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Nos dias atuais existem poucos negócios onde a competitividade não seja sinô- nimo de sobrevivência. A globalização, a rapidez com que ocorrem mudanças e volume crescente de informações com a qual as culturas operam levam-nas a uma situação onde as incertezas a respeito de sua sobrevivência são cada vez maiores.

A tecnologia sempre afetou o homem das primeiras ferramentas, por vezes con- sideradas como extensões do corpo, ao computador que trouxe novas e profun- das mudanças sociais e culturais – a tecnologia nos ajuda, nos completa, nos amplia...

Facilitando nossas ações , nos transportando, ou mesmo nos substituindo em tarefas, os recursos tecnológicos ora nos fascinam ora nos assustam... E essa forma de interferência da tecnologia em nosso cotidiano caracteriza uma contri- buição que ocorre naturalmente, mesmo que não estejamos dando conta disso.

Trata-se de um processo que está mudando, entre outras coisas, aquilo que tradi- cionalmente chamamos de ensino aprendizagem, aproximando-o cada vez mais do próprio processo natural de difusão cultural. As chamadas novas tecnologias estão desterritorizando a instituição escolar: hoje, aprende-se não apenas no pré- dio físico da escola, mas em casa, no escritório, em qualquer lugar onde se possa ter acesso ás informações( e o próprio local de trabalho pode estar em nossa re- sidência).

Assim, da mesma forma como a criatividade inventiva do homem gera novas fer- ramentas tecnológicas e modifica constantemente os instrumentos que inventa, existe um efeito inverso, a tecnologia modifica a expressão criativa do homem, modificando sua forma de adquirir conhecimento interferindo em sua cognição. “.... a cognição entendida como uma prática não como uma representação. En- quanto prática seu trabalho é de por em relação elementos heterogêneos. Estes não são formas puras, sujeito e objeto, mas vetores materiais e sociais, etológicos e tecnológicos, sensoriais e semióticos, fluxos ou linhas que não se fecham em formas perfeitas e totalizadas. As relações cognitivas não são previsíveis pois elementos não formam um sistema fechado. são abertas e temporais. São inven- tivas” ( Kastrup9, 1997. P.79) .

E esta prática inventiva estende , por sua vez, a ênfase do processo à coletivida- de: a construção do conhecimento passa a ser igualmente atribuída aos grupos que interagem no espaço do saber, algo próprio da inteligência coletiva- uma inte- ligência distribuída por parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real e que resulta em uma mobilização efetiva das competências individu- ais(Levy10,1998,p.28)

O mecanismo de construção de conhecimento pressupõe a existência de estrutu- ras mentais ou de conhecimento organizado, que pode ser observado em com- portamentos(habilidade) ou declarações (linguagem).Pressupõe o princípio da

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KASTRUP,V. A invenção de si e do mundo- uma introdução do tempo e do coletivo no estudo da cognição.

Tese (Doutorado) São Paulo, PUC-SP, (mimeo). 1997.

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continuidade_ um novo conhecimento deve estar relacionado com o que já se conhece. Aprender significa enriquecer essas estruturas por meio da adição de novos conhecimentos(acomodação –assimilação piagetiana) ou da re- organiza- ção das estruturas (por meio de pensar, do refletir).

O processo de como se dá o enriquecimento das estruturas mentais tem sido ex- plicado por diversos autores: Lawler11 (1985) faz, isso com relação ao conheci- mento de números, Karmiloff Smith 12( 1995) com a aquisição da linguagem e Kurt Fischer (1980) que permite entender como novas habilidade do conhecer são produzidas.

Para Piaget, o conhecimento é um processo e, como tal , deve ser estudado em seu devir de maneira histórica. Tenta além disso, e sobretudo estudar como muda e evolui o conhecimento. Piaget define a epistemologia genética como disciplina que estuda os mecanismos e processos mediante os quais se passa. "Dos esta- dos de menor conhecimento aos estados de conhecimento mais avançados ". (Piaget 13, 1979,p.16) .

Ressalva ainda que a psicologia genética, junto com a análise formalizante _ que se ocupa do estudo do conhecimento do ponto de vista de sua validade formal __ e à análise histórico – crítica _ que estuda a evolução do conhecimento científico, em seus aspectos históricos e culturais _, converte-se em um de seus métodos, talvez o mais característico, da epistemologia genética. O método psicogenético complementa os outros dois no plano do desenvolvimento individual: estuda como seres humano passam de um estado de menor conhecimento a um estado de maior conhecimento no transcurso de seu desenvolvimento.

Piaget e seus colaboradores abordam o tema da aprendizagem em íntima cone- xão com o desenvolvimento cognitivo. O nível de competência intelectual de uma pessoa em um determinado momento de sua evolução depende da natureza de

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LAWLER,R.W. Articial Intelligence and Education - (vol.1) Learning Environments and Tutoring Sys-

tems Norwood,RJ; Ablex,1985.

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SMITH, Frank -Compreendendo a leitura: uma análise psicolingüística da leitura e do aprender a ler. Trad. Daise Batista.- Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

seus esquemas, do número dos mesmos e da maneira como se combinam entre si ( Coll, 1985, p.35) tendo em mente estes critérios Piaget, concebe o desenvol- vimento cognitivo como uma sucessão de estágios e subestágios caracterizando pela forma especial em que os esquemas _ de ação ou conceptuais _ se organi- zam e se combinam entre si, formando estruturas. Deste modo, a descrição que nos é oferecida do desenvolvimento cognitivo em termos de estágios é uma visão estrutural, inseparável da analise formalizante.

Todos os resultados, na medida em que mostram que a aprendizagem, aquisição do conhecimento, assim por dizer, depende do nível cognitivo dos sujeitos, apoi- am a tese fundamental de Piaget, segundo a qual qualquer aprendizagem faz intervir elementos lógicos que provém dos mecanismos gerais do desenvolvi- mento e que não foram aprendidos somente em função da experiência vivida.

Capítulo III

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