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As unidades ambientais homogêneas (UAH) são porções do espaço que possuem características físicas e socioeconômicas que as diferenciam entre si, imprimindo-lhe certo grau de especificidade, tanto quanto aos seus aspectos físicos, quanto às características das relações entre os componentes que a constituem. Em termos de áreas urbanas, tais unidades também podem ser denominadas homogenias urbanas e se caracterizam por ter certa homogeneidade na ocupação. A partir do arranjo espacial dessas unidades de análise e as relações que mantêm entre si, pode ser estudada a paisagem em seu constante processo de transformação nas relações entre o homem e o território que ocupa.

Vários estudos utilizam essa categoria de análise, apresentando diversos conceitos que, basicamente, possuem a mesma essência. Em relatórios da CESP (2007), as unidades ambientais homogêneas são denominadas como “compartimentos paisagísticos” que possuem características similares quanto à combinação dos atributos físicos, bióticos e socioeconômicos, constituindo um padrão ambiental facilmente identificável e distinto de outros. Assim sendo, caracterizam-se como locais em que os atributos do terreno (relevo, declividade e uso do solo) constituam um padrão espacial facilmente identificável. De acordo com o Plano de Trabalho ZEEDF (DISTRITO FEDERAL, 2009), as UAHs constituem arranjos espaciais na paisagem que apresentam uma similaridade de seus componentes físicos, bióticos e socioambientais.

A identificação das Unidades Ambientais Homogêneas possibilitará avaliar o arranjo da estrutura espacial dos elementos que compõe a paisagem, bem como as condições de heterogeneidade, considerada a qualidade ou estado de consistência de diferentes elementos, tais como, habitats misturados ou tipos de coberturas que nela ocorrem, formando um mosaico (METZGER, 1999 apud DISTRITO FEDERAL, 2009). Para identificar essas unidades e entender a dinâmica desse mosaico e suas inter-relações, faz-se necessário entender o processo histórico de formação e ocupação do território estudado. No caso das cidades, é importante verificar a forma de ocupação formal e informal e como a mesma evoluiu a fim de estudar as UAHs, conforme, por exemplo, aponta Brito (2010) sobre a cidade de Salvador, afirmando, onde a topografia acidentada foi ocupada formalmente a partir da costa oceânica, platôs, cumeadas, e, mais recentemente, das avenidas de vale e, informalmente, a partir da periferia, nos grotões e interstícios da formalidade, criando uma fragmentação socioespacial que, de uma forma ou de outra, está presente em várias cidades de países em desenvolvimento.

Conforme aponta FAO (1996) apud Distrito Federal (2009), a obtenção das UAHs será feita por meio do cruzamento de mapas temáticos relacionados aos meios físico e biótico, considerando-se ainda os padrões de ocupação do território. Nesse sentido, mapas temáticos de geomorfologia, geologia, pedologia, vegetação e uso do solo serão cruzados no ambiente de sistema de informações geográficas (SIG), de modo a se obter um mapa que contenha a espacialização das UAHs.

É importante distinguir o que seria um mapeamento de UAHs de um mapeamento de uso e ocupação do solo. Segundo Batista Junior (2005), o uso do solo é o ato de se realizar a ação humana aproveitando-se desse recurso natural num determinado espaço e, sua ocupação é a apropriação desse espaço pela sociedade e por suas atividades, refletindo-se na materialização destas últimas. Assim sendo, um mapeamento de uso e ocupação do solo pretende distinguir as áreas de ocupações humanas de outras formas de cobertura do solo. Um exemplo de categorias de uso e ocupação do solo que podem ser utilizadas foi a classificação adotada por Batista Junior (2005) na análise do uso e ocupação do solo no município de Simões Filho, integrante da Região Metropolitana de Salvador (RMS), a qual elencou as seguintes categorias: atividades econômicas (culturas agrícolas, área industrial), vegetação (mata, vegetação arbustiva, restinga, manguezal, outros), solo nu, área urbana.

A Lei municipal 3.592/1985 – que dispõe sobre o enquadramento e delimitação em caráter preliminar de Áreas de Proteção Sócio-Ecológica no município de Salvador e estabelece medidas para sua regulamentação definitiva – estabelece que os principais elementos necessários à definição da estrutura de uso e ocupação do solo são os seguintes: 1) identificação dos usos, sua localização (concentrada ou dispersa) e principais conflitos; 2) identificação das formas de ocupação (tipologias construtivas, tamanho do lote padrão ou moda, recuos, etc.), sua localização e principais conflitos. As categorias para identificação de usos do solo são estabelecidas no Art. 18 da Lei 8.167/2012 (LOUOS – Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo), sendo relacionadas as seguintes categorias: residencial, comércio atacadista, comércio varejista, serviços, institucional, especial, misto e industrial. Nessa mesma lei, o uso do solo é definido como “Toda ação humana que implique em dominação, apropriação ou utilização de um espaço ou terreno” e a ocupação do solo como “Toda e qualquer ação de apropriação do espaço urbano” (LEI 8167/2012, Apêndice I).

Diferentemente do estudo de uso e ocupação do solo, o mapeamento de UAHs vai além de simplesmente delimitar as áreas urbanas, pois irá distinguir os diferentes arranjos espaciais dentro dessa área classificada genericamente como urbana. As classes dessas unidades variam

a depender de três fatores básicos: paisagem, escala e propósito do mapeamento ou do estudo. A paisagem irá influenciar nessa classificação devido a vários fatores, tais como o histórico de construção e reconstrução dessa paisagem, a dinâmica e as relações da sociedade que nela se estabelecem, e os seus aspectos físicos (solo, geologia, relevo, declividade, hidrografia). Como a paisagem está em constante transformação, devido à dinâmica das relações sociais que nela se estabelece, o momento histórico irá influenciar decisivamente na determinação das classes de unidades homogêneas a serem estudadas.

A escala geográfica também é um fator condicionante na determinação das diferentes homogenias urbanas. Um estudo feito considerando a escala de um estado ou região, por exemplo, por estudar grandes áreas, conterá UAHs distintas de um estudo feito numa escala de uma cidade ou determinada área do centro urbano. Unidades que aparecem em uma escala de maior detalhe, como a de uma cidade, podem não existir em escalas de menos detalhes, como de uma região. Um exemplo de estudo que define unidades ambientais homogêneas na escala de estado é o trabalho desenvolvido por Carvalho et. al. (1998) para o Estado de São Paulo. Os autores partem da hipótese de que é possível caracterizar o Estado em termos de unidades ambientais homogêneas, levando em consideração as características do meio natural e social. Segundo os mesmos, estas unidades homogêneas são elemento importante para construir uma visão simples e coletiva do cenário estadual ou regional estimulando uma participação efetiva na identificação da problemática do desenvolvimento sustentado. Sendo assim, permite caracterizar a potencialidade de cada unidade administrativa, enfatizando as semelhanças e a heterogeneidade que emerge quando a unidade é analisada sob outras óticas que não a que deu origem à definição administrativa. Partindo disso, para a definição das UAHs, os autores consideram a perspectiva edafo-climática e socioeconômica.

O propósito de um mapeamento também poderá gerar diferentes unidades ambientais homogêneas. Num estudo sobre expansão urbana, por exemplo, a unidade ambiental homogênea “vegetação densa” é importante como indicação de área para onde essa expansão ainda não ocorreu. Já em outro estudo, como, por exemplo, de segregação socioespacial, essa unidade pode compor outra unidade junto com outros diferentes tipos de uso e ocupação do solo, como áreas de alta declividade ou com brejos e corpos d‟água, pois tais “usos” do solo conferem um mesmo peso quanto ao fator segregação, não sendo necessário diferenciá-los em unidades distintas. Num estudo que vise o mapeamento de tipos de vegetação, a unidade vegetação densa seria decomposta em tantas unidades quantos tipos de espécies vegetais ocorressem no lugar, assim como seriam unidades distintas as áreas com outras formações

vegetais, tais como manguezais, gramíneas, dentre outras. Num estudo socioeconômico, as áreas vegetadas poderiam ser agrupadas numa só, ou distintas a depender do tipo de uso no local como, por exemplo, a prática do extrativismo vegetal. Do mesmo modo, quanto aos espaços construídos, um estudo socioeconômico poderia considerar distintas unidades a depender dos diversos tipos de atividades econômicas existentes, enquanto que, num estudo ambiental, as áreas construídas enquadrar-se-iam como apenas uma única unidade. Diante do exposto, percebe-se que diversas unidades ambientais podem ser estudadas a depender da área de estudo, do momento histórico a ser analisado e do tema da pesquisa executada.

É importante destacar que não existe um padrão na definição das unidades ambientais homogêneas. Conforme exposto, tal definição tem de estar de acordo com a paisagem, a escala geográfica na qual o fenômeno será analisado e com o propósito ao qual o estudo visa atender. A leitura e a interpretação espacial das UAHs e suas categorias têm embutida a subjetividade do conhecimento do processo de formação da paisagem, seu histórico. Destarte, a metodologia de criação dessas unidades tem que estar bem clara explicitando os fatores que foram considerados na classificação utilizada.