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A escolarização de jovens e adultos não é um fato recente, Haddad (2000) faz um apanhado histórico sobre a Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Tendo como base seu artigo, evidencia-se a cronologia dos fatos descritos a seguir.

A escolarização de adultos surgiu no Brasil colônia, por meio da ação dos Jesuítas, que além de evangelizar, ensinavam normas de comportamento e ofícios aos negros e aos índios. Após a expulsão dos jesuítas em 1759, a ação educativa sobre os adultos ocorreria somente no Brasil Império.

A constituição de 1824, por influência europeia, trazia a necessidade de instrução gratuita para todos os cidadãos, mas este direito não saiu das intenções colocadas no papel. Um ato adicional de 1834 passou a responsabilidade da educação dos mais carentes para as províncias, que pouco conseguiu atingir esta população. Em 1890, cerca de 80% da população com idade superior a cinco anos era analfabeta, evidenciando que o déficit educacional que encontramos ainda hoje é histórico.

A primeira república e sua Constituição de 1891 seguem os passos da Constituição anterior, não gerando maiores consequências na melhoria da educação da população mais carente. Somente em 1920, por meio de um movimento organizado por educadores e com apoio da sociedade em prol do aumento da quantidade e da qualidade das escolas, que esta preocupação veio à tona. Nesta fase, o Brasil passava por um momento de criação de indústrias e pelo processo de urbanização das cidades, estes dois aspectos contribuíram para que a necessidade de escolarização da população se tornasse tema nas décadas seguintes.

A Constituição de 1934 (período Vargas) traz consigo a proposta de construção de um Plano Nacional de Educação, este sobre a responsabilidade do Governo Federal

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direcionaria verbas para a manutenção e o desenvolvimento do sistema educacional em geral. Em 1940, a educação de adultos foi reconhecida como uma necessidade e passou a ter um tratamento diferenciado. Com a criação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP) em 1938, e após vários estudos e pesquisas, instituiu-se em 1942 o Fundo Nacional do Ensino Primário, regulamentado em 1945. Na regulamentação do Fundo, ficou estabelecido que 25% dos recursos destinados à manutenção e ao desenvolvimento do ensino, seriam aplicados na Educação de Jovens e Adultos analfabetos (Plano Geral de Ensino Supletivo). Em 1947, o Serviço de Educação de Adultos (SEA) vinculado ao Ministério da Educação e Cultura (MEC) criou um movimento a favor da Educação de Jovens e Adultos por nome de Campanha de Educação de Adolescentes e de Adultos (CEAA). Esta seria mais uma das tentativas de diminuição do quadro de analfabetismo no Brasil, assim como ela, a Campanha Nacional de Educação Rural (1952) e a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo. Mesmo com estas tentativas, a taxa de analfabetos em 1960 era de 46,7% para pessoas acima dos cinco anos de idade.

Os anos entre 1959 e 1964 é considerado um período de grande importância para a Educação de Jovens e Adultos. Neste período, vários movimentos surgiram a partir de iniciativas da sociedade com apoio do Estado, entre eles: Movimento da Educação de Base (CNBB); Movimento de Cultura Popular de Recife; Centros Populares de Cultura (UNE); Programa Nacional de Alfabetização (MEC), com a participação de Paulo Freire. Estes movimentos traziam consigo além do esforço para a diminuição dos índices de analfabetismo, a intenção de inserir os jovens e adultos na vida política do país.

O golpe militar de 1964 desmanchou estes movimentos e passou a apoiar ações de caráter mais conservador, como a Cruzada de Ação Básica Cristã (ABC). O Estado não poderia abandonar a Educação de Jovens e Adultos perante a promessa dos militares de tornarem o Brasil um país grande e desenvolvido. As duas ações que deveriam levar a melhoria dos índices de alfabetização e escolarização geradas pelo governo militar foram: a criação, em 1967, do MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização) e em 1971 do Ensino Supletivo.

O MOBRAL foi criado com o objetivo de em um período de 10 anos erradicar o analfabetismo. O Ensino Supletivo regulamentado a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) que entrou em vigor em 1971 previa: recuperar o atraso dos que não puderam realizar a escolarização na época adequada, formar mão de obra para as

necessidades presentes no desenvolvimento nacional e germinar a educação do futuro tornando a escola como centro de sistematização do conhecimento.

Com o fim da ditadura militar e o processo de redemocratização, o MOBRAL foi extinto, dando lugar a Fundação Nacional para a Educação de Jovens e Adultos (EDUCAR). A Constituição promulgada em 1988, previa também a erradicação do analfabetismo em 10 anos. Com a eleição direta do presidente Fernando Collor de Mello, uma das ações foi a extinção da Fundação EDUCAR, pois o modelo a ser adotado previa a descentralização da escolarização básica.

Sampaio (2009) faz uma análise das últimas décadas. Em seu artigo, relata que a década de 90 foi repleta de conferências sobre educação básica, entre as muitas se pode citar a Declaração Mundial sobre Educação para Todos (Jomtien, 1990), onde o Brasil se comprometeu a reduzir a taxa de analfabetismo; e a V Conferência Internacional de Educação de Adultos (Hamburgo, 1997), que deu ênfase a necessidade da EJA para todos. Na mesma década, começou o Fórum Social Mundial e o Fórum Mundial de Educação. Com a pressão pela disseminação da educação, em 1997, o Programa Alfabetização Solidária foi colocado em prática pelo MEC, com apoio da sociedade civil. Com a mudança de governo, em 2004, o Programa Brasil Alfabetizado foi implantado com características semelhantes ao programa anterior, em que os executores seriam as Organizações não Governamentais e as prefeituras.

Após críticas dos especialistas em educação, afirmando que a alfabetização rápida não levava os indivíduos a um melhor desenvolvimento para o trabalho, em 2007, houve um redirecionamento do programa, transferindo sua a execução aos sistemas públicos de educação, na tentativa de realizar um processo de continuidade de estudos que permitisse a redução do analfabetismo funcional.

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