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Histórico sobre percepção e trajetória de vida

Capítulo III – Apresentação e discussão dos resultados

3.1 Investigação qualitativa

3.1.1 Análise de conteúdo e discussão das entrevistas às travestis

3.1.1.1 Histórico sobre percepção e trajetória de vida

3.1.1.1 Histórico sobre percepção e trajetória de vida

Família

Nesta dimensão pretendeu-se conhecer como foi a infância e adolescência das entrevistadas. Referente a família, a entrevistada (1) referenciou, “bem, a minha família sempre me tratou bem e com respeito, só à minha mãe estava muito preocupada com a violência na rua, tentava sempre me manter em casa”. A entrevistada (2) mencionou que o início foi muito difícil, “eu sofri muito com meus irmãos, eles são machistas, quando eles descobriram sobre minha travestilidade (...) eu lembro-me de ter apanhando muito em casa deles. A entrevistada (3) mencionou, “no início foi tanto conturbado, fui criada pela minha avó, minha mãe trabalhava e meu pai era ausente”. A entrevistada (4) explicitou, “minha família não aceitou, e fui morar fora e trabalhar como doméstica, trabalhava em troca de casa e comida”. Diferente, a entrevistada (5) revela, “minha mãe sempre me entendeu e fez um acordo que se eu tirasse boas notas eu ganharia as bonecas que tanto queria. A entrevistada (6) também mencionou, “minha família é uma família muito unida, meus pais já não moram juntos, mas sempre tiveram presentes com os filhos, minha mãe que hoje já é falecida sempre dizia que eu já era bem feminina desde criança, eu e meu irmão, que é gay”.

Podemos verificar nos discursos que a relação com a família nem sempre foi boa e de aceitação, mas no geral, manifestam que houve preocupação por parte da família quanto à violência e ou discriminação que estariam sujeitas.

Amigos

Em relação aos amigos podemos perceber que a entrevistada (1) “nunca tive problemas com os amigos, sempre brinquei com os meninos e com as meninas (...), agora o problema era com os pais dos meus amigos que não deixavam eu brincar com eles por eu ser assim bem feminina”. A entrevistada (2) também nos menciona uma tranquilidade com os seus amigos de infância, “eu sempre tive meus primos como amigos então para eles foi meio natural porque estávamos sempre juntos e também estudavam comigo”. Quanto à entrevistada

(3) revela não ter tido problemas com amigos na infância, “meus amigos de escola e de faculdade temos amizades até hoje”. A entrevistada (4) também afirma, “amigos sempre foram

meus aliados e por meio dos amigos comecei a fazer uma transformação do corpo”. Entrevistada (5) também não relata problemas com amigos revela,” também não tive muitas questões, pois não era mito de conversas”. Entre tanto a entrevistada (6) explicitou que sempre teve muitos amigos quando criança, participava das atividades escolares e adorava dançar e dublar na escola, “já na adolescência que alguns problemas começaram a surgir, porque eu já gostava de usar umas roupas mais femininas e isso era motivo de chacota na rua na escola (...).

Quanto aos amigos, a situação é um pouco diferente, pois todas revelam que não tiveram problemas de aceitação por parte dos seus amigos.

Escola

Em relação a convivência das entrevistadas na escola, podemos analisar a partir de suas experiências que, a entrevistada (1) revela que apesar de não ter conflitos com amigos na infância, na adolescência, “sofri um pouco por estudar na minha comunidade (...) mas cheguei a ter alguns problemas, mas nada muito relevante para mim, (...) já não usava o banheiro masculino nem o feminino na escola para não ter problemas”. A entrevistada (2) menciona, “na escola sempre ouvi burburinhos em relação a minha sexualidade, mas eu não me ofendia ou me importava com isso na hora, mas depois era triste se sentir rejeitada por ser diferente deles como eles diziam”. A entrevistada (3) revela, “sempre fui muito polémica, mas ao mesmo tempo muito estudiosa e isso trazia os amigos para mais perto de mim”. A entrevistada (4) afirma que na escola, “não sofri por que sempre fomos barraqueiros, minha família meus irmãos sempre estiveram do meu lado”. A entrevistada (5) também afirma que a escola não foi grandes problemas na sua vida porque não gostava de conversar com as pessoas e na adolescência só fez amizades com pessoas que se identificava. Quanto à entrevistada (6) menciona, “na escola (...) foi aí que comecei a perder o interesse pela escola (...). A escola foi horrível, nem o banheiro eu frequentava. Cheguei a receber suspensão por usar o banheiro feminino”.

No contexto escolar, revelam que nem sempre foi fácil, algumas sentiram discriminação por parte de alguns colegas. Apesar disto, no geral, manifestam que não tiveram problemas de maior, apenas uma entrevistada que revela sentir-se excluída e deste modo lhe causou desinteresse para o estudo.

Lazer

Em relação ao lazer podemos observar que a entrevistada (1) revela, “sempre me diverti do meu jeito, (...) meu lazer sempre foi minhas bonecas, e tenho bonecas Barbie desde quando eu era criança, hoje tenho mais de 200 bonecas. Já a entrevistada (2) revela “sempre fui e gosto de baladas do sábado a noite, gosto muito e não abria mão disso. Agora aqui eu tenho lazer e um lazer de dia, eu só saía a noite agora é diferente, mais saudável. A entrevistada (3) revela “sou muito caseira, gosto do meu lazer em família e amigos”. A entrevistada (4) relata, “sempre morei em comunidade, então todo dia tem festa, o lazer nosso, são as festas”. A entrevistada (5) não consegue mencionar o que seria seu lazer e menciona,

“no meu mundo travesti”. A entrevistada (6) fez referência que o seu lazer, “sempre foi e até hoje é minha vida artística, fazer os shows de dublagens, bordar meus vestidos, eu amo isso, me sinto uma grande artista quando estou nos palcos.

Como podemos verificar, o lazer, está muito relacionado com a actividade profissional que exerçem, fazendo referencia às festas e ao convívio com os amigos e familiares.

3.1.1.2 Transformação do corpo e problemas com o preconceito

Quanto aos problemas enfrentados pelas entrevistadas durante a readequação do corpo, podemos perceber as diferentes experiências vivenciada pela entrevistadas durante seus percuso de vida no Brasil. Podemos perceber a partir da entrevistada (1) que diz, “ depois que comecei a tomar hormônios, muitos amigos se afastaram de mim, foi bem na fase de transição mesmo, lembro até hoje a primeira vez que tive uma maquiagem, foi engraçado fiz um trabalho como cabeleireira para uma amiga que me deu 20 reais pra escovar o cabelo dela, eu fiz a festa fui a uma drogaria e comprei maquiagens e hormônios daí em diante foi sempre assim”. Em seguida a entrevistada (2) revela, “tranquilo para mim, desde que soube que era isso que eu queria comecei a tomar hormônios que uma amiga me falou, mas minha família sempre foi contra, tive até que sair de casa para poder ser quem eu realmente era. É muito difícil (...)”. Também vítima de discriminação, a entrevistada (3) pontuou que sempre morou com sua avó então achava que sua readequação seria algo tranquilo, “eu quis me transformar rápido muito novinha ainda (...), sofri discriminação por parte dos amigos e algumas pessoas da família, só que com uma ressalva, a pessoa que me sustentava era a minha avó, que não se surpreendeu, então era o que me bastava”. A entrevistada (4) também revelou que sofreu agressões físicas durante seu