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2.2 GOVERNO ELETRÔNICO

2.2.1 Histórico

A partir das décadas de 1970 e 1980 (ABRUCIO, 1997; HERNON, 1991) vários países empreenderam processos de reforma do Estado, sobretudo os anglo-americanos, como resultado das demandas da sociedade frente ao modelo burocrático de aparelho do Estado, às dimensões de racionalidade, neutralidade e impessoalidade com foco excessivo em funções instrumentais, à dificuldade de atendimento aos cidadãos, lentidão e ineficiência, o excesso de papéis e de procedimentos com pouco valor agregado, desperdício, atraso, falta de coordenação e corrupção no serviço público, tornavam a gestão ineficiente, prejudicando a prestação de serviços, mesmo com aumento dos gastos. A situação foi agravada (FERREIRA, 1993) pela atitude de contribuintes contrários à cobrança de mais tributos por não enxergarem correlação direta entre a carga tributária e a melhoria dos serviços públicos.

Diante do contexto de crise, surgiu o conceito conhecido internacionalmente de Nova Gestão Pública (NGP). A NGP (GRANDE, ARAÚJO E SERNA, 2002), salienta a necessidade de os governos: (i) realizarem o planejamento de suas atividades, notadamente as orçamentárias; (ii) transformarem a gestão fiscal dos Estados; (iii) criarem políticas de recursos humanos de valorização dos servidores públicos e busca de resultados; e (iv) desenvolverem métodos de avaliação e monitoração contínuos das políticas públicas.

Com isso, conforme Sampson (2000), as relações de consenso social, fundamentais para a construção do estado de bem estar social, começaram a ruir e iniciou-se um processo de adoção de práticas gerenciais para melhorar a qualidade dos serviços públicos, focada na cidadania. Assim, os movimentos de reforma do Estado evoluíram de uma perspectiva centrada no controle de custos para uma abordagem que enfatizava a necessidade de fortalecimento dos mecanismos de participação, considerando o usuário dos serviços públicos não como um cliente, mas como um cidadão.

A partir dos anos 1990, destacam Abrucio e Pó (2002), os temas que passaram a ser tratados como centrais nos processos de reforma do Estado foram ajuste fiscal, busca de eficiência geral, aumento da

capacidade da gestão e a responsabilização e transparência da administração pública. Para esse novo modelo de gestão que se adequasse às demandas da sociedade moderna, utilizou profundamente de concepções de cunho gerencial, herdadas do setor privado, e desenvolveram-se novas abordagens considerando as particularidades da administração pública.

A partir dos anos 2000, o governo eletrônico tornou-se uma das principais formas de modernização do Estado, salientam Ferguson (2002) e Rover (2009), apoiado numa infraestrutura única de comunicação que é compartilhada por diferentes órgãos, a partir da qual a TIC é usada para melhorar a gestão pública. Sob este prisma, o Governo Eletrônico (RAUTENBACH ET AL, 2013; UNPD, 2007) consiste numa iniciativa de impacto que utiliza as novas tecnologias a serviços dos cidadãos, refletindo-se numa valiosa alavanca de modernização, transparência e eficiência do Estado. Assim, constitui-se numa importante ferramenta de gerenciamento (RUEDIGUER, 2002; WILLIANS ET AL, 2004), com potencial transformador das relações entre o Estado e os cidadãos, uma vez que permite aprimorar a prestação de serviços públicos e difunde o conhecimento a diversos setores da sociedade.

O governo eletrônico (RAUTENBACH ET AL, 2013; GRANDE, ARAÚJO E SERNA, 2002; RUEDIGER, 2002) estabelece o relacionamento do governo com a sociedade através de sites de informação na internet, para reduzir a assimetria de informação entre diferentes atores sociais, privilegiando a interlocução entre quem toma decisões governamentais e cidadãos. Dessa forma, pode ser reconhecimento como uma oportunidade de repensar a forma como governos prestam serviços aos cidadãos, atendem às necessidades dos usuários de informação governamental e criam ambientes com alto grau de accountability na condução das políticas públicas.

O governo eletrônico, segundo alguns autores (RUEDIGUER, 2002; SCOTT, 2001; CIBORRA E NAVARRA, 2003) é um experimento em construção e sua governança não pode ser resumida a um produto finalizado a ser ofertado ao cliente. Deve ser percebido como um bem público, passível de acesso e desenvolvido por processos sociais, o que o leva a constantes transformações.

Os impactos deste tipo de gestão não se restringem apenas a automatizar processos ou prestar serviços e informações remotamente, mas, sim, em transformar as estruturas institucionais e difundir o conhecimento à sociedade civil. Isto significa que alteram não apenas a

velocidade, mas a forma como as pessoas, empresas e o Estado relacionam-se, tornando-o presente, democrático e participativo.

O governo eletrônico, através da implementação de políticas de governança eletrônica (RAUTENBACH ET AL, 2013; RUEDIGER, 2002; BARBOSA, FARIA E PINTO, 2006) e quando utilizado em seu pleno potencial, possibilita à administração pública trabalhar de forma eficiente, prestar serviços de qualidade ao cidadão e utilizar a TIC como mecanismo de transparência e participação social. A abordagem da governança eletrônica destaca, portanto, que as políticas de e-gov são instrumentos essenciais para a prestação de serviços públicos, assim como para extensão dos mecanismos de participação e responsabilidade da administração pública. Gaetani (2005) afirma que a temática de e- gov, como política de gestão pública, caracteriza o potencial de condicionar os processos, as tecnologias e formas de prestação de serviços públicos no conjunto das organizações públicas.

Passado alguns anos de sua efetivação na administração pública, é possível estabelecer estágios de maturidade em governo eletrônico que para Gaetani (2005), ilustram potencialidades da utilização das TIC como política de gestão pública, identificando ganhos de produtividade derivados das inovações tecnológicas. Tendem a demonstrar, em muitos casos, que os avanços obtidos por este tipo de gestão não são lineares nem isentos de riscos, podendo ser marcados por um conjunto de problemas tornando-se a concretização do e-gov um grande desafio para a administração pública. Contudo, para alcançar altos níveis de maturidade, os governos precisam adotar desenhos institucionais efetivos que considerem arranjos estruturais, os processos organizacionais, as necessidades de informações e o gerenciamento dos ativos de TIC.

No Brasil, o Governo Eletrônico foi criado pelo Decreto Presidencial Nº 18 de outubro de 2000 (BRASIL, 2000), com o objetivo de formular políticas, estabelecer diretrizes, coordenar e articular as ações de implantação, voltado para a prestação de serviços e informações ao cidadão brasileiro. Os programas de Governo Eletrônico visam a utilização das modernas TICs para democratizar o acesso à informação, ampliar discussões e dinamizar a prestação de serviços públicos, buscando eficiência nas funções governamentais.

Este tipo de postura política decorreu, segundo Abrucio (2004), a partir da década de 1980, de um processo de descentralização e democratização do poder político, com foco no crescimento dos governos subnacionais, estaduais ou municipais. Atualmente, conforme previsto pela Constituição Federal de 1988, o cidadão tem no poder local

sua referência de Estado, já que a maioria das políticas sociais e as funções básicas do Estado são executadas e/ou financiadas pelos municípios.