• Nenhum resultado encontrado

2. ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITOS

2.4. RELAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA E A TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

2.4.1. Histórico da Relação Universidade-Empresa

Um dos factores, segundo Sílvia Velho [VEL96], que certamente contribuíram para um novo marco teórico na reflexão sobre as relações entre conhecimento e contexto social repousa no estilo de gestão da ciência que se desenvolveu nos Estados Unidos após a segunda guerra, época que consagrou uma nova forma de organização da actividade científica.

Nos Estados Unidos, as actividades científicas desenvolvidas no período da guerra foram bem sucedidas e fizeram aparecer novas formas de organização científica que envolviam processos colaborativos, tanto entre indivíduos como entre organizações. Dessa maneira, foi possível o aparecimento dos gestores e empresários científicos, bem como de processos padronizados de formação de equipas de investigação, que se instalaram nas universidades, centros de investigação de grandes empresas e institutos de investigação privados ou públicos. Foi a partir dessas novas orientações que ocorreu a formalização das

relações entre o estado e a ciência, que se constituiu em objecto de uma política sistemática do aparelho estatal.

À ciência como saber puro é acrescentada uma outra caracterização agora também como força produtiva, condicionada pelas estruturas sociais que a modelam e dirigem seu curso, seus métodos e o uso de seus resultados. Uma das primeiras experiências nesta nova direcção aconteceu na Universidade de Stanford, nos anos 40, quando esta, com o objectivo de obter recursos para sua expansão, destinou para uso empresarial parte de seus terrenos. Mais tarde, nos anos 60, quando prósperas empresas operavam no local, alguns professores e alunos passaram a interagir com as mesmas, desenvolvendo investigações que resultaram em novas tecnologias e crescente criação de novas empresas.

Dessa interacção resultou a criação do Parque Tecnológico de Stanford (ou tecnopólo), o embrião do que hoje é conhecido como sendo o Vale do Silício (Silicon Valley). Outra experiência que ganhou destaque é a da "Rota 128", em Massachusetts. Neste outro grande parque tecnológico, a interacção entre seus laboratórios e as universidades serve como um dos principais atractivos para novas empresas se instalarem na região. Nele, e nos demais, são as incubadoras que atraem os empreendedores e desenvolvem-se novas tecnologias.

A partir dos anos 70, essas experiências iluminaram os debates sobre as condições materiais da produção científica, a relação entre ambiente de investigação e comportamento dos cientistas, a gestão de políticas científicas, a direcção da ciência e uso de seus resultados. Essas questões emergiram num ambiente em que o desenvolvimento tecnológico requeria cada vez mais o uso de conhecimentos científicos e a gestão do aparato científico começava a constituir- se numa preocupação do Estado.

Como a investigação básica era desenvolvida dentro das universidades, foi a ela que o sector produtivo recorreu quando se deu conta da sua incapacidade de lidar sozinho com a velocidade, complexidade e custos dos processos de inovação tecnológica. A universidade, por sua vez, diante da crescente redução dos recursos oriundos de sua fonte tradicional – o Estado, passa a ver na indústria uma fonte alternativa de apoio financeiro. Começam a crescer significativamente os processos de parceria Universidade/Empresa, com consequentes alterações na natureza da investigação, isto é, na sua forma de organização e nos seus objectivos.

Neste contexto, na década de 80, mudanças na legislação dos Estados Unidos impulsionaram de vez a entrada das Universidades e os seus investigadores para a interacção com as empresas do sector produtivo.

Na Europa, a vinculação da actividade de investigação com as universidades existe desde o início do século, principalmente na Alemanha. A universidade de Berlim, fundada em 1908, abrigava cientistas e tornou compulsória a actividade de investigação no desenvolvimento da carreira docente. A profissionalização da actividade de investigação tornou-se um exemplo a ser seguido pelas demais instituições europeias. A ciência, que até então era desenvolvida independentemente da tecnologia, começa a ter com ela estreita relação e a despertar o interesse do sector produtivo.

São muitas as universidades europeias com experiências de relacionamento com o sector privado desenvolvidas ao longo do século. No que diz respeito aos parques tecnológicos, por exemplo, em 1972, é criado o Cambridge Science Park na Inglaterra, e, até hoje, já se contabilizam meia centena deles. Na França, o mais importante parque é o Sophia Antipolis, que havia já sido criado em 1969. Na Alemanha, actualmente, existem 25 parques tecnológicos desenvolvidos desde 1976, quando foi criado, na Universidade de Berlim, um escritório com o objectivo de entrar em contacto com as empresas, com vista a auxiliá-las [RES05].

No Japão, a partir de 1970, o governo idealizou e implantou as tecnópolis ou cidades tecnológicas (os tecnopólos mencionados anteriormente), sendo a cidade de Tsukuba o melhor exemplo. As tecnópolis resultaram da união do governo, grandes empresas e instituições científicas, bem como o sector da banca, com os seguintes objectivos:

 Levar o desenvolvimento económico para áreas afastadas das grandes cidades;

 Induzir as comunidades regionais e autarquias municipais a realizarem maiores investimentos locais;

 Concentrar investimentos conjuntos no desenvolvimento de tecnologia de interesse nacional.

Em Portugal, o relacionamento entre universidade e empresas tem sido conduzido por instrumentos políticos de interacção em áreas específicas como a cientifica, a tecnológica, a financeira e a de produção, supervisionados quase sempre pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), e através principalmente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Há uma boa iteração com as Fundações Universidade-Empresa, Instituições ligadas a Transferência de Conhecimentos Científicos e Tecnológicos, Centros Técnicos de Formação, Centros de Serviços Técnicos e Institutos Tecnológicos e também empresas ligadas a Inovação. Na área de produção destacam-se os Parques Tecnológicos e, na financeira, as entidades de capital de risco já começam a aparecer como soluções para as empresas com projectos que englobam transferência de tecnologia e parcerias com universidades.

O Tagus Park é em Portugal um bom exemplo, um dos mais antigos e dos mais visíveis actualmente, onde as ferramentas possíveis para se incentivar as parcerias estão quase todas presentes. Actualmente, estamos a assistir a proliferação de tais arranjos em todas as regiões do país, o que denota o esforço que a sociedade em geral está a fazer apontando na melhoria das condições e infra-estruturas para a difusão e transferência do conhecimento e tecnologias.

2.4.2. O contexto global da Relação de Cooperação