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4. ATUAÇÃO DO SINDEC NO MUNICIPIO DE CAPIVARI – SP

4.2 Histórico das enchentes no município

A primeira aproximação do objeto desse estudo foi em 2009, quando a mídia jornalística oferecia uma enorme cobertura aos problemas das enchentes nas cidades brasileiras. Em destaque, Capivari, cidade do interior de São Paulo que chamava a atenção pelos estragos e pelo número de desabrigados. Embora tal destaque na mídia trouxesse um aspecto de novidade ou subtaneidade, o problema das enchentes na cidade de Capivari (SP) é antigo e recorrente. Nesse sentido, é que se destaca a notícia publicada no Correio de Capivari, de 28 de fevereiro de 1970:

Capivari assistiu, com a terrível surpresa e enorme susto, aos dias 21 e 22 do mês de fevereiro de 1970, à maior enchente do rio Capivari, cujas águas, avolumadas, assustadoramente pelas fortes e prolongadas chuvas caídas em cheio em toda a região, invadiram rapidamente residências nas proximidades das zonas ribeirinhas, pondo em pânico seus moradores desprevenidos; derrubando casas, pontes, ranchos e muros causando vultosos prejuízos a todos os proprietários, alcançados por essa verdadeira e inesperada calamidade (1970).

As preocupações com os impactos causados por essa enchente eram as mesmas que temos nos dias de hoje, agravadas pelo avanço da urbanização

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desordenada. O trecho transcrito da publicação e as ilustrações 7 e 8 dão a dimensão do problema naquela época:

No dia 24, tendo, baixado aos poucos as águas volumosas do rio Capivari, descobrindo-se assim a parte que esteve totalmente coberta da ponte da rua Bento Dias, a qual liga cidade à rodovia Monte Mor - Campinas, ficou restabelecido o tráfego nesse local. Permanece, até à hora em que escrevemos esta notícia, paralisado o tráfego pela Estrada de Ferro Sorocabana.

O problema maior, uma vez baixadas ao natural as águas do Rio Capivari, é o do conserto das casas, desinfecção das mesmas, novas construções em substituição às residências arrasadas pela enchente do rio, recolocação de famílias em seus lares, alimentação, roupas, colchões, vacinação das pessoasetc (1970).

Figura 7: Foto da enchente ocorrida em fevereiro de 1970, Capivari – SP

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Figura 8: Foto da enchente na Avenida do Carmo, 1970, Capivari - SP

Fonte: Correio de Capivari, 1970

Há 40 anos têm sido comuns notícias de enchentes no município, mas foi em dezembro de 2009, após vários dias de chuvas intensas na região, que foi deflagrada a maior situação de emergência no município. Em 17 de dezembro de 2009, a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social de Capivari pedia com urgência a colaboração da população da cidade e da região para participar, por meio de doações, com colchões, roupas de cama e alimentos para assistir aos desabrigados pelas enchentes. Nessa mesma data, os dados da Defesa Civil da cidade apresentavam a seguinte situação:

12 famílias (87 pessoas) removidas pela Defesa Civil e alojadas no Ginásio de esportes e nas escolas municipais;

35 famílias (210 pessoas) foram para casa de parentes e amigos;

22 famílias se recusaram a deixar as suas casas e assinaram Termo de Responsabilidade da Defesa Civil;

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7 pontos de alagamento, sendo que os mais críticos eram os Bairros Vila Balan (figura 9) e Moreto (figura 10).

O caso de Capivari apenas soma-se aos inúmeros municípios brasileiros com os mesmos problemas, que apresentam muitas vezes, como via de regra, a atribuição de responsabilidades a outros, expondo as mazelas do crescimento urbano desordenado, tais como autoridades esquivando-se da responsabilidade de algumas tragédias, omissão do poder público, exposição do modelo segregacionista das políticas públicas e a procura pelos culpados.

A situação de emergência e novas enchentes seguiram-se de janeiro a março de 2010. Foi comum encontrar nesse período nos Bairros do Moreto e Vila Balan ruas, imóveis e vidas invadidas pelas águas do Rio Capivari.

Embora já existisse uma proposta de atuação de defesa civil no município, a dimensão das ocorrências exigiu que houvesse pedido de ajuda de várias instâncias da sociedade e a formação de comitês municipais criados emergencialmente para enfrentar o problema. A novidade naquela situação ficava por conta dos pronunciamentos do então presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva, que prometia acelerar o repasse de recursos financeiros para socorro das vítimas das enchentes. Esse fato, de certa forma, acendeu uma nova abordagem dada pelas iniciativas políticas para o enfrentamento dessas questões.

Em de 17 de dezembro de 2009, o prefeito Luis Donisete Campaci, considerando a situação deflagrada pela chuva no município, expediu a Instrução Normativa 35/2009, que define ações e responsáveis para gerenciamento da crise enfrentada pelo município.

Para isso, a administração municipal considerou urgente tratar dos diversos pontos alagados (figura 11), das dezenas de famílias abrigadas pela prefeitura, da necessidade de interdição da Avenida Dr. Ênio Pires de Camargo (figura 12), importante via de acesso ao município, em consequência de graves danos nas tubulações e afundamento da pista; do rompimento de diversas barragens nas áreas rurais do município (figura 13) e os danos na Estação de Tratamento de Água I.

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Esse documento trouxe, em linhas gerais, ações preestabelecidas e os responsáveis pela execução das atividades de acolhimento dos desabrigados, de orientação da população e da preparação de relatórios técnicos.

Figura 9: Foto vista aérea do Bairro Vila Balan, 17 dezembro de 2009 Capivari – SP

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Figura 10: Foto aérea da enchente no Bairro do Moreto, 17 de dezembro de 2009, Capivari – SP.

Fonte: SILVA, Neusa Pinto Vilares da. Prefeitura Municipal de Capivari, dezembro 2009.

Em 03 de fevereiro de 2010, após a volta das águas ao volume normal do rio Capivari, realizamos uma visita ao Bairro do Moreto. O que vimos é muito mais do que conseguimos registrar com a nossa câmera. Marcas de água até o teto das casas, móveis, colchões, lama e entulho em todas as calçadas, muitas pessoas lutando para colocar a vida em ordem. Serviços públicos comprometidos ou interrompidos, como as aulas na escola municipal, que servia de abrigo para as famílias que não tinham para aonde ir; focos infecciosos de diferentes enfermidades provenientes de água parada e acúmulo de resíduos; proliferação de insetos e roedores por conta dos alagamentos, interrupção do fornecimento de energia elétrica, escassez de alimentos e água potável, enfim, um transtorno esperado, uma vez que as águas, por conta das enchentes, tenham saído de seus limites.

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A Instrução Normativa 35/2009, em seu texto, trouxe como determinação que os desabrigados deveriam receber alimentação (café da manhã, almoço, café da tarde e jantar), materiais para higiene pessoal (sabonetes, creme dental, escovas de dente e papel higiênico), higiene no local (limpeza permanente dos espaços físicos dos abrigos, inclusive os sanitários) e colchões e cobertores em acordo com as necessidades.

Com relação aos laudos técnicos, em entrevista com a diretora da Defesa Civil do Município, Neusa Pinto Vilares da Silva, esta disse que o município acionou a Defesa Civil Regional e a Defesa Civil Estadual e que, segundo ela, prontamente enviaram agentes para que pudessem auxiliar no diagnóstico da situação das edificações das casas, pontes e demais construções.

Figura 11: Foto das áreas alagadas, dezembro de 2009, Capivari – SP

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Figura 12: Foto da Avenida Dr. Ênio Pires de Camargo durante a enchente de dezembro de 2009, Capivari – SP

Fonte: SILVA, Neusa Pinto Vilares da. Prefeitura Municipal de Capivari, dezembro 2009.

A dimensão das enchentes de 2009 acabou por mobilizar vários segmentos da sociedade capivariana, que passou a doar suprimentos, roupas e colchões para os desabrigados. Todo esse processo foi administrado pela Secretaria de Defesa Social, que até então incorporava o Desenvolvimento Social, a Defesa Civil e a Guarda Civil Municipal.

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Figura 13: Foto enchente na zona rural, dezembro de 2009, Capivari – SP

Fonte: SILVA, Neusa Pinto Vilares da. Prefeitura Municipal de Capivari, dezembro 2009.