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2.3. Educação inclusiva aspectos gerais

2.3.1. Histórico e Legislação Brasileira

A Educação varia e se reflete de acordo com o momento histórico no qual o indivíduo está inserido e essa perspectiva se reproduz também na Educação Inclusiva. Como o objetivo deste trabalho não é o resgate histórico, e por ser um processo bastante longo, este será relatado aqui de forma breve, para que possamos refletir sobre a educação em nosso contexto atual.

Na Roma antiga, as crianças deficientes eram abandonadas em cestos nas margens do rio Tibre. Na antiga Grécia, a beleza e veneração pelo corpo perfeito eram essenciais para fazer parte da sociedade e, por esse motivo, a deficiência não tinha espaço. Na Idade Antiga, julgava-se que as pessoas deficientes tinham ligação com forças sobrenaturais, sugerindo a crença no sobrenatural, e a sociedade tratava diferentemente as pessoas deficientes, de acordo com o tipo de diferença apresentada: ora como uma explicação demoníaca, ora como possessão divina (BRAGA, 2006).

Assim, durante a Idade Antiga e a Idade Média, a deficiência era vista como uma marca negativa, advinda de algum tipo de punição mística, de forma que a eliminação e o abandono desses indivíduos eram comuns nessa época. No final da Idade Média, houve a prática da institucionalização desses indivíduos com o intuito de preservar aqueles que não eram desviantes, ou seja, que não eram deficientes.

Assim, além de não serem produtivos, ainda exigiam cuidados e gastos para a família. Os asilos, portanto, tornaram-se um lugar em que a família dos deficientes pudesse deixá-los, diminuindo os gastos e como uma solução prática dentro dos princípios morais da época. Assim o abandono era substituído pelo encaminhamento a um lugar que em que se pudesse “cuidar” desses sujeitos (FARINA, 2009).

Já no século XVIII, como afirma Braga (2006), com o desenvolvimento da ciência, começaram a surgir explicações médicas para o comportamento das pessoas deficientes. Nesse período, os deficientes passaram a ser vistos como objeto de estudo, e mesmo que isso não tenha significado uma diminuição da discriminação social, foi um marco no que diz respeito ao atendimento de suas necessidades básicas.

De acordo com Farina (2009), no início do século XIX, Jean-Marc Gaspar Itard aparece como um inovador na pesquisa e no investimento na educação de crianças com deficiência, tornando-se pioneiro na educação especial. Seu trabalho foi fundamental no que se refere à metodologia de ensino, da avaliação e da didática da deficiência mental.

Como afirma Mazzotta (2011), alguns brasileiros, com base nas experiências concretizadas na Europa e nos Estados Unidos, iniciaram, no século XIX, uma organização de serviços para atendimento a cegos, surdos, deficientes mentais e deficientes físicos, permanecendo, durante um século, como interesse de alguns educadores pelo atendimento educacional dos portadores de deficiência.

O atendimento escolar especial aos portadores de deficiência teve seu início, no Brasil, na década de 1950. Já na década de 1960, criaram-se instituições filantrópicas assistenciais e especializadas que atendiam às pessoas portadoras de necessidades especiais, que não eram consideradas aptas a conviver em sociedade:

A dependência das pessoas portadoras de necessidades especiais diante dessas instituições foi constituindo como fato natural e o internato foi se construindo como, mais do que um ambiente segregado, um local onde os “anormais” poderiam viver sem serem molestado, convivendo com seus iguais, protegidos contra aqueles que não lhes compreendiam. Isso criou uma visão das instituições de educação especial como aliadas (BRAGA, 2006, p.27).

Em 1970, nasce o princípio da integração no Brasil, com atendimento educacional que respeitasse a individualidade dos indivíduos, integrando-os na escola e na sociedade, mas com a ênfase na modificação do deficiente e não da

escola e da sociedade (BRAGA, 2006),ou seja, a escola mantinha-se inalterada e o sujeito então, deveria ser preparado para acompanhar os outros alunos da escola, assim como para o currículo que era desenvolvido na instituição.

A partir da década de 1980 e início dos anos 1990, as pessoas com deficiência começaram a se organizar, participando de Conselhos, Comissões, Fóruns, iniciando a busca pela afirmação, como outras minorias, principalmente com relação à inclusão (MANTOAN, 2005).

A partir de 1990, quando aconteceu a “Conferência Mundial sobre Educação para Todos”, iniciou-se um discurso referente à educação inclusiva e, após reflexões sobre o assunto, em 1994, foi elaborada a Declaração de Salamanca (1994), que destacou os direitos dos indivíduos com necessidades educacionais especiais. Essa declaração anuncia, entre outras coisas, que:

(...) Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos através de um currículo apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recursos e parceria com as comunidades (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p.4).

De acordo com Emílio (2004), apesar de as autoridades brasileiras concordarem com o documento assinado em Salamanca e isto ter refletido na Lei n° 9.394/96, que prevê o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino, reconheceu-se a dificuldade do processo de inclusão no Brasil e, a partir disso, foi elaborado um documento pelo Ministério da Educação, intitulado: Adaptações Curriculares – Estratégias para a Educação de Alunos com Necessidades Educacionais Especiais (BRASIL, 1998), percebendo-se a importância de se pesquisar e refletir sobre a inclusão na realidade brasileira.

Surgiu, ainda de acordo com Emílio (2004), um novo documento norteador das ações públicas e privadas, organizado pelo Conselho Nacional de Educação (BRASIL, 2002), em que se destacou a importância de avaliar as condições reais que possibilitem a inclusão planejada, gradativa e contínua de alunos com necessidades educacionais especiais nos sistemas de ensino. Porém, a autora destaca que há uma contradição no documento, pois, embora haja a defesa da adaptação das condições

da escola para atender às necessidades educacionais especiais, cabe ao aluno se adaptar ao grupo (EMÍLIO, 2004, p.54).

Percebe-se que, lentamente, a ideia de educação foi se transformando juntamente com a sociedade e, atualmente, reivindicamos o direito de uma educação para todas as pessoas que foram e ainda são excluídas em nosso meio. Desse modo, os sujeitos com deficiências significativas têm o mesmo direito de acesso à educação, em ambiente escolar não segregado, que os colegas com deficiências menos severas e os alunos sem deficiência da mesma faixa etária (MANTOAN, 2005).

Pode-se dizer que, no cenário brasileiro, houve um avanço para a inclusão de pessoas com deficiência nas escolas regulares de ensino. Mais do que um direito dos indivíduos, a educação é entendida como um dever do Estado, gerando um movimento para a Educação Inclusiva, com base na própria legislação. Portanto, resgatando às legislações brasileiras, é possível verificar a responsabilidade do Estado na educação brasileira.

Tanto a Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996) quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) afirmam ser dever do Estado garantir o acesso de todos à educação básica e gratuita. A Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996) em seu 4° artigo coloca como uma garantia o “atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais preferencialmente na rede regular de ensino”. A Constituição de 1988 estabelece a igualdade das crianças portadoras de necessidades especiais no acesso à escola. O Estado deve dar atendimento especializado ao deficiente, de preferência na rede regular de ensino (BRASIL, 1988).

Em 2003, o Ministério da Educação (MEC) cria o Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, que forma professores para atuar na disseminação da Educação Inclusiva. E, em 2008, a Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva define que todos devem estudar na escola comum.

Percebe-se, assim, que, em termos legais, há uma contribuição para a modificação do papel social das pessoas deficientes, mas o que se observa, no dia a dia, é uma grande dificuldade em lidar com as diferenças, sejam elas sociais, físicas, culturais, econômicas etc. Concordando com Emílio (2004), acreditamos que a inclusão a partir de instâncias exteriores, ou seja, somente a partir de leis ou até mesmo políticas públicas, não acontece verdadeiramente. Devemos pensar, portanto: que escola é essa que desejamos para todas as crianças?

Por fim e concordando com Cury (2002), há pouco tempo as pessoas deficientes eram tidas como inválidas, que não tinham a capacidade de aprender formalmente. Logo, a demanda pela aprendizagem desses alunos, respeitando suas singularidades, ainda está sendo formada.