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HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO URBANA E PROBLEMAS DE

CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.2 HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO URBANA E PROBLEMAS DE

A história da ocupação das cidades de Ouro Preto e Mariana está relacionada à descoberta de ouro no final do século XVII. As cidades localizadas nos contrafortes da Serra de Ouro Preto foram fundadas e se desenvolveram a partir da descoberta de abundantes depósitos de ouro aluvionar nesse mesmo período (Tavares, 2006).

Mariana, inicialmente conhecida como Ribeirão do Carmo, foi a primeira cidade surgida por efeito das expedições de bandeirantes em busca do ouro em Minas Gerais. Acampados às margens do ribeirão do Carmo, os bandeirantes perceberam ser o mesmo riquíssimo em ouro aluvionar, tomando posse e nele iniciando a mineração. Neste local, com o crescente movimento da mineração, surgiu o Arraial do Carmo, sede do governo que se consolidou e em abril de 1711 foi elevado à categoria de vila, qualificando-o como principal centro urbano da província. Mais tarde, em 1745 a vila foi elevada a categoria de cidade, ganhando o nome de Mariana.

O descobrimento do sítio em que surgiu a Vila Rica, hoje cidade de Ouro Preto constitui acontecimento igualmente ligado ao descobrimento das minas de ouro no córrego do Tripuí. O início do povoamento se deu com a formação de vilarejos e arraiais que foram agrupados e elevados a categoria de Vila Rica em julho de 1711, sendo escolhida como capital de Minas Gerais. Em 1823, Vila Rica passa para a categoria de cidade, recebendo o nome de Ouro Preto.

O auge da corrida do ouro ocorreu durante os primeiros quartéis do século XVIII, com intensas atividades mineradoras subterrâneas e a céu aberto, em vales e encostas, principalmente na Serra de Ouro Preto (Sobreira e Fonseca, 2001). No auge do ciclo do ouro, instalou-se um rico conjunto arquitetônico, de forma geral corretamente implantado no meio físico. Entretanto, nas encostas adjacentes, iniciavam-se processos de ocupações simultaneamente desordenadas, oriundos da extração de ouro e da instalação da população de baixa renda (Souza, 1996).

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No final do século XVIII a produção do ouro entra em declínio e a posterior transferência da capital do estado para Belo Horizonte acarreta numa estagnação do desenvolvimento da região, sendo retomado apenas em 1950 com as atividades de mineração de ferro e outros minérios, além da implantação de algumas indústrias na região.

Segundo Sobreira e Fonseca (2001), no final da década de 60, devido à retomada do desenvolvimento da região pela atividade mineira, o crescimento da população e a consequente necessidade de criação de novas áreas urbanas não foram acompanhadas por planejamento prévio adequado, originando uma expansão caótica da malha urbana. Em função disto, vários locais onde se desenvolveram atividades de mineração no passado, com características morfológicas e geotécnicas desfavoráveis, foram ocupadas, gerando assim um quadro problemático no que se refere à segurança da população e das estruturas.

Na década de 80, a cidade de Mariana retomou o crescimento acelerado, após a instalação das mineradoras CVRD, SAMARCO e SAMITRE, tendo o número de sua população triplicado. As atividades ligadas ao turismo também ganharam força se tornando uma importante fonte de renda para o município. Em Ouro Preto também ocorreu um crescimento populacional considerável, devido ao crescimento das indústrias siderúrgicas e mineradoras da região.

Na década de 1990 o crescimento populacional foi menos expressivo, no entanto, o desenvolvimento gerado pela industrialização, turismo e a expansão dos centros acadêmicos, continuaram a favorecer processos de ocupação das áreas periféricas, e consequentemente desencadeando problemas geológicos-geotécnicos provenientes da ocupação desordenada que perduram até os dias de hoje

Oliveira (2010) cartografou as direções dos movimentos populacionais em Ouro Preto a partir de 1950 até 2004. A cidade, centro político, econômico e educacional evoluiu sobre condições físicas de relevo muito especiais, vales encaixados e encostas íngremes, rochas bastante alteradas. A ocupação sem planejamento resultou na inobservância dos métodos técnicos de construção e de utilização adequada do meio físico. Os procedimentos utilizados indicaram dez áreas com tendências a expansão urbana na cidade, que foram posteriormente analisadas utilizando informações geológicas,

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geomorfológicas e geotécnicas. Identificaram-se setores aptos a expansão enquanto outros onde essa expansão deve ser controlada ou mesmo proibida.

Para Souza (2004), as modificações hidrológicas, hidrogeológicas e geomorfológicas, em especial aquelas decorrentes da ocupação e/ou urbanização, são muitas vezes as principais causas da ativação dos processos geodinâmicos, acelerando e ampliando os processos de instabilização. Afirma ainda que, quanto mais recente é a ocupação, mais sujeita estará a problemas provenientes do risco geológico, devido à falta de investimento em contenções, impermeabilizações, etc, pelos moradores, e pela precariedade de infraestrutura instalada.

Devido ao número expressivo de movimentos de massa decorrentes da ocupação predatória dos terrenos ao longo da história, diversos estudos foram realizados na região abordando a relação entre a ocupação desordenada da área e os problemas de instabilidade geológica-geotécnica.

Segundo Pinheiro et al. (2004), o primeiro plano de crescimento de que se tem notícia na região foi elaborado e proposto pelo arquiteto português Viana de Lima para Ouro Preto e propunha o crescimento fora da área urbana existente, no entanto, o mesmo nunca foi implementado. Ainda segundo os autores em 1975, a Fundação João Pinheiro elaborou o Plano de Conservação, Valorização e Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana, documento este que contou com a participação de vários especialistas reconhecidos nacionalmente, mas que novamente não foi seguido.

A Tecnosolo (1979) foi responsável pela produção de um inventário de movimentos de massa ocorridos em Ouro Preto decorrentes da chuva intensa que assolou a cidade no mesmo ano e provocou grandes perdas como destruição de muitas casas, obstrução de ruas e danos a monumentos históricos. Juntamente com o inventário, foram executados diversos estudos e obras de contenção.

Após as chuvas de 1979, um importante trabalho de ordenamento territorial da cidade foi elaborado por Carvalho (1982). A Carta Geotécnica de Ouro Preto aborda as características geológico-geotécnicas locais de forma qualitativa. A combinação da qualidade do terreno obtida por meio da análise da situação geológica-geomorfológica, estado de alteração e estrutura geológica, com as declividades existentes produziu um mapa de risco com três classes distintas (baixo, moderado e alto risco). Apesar de

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completo, este documento importante foi pouco utilizado e o crescimento desordenado da cidade continuou sem levar em consideração as recomendações da Carta.

Sobreira (1989) aponta os pontos críticos da cidade de Ouro Preto em termos de estabilidade geotécnica e destaca a relação entre os movimentos de massa e as características geológicas, geomorfológicas e climáticas. No trabalho são apontados alguns bairros com necessidade de estudos mais detalhados, sendo estes o Veloso (atual São Cristóvão), São João, Piedade, Alto da Cruz e Padre Faria. No mesmo ano, a população da cidade volta a sofrer as consequências da falta de planejamento e é afetada por novas ocorrências de movimentos de massa deflagrados pela elevada precipitação no período.

Novos estudos são então desenvolvidos devido à necessidade do levantamento das áreas mais instáveis e afetadas pelas fortes chuvas. O convênio firmado ente a UFOP e o MinC/SPHAN resultou em dois relatórios que abordaram a questão das áreas de risco geológico e as soluções estruturais para contenção de encostas da cidade (Sobreira, 1990; Sobreira et al., 1990).

Sobreira (1990) descrevendo a situação da cidade após as chuvas de 89 divide a mesma em domínios distintos a partir de critérios morfológicos e, em segundo plano, geológicos, e analisa os problemas de cada um desses domínios. De acordo com o autor, as condicionantes geológicas, geomorfológicas e climáticas desfavoráveis somam-se aos problemas da má utilização do meio, originando os acidentes. Os principais problemas identificados na cidade foram: ocupação de áreas de risco geológico, ocupação inadequada e predatória do meio, bota fora e aterros clandestinos, desmontes e terraplanagens clandestinos, feições e processos erosivos ativos e péssimo padrão construtivo.

No mesmo ano Sobreira et al. (1990) definem algumas soluções estruturais para contenção de encostas em Ouro Preto com base nas particularidades de cada área analisada. A metodologia empregada consistiu de várias visitas de campo, das quais resultaram anotações em cadernetas, lançamentos em mapas das ocorrências e documentação fotográfica. No trabalho foi proposta ainda uma metodologia para enfrentamento dos problemas das encostas da cidade que, resumidamente consistia em: cadastramento detalhado das áreas de risco; criação de um setor de geotecnia;

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desenvolvimento de um programa de investigação do comportamento geotécnico das litologias das encostas de Ouro Preto e definição do modelo de crescimento da cidade. Em seu trabalho, Souza (1996) produziu documentos cartográficos para Ouro Preto referente ao mapeamento geotécnico da cidade visando analisar a susceptibilidade aos movimentos de massa e processos correlatos. A autora constatou que os principais problemas concentram-se nas regiões de minerações abandonadas e de encostas ocupadas desordenadamente. Foram gerados mapas de documentação de substrato rochoso, de materiais inconsolidados, de feições de movimentos de massa e processos correlatos e as cartas de declividade e zoneamento – susceptibilidade aos movimentos de massa e processos correlatos.

Bonuccelli (1999) apresenta em seu trabalho resultados obtidos no estudo dos movimentos gravitacionais de massa e processos correlatos na área urbana de Ouro Preto - MG, na escala 1:10.000. A autora executou um levantamento dos diferentes tipos de processos e os atributos que influenciaram sua ocorrência para Ouro Preto, assim como o cadastro das ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros relacionado a esses fenômenos para o período de 1988 a 1998. Os principais tipos de processos registrados na área urbana foram classificados como complexos, escorregamentos e erosões, predominantemente ativos, com profundidades inferiores a 10m. Já os principais atributos predisponentes foram a declividade e o substrato rochoso, sendo que o tipo de uso do solo e a pluviosidade formam os principais fatores modificadores e deflagradores.

Sobreira (2000) abordou a suscetibilidade à ocorrência de processos geodinâmicos superficiais e os riscos consequentes no município de Mariana, em termos qualitativos. Utilizando cartografia e análise dos aspectos geológicos de interesse, caracterização geotécnica dos materiais ocorrentes, análise dos aspectos geomorfológicos chegou-se a uma carta de suscetibilidade aos processos geológicos, escorregamentos, erosões, rastejos, corridas e inundação. A carta localiza e indica os processos que podem ocorrer na área urbana de Mariana e adjacências. O estudo aponta a necessidade de normas disciplinadoras da ocupação do meio físico, que levem em conta suas características, assim como orienta medidas preventivas e mitigadoras dos problemas ocorrentes. Sobreira e Fonseca (2001) abordam os impactos físicos e sociais das antigas atividades de mineração em Ouro Preto. Apesar da frequência de situações de riscos geológicos na

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área urbana da cidade, o trabalho se concentrou em zonas mais críticas com maior incidência de atividades mineradoras, sendo estas: Veloso, Santana, Taquaral, Morro da Queimada, Piedade e Volta do Córrego. Segundo os autores os problemas quase sempre são associados à ocupação de antigos locais de lavra de ouro, a utilização de terrenos com fortes declives, de zonas de passagem de águas pluviais e locais de estabilidade duvidosa.

No que diz respeito à Mariana, Souza (2004) menciona que o município foi assolado por intensas chuvas que ocasionaram acidentes geológicos e geológicos-geotécnicos, provocando inúmeros danos aos sistemas de drenagem pluvial, às vias públicas, equipamentos urbanos e a domicílios particulares. Conforme o autor, no período de 1997 a 2003 a cidade declarou Estado de Emergência por duas vezes, dada a gravidade dos problemas instalados.

Em seu trabalho, Souza (2004) abordou o estudo do meio físico da cidade de Mariana enfocando os aspectos geológicos e ambientais, com o objetivo de fornecer subsídios para o ordenamento territorial. A partir da análise de documentos cartográficos do território municipal, foram avaliadas as características gerais dos terrenos, os conflitos de usos e os impactos existentes, visando definir a capacidade das unidades de território, para acolher os diversos usos. No âmbito da área urbana, foram detalhados os trabalhos de cartografia geotécnica existentes, enfocando os principais problemas relacionados ao meio físico e seu uso, e elaborado um cadastro geral de ocorrências de processos geodinâmicos. Com os elementos obtidos nas etapas anteriores, cartas temáticas foram elaboradas (carta de risco a processos geológicos, carta de recomendação de uso do solo, etc.) para análise final do meio físico e a proposição de medidas mais adequadas em relação ao uso e ocupação territorial.

Um estudo realizado pelo Ministério das Cidades (Nogueira et al., 2005) incluiu a cidade de Ouro Preto na lista dos municípios brasileiros com maior probabilidade atual de ocorrência de acidentes associados a movimentos de encostas em assentamentos precários. Este trabalho destinou-se a subsidiar a Coordenadoria de Prevenção de Riscos na elaboração de propostas de apoio aos programas municipais preventivos de gestão de riscos em encostas urbanas. Para a seleção dos municípios brasileiros mais suscetíveis a escorregamentos em encostas urbanas, três indicadores fundamentais foram considerados: a) o histórico de acidentes com vítimas; b) a suscetibilidade do meio físico marcado por relevos mais acidentados dos planaltos do leste brasileiro e c) a

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presença das áreas de ocupação subnormal em encostas, com condições precárias de qualidade construtiva, urbana e ambiental, sinalizando condições propícias a acidentes associados a escorregamentos induzidos de solo, rocha e depósitos artificiais de encosta. Castro (2006) estudou a relação da precipitação com os escorregamentos em Ouro Preto, com base em um cadastro dos movimentos ocorridos, através dos boletins de ocorrência do Corpo de Bombeiros, e o resgate dos dados pluviométricos diários registrados em uma estação dentro do município. Com base no cadastro, a autora realizou ainda um mapeamento das áreas mais críticas da cidade, classificando-as em áreas de risco alto, médio ou baixo. Ao final do trabalho foram propostas diretrizes para a elaboração de um plano preventivo de defesa civil para Ouro Preto.

Tavares (2006) identificou áreas que foram ou estão sendo local de extrações minerais na bacia do alto Ribeirão do Carmo (Ouro Preto e Mariana) e analisou o impacto, o histórico, a evolução dos processos morfodinâmicos no tempo e as intervenções posteriores, fornecendo subsídios para a proposição de diretrizes mitigadoras dos problemas existentes. Foram avaliados os processos ocorrentes nesses locais, suas causas e possíveis consequências, além da atualização das informações obtidas na interpretação de imagens. As áreas foram agrupadas por atividades congêneres e contemporaneidade, visando sistematizar as classes de impactos e assim permitiu analisar os processos e listar os efeitos das explorações de bens minerais correlacionando aos impactos e passivos ambientais nos meios físico, bióticos e antrópicos.

Recentemente, Fontes (2011) aplicou os princípios e as bases conceituais das análises de risco a escorregamentos ao sítio urbano de Ouro Preto, visando contribuir para a prevenção/mitigação dos riscos e para a gestão político-ambiental deste espaço. Os atributos e parâmetros admitidos como potencialmente indutores dos mecanismos de escorregamentos foram declividade, forma das encostas e litologia. Os resultados foram sistematizados em um mapa de suscetibilidade a escorregamentos e um mapa de perigo a escorregamentos, sendo que o primeiro traduz a predisposição do espaço físico induzir movimentos de massa e o segundo representa a probabilidade da ocorrência destes processos e suas consequências em termos de danos físicos e patrimoniais, além de perdas de vidas humanas. O trabalho incluiu ainda os estudos e resultados obtidos com programa de controle e monitoramento dos terrenos, por meio de inspeções in situ e instalação de inclinômetros em áreas críticas. Tais procedimentos, integrados aos

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estudos dos condicionantes geológico-geotécnicos locais, propiciaram a definição do zoneamento de áreas de risco da área estudada, levando-se em consideração a influência direta das ocorrências registradas ao longo do tempo.

Outros trabalhos também foram desenvolvidos ao longo desses anos, como Sobreira (1991), Sobreira (1992a), Sobreira (1992b), Sobreira e Araújo (1992), IGA (1995), Sobreira e Fonseca (1998), Gomes et al. (1998), Fernandes (2000), Carvalho (2001), Fernandes et al. (2002), Pinheiro et al. (2003) e Ferreira (2004) entre outros.

2.3 MOVIMENTOS GRAVITACIONAIS DE MASSA E PRECIPITAÇÃO

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