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ARTIGO 2 – CONHECENDO E RECONHECENDO A EDUCAÇÃO EM

3.1 Histórico de projetos de Educação em Solos no DCS/UFLA

As pesquisas no campo da Educação em Solos no DCS/UFLA têm início em 2006 com a dissertação de mestrado de Rogério Custódio Vilas Boas (VILAS BOAS, 2008), professor de Biologia da rede pública e privada de ensino na cidade de Lavras, MG. Em sua pesquisa, o autor avaliou os conteúdos de Microbiologia do Solo nos livros didáticos de Biologia mais utilizados nas escolas públicas do município de Lavras. Além disso, analisou a percepção de estudantes do Ensino Médio quanto a Microbiologia do Solo, antes e após uma intervenção pedagógica sobre o tema. Essa intervenção ocorreu por meio de seminários e uma visita ao laboratório de Microbiologia do Solo da UFLA, e a avaliação dessas atividades foi realizada utilizando-se questionários.

Em 2010, dando continuidade às pesquisas sobre o ensino em Microbiologia do Solo, o autor identifica a demanda de formação de professores sobre o tema e, portanto, propõe em sua tese um curso de formação continuada para professores Biologia sobre o tema Microbiologia do Solo (VILAS BOAS, 2014). O curso foi ministrado em módulos presenciais e a distância, com aulas teóricas e práticas de laboratório. A avaliação do curso e dos participantes ocorreu por meio de questionários, relatórios, debates e resolução de situações problemas.

Sua tese foi subsidiada financeiramente pelo projeto “Microbiologia do solo no ensino médio: Proposta de formação continuada de professores de Biologia” ” (CBB - APQ-03532-12), o qual foi aprovado em 2012 no edital 13/2012 – Pesquisa em educação básica, acordo CAPES-FAPEMIG. Os recursos desse projeto foram fundamentais para o desenvolvimento de sua pesquisa, mas também apoiaram outras atividades e projetos, como:

a) Duas feiras de divulgação da biodiversidade do solo - “Conhecendo a Biodiversidade do Solo” realizada no Simpósio Internacional de Biodiversidade (Sinbio) na UFLA em 2013 e estação “Biodiversidade do Solo” no Estação Ciência da UFLA, em 2015;

b) Um minicurso para estudantes do ensino médio sobre a Microbiologia do Solo (VILAS BOAS et al., 2015);

c) Uma coleção de cartilhas sobre a biodiversidade do solo (http://repositorio.ufla.br/handle/1/15080).

Além disso, esse projeto financiou a dissertação dessa pesquisadora, na qual também foi desenvolvido um curso de formação continuada de professores. Contudo o tema foi ampliado para Biodiversidade do Solo e estendido à professores de Ciências Naturais, além dos professores de Biologia (TOMA, 2015). Nesse curso, também se utilizou a estruturação em módulos, com aulas teóricas e práticas para construção de materiais didáticos. Para avaliação do aprendizado dos professores, foram utilizadas questões problemas, e para avaliação do curso, foram os métodos utilizados questionários e uma entrevista coletiva.

Portanto, esse projeto (CBB - APQ-03532-12) foi essencial não somente para o desenvolvimento de pesquisas na área de Educação em Solos, mas também para fortalecer a iniciativa de Educação em Solos na UFLA. A formação de um grupo possibilitou a continuidade das atividades e também a aprovação de outro projeto, “Extensão em Ciência do Solo: atendendo alunos, professores e comunidade do município de Lavras, MG” (CAG APQ-03482/14) no edital 7/2014 - apoio a projetos de extensão em interface com a pesquisa, financiado pela FAPEMIG – em 2014. O intuito do projeto foi fortalecer a relação ensino-pesquisa-extensão em Ciência do Solo junto a alunos, professores e comunidade do município de Lavras, MG. Para isso, foi proposto desenvolver materiais didáticos, cursos para professores, atividades de divulgação científica em escolas, criar um espaço no DCS-UFLA para desenvolver atividades de ensino de solos, reunir uma coleção de monólitos de solos de Lavras e região e participar de eventos de divulgação científica promovidos pela UFLA.

Seguindo esses objetivos, o grupo desenvolveu um conjunto de materiais didáticos para trabalhar o tema o solo com estudantes do ensino fundamental, como maquetes, experimentos, modelos didáticos e coleções de amostras de solo, também formou uma coleção de monólitos de solos da região de Lavras, desenvolveu um minicurso para estudantes do Ensino Médio de uma escola estadual em Lavras, assim como promoveu espaços de divulgação da Ciência do Solo em escolas de Lavras e região, na forma de feira de ciências. Nessas atividades foram utilizadas metodologias investigativas, em que se problematizava uma situação a partir de um recurso didático, estimulava-se a criação de hipóteses e depois discutia-se o fenômeno ou situação. Na universidade, a equipe participou de alguns eventos, como o Estação Ciência, Primavera dos Museu e Semana Nacional de Museus. Nesses eventos, também foram utilizados métodos expositivos e a experimentação como métodos de ensino.

Com muitas atividades no calendário, uma demanda de ampliação da equipe para desenvolver mais projetos, assim como o desejo de divulgar os trabalhos realizados, sentiu-se a necessidade de denominar o grupo. A partir de enquetes em mídias sociais para decidir um nome, foi criado o “Programa de Educação em Solos (PEDS)”. Após esse questionamento de “quem somos?”, também surgiram os questionamentos “o que fazemos?” e “como fazemos?”. As observações das diversas atividades realizadas levaram o grupo a se perguntar se os objetivos de conscientizar as pessoas quanto a importância do solo e estimular ações de conservação desse recurso estavam realmente sendo atingidos. O grupo começa a acreditar que suas ações são muito pontuais, que a metodologia talvez não estivesse adequada e que intervenções não estavam sendo “efetivas”.

Outras inquietações ocorreram em relação a teoria. Como os integrantes não possuíam formação na área de licenciatura, faltava-lhes base para discutir metodologias e próprios fundamentos de suas práticas. O delineamento das atividades, até o momento, seguiu os modelos de outros projetos de Educação em Solos do Brasil e reprodução de métodos que eram utilizados desde o início dos projetos do grupo. Isso começou a gerar um certo desconforto, pois como se trabalha com Educação e não se estuda sobre? Como são coletados dados na área de educação e como esses são analisados? Seria como manejar o solo apenas pela intuição, o que de forma alguma é “errado”, mas a compreensão e discussão sobre as formas de fazer isso, amplia a visão e empodera os sujeitos para decidirem seus caminhos de forma consciente. A construção da reflexão contínua sobre intuição e saber científico, fortalece os processos de ensino aprendizagem, associados à pesquisa e extensão universitária

Dessa forma, o PEDS passa a buscar grupos ou pessoas que pudessem auxiliar na compreensão da Educação como ramo científico e não apenas como instrumento de transferência de conhecimento. No entanto, se depara com algumas dificuldades, pois a linguagem e a comunicação entre as áreas muitas vezes limitam a compreensão das teorias, assim como a indisponibilidade de tempo dos professores da área de educação para criar ambientes de discussão.

4 DA PRÁTICA INTUITIVA ÀS CONCEPÇÕES TEÓRICAS

Quando o PEDS procurou o Programa de Iniciação à Docência – PIBID/Biologia solicitando sua ajuda para compreender alguns fundamentos da Educação, recebeu a proposta de participar de um minicurso sobre tendências pedagógicas. O minicurso

“Tendências pedagógicas: subsídios teóricos a uma prática escolar crítica” teve como objetivo apresentar as tendências pedagógicas e perspectivas de ensino visando contribuir para a realização de uma prática docente significativa. O autor escolhido foi Dermeval Saviani com a obra "Escola e Democracia: teoria, curvatura da vara e onze teses sobre educação e política” (SAVIANI, 2018).

A compreensão das Tendências Pedagógicas é de extrema relevância para o desenvolvimento de um trabalho mais consciente no campo educativo, visto que auxilia os educadores a refletirem sobre o sentido mais amplo de sua prática (qual o papel da educação, quais os conteúdos, de que forma, por quê, para quem e quando trabalhar determinado assunto) e, consequentemente, a estruturar todo o processo pedagógico. Dessa forma, as Tendências Pedagógicas refletem não só nas questões de ensino- aprendizagem per se, mas sobretudo a maneira de interpretar e atuar na sociedade. Assim sendo, acredita-se ser imprescindível a discussão sobre as Tendências Pedagógicas nesse trabalho.