar cursos
dentro do Movimento Escoteiro.
À primeira pessoa com a qual teve contato, assistindo a uma palestra, explicou que
a criança entra dentro da fantasia, que para a criança a fantasia passa a ser uma
realidade.
Até hoje se lembra dessas falas tão importantes.
Com todas estas informações que obteve, sua cabeça passou a fervilhar com as
idéias e com tudo o que poderia criar e realizar com isso. Além da questão da
imaginação e sua identificação com as crianças.
A partir daí passou a ler e pesquisar intensamente sobre este assunto e afins!
5
No trabalho com os Lobinhos, o grupo dirigente utilizava o livro da Jângal6, de
Rudyard Kipling, “muito interessante, de cunho bem social, de grande
profundidade, muito diferente dos demais, até mesmo do que a Disney montou, que
é a história de Mowgli.”
[...]Foi em 1916 que, a pedido das crianças menores que queriam fazer parte do Movimento Escoteiro, Baden-Powell criou o Ramo Lobinho, baseado no Livro do Jângal, de Rudyard Kipling, com auxílio de sua irmã, Agnes.[...]7
Dentro dessa estrutura empregada no Escotismo, os coordenadores abordavam
todo o fundo de cena da história da Jângal, as regras sociais etc, tudo muito
parecido com a fábula.
“A fábula traz uma materialização de um conceito abstrato, assim como o conto de
fadas. É a mesma mecânica.”
Algumas das bases do livro da Jângal são:
Mowgli(o menino lobo) que foi roubado pelo tigre e cuidado por um casal de lobos.
A Alcatéia – grupo dos lobos - (que são todos os lobinhos) e nela Akela (o Lobo
Chefe – que é a mesma função que Vânia ocupava no Movimento Escoteiro.
Observação feita por Vânia – “Ele é o chefe, é solteiro, não se casou porque tinha
que cuidar do bando. Ele é um líder nato. E cada um dos personagens tem um
papel fundamental.” )
Há o Baloo(o Urso), que ensina todo o conhecimento básico de sobrevivência e
princípios da Jângal – “a essência do conhecimento para o Mowgli, personagem
6
Um dos Livros de Rudyard Kipling que conta as histórias de Mowgli. 7
este que a Disney desvirtuou, através do desenho, passando-nos uma imagem de
bobo.”
A Bagheera (Pantera Negra), pantera negra que foi capturada pelos homens e que
viveu no circo por certo tempo. Tem toda uma experiência acumulada por ter
conhecido o mundo dos homens e por ter voltado e se readaptado à Jângal.
Shere Khan (o Tigre), que é traiçoeiro e mata por prazer e não por necessidade
como os outros animais carnívoros.
A Kaa (a Cobra), que passa a ser uma aliada, diferente do que é exposto no
desenho como uma caçadora do Mowgli.
Chil, o Abutre.
Bandar-log, grupo dos macacos.
Hathi, o Elefante selvagem.
Na estrutura utilizada no Movimento Escoteiro, as crianças de 7 a 11 anos são
chamadas de Lobinhos, talvez porque eles são pequenos lobos que estão
aprendendo, assim como se estivessem na selva. (dentro do cenário elaborado)
“O livro é maravilhoso, mas complexo. Não é qualquer pessoa que entende a sua
simbologia. É semiótica total!”
Perguntado à Vânia se, de acordo com a metodologia indicada por Baden-Powell, e
os valores embutidos dentro dela, se os Coordenadores conseguiam transmitir
esses valores através da brincadeira..
“Mas quem conseguia passar?...rs....ninguém tinha nada pronto. Eu achei o método
maravilhoso, sua filosofia....”que beleza”. Mas onde estava o material? O livro que
problema.” Não tínhamos ferramental. Então comecei a escrever... Tinha que
inventar alguma coisa para transmitir-lhes e entreter as crianças no final de semana.
Vânia, lendo demasiadamente, consultando, pesquisando e ao mesmo tempo se
indagando: “Como poderia ajudar? Todos eram voluntários, ninguém tinha
dinheiro, imaginava como poderia auxiliar naquilo em que acreditava tanto?” E a
resposta em sua mente era: “escrevendo”....
Começou a escrever muito, a buscar formas, buscar jogos, buscar histórias, inventar
tudo o que fosse possível.
Em mais ou menos 1980/1982, Vânia passou a escrever e enviar o material para
as outras unidades porque se tornou a responsável pelo Escotismo Regional em
São Paulo.
Assim, Vânia elaborou um livro/apostila que se chamava “Interpretação do livro da
Jângal” e utilizavam-no em cursos de final de semana, ela e os outros chefes,
aproveitando também esses encontros para trocarem idéias, como ela mesma diz:
“aquelas conversas de bêbado”(sem muita ordem ou linha de raciocínio), “o porquê
disso, o porquê daquilo”. “Havia várias histórias, então era o porquê do conteúdo
educacional desta, o porquê daquela outra...etc”...neste período ela também acabou
por receber em mãos um material estrangeiro, que fazia toda a análise mitológica
desses personagens da Jângal. Foi então que começou a entender a história
como algo muito importante para a formação do caráter.
E para poder passar isto às crianças, contavam muitas histórias. Cada história com
diversas passagens(blocos), de acordo com a faixa etária.
Como exemplo: no livro da Jângal, há o momento em que o chefe Akela morre, é um
enfrentar o mundo. Ele retorna para a terra dos homens, de onde fora roubado, e
tem que identificar-se com o homem.
Esta passagem não é passada para o grupo dos Lobinhos.
“Mas não é uma educação castrante...”
Como na passagem onde Mowgli, o Menino Lobo, é capturado pelos macacos, que
são um povo sem lei - “eles não têm lei, eles colocam o prazer na frente da lei,
diferente dos lobos, com quem o Mowgli foi criado, têm toda uma ordenação - e o
Mowgli está naquela época em que quer ser jovem, da criança que está
descobrindo o mundo... ele está atrás dos macacos, mas percebe que aquilo
realmente não é para ele. É uma sociedade que não vai prosperar...”
“Seus amigos Baloo(Urso) e a Bagheera(Pantera Negra) vão até o reduto dos
macacos para salvá-lo, onde ocorre uma batalha e seus amigos apanham e correm
risco de vida tentando salvar o amiguinho.
O Mowgli se sente muito mal diante disso e por ver que os amigos tentando
resgatá-lo acabam sofrendo em conseqüência dos seus atos.
No final, quando ele volta com os amigos, como repreensão, pela lei da
Jângal(selva), a Bagheera dá um tapa na cara dele; essa é a repreensão que ele
deve receber. Depois disso ela manda que ele se sente no lombo dela, para
carregá-lo pois Mowgli está muito machucado.”
“Você tem que compreender exatamente o livro – quando conversávamos com os
demais colegas “lembra aquela passagem....onde o Mowgli faz isso, aquilo, aquilo
outro...” .você tem que compreender, a linguagem mitológica do livro, para que você
possa trazê-la para o seu dia-a-dia e até criar situações que forcem esse dia-a-dia
Por exemplo, um Lobinho fecha os olhos e o outro orienta como andar entre os
obstáculos. Ele tem que subir, tem que descer. Este é um jogo que eu acabei
colocando num livro meu. Então o que é isso? É a confiança!”
“Você pode fazer isso e não passar conceitos éticos de moral, de valor nenhum e
também pode passar valores, dependendo muito do que você compreendeu.”
A partir do momento em que Vânia adquiriu esta compreensão, que se deu por volta
de 1990, começou a querer contar para os outros colegas.
Através de determinadas passagens é que os “Chefes” transmitiam certos conceitos
e as leis escoteiras.
“Através dos jogos também aplicávamos as Leis. As leis dos escoteiros.”
Conceitos inerentes à Lei Escoteira
[...]Honra, integridade, lealdade, presteza, amizade, cortesia, respeito e proteção da natureza, responsabilidade, disciplina, coragem, ânimo, bom-senso e respeito pela propriedade, confiança.
Quando Baden-Powell idealizou a Lei Escoteira, decidiu não estabelecer leis proibitivas, mas conceitos para formação de pessoas benévolas, para que, desta forma, o jovem escoteiro tivesse onde se espelhar e pudesse se orientar.[...]8
Os Lobinhos têm suas próprias Leis, que são mais simples e mais adequadas à
criança. São 5 leis apenas:
- O Lobinho pensa primeiro nos outros (questão coletiva)
- O Lobinho é limpo
- O Lobinho é sempre alegre – tem sempre um espírito destemido
8
- Diz somente a verdade
- Faz sempre o melhor possível “ é muito importante a compreensão do que é o
melhor possível..”
“Mas fazer o melhor, até onde eu posso?....isso você pode colocar em diversidade,
em superação, em potencialidade...então, entendendo tudo isso você acaba
trabalhando estas questões, por exemplo, aplica um jogo onde as crianças vão
correr e saltar a distância, onde somente alguns irão ganhar, depois você fará um
jogo onde eles terão que rastejar embaixo de um obstáculo, onde quem vai ganhar é
o menor. Depois você vai fazer um jogo de criatividade, você vai fazer um jogo de
cantar, depois vai fazer uma modelagem, etc. Veja, estamos trabalhando o melhor
possível. Não tem importância que a sua modelagem é horrível – é torta – é o seu
melhor possível.”
Como é que a Vânia fazia para conseguir conciliar todas as suas atividades?
A Vânia passou a trabalhar com seu marido, na área publicitária. Em seguida nasce
sua filha, seu tempo fica mais limitado e ela precisa viajar muito para as atividades
do Movimento Escoteiro, o que passou a ser complicado com a filha pequena.
Passou a fazer muitos cursos, como pós-graduação em Marketing, para poder
trabalhar na agência e aprender esta questão de público alvo, qual a
característica do público alvo, qual o veículo utilizado para atingi-lo, as histórias
como veículo... tudo se juntou.
Aconteceu também que seu cargo de Chefe de nível Regional dos escoteiros
Movimento dos Escoteiros até no Amazonas. A Associação dos Escoteiros do
Brasil.
Com sua participação no Movimento se desenvolvendo cada vez mais, ela precisava
escrever para todo mundo no Brasil. E pensava: “Como faremos para que as
crianças percebam e sintam que fazem parte de um grande grupo?”
Inventou então uma atividade que era dada no mesmo dia e era igual para todas as
unidades no Brasil. Era ela quem as criava/escrevia. Escrevia 4 a 5 atividades.
Criava um tema, como riquezas brasileiras, mostrando o folclore, as riquezas
brasileiras, índios, tudo o que achava ser importante contar para as crianças e
montava atividades em cima desses temas. Demorava de 3 a 4 meses para
escrever tudo isso.
E depois, novamente, criava/montava outros temas, como arte e natureza e
coletava esse material. O grande desafio era transformá-lo em atividades
educativas e Vânia foi criando cada vez mais..
“Agora eu entendo o que você quis dizer no começo, que você não é uma contadora
de histórias e sim uma educadora....”
Vania acredita que a mola propulsora que fazia com que ela fosse cada vez melhor
para “contar histórias”, era exatamente a sua paixão por crianças.
Sentia isso nitidamente, principalmente em uma passagem marcante numa
atividade com os Lobinhos: “para que os Lobinhos percebessem que quando Akela
morre, é uma passagem da vida dele, de superação - é a última história que contam
levavam os Lobinhos para campo aberto, num acampamento, com toda a natureza à
volta. Criavam um grande clima de emoção, à noite.
“O ferramental não é só o momento “do contar”, são todos os preparativos, e
entender o que isso significa para uma criança.”
Vânia continuou produzindo cada vez mais, e na seqüência a tudo aquilo que criava
ainda continuava em busca de novos conhecimentos, fazendo cursos inclusive.
“Num Congresso em Portugal, abriram-se muitos leques...Passei a conhecer muitas
pessoas que me ensinavam, não era só eu quem ensinava. Não queria me limitar
somente ao livro da Jângal, eu queria outros tipos de livros...”
Num destes cursos ouve falar de Piaget.
Mais uma vez busca mais informações sobre o autor e, em pesquisa, se apaixonou
por sua metodologia. Percebeu e passou a entender (tudo através de suas
pesquisas) que Baden Powel, foi da mesma época de Piaget, que Montessori,
Vigotisky, época em que florescia o conceito educacional centrado na ação e no
educando.
“Então, na realidade, Baden Powel não inventou toda esta metodologia, ele se
apropriou de um conhecimento que existia na época.”
E as descobertas de Vânia não paravam, pesquisando mais ainda descobriu que
Baden Powel sempre foi muito seguidor das idéias de Pestalozzi, o que achou
fantástico, porque, antes mesmo de saber disso, Vânia já havia pesquisado e se
“1700, Pestalozzi foi seguidor de Rousseau, e eu já havia me apaixonado também
por Rosseau quando eu cursei Direito....e nunca iria imaginar que Rosseau já havia
trabalhado com Pedagogia.”
[...] Muito antes do nascimento de Dewey, Montessori, Decroly, Rousseau propôs a liberação do indivíduo, a exaltação da natureza e da atividade criadora, e a rebelião contra o formalismo e a civilização. Sua filosofia, partidária de uma educação natural, sempre esteve vinculada a uma concepção otimista do homem e da natureza.Seu pensamento político, baseado na idéia da bondade natural do homem, levou-o a criticar em diversas ocasiões a desnaturalização, a injustiça e a opressão da sociedade contemporânea.Sua proposta tem interesse tanto pedagógico quanto político e, nesse sentido, propunha tanto uma "pedagogia da política" quanto uma "política da pedagogia". Um dos instrumentos essenciais de sua pedagogia é o da educação natural: voltar a unir natureza e humanidade. A família, vista como um reflexo do Estado é outro dos elementos centrais de sua pedagogia.[...]
[...] Rousseau vê a infância como um momento onde se vê, se pensa e se sente o mundo de um modo próprio. Para ele a ação do educador, neste momento, deve ser uma ação natural, que leve em consideração as peculiaridades da infância, a “ingenuidade e a inconsciência” que marcam a falta da ‘razão adulta’ (NARADOWSKI, 1994, p.33-34)[...]
[...] A função social da educação: a reforma da educação é que possibilitaria uma reforma do sistema político e social;criar uma sociedade fundada na família, no povo, no soberano, na pátria e no Estado;a educação não somente mudaria as pessoas particulares mas também a toda a sociedade, pois trata-se de educar o cidadão para que ele ajude a forjar uma nova sociedade.Outro aspecto da educação natural está na não aceitação, por Rousseau, de uma educação intelectualista, que fatalmente levaria ao ensino formal e livresco. O homem não se constitui apenas de intelecto pois, disposições primitivas, nele presentes, como: as emoções, os sentidos, os instintos e os sentimentos, existem antes do pensamento elaborado; estas dimensões primitivas são para ele, mais dignas de confiança, do que os hábitos de pensamento que foram forjados pela sociedade e impostos ao indivíduo.Rousseau afirmou que a educação não vem de ora, é a expressão livre da criança no seu contato com a natureza. Ao contrário da rígida disciplina e excessivo uso da memória vigentes então, propôs serem trabalhadas com a criança: o brinquedo, o esporte, agricultura e uso de instrumentos de variados ofícios, linguagem, canto, aritmética e geometria.[...]9
Seu seguidor o Pestalozzi
[...] Os acontecimentos sociais, culturais e políticos que comoveram a velha Europa durante a segunda metade do Século XVIII e as primeiras décadas do XIX, configuram o âmbito histórico dentro do qual surgiu a inteligência e a criatividade pedagógica de João Henrique Pestalozzi, influenciado nas suas leituras sobre Rousseau “Contrato Social e Emílio”. A subida do capitalismo industrial como forma predominante da produção social, a exaltação dos nacionalismos étnicos, históricos e religiosos e a aspiração de liberdade do romantismo nos campos da vida política e cultural dos povos, a vertente revolucionária capitalizada pela burguesia que desprezava o absolutismo feudal, entre outros fenómenos, forjaram e orientaram a aventura educativa do humanista suíço/alemão.O pensamento e entrega de Pestalozzi ainda ocupa, nos nossos dias, a atenção de filósofos, psicólogos e pedagogos, devido ao interesse que desperta uma das suas obras educativas mais transcendentes, isto se o julgarmos a partir da profunda influência que alcançou, indo, inclusive, mais além das fronteiras do século XIX europeu, até chegar aos educadores de hoje. Biógrafos, historiadores e críticos, reconheceram a generosidade e autenticidade dos sentimentos que
9
guiaram as experiências pedagógicas do discípulo de Rousseau, inseridas numa época de profundas mudanças na sociedade e na cultura.Pestalozzi idealizou a possibilidade de libertar o povo e notabilizá-lo pela educação. A sua intenção de auxiliar os oprimidos, foi a razão porque passou a viver entre os camponeses dedicando-se à agricultura na tentativa do seu aperfeiçoamento para empregar como exemplo aos demais, com vista à independência[...] 10
“Com tantas pesquisas e escritos, meu marido me questionou, já que eu escrevia
tanto, por que não eu não publicava o material?”
O marido de Vânia auxiliou-a em vários trabalhos, pois, além de ser integrante do
Movimento Escoteiro, só que com crianças dos 11 aos 15 anos, trabalhava com
publicidade e possuía grande criatividade, além é claro de incentivador do seu
trabalho.
Aliado ao questionamento e incentivo de seu marido, nessa época, Vânia tinha um
amigo, que era da Editora Catavento, e também era mais um dos integrantes do
Movimento Escoteiro, que insistiu muito para que ela escrevesse.
Aceitando o desafio e gostando muito desta tarefa, Vânia transformou os incentivos
em realidade. Mas não contava com a outra parte da história, que ela ainda não
conhecia, depois de escrever não havia ninguém que publicasse seu material.
Foram em busca de diversas pessoas, empresas interessadas, até que seu marido
resolveu abrir uma editora para publicar o livro.
Fundiram a agência de Publicidade com a Editora.
Hoje em dia promovem capacitação com a rede Municipal e Estadual de Ensino em
todo o Brasil. Também trabalham com a Responsabilidade Social
10
A maioria das pessoas de sua equipe é realmente idealista?
“Sim, são aquelas pessoas que acreditam no que fazem e que já trabalhavam
comigo também no Movimento Escoteiro. Já viajamos muito juntos, levando eventos
por todo o Brasil, com bagagens e fantasias...Chegamos a promover um evento com
64 atividades simultâneas no mesmo dia. Como uma DisneyWorld de pobres.”
E todo o trabalho com a publicação de seu livro não parou por ai, também precisou
fazer cursos para aprender e realizar a divulgação do livro, porque não se tratava
somente de uma venda, pois sua intenção não era somente a de “vender” o livro e,
sim, divulgá-lo, mostrar aos interessados que existia este tipo de material e que
poderiam utilizá-lo em suas atividades.
“Promovemos cursos para lançar o livro, que serviria como ferramental, por exemplo,
o livro era como se fosse uma apostila para contar as histórias.”
“Acabei por conhecer Maria Helena Flores, que também atua no 3o setor, que me
serviu de ponte para outras pessoas que trabalhavam com o lúdico como ferramenta
educacional. Isso aconteceu tudo ao mesmo tempo. Estava lançando o livro, abrindo
a editora, promovendo os cursos...daí a necessidade do documental para poder
respaldar tudo isso, assim fui em busca do Mestrado.”
“Hoje eu trabalho com o curso de 3º setor, porque vi que o movimento do escotismo
não consegue ir para frente por questões de Gestão. Tem uma metodologia
maravilhosa e uma gestão cheia de problemas. Então comecei a querer entender
E continua trabalhando com o escotismo?
“Não, porque não dá mais tempo... não tenho mais a atuação que já tive, mas as
pessoas que me auxiliam na empresa já trabalharam no Movimento Escoteiro, como
mencionei, ...que têm toda essa cabeça...apesar de serem todos administradores e
advogados. Temos uma educação que montamos ao lado da nossa profissão.”
Como Vânia comenta, faltava-lhe a parte “documental” para respaldar todo este seu
trabalho. Conversando com um Professor do Mackenzie, Márcio Coelho, colega de
trabalho do Movimento Escoteiro, que na época trabalhava com a Profa Carlota com
um grupo chamado UATU(Universidade Aberta do Tempo Útil), falou-lhe sobre o
trabalho com o 3º setor.
“Passei a ter contato com o 3º setor, com o Mackenzie e em seguida estava dando
aulas aqui, de Gestão de Pessoas – Marketing e Comunicação voltada para o 3º
setor.”
Neste contato com a Professora Carlota deu início à vinda de Vânia para o Universo
Mackenzista, como aluna de Mestrado.
“Outra coisa que aconteceu em minha vida foi a paixão pelo Mackenzie. Sou aquela
que não me formei na graduação do Mackenzie, mas desde que tive contato com a
filosofia daqui, eu amei!”
“Vânia diz que o ambiente do Mackenzie tem tudo a ver com ela...mesmo não sendo
Presbiteriana, pois gosta desta questão dos valores.. Sente que aqui é seu território.
“Foi gozado, porque minha filha é que entrou para estudar no Mack.. Ela faz
Coincidiu o ingresso da filha de Vânia na Graduação, no curso de Propaganda e ela
ao mesmo tempo cursando o Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura.
Comenta que, como grande curiosa que é, ficava “xeretando” os livros da filha sobre
propaganda, muitas vezes mais interessada do que ela própria. E, em um dos
momentos em que as duas conversavam sobre suas disciplinas, foi que soube da
Semiótica, disciplina esta que viria a fazer parte de sua vida futura, assim como
aconteceu também com a prossêmica, uma das disciplinas de sua filha da qual é
professora hoje em dia na Comunicação.
“Com isso fiz o Mestrado, acompanhando os estudos de minha filha. Interessei-me
por Semiótica, comecei a entender que semiótica era a linguagem que eu estava
buscando, os mitos, os signos, que era tudo aquilo que tinha a ver com o que eu
sentia. Quando eu entendia a questão mitológica, a linguagem do mito, desde a
história do Mowgli, da formação do caráter, o papel da fantasia, do imaginário... tudo
isso, se tornava muito interessante. As peças começaram a se juntar..”
No transcorrer de seu curso de Mestrado, quando Vânia já havia chegado na etapa
de qualificação, recebeu a sugestão de que poderia fazer uma contribuição com seu
trabalho escrito. Foi quando pensou em um material que já havia trabalhado e com
o qual havia se encantado: o Mágico de Oz.
“Uma das vezes que estive em Nova York, estavam comemorando os 50 anos do
Mágico de Oz. Meu pai morava em N.York e eu ia bastante para lá. Foi quando eu
percebi como os Americanos eram loucos pelo Mágico de Oz, eu achava estranho, o
livro deve ser bom! Quando retornei ao Brasil, vi o filme e li o livro – outra paixão!”
“Depois decidi fazer comunicação e semiótica na Pontifícia Universidade
Católica(PUC). Porque a linha da PUC é muito parecida com a linha que nós temos
aqui no Mackenzie, na Propaganda, e era uma linha que, indiretamente, eu havia
estudado com a minha filha, e eu gostava disso e fui cursar.”
“A Semiótica fechou tudo aquilo que eu acreditava. Continuei na mesma batida, a
minha tese é a questão do papel do imaginário na construção e na formação da
criança. Eu estou só trabalhando realmente a segunda realidade do imaginário.
Outra dádiva também é dar aula aqui na Comunicação, exatamente disso. “
“Dou aula de Comunicação. Prosêmica e Ciências da Comunicação.”
“Prosêmica: Postura de voz, de corpo, sensibilidade, como você trabalha as
mensagens no seu imaginário. Os alunos de Comunicação adoram isso. Reúno-me
sempre com eles(alunos) trabalhamos tudo que eu trabalhei, o que aprendi na PUC,
e continuo aprendendo em questão de semiótica, mas não são desta linha que eu
gosto de fazer. “
E todo este seu trabalho é só para crianças? Você nunca trabalhou com adultos?
“Não, minha paixão é criança, meu negócio é criança.”
Você determinou uma faixa etária?
“Sim, a mesma faixa etária dos lobinhos, de 7 a 11 anos, também porque me
influenciei muito por Piaget. Piaget trabalha toda a questão da formação do símbolo
A minha filha foi minha Lobinha. Foi uma experiência importante, acompanhar como
ela era em casa e como ela era lá, como ela consegui separar. Eu era outra pessoa,
ela me contava coisas que eu tinha trabalhado com os Lobinhos, é lógico que ela
sabia que era a mesma pessoa, mas era o prazer, era tão diferente aquele mundo
imaginário que nós víamos...então você imagina eu com ela, eu já estava madura,
eu tinha crianças lindas comigo, ela era a minha paixão, a minha filha mais nova e
eu poder fazer as coisas para ela! Eu fazia tudo com amor ...
Uma hora eu estava fantasiada de fada, outra hora de gnomo...e eu amava meus
Lobinhos, mas com ela no meio eu ficava mais apaixonada.
E, com a experiência dela de me contar com os olhos dela como ela via, foi daí que
comecei a compreender melhor o Piaget; ele tem uma passagem que conta que um
pai esta passando e o filho está no chão com um monte de caixinhas, uma amarrada
na outra e ele puxando, ele é a locomotiva e as caixinhas são o trem, e quando o pai
vai beijar a criança ela diz a ele: pai não beija a locomotiva senão os vagões vão
pensar que ela não é de verdade e não irão querer segui-la. (uma criança de uns 4/5
anos). Para você ver o que é a cabeça de uma criança!
Essas são as experiências que eu fiz com as crianças. Eu continuo amando as
crianças desesperadamente.”
“Gosto de dar aula, pois gosto muito de jovens, eles são muito engraçados e ainda
É possível traçar um perfil de um contador de histórias?
“Isso é muito complexo. Mas acredito que com um pouco de análise e tempo, talvez
pudéssemos fazê-lo.
Tem o Contador de Histórias e tem o Educador Contador de Histórias; eles são bem
diferentes. Um só conta histórias e o outro é, como você disse no início tem que
entrar no mundo do imaginário, um veículo. Tem que entender o mundo deles para
passar a mensagem. Este é o Educador Contador de Histórias. Ele tem também que
saber como está a criança que está recebendo a informação, ele tem que levar a
mensagem às pessoas, ele tem que entender o público alvo, senão ele não
consegue levar uma mensagem que seja compreensiva. Se você está numa classe
onde você percebe que está havendo discriminação, você precisa ter percepção. A
criança talvez esteja sendo discriminada por questões raciais, bom eu tenho que
consertar, eu tenho que mostrar que todos têm o seu valor. Eu tenho que mostrar
que essa ... é valorosa, então eu vou contar a história que valoriza essa ... para
que todos percebam a questão da diversidade, a força desse ... e passam a parar
a discriminação dessa criança. E eu tenho que entender, educacionalmente, o que
aquela criança que está precisando. Claro que certas coisas são gerais.”
Agora, para eu ser realmente um Educador eficaz tenho que entender cada caso
individualmente. Por exemplo, se eu contar a história do Patinho Feio para uma
criança que tem um trauma de achar que ela é adotada, eu acabo com essa criança.
Tem também o Contador de Histórias que é muito fútil, ele vai lá e conta numa boa.
Eu já assisti várias vezes aquele Contador de Histórias que enaltece que a criança
como o caso daquele herói que é tão legal, um vencedor, tão bacana, mas tão
machão que dá um pontapé no seu empregado. E também não adianta nada, ele
está trabalhando a coragem, mas está também trabalhando a descortesia, que por
outro lado é uma forma ruim, é um descomprometimento muito grande e muito sério.
E a capacidade da criança? Ela não pega o herói e pega a parte que ele dá um
pontapé no seu empregado.
Por isso há necessidade de eu trabalhar no texto muito antes de eu contar histórias.
Porque preciso ver se eles vão ficar perturbados com os valores que eu pego. Aí eu
mudo. Tem escolas que você não pode mudar, o autor não permite. É lá que você
vai encontrar todo o ferramental para fundamentar o que você está passando para
eles.
Na realidade, o que eu tenho feito nos dias de hoje é sempre uma conseqüência de
todo este histórico que eu te contei. Aperfeiçoando então coisas que eu já acreditava
há muito tempo, que eram ferramentais. Muitas vezes eu crio coisas, eu ofereço
para clientes coisas que eu já inventei há 15 anos atrás. E aplico hoje de outra
forma. Todo meu trabalho criativo sempre foi muito intenso. Eu fiz muita coisa, mas
sempre fechado dentro do ambiente escoteiro. Então hoje eu vivo de criações
passadas.
Este é todo meu objeto de pesquisa é a vida toda. É isso que eu trabalho, porque a
história acessa a questão da imaginação, pois a história não existe, ela só acessa a
imaginação que você tem. Ela acessa as estruturas anteriores que você tem, que
você mistura com aqueles elementos novos que estão sendo fornecidos para você,
Hoje, falar de lúdico em educação não é uma loucura
Educação informal, de caráter e de autonomia de valores, através do lúdico, é uma
coisa ótima!
2. Transmissão dos valores de Cidadania através de uma contadora de
Histórias.
2.1. Coleção: As aventuras da Fadinha Geri e os 8 jeitos de mudar o mundo
2.1.1. A estrutura da coleção:
A autora criou um mundo infantil, com diversos personagens, onde cada um deles
contribui para a composição de um cenário onde são explicados e transmitidos os
valores essenciais para a educação e cidadania e algumas pinceladas de outros
conceitos como, por exemplo, de auto-estima, auto-valorização, valorização do
próximo, etc.
Geri é uma fadinha muito faladeira. Ela mora no mundo encantado da Luz Lilás,
que fica atrás de uma certa nuvem.
Ela é muito alegre e companheira, mas fica brava quando falam o seu nome
completo: GERIMUNDA. Porque ela acha que lembra IMUNDA, coisa suja e isso ela
não é, pois toma vários banhos por dia.
Geri (é assim que ela gosta de ser chamada) é bem alegre e muito faladeira; quando
se põe a falar... não pára mais. (DOHME, 2007, p. 1).11
No mundo da Luz Lilás a fadinha Geri (figura 1) tem vários amigos, dentre eles
fadas e magos. Juntos estão sempre protegendo a natureza e as pessoas, muitas
11
vezes vindo até a Terra para ajudá-las. p.2.
GERI
Vamos conhecer um pouco mais sobre cada um:
LIMPÁGUA (figura 2) é o menor de todos, mas é muito esperto. Ele tem o poder de
limpar as águas e criar nuvens...e pelo jeito tem muito serviço a fazer.
A fadinha MARIPOSA (figura 3) possui outros poderes; entre eles o poder de voar.
Ela tem muita habilidade com os bichinhos que precisam de ajuda. Lá no berçário
ela se preocupa com os animais em extinção.
MARIPOSA
PIRILIMPA (figura 4) é uma bruxa muito brava com quem faz sujeira. Ela é capaz de
não se controlar e transformar em sapos e lagartixas as pessoas que poluem a
natureza. Ela ensina os poderes às fadinhas e aos maguinhos para que eles possam
aumentar seus poderes.
LIMPANUVEM (figura 5) é o maguinho responsável pelo “lava-rápido” de nuvens. As
nuvens poluídas chegam e fazem fila para serem lavadas. Muitas vezes ele sai atrás
com o seu pégasus à caça de nuvens desgarradas e as leva aos lugares onde falta
água.
LIMPANUVEM
A FADA FLOR (figura 6) é quem cuida do viveiro. Lá ficam as plantinhas que
precisam ser recuperadas. Muitas vezes ela vem com a Geri até a Terra para
ensinar as crianças a cuidar das plantinhas.
A Fada VIOLETA (figura 7), madrinha da Geri, é responsável pelo aprendizado das
fadinhas e dos maguinhos. Ela possui superpoderes.
Os 8 livros da coleção seguem as linhas da Agenda do Planeta.
Primeiro livro
2.1.2. Acabar com a fome e a miséria
Nesta história, o narrador explica que a Fada Geri tem o ouvido treinado para
atender ao choro de crianças, somente quando o choro for sério e por motivo justo.
(DOHME, 2007, p3).12 Ao mesmo tempo que a narração indica o conteúdo da lição
também acrescenta outros valores para a criança, como chorar somente por “uma
razão”.
A Fada atende ao choro, porque a criança está chorando de fome.
12
A Fada Geri pensou que nenhuma pessoa poderia falar em justiça no mundo
enquanto tivesse uma criança, uma única que fosse, chorando de fome! p.3.
No descorrer da história, a Fada Violeta ,a madrinha de Geri, explica à ela que não
se pode consertar o mundo ou “acabar com a fome” com a “mágica” de sua varinha.
Então, ela explica à afilhada que: “A verdadeira magia está em transformar os
outros dando-lhes sensibilidade, coragem ou estímulo para que elas possam
resolver os seus problemas sozinhos, não precisando mais da nossa ajuda.” p.6.
....”Meninos, vocês têm que aprender muita coisa ainda. Existem vários modos de se
fazer o bem, de ajudar as outras pessoas; mas a melhor forma de ajudar é ensinar
as pessoas a cuidar de si mesmas.” p.10.
Ao final desta história, a Fada Geri ensina a um grupo de pessoas como montar uma
cisterna para a reserva e conservação da água, possibilitando assim o
Segundo Livro
2.1.3. Educação Básica de qualidade para todos
Nesta história, conhecemos o Fabrício, um menino que recolhe livros usados e os
vende para reciclagem....e não pode ler, porque não é alfabetizado. Aqui é
demonstrado novamente, como na aventura anterior, a lição que a Fada Geri
recebeu de sua madrinha: “a melhor “magia” é dar sensibilidade, conhecimento ou
força para que as próprias pessoas possam resolver os seus problemas.” p.6.13
A Fada Geri consegue chamar a atenção de Fabrício para que supere sua vergonha
de não saber ler, se interesse pelos livros e aceite aprender a leitura. A partir daí, o
próprio menino, e com o auxílio de outras pessoas de sua comunidade, monta uma
biblioteca para a utilização de todos. Em conjunto com esta atividade também
13
desenvolvem um grupo de alfabetização de adultos e o auxílio de voluntários, como
a Fada Geri, para ensinarem os mais necessitados.
Terceiro Livro
2.1.4. Igualdade entre sexos e valorização da mulher
Nesta história o narrador fala sobre a visita da Fada Violeta à Terra, a procura de
um emprego. A Fada Violeta pensando: “Arrumar um emprego que não
necessitasse de
estudos; é difícil porque para todas as funções solicitam experiência.” “...como
alguém pode ter experiência se ninguém dá a primeira chance?” (DOHME, 2007,
p.4).14
A Fada Violeta (que é a Madrinha de Geri) consegue um emprego de motorista de
ônibus, que a princípio seria a função de um homem – nesta passagem é explicitada
14
a demonstração de preconceito - e a situação é contornada com a Fada Violeta
convencendo o empregador de que esta função poderia ser ocupada por qualquer
pessoa desde que soubesse dirigir.
Explicam o que é preconceito.p.5.
Ao longo do texto, demonstram o preconceito das outras pessoas, dentro do ônibus
que a Fada dirigia, por ser uma mulher que o estava dirigindo...
Em determinado momento, dentro deste mesmo ônibus, há a narrativa sobre o caso
de uma mãe e seus dois filhos, cujo marido bate nela e nas crianças, que
conhecem também o caso de outras famílias onde os maridos igualmente batem nas
esposas e crianças.
Mencionam que existem leis para evitar este tipo de ação, falam sobre a delegacia
da mulher e da orientação dada à toda a família.
Algumas mulheres reúnem-se para ensinar às outras mulheres estas novas
informações, e há a demonstração de que as mulheres também podem trabalhar, ter
Quarto Livro
2.1.5. Reduzir a Mortalidade Infantil
Nesta história, a Fada Geri, observando de sua luneta algumas pessoas aqui na
Terra, resolve vir conhecer um garoto por quem ficou “entusiasmada”. O Fernando.
Ficou um pouco aborrecida pois não parecia um bom dia, já que o irmão mais novo
de Fernando estava acamado com sarampo.
Ela não entendia como o irmãozinho de Fernando poderia ter contraído sarampo e
indaga ao amigo se não haviam sido vacinados. E qual não é a surpresa da Fada
Geri ao constatar que, não só não tinham sido vacinados, como desconheciam a
real importância da vacina. (DOHME, 2007, p.6).15
15
Diante deste fato, na história, a autora explica a importância da vacinação, que é
através dela que se pode evitar a mortalidade infantil e que as vacinas estão
disponíveis nos postos de saúde.
Após a explicação da Fada Geri, dirigem-se ao posto de saúde onde comentam que
ocorrerá a próxima campanha de vacinação dali a alguns dias. Toda empolgada, a
Fada Geri combina com as crianças divulgar a campanha nas escolas para que
todos tomem vacina e evitem ficar doentes.p.7.
Outra surpresa, poucos aparecem para tomar vacina.
Ela e os outros garotos percebem que as pessoas não têm a real noção da
importância da vacina, ou não gostam, e pensam em alguma forma de reverter a
situação.
Resolvem promover uma peça de teatro dentro do posto de saúde e convidam toda
a comunidade.
Alguns adultos percebendo o empenho das crianças também resolvem colaborar
inclusive preparando lanches para todos.
O resultado é um sucesso, todas as crianças do bairro comparecem, assistem a
peça, são vacinadas e se divertem ao mesmo tempo.
E todos passam a conhecer, através da peça e da presença no postinho, o valor da
vacina.
No final da história, também há um leve toque para as crianças, que ainda são
Quinto Livro
2.1.6. Melhorar a Saúde das Gestantes
Nesta história, a Fada Geri conversa com sua amiguinha a Fada Mariposa sobre o
novo bebê que está para chegar. A Fada Borbolina, mãe da Fada Mariposa está
grávida.
As duas fadas estão felizes pela vinda de um bebê e vão conversar com a Fada
“mãe”, enquanto ela, sentada, está tricotando um sapatinho de lã. As fadas querem
saber como a fada mãe faz para se cuidar na espera do bebê.
Ela explica a respeito da alimentação, que isso é a base para a saúde do bebê.
Também explica sobre a necessidade do acompanhamento médico. Ela fala sobre o
Neste momento a Fada Geri indaga como será que as pessoas pobres fazem aqui
na terra para terem este cuidado à espera de um bebê. Assim, as duas fadas
resolvem vir à terra para verificar. (DOHME, 2007, p.5).16
As duas fadas foram até um posto de saúde, onde conheceram o médico , o Dr.
Stênio, este lhes explicou que em tempos anteriores, antes de seu trabalho no posto
de saúde, algumas mães morriam ao terem seus bebês, principalmente nas regiões
mais carentes. Desde que ele e a enfermeira Bruna chegaram ao posto, foram
procurados por algumas pessoas empenhadas em mudar o quadro desta deficiência
na gestação de algumas mães, e promoveram a instrução da comunidade local,
levando as informações de casa em casa.
Ensinam sobre ter uma vida saudável, ensinam sobre as drogas, o álcool, o fumo,
alimentação balanceada, a fazer exercícios, controle da pressão, diabetes e outras
doenças. p.6.
As fadas indagam ao médico se as mães também foram instruídas a procurar por
um médico. Este, satisfeito, diz que sim e que se orgulha disto em sua profissão e
de poder assistir ao nascimento dos bebês.p.7.
Com isso, ele comenta sobre uma das mães que ele está acompanhando e que
mora ali pertinho, onde elas poderão visitar e verificar como está.
A D. Cota fica contente em receber as duas fadas, não é todo dia que se tem este
tipo de visita.
A D. Cota já tem um menino pequeno e está a espera de mais um. E assim como a
Fada Borbolina, mãe da Fada Rosário, ela estava tricotando um sapatinho de lã.
Por coincidência, a D.Cota passa a ter as dores do parto e as duas fadas acabam
por auxiliar na busca do médico.
16
Ao final da história, a D. Cota coloca o nome da menininha que nasceu de Gerimari,
em homenagem às duas fadas que auxiliaram em seu nascimento.
Sexto Livro
2.1.7. Combater a Aids, a Malária e outras Doenças
Nesta história há mais de uma lição. Nela, a autora faz um elo de ligação entre as
instruções passadas sobre as doenças e o ensinamento sobre a auto-estima. Na
história o Limpágua, amigo de Geri, é um mago aprendiz das águas e está
estudando para ser um guardião da limpeza e do bom uso dos recursos hídricos da
terra, que são os rios e os lagos. (DOHME, 2007, p.3).17
Mas ele é baixinho e odeia isso.
17