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Capítulo V. Assistência Jurídica Ideal no Processo Trabalhista

2. Honorários Advocatícios Sucumbenciais

Intimamente ligada ao tópico anterior, os honorários advocatícios e suas limitações impostas pela jurisprudência pátria, mostram-se como outro obstáculo ao processo de ampliação da assistência jurídica gratuita ao trabalhador.

É que na Justiça do Trabalho os honorários advocatícios não são devidos pela mera sucumbência, conforme já salientado. Somente serão devidos à parte vencedora quando representada por entidade sindical, sendo tal verba, inclusive, revertida em favor desse ente.

O próprio Tribunal Superior do Trabalho – TST tem se revelado hostil a idéia da concessão de honorários advocatícios às partes que não tenham sido assistidas por sindicatos.

Na Justiça do Trabalho tem sido muito comum os juízes de 1º grau decidir em favor da concessão dos honorários advocatícios mesmo que não tenha havido intervenção sindical. Não raro, os Tribunais Regionais do Trabalho tem acompanhado tais sentenças, ratificando a condenação imposta no juízo de 1º grau. Ocorre, no entanto, que o TST, nos recursos de revista que lhe são interpostos acabam por reformar tais decisões por entender em sentido diametralmente oposto àqueles magistrados30.

Ante o exposto, verifica-se que tal restrição também é um obstáculo desnecessário imposto à representação processual prestada no âmbito trabalhista.

Na prática processualista, vale salientar que, conforme leciona o Prof. Gérson Marques31, “os profissionais da advocacia (não se iludam) receberão seus honorários de qualquer forma. Se o juiz não os conceder na sentença, os patronos os receberão diretamente do Reclamante, fora da JCJ, retirando do dinheiro percebido pelo trabalhador quantia inclusive superior aos 20% previstos pela lei. Portanto, é melhor que o juiz conceda os honorários na sentença, estabelecendo o percentual legal, isentando o reclamante, assim, do dever de pagá-los alem dos limites estabelecido em lei”.

A modificação no entendimento do TST traria, com absoluta certeza, maiores benefícios à classe operária, que estaria resguardada, quando optasse ser representado por advogado de sua livre escolha.

Com isso, os honorários advocatícios devem ser devidos tão somente em razão da sucumbência, calculados de acordo com o zelo do trabalho dispendido e complexidade da causa, consoante dispõe o art.20 do CPC32.

31 LIMA, Francisco Gérson Marques de. Direito de ação do trabalhador. Dissertação de

Mestrado, Universidade Federal do Ceará, 1996, pág. 160.

32Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e

os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria.

§ 1º O juiz, ao decidir qualquer incidente ou recurso, condenará nas despesas o vencido. § 2º As despesas abrangem não só as custas dos atos do processo, como também a indenização de viagem, diária de testemunha e remuneração do assistente técnico.

§ 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos:

a) o grau de zelo do profissional; b) o lugar de prestação do serviço;

c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

Por fim, muitas outras modificações deverão ser pensadas e praticadas além dessas para que o trabalhador brasileiro hipossuficiente possa a final ver- se assistido juridicamente de modo adequado e eficaz.

§ 4o Nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que não houver condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação eqüitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e c do parágrafo anterior.

§ 5o Nas ações de indenização por ato ilícito contra pessoa, o valor da condenação será a soma das prestações vencidas com o capital necessário a produzir a renda correspondente às prestações vincendas (art. 602), podendo estas ser pagas, também mensalmente, na forma do § 2o do referido art. 602, inclusive em consignação na folha de pagamentos do devedor. (CPC)

CONCLUSÃO

A justiça laboral apresenta grande volume de demandas que por si só demonstra a fragilidade do sistema de representação processual do obreiro. Contudo, esse é um mal do qual padecem todas as justiças no Brasil. Para sanar essa mazela, políticas governamentais não são suficientes, pois é imprescindível que haja uma conscientização coletiva social de respeito aos direitos alheios para que o Judiciário deixe de ser tão necessário a resolução dos conflitos.

Os sindicatos não são suficientes para desempenhar assistência a todos aqueles profissionais os quais lhes são associados, muito menos aqueles que não o são. O exercício com exclusividade da assistência gratuita ao obreiro pelo sindicato, sufoca uma entidade que poderia atuar verdadeiramente em prol de seus filiados. A assistência jurídica gratuita pelo sindicato deveria se tornar uma faculdade concedida ao trabalhador e não, uma imposição. É assente o entendimento de que a finalidade do sindicato é defender os interesses de seus filiados, contudo, quando não se lhe oferecem outros meios de representação processual, o movimento fica sobrecarregado e passa a funcionar com ineficiência, em prejuízo dos trabalhadores.

Os empregados, em geral, possuem escassos recursos financeiros para prover contratação de bons advogados. A condição financeira dos empregados-trabalhadores não deveria se lhes apresentar como um obstáculo, uma barreira intransponível ao acesso à justiça. Muito ao contrário, para os hipossuficientes é que deveriam ser garantidos com maior amplitude meios de representação processual gratuita.

O jus postulandi se apresenta como uma garantia de pouca ou nenhuma eficácia perante o advogado ou corpo de advogados contratados pelo empregador. É preciso, pois, reformular esse benefício para que resulte, de fato, em algo benéfico ao trabalhador. Da forma como o jus postulandi está sendo atualmente exercido, tem provocado graves prejuízos à classe operária,

que sem domínio de uma defesa técnica, acaba por prejudicar um direito bom, por falta de um conhecimento legal.

A legislação e jurisprudência dificultam a representação por advogados, limitando o recebimento dos honorários advocatícios somente aos sindicatos. A legislação infraconstitucional não acompanhou os avanços trazidos pelos ideais de justiça expostos em nossa Carta Magna. A jurisprudência conformou-se em sedimentar entendimentos com supedâneo em leis ultrapassadas. Por mais que juízes e tribunais regionais do trabalho se mostrem sensíveis às necessidades dos obreiros, o TST, justamente o tribunal de que não se esperava tal atitude, vem embargando a atuação daqueles com seus ideais retrógrados.

A ausência de norma infraconstitucional é, dessa maneira, um grande óbice à plena atuação da Defensoria Pública na Justiça do Trabalho. O TST tem-se utilizado comumente dessa argumentação para barrar benefícios de assistência jurídica gratuita, prestados ao trabalhador brasileiro.

Com isso, partindo de fontes distintas e com o intuito de analisar a assistência jurídica gratuita deficiente prestada na Justiça do Trabalho, buscou- se aqui enfrentar o problema sob diversos pontos de vista: inicialmente e principalmente do trabalhador hipossuficiente de recursos financeiros, e também do legislador, do magistrado, do defensor público e dos doutrinadores.

Não restam dúvidas quanto a necessidade da colaboração de todos eles para que esse sistema ideal de representação processual e jurídica gratuita possa funcionar eficientemente. É necessário que todos assumam seus papéis para concretizar essa realidade – o trabalhador buscando e cobrando por isso; o legislador proporcionando de maneira legal a concretização desse ideal; os magistrados aplicando a lei naquilo que seja possível, buscando sempre a realização da justiça com bom senso e eqüidade, mesmo quando não encontrem respaldo legal para tanto; o defensor público assumindo a sua função primordial de assistir juridicamente aquele que necessite; e os

doutrinadores contribuindo com suas obras instigantes e perturbadoras da ordem, levando-nos sempre a pensar e a buscar caminhos melhores.

Com isso, encerra-se esta monografia com a certeza de que ao assumir a tarefa de escrever sobre o presente tema não nos propusemos a mudar uma realidade, mas a suscitar reflexões sobre ela.

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