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Repositório Institucional UFC: A assistência jurídica gratuita prestada ao trabalhador brasileiro: proposta da criação de uma defensoria pública trabalhista

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Academic year: 2018

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Universidade Federal do Ceará Faculdade de Direito

A Assistência Jurídica gratuita prestada ao trabalhador brasileiro. Proposta de criação de uma Defensoria Pública Trabalhista.

Juliana Melo de Pinho

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Juliana Melo de PInho

A Assistência Jurídica gratuita prestada ao trabalhador brasileiro. Proposta de criação de uma Defensoria Pública Trabalhista.

Monografia apresentada à banca examinadora da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito, desenvolvida sob a orientação do Prof. Dr. João Luís Nogueira Matias, versando sobre a assistência jurídica gratuita prestada ao trabalhador brasileiro, apresentando também proposta de criação de uma Defensoria Pública Trabalhista.

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Universidade Federal do Ceará Faculdade de Direito

A Assistência Jurídica gratuita prestada ao trabalhador brasileiro. Proposta de criação de uma Defensoria Pública Trabalhista.

Autora: Juliana Melo de Pinho

Defesa pública em 16 de junho de 2008. Conceito: APROVADA

BANCA EXAMINADORA:

Professor orientador - Dr. João Luís Nogueira Matias

Professora avaliadora - Ms. Janaína Soares Noleto Castelo Branco

Professor avaliador - Willian Paiva Marques Júnior

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RESUMO

Trata-se de estudo acerca da assistência jurídica deficiente prestada na Justiça do Trabalho, desenvolvida com a finalidade de buscar soluções ao problema, já apontando uma saída que acreditamos ser bastante sustentável, qual seja a proposta de criação de uma Defensoria Pública Trabalhista. Os objetivos principais da pesquisa são, portanto: analisar amplamente a assistência jurídica prestada ao trabalhador brasileiro em suas reclamações apresentadas na justiça laboral; apresentar as deficiências e fragilidades da representação processual do obreiro; e, por fim, abordar a criação de uma Defensoria Pública Trabalhista com o intuito de minimizar os efeitos prejudiciais que o atual sistema de assistência jurídica tem causado aos trabalhadores.

(5)

Dedico esta monografia àquelas pessoas que têm conseguido me suportar por tantos anos

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AGRADECIMENTOS

(7)

SUMÁRIO

Introdução...9

Capítulo I. Assistência Judiciária e Assistência Jurídica...11

1. Dever do Estado...15

2. A quem é direcionada a assistência jurídica gratuita...17

3. Possibilidade de revogação...18

Capítulo II. Atual Sistema de Assistência Judiciária no Processo Trabalhista...20

1. Os Sindicatos...20

2. O benefício da justiça gratuita...22

2.1. Isenção do pagamento de custas processuais...24

3. O Jus Postulandi...26

4. Os advogados...27

4.1. Os honorários advocatícios...28

Capítulo III. A Defensoria Pública...31

1. Defensoria Pública da União...32

2. Defensoria Pública dos Estados...33

Capítulo IV. Defensoria Pública Trabalhista...36

1. Competência da União ou dos Estados?...37

2. Estrutura orgânica...39

3. Atribuições...39

3.1 Promover, extrajudicialmente, a conciliação entre as partes em conflito de interesses...40

(8)

3.3. Assegurar aos seus assistidos, em processo judicial ou extrajudicialmente, o contraditório e a ampla defesa, com recursos e meios a

ela inerentes...42

3.4. Defender os empregados em inquérito para apuração de falta grave...42

3.5 Patrocinar ação civil pública trabalhista...43

Capítulo V. Assistência Jurídica Ideal no Processo Trabalhista...45

1. Assistência judiciária gratuita desvinculada dos sindicatos...45

2. Honorários Advocatícios Sucumbenciais...46

Conclusão...49

(9)

INTRODUÇÃO

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – CF/88 estabelece em seu art. 5º, inciso LXXIV que o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. Trata-se, portanto, de direito fundamental a ser garantido a todos aqueles que necessitarem recorrer ao Poder Judiciário, nele inclusa a Justiça Trabalhista, e que se achem desprovidos de meios suficientes ao financiamento de sua demanda ou reclamação.

E no capítulo que trata das Funções Essenciais à Justiça, a CF/88, no art. 134, estabelece que a Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV.

Partindo desses pressupostos é que esta pesquisa pretende se desenvolver, de maneira a tentar proporcionar uma maior e melhor representação aos empregados que dela tanto necessitam.

Dessa maneira, apresenta-se as principais temáticas que serão abordadas na presente Monografia, em momento oportuno, apontando, a seguir, pontos específicos, cruciais ao tema e também muito polêmicos, ensejadores de grandes discussões, quais sejam: assistencia judiciária; benefício da justiça gratuita; honorários advocatícios; jus postulandi; defensoria pública trabalhista.

Como forma de tentar maximizar os meios de prestação gratuita da assistência judiciária, em consonância a Lei Complementar Nº. 80, de 12 de janeiro de 1994, art. 14 é que se propõe a efetivação da criação da Defensoria Pública Trabalhista.

(10)

sistema de representação processual trabalhista, para que seja possível vislumbrar solução ou soluções possíveis à reparação dessas falhas.

Por fim, salienta-se que a elaboração de um trabalho de monografia sempre pressupõe vasta realização de pesquisa, com ampla leitura sobre diversas abordagens do tema objeto. E com este trabalho não foi diferente.

(11)

CAPÍTULO I

ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA E ASSISTÊNCIA JURÍDICA

Antes de qualquer análise mais pormenorizada do tema, crê-se seja necessário um exame detido das expressões “assistência jurídica” e “assistência judiciária”, que são muitas vezes utilizadas indistintamente por doutrinadores, operadores do direito e pelo próprio legislador.

Para tanto, observem-se, a seguir, excertos de alguns dispositivos legais.

A Lei nº. 1.060, de 5 de fevereiro de 1950, que estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos necessitados, assim dispõe em seu artigo primeiro:

Art. 1º. Os poderes públicos federal e estadual, independente da colaboração que possam receber dos municípios e da Ordem dos Advogados do Brasil, - OAB, concederão assistência judiciária aos necessitados nos termos da presente Lei.

A Lei nº. 5.584, de 26 de junho de 1970, que dispõe sobre normas de Direito Processual do Trabalho e disciplina a concessão e prestação de assistência judiciária na Justiça do Trabalho, também utilizando a mesma expressão, assim estabelece:

Art 14. Na Justiça do Trabalho, a assistência judiciária a que se refere a Lei nº 1.060, de 5 de fevereiro de 1950, será prestada pelo Sindicato da categoria profissional a que pertencer o trabalhado.

Na Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-lei nº. 5.452, de 1º de maio de 1943), por sua vez, ambas expressões são ali utilizadas, verbis:

Art. 514. São deveres dos sindicatos:

a) colaborar com os poderes públicos no desenvolvimento da solidariedade social;

(12)

(...)

Art. 592 - A contribuição sindical, além das despesas vinculadas à sua arrecadação, recolhimento e controle, será aplicada pelos sindicatos, na conformidade dos respectivos estatutos, usando aos seguintes objetivos:

I - Sindicatos de empregadores e de agentes autônomos:

a) assistência técnica e jurídica;

(...)

II - Sindicatos de empregados:

a) assistência jurídica;

(...)

III - Sindicatos de profissionais liberais:

a) assistência jurídica;

(...)

Já a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88), utiliza tão somente a expressão “assistência jurídica”, nas seguintes passagens:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

(...)

XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;

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de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

(...)

§ 3º - O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:

(...)

VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado;

Ora, até o presente momento, várias referências a ambas as expressões puderam ser observadas, sem que em nenhuma delas houvesse sequer algum comentário acerca de seu conceito ou alcance. Dessa constatação, em meio a muitas leituras, é que se concluiu pela necessidade de apresentá-los, aqui, nesta monografia.

Assim, para Mercedes Cristina Rodrigues Vera1, “a assistência jurídica envolve, além da defesa do carente no processo judicial, toda a orientação extrajudicial preventiva e até educativa. Sim, educativa, pois novos direitos foram criados a partir da nova Carta Constitucional, como os previstos no Código de Defesa do Consumidor e no Estatuto da Criança e do Adolescente. Assim sendo, a assistência jurídica envolve até a orientação didática referente aos direitos que as pessoas têm, e como fazê-los valer”.

Para Ada Pellegrini Grinover2, “a assistência jurídica é muito mais ampla do que aquela utilizada anteriormente, já que ela pressupõe a participação de um advogado em momento anterior à instauração da lide, ou melhor, em um momento anterior ao da relação processual. Pois sem dúvidas, preliminarmente o acesso à justiça se faz necessário um estudo, aconselhamento, promoção de

1Texto publicado na internet. VERA, Mercedes Cristina Rodrigues. A Assistência Judiciária no

Século XXI.

2 GRINOVER, Ada Pelgrini, Assistência judiciária. Garantia de Acesso a Justiça, Encontro

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uma estratégica, orientação, para só depois se recorrer a prestação do Estado”.

Cumpre salientar que alguns autores, como a já mencionada doutrinadora Ada Pellegrini Grinover, acreditam ter sido a assistência judiciária superada, sucedida pela assistência jurídica, com o advento da CF/88. Não se trata, de fato, de uma superação, sucessão, mas um aprimoramento da expressão pelo legislador constituinte, expandindo seu alcance, o que não revela, sob hipótese alguma ter sido afastada ou permanentemente superada a expressão assistência judiciária. Esta continua a existir – exatamente quando se faz referência ao favorecimento meramente econômico, revelado na isenção de custas, emolumentos e honorários pelo hipossuficiente. Por óbvio que a mera assistência judiciária gratuita deverá ser evitada, haja vista atender muito mais aos interesses do assistido que lhe seja prestado um maior amparo jurídico.

Consoante Nelson e Rosa Maria Nery3, o termo constitucional utilizado em nossa atual Carta Magna “é mais amplo do que assistência judiciária da CF/69. O termo assistência jurídica, da CF/88, abarca a consultoria e a atividade jurídica extrajudicial em geral”.

Desse modo, ao que parece, a assistência judiciária, estaria ligada tão somente ao aspecto econômico, funcionando como uma garantia de acesso da população carente ao Poder Judiciário e, portanto, albergando apenas aqueles casos em que haja um processo em andamento ou a ser proposto. É o conceito que observamos nas Leis nos. 1.060/50 e 5.584/70.

Já a assistência jurídica, disposta na Constituição Federal de 1988, é expressão muito mais abrangente, envolvendo muito além dos aspectos econômicos do processo judicial. É todo um suporte ao Direito, realizado por meio de informações, consultoria, processos e procedimentos judiciais e

3 NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Código de processo civil comentado e

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extrajudiciais, tratando-se, em verdade, de uma garantia de maior suporte aos mais necessitados.

Tomando em conta o ramo do processo laboral, Carlos Henrique Bezerra Leite4, apresenta também uma outra expressão, qual seja, o benefício da justiça gratuita. Estaria ela regulada pelo art.790, §3º da CLT, “podendo ser concedida por qualquer juiz de qualquer instância a qualquer trabalhador, independentemente de estar sendo patrocinado por sindicato de sua categoria profissional, que litigue na Justiça do Trabalho, desde que perceba salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal ou que declare que não está em condições de pagar as custas do processo sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família”.

Sem dúvida, o benefício da justiça gratuita revela-se como o mais restrito, limitado, dentre os meios que prestam auxílio aos necessitados.

Para fins didáticos, pode-se estabelecer uma gradação do mais abrangente ao menos, revelada pela seguinte ordem: “assistência jurídica”, “assistência judiciária” e “benefício da justiça gratuita”. Por entender dessa maneira é que será tratada, na presente monografia, da assistência jurídica prestada ao trabalhador brasileiro.

1. Dever do Estado

A prestação de assistência jurídica gratuita aos que dela necessitem, nos termos da CF/88, faz-nos concluir que seja mesmo um dever para o Estado.

Assim é que na Constituição Federal, artigo 5º, inciso LXXIV, resta clara a garantia ao acesso à Justiça para os hipossuficientes, devendo o Estado brasileiro trabalhar para a consecução deste objetivo.

4 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 3. ed. São Paulo:

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Desse modo, mediante tal previsão, é que nasceu a Defensoria Pública da União – DPU, como órgão responsável por assegurar a defesa jurídica integral e gratuita dos direitos individuais, respeitando o princípio de um Estado Democrático de Direito.

A DPU, conforme se verá adiante, é órgão essencial à função jurisdicional do Estado, tal como o Ministério Público e a Advocacia da União, titulares de funções essenciais à Justiça, conforme elenca o Capítulo IV da Constituição Federal (art.134 da CF/88).

Consoante Nelson e Rosa Maria Nery5 acrescentam, “se o Estado não tiver posto à disposição do público esse serviço, a OAB pode, em convênio com o Estado, estabelecer parâmetros para a prestação desse serviço. Como último recurso, pode o MP exercer esse mister, se se entender que a defesa dos necessitados é de interesse social (Art. 127 da CF/88). Caso não haja, na comarca, serviço de defensoria pública ou de assistência judiciária estatal, pode o juiz nomear advogado privado para exercer esse múnus publico, inclusive na função de réu revel citado fictamente (art. 9º, II do CPC)”.

Há quem seja contra a Defensoria Dativa, por entender que seria uma forma de terceirização do serviço que deveria ser prestado pelo Estado. Justificam que, por meio de convênio com a OAB, são pagos profissionais liberais para defender quem tem o direito a uma assistência jurídica gratuita enquanto a Defensoria Pública conta com servidores concursados para prestar assistência e consultoria.

No entanto, a Defensoria Dativa, deve sim, funcionar até que a DPU possa atender de forma eficiente toda a sua demanda. Não seria justo que se deixasse desamparado o jurisdicionado sem recursos financeiros por causa da incapacidade desse órgão em atender a todos os que a ele recorram. Enquanto a DPU não estiver plenamente estabelecida, de modo a prestar atendimento a

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todos os hipossuficientes, o Estado deve aparelhar outros meios para garantir o pleno acesso à justiça.

Em verdade, o ideal seria que paralelamente a essa garantia o Estado também desenvolvesse projetos, garantindo recursos que viabilizem o fortalecimento da Defensoria Pública. A Defensoria Dativa, portanto, deve funcionar apenas como uma medida paliativa, até que a Defensoria Pública possa prestar, de forma ampla e eficiente, a assistência jurídica integral.

Por fim, é sabido que a democratização da justiça é indispensável à garantia do valor universal de Justiça Social. E para o ingresso na Justiça, os serviços de um advogado se fazem extremamente necessários. É notório, portanto, que, em se verificando a carência de tais serviços, haverá aumento na exclusão social, a medida que o Judiciário passa a atender tão somente aqueles que possuem recursos materiais para acessar os seus serviços.

2. A quem é direcionada a assistência jurídica gratuita

A Lei nº. 1.060/50 (LAJ) já dispunha sobre as normas para a concessão de assistência judiciária aos necessitados, e no art. 2º, parágrafo único, define o que seja pessoa necessitada, verbis:

Art. 2º. Gozarão dos benefícios desta Lei os nacionais ou estrangeiros residentes no país, que necessitarem recorrer à Justiça penal, civil, militar ou do trabalho.

Parágrafo único. - Considera-se necessitado, para os fins legais, todo aquele cuja situação econômica não lhe permita pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família.

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fim de que não seja suspenso o andamento do processo (art. 6º da LAJ). Portanto, poderá a assistência judiciária ser concedida a qualquer momento.

3. Possibilidade de revogação

É válido salientar, contudo, que poderá ser revogada a assistência judiciária gratuita, depois de concedida, somente a requerimento da parte que fizer prova da inexistência ou do desaparecimento dos requisitos essenciais à sua concessão (art.7º Da Lei nº. 1.060/1950).

Para exemplificar, veja-se o seguinte julgado6:

“PROCESSUAL CIVIL. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. RÉU REVEL. CURADOR ESPECIAL. POSSIBILIDADE.

I - Para obtenção dos benefícios da Justiça gratuita, presume-se o estado de pobreza, mediante simples afirmação da parte interessada, na petição inicial, de próprio punho ou por intermédio de procurador legalmente constituído, cabendo a parte contrária requerer a revogação dos benefícios da assistência, desde que prove a inexistência ou o desaparecimento dos requisitos essenciais à sua concessão (Lei nº 1.060/50, art. 4º, § 1º, e art. 7º).

II - Declarado pelo requerente, por meio de curador especial nomeado nos autos, o estado de hipossuficiência do réu revel, afigura-se cabível a concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita, como forma, até mesmo, de garantir a ampla defesa e o contraditório, cabendo à parte autora o ônus de provar a inexistência do alegado estado de pobreza.

III - Apelação provida.”

Bastante correta esta disposição legal, pela possibilidade de revogação, haja vista que tanto o instituto da assistência jurídica quanto o instituto da assistência judiciária gratuita devem, efetivamente, ser prestados àqueles que, de fato, necessitem, pois, do contrário, tais institutos teriam seus objetivos desvirtuados.

6TRF 1ª Região. AC-200233000273219/BA. Sexta Turma. Relator(a) Desembargador Federal

(19)

Enquanto o Brasil não tiver condições para o fornecimento de assistência jurídica gratuito a todos os seus habitantes, deve-se garantir, ao menos, àqueles necessitados.

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CAPÍTULO II

ATUAL SISTEMA DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA NO PROCESSO TRABALHISTA

No âmbito do Processo Trabalhista, a expressão “assistência judiciária” é amplamente utilizada por magistrados, ministros e doutrinadores. Assim, por uma razão de congruência semântica, já exposta no Capítulo I, utilizar-se-á também a expressão “assistência judiciária”, entendendo sempre que esta se refere tão somente aos auxílios jurídicos de cunho econômico, restritos ao âmbito judicial, colocados à disposição do trabalhador brasileiro.

Dentre os que atualmente se inserem entre os meios de assistência judiciária, destaca-se: os sindicatos; o benefício da justiça gratuita; o jus postulandi; e, por óbvio, os advogados.

Passemos, então, a analisá-los.

1. Os Sindicatos

O sindicato representa uma reunião de classes ou categoria de trabalhadores cuja finalidade precípua se revela na defesa de seus direitos individuais ou comuns.

Renato Saraiva7 apresenta o seguinte conceito: “associação de pessoas físicas ou jurídicas que exercem atividade profissional ou econômica, para a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões jurídicas ou administrativas”. Por óbvio, o sindicato do qual se tratará aqui será aquele representativo das categorias profissionais.

7 SARAIVA, Renato. Processo do Trabalho série Concursos Públicos. 2ª Edição. São Paulo:

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Assim, consoante o art.14 da Lei nº. 5.584/70, a assistência judiciária será prestada exclusivamente ao trabalhador, por intermédio do sindicato da categoria profissional à qual pertence o obreiro.

Neste caso, não se trata de substituição processual8 pelo sindicato, também possível nos dissídios trabalhistas, mas de própria representação processual, postulatória do sindicato ao trabalhador. Funcionando o sindicato, portanto, como um advogado, procurador do obreiro. Tal representação, salienta-se, não se restringe aos processos judiciais, mas estendem-se aos administrativos também.

Importante ressaltar que essa representação judicial não se restringe somente aos trabalhadores sindicalizados, abrange também todos os que não o sejam. Para tanto, veja-se o art. 18 da Lei nº. 5.584/70, in verbis:

Art 18. A assistência judiciária, nos têrmos da presente lei, será prestada ao trabalhador ainda que não seja associado do respectivo Sindicato.

Os Sindicatos, dessa maneira, exercem com exclusividade a assistência judiciária ao trabalhador brasileiro. Essa representação exclusiva, no entanto, é bastante questionada, haja vista que a filiação aos Sindicatos não seja obrigatória9 além de muitas categorias profissionais não possuírem sequer entidade de associação que os represente.

Talvez a maior crítica que se faz a essa exclusividade seja exatamente neste ponto, aos das categorias profissionais que, simplesmente, não possuem sequer uma associação a representá-los. Como, então, poderia haver prestação de assistência judiciária a esses trabalhadores? Necessariamente

8 A substituição processual é o nome que se dá à possibilidade de terceiro, agindo em nome

próprio, pleitear direito alheio. O substituto, no caso o Sindicato, pode, assim, praticar todos os atos processuais, como a apresentação da petição inicial, da defesa, produção de provas, interposição de recursos etc, não lhe sendo dado, contudo, o direito de transigir, renunciar ou de reconhecer o pedido, uma vez que o direito material não lhe pertence, mas sim ao sujeito da lide, ao substituído, in casu, o trabalhador.

9 Embora o empregado não sindicalizado possa ser beneficiário da assistência judiciária,

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teriam de se constituir em uma associação ou em um sindicato para poderem usufruir da assistência judiciária?

Com isso, conclui-se estar esse formato restritivo muito longe do ideal a que se busca, qual seja o da verdadeira assistência jurídica ao obreiro. Além do mais, é notório o desgaste de uma instituição que concentra com exclusividade a prestação de assistência judiciária a todos os seus filiados e não filiados em adição ao desempenho de diversas outras funções, como: intermediação de negociações coletivas; arrecadação, recolhimento e controle das contribuições sindicais; instauração de dissídios coletivos; celebração de acordos coletivos de trabalho; instituição de comissões de conciliação prévia; fiscalização comissões de conciliação prévia, entre tantas outras.

2. O benefício da justiça gratuita10

A Lei nº. 5.584/70, em seu art.14, §§ 1º, 2º e 3º, estabelece também os requisitos necessários a prestação da assistência judiciária, bem como forma de comprová-los em juízo. Desta feita, a assistência judiciária será prestada ao trabalhador que perceber salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal, ficando assegurado igual benefício ao trabalhador de maior salário, uma vez provado que sua situação econômica não lhe permite demandar, sem prejuízo do próprio sustento ou da família.

Ocorre, no entanto, que com o advento da Lei nº. 7.115, de 29 de agosto de 1983, que dispõe sobre prova documental, deixou de ser obrigatória a

10 Acerca da matéria, tratam os seguintes arestos, extraídos das Orientações Jurisprudenciais

do Tribunal Superior do Trabalho/ SBDI-1:

Nº 269 JUSTIÇA GRATUITA. REQUERIMENTO DE ISENÇÃO DE DESPESAS PROCESSUAIS. MOMENTO OPORTUNO. Inserida em 27.09.02

O benefício da justiça gratuita pode ser requerido em qualquer tempo ou grau de jurisdição, desde que, na fase recursal, seja o requerimento formulado no prazo alusivo ao recurso.

Nº 331 JUSTIÇA GRATUITA. DECLARAÇÃO DE INSUFICIÊNCIA ECONÔMICA. MANDATO. PODERES ESPECÍFICOS DESNECESSÁRIOS. DJ 09.12.2003

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apresentação do atestado de pobreza, bastando, para tanto, que o interessado ou o seu procurador, o declare de próprio punho, sob as penas da Lei. Tal declaração terá, assim, presunção legal de que seja verdadeira.

Na prática, quase não se observam magistrados que exijam tais comprovações, bastando que haja o requerimento para que se concedam os benefícios. Alguns, partindo de uma consciência racional e sensata de que os trabalhadores que ingressam com suas reclamações em processos judiciais, em regra, acham-se desempregados, presumem, de logo, não haver essa disponibilidade econômica por parte do obreiro que requeira o benefício.

A Lei nº. 5.584/70 faz menção expressa à Lei nº. 1.060/50, no que concluímos ser ela de aplicação integral aos processos trabalhistas, naquilo que não dispõe em contrário àquela lei. Daí, ser-lhes-ão concedidos os benefícios da justiça gratuita, refletidos nas seguintes isenções: a) das taxas judiciárias e dos selos; b) dos emolumentos e custas devidos aos Juízes, órgãos do Ministério Público e serventuários da justiça; c) das despesas com as publicações indispensáveis no jornal encarregado da divulgação dos atos oficiais; d) das indenizações devidas às testemunhas que, quando empregados, receberão do empregador salário integral, como se em serviço estivessem, ressalvado o direito regressivo contra o poder público federal, no Distrito Federal e nos Territórios; ou contra o poder público estadual, nos Estados; e) dos honorários de advogado e peritos; f) das despesas com a realização do exame de código genético – DNA que for requisitado pela autoridade judiciária nas ações de investigação de paternidade ou maternidade.

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2.1. Isenção do pagamento de custas processuais

A princípio, a isenção do pagamento de custas processuais pode ser tida como um dos reflexos da concessão do benefício da justiça gratuita, contudo, faz-se ressalva de que aquela poderá ser concedida sem que esta o seja.

Assim é que se observam dois benefícios de amplitudes distintas: um que se refere tão somente às custas processuais e o outro abrangendo custas processuais, emolumentos, indenizações e outras despesas processuais.

Para uma melhor visualização de tal distinção, segue a transcrição de fragmentos da obra de Wagner Diglio e Cláudia Diglio V. Corrêa11, acerca da isenção do pagamento de custas processuais:

“Nos dissídios individuais, dispõe o art.789 da CLT que as custas do processo de conhecimento, tanto na Justiça do Trabalho como nos juízos de direito investidos de jurisdição trabalhistas, serão de 2%, incidentes sobre o valor do acordo ou da condenação, “observado o mínimo de R$10,64”, valor este que será sempre devido, ainda que o cálculo dos 2% resulte em valor inferior”.

(...)

“No caso do empregado sindicalizado, o sindicato que houver intervindo no processo responderá solidariamente pelas custas, desde que não tenham sido concedidos os benefício da justiça gratuita ou da isenção de pagamentos de custas (CLT, art.790, §1º). A contrário senso, se um desses benefícios for concedido, não há falar de solidariedade em dívida inexistente, como é obvio”.

Veja-se ainda o que dispõem os arts. 790 e 790-A da CLT, verbis:

Art. 790. Nas Varas do Trabalho, nos Juízos de Direito, nos Tribunais e no Tribunal Superior do Trabalho, a forma de pagamento das custas e emolumentos obedecerá às instruções que serão expedidas pelo Tribunal Superior do Trabalho.

11 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito processual do trabalho. 15 ed.

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§ 1o Tratando-se de empregado que não tenha obtido o benefício

da justiça gratuita, ou isenção de custas, o sindicato que houver intervindo no processo responderá solidariamente pelo pagamento das custas devidas.

§ 2o No caso de não-pagamento das custas, far-se-á execução da

respectiva importância, segundo o procedimento estabelecido no Capítulo V deste Título.

§ 3o É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos

tribunais do trabalho de qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles que perceberem salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal, ou declararem, sob as penas da lei, que não estão em condições de pagar as custas do processo sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família.

Art. 790-A. São isentos do pagamento de custas, além dos beneficiários de justiça gratuita:

I – a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e respectivas autarquias e fundações públicas federais, estaduais ou municipais que não explorem atividade econômica;

II – o Ministério Público do Trabalho.

Parágrafo único. A isenção prevista neste artigo não alcança as entidades fiscalizadoras do exercício profissional, nem exime as pessoas jurídicas referidas no inciso I da obrigação de reembolsar as despesas judiciais realizadas pela parte vencedora.

Dessa maneira, pelo que se infere dos excertos acima transcritos, a distinção é feita para que seja possível regular-se situações diversas, quais sejam: a dos trabalhadores hipossuficientes e a das entidades e órgãos públicos que venham a figurar no processo trabalhista.

Essa distinção das expressões mencionadas só tem razão de ser, portanto, para diferenciar o benefício concedido aos trabalhadores e as garantias de que gozam a União, os Estados, os Municípios, suas entidades autárquicas e fundações públicas, bem como o Ministério Público do Trabalho.

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concessão do benefício da justiça gratuita. Essa dedução é facilmente compreensível haja vista que ambos os benefícios possuem os mesmo caracteres como requisitos indispensáveis à sua outorga, quais sejam hipossuficiência de recursos, percepção de salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal, declaração do estado de pobreza entre outros.

3. OJus Postulandi

Alguns autores, como Renato Saraiva12, o classificam como um princípio que rege o processo do trabalho, pelo qual se confere às partes a facultatividade de não se fazerem representar por advogados em juízo. Em outros termos, confere-lhes capacidade postulatória para atuarem em causa própria em todas as instâncias da Justiça do Trabalho13.

A CLT traz em seu art.791 essa possibilidade, vejamos:

Art. 791 - Os empregados e os empregadores poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o final.

§ 1º - Nos dissídios individuais os empregados e empregadores poderão fazer-se representar por intermédio do sindicato, advogado, solicitador, ou provisionado, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil.

§ 2º - Nos dissídios coletivos é facultada aos interessados a assistência por advogado.

Muito se discute acerca da extensão do jus postulandi aos trabalhadores que não sejam empregados. Doutrina majoritária tem entendido não ser extensível a esses trabalhadores, haja vista tratar-se de uma disposição celetista, somente aplicável aos empregados. Tal pensamento por si só já

12 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. 4ª edição. São Paulo: Método,

2007, págs.39-40.

13 Saliente-se, contudo, que em caso de eventual recurso extraordinário para o STF, deverá

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restringe bastante os efeitos benéficos com que foi instituído o jus postulandi na seara do processo laboral.

Além disso, a prática forense nos revela que o instituto muitas vezes acaba por contribuir com as imensas desigualdades entre as partes litigantes. É situação muito comum o empresário individual ou a sociedade empresária, figurando como empregadores, possuir todo um aparato de assistência jurídica à sua disposição, quer seja pela contratação de grandes escritórios de advogados quer seja pela própria manutenção de um setor jurídico na estrutura de suas empresas. Enquanto do outro lado, não raro, figura um trabalhador desempregado, sem recursos financeiros suficientes para contratar advogado. Muitas vezes, tendo ciência de seus direitos, mas sem saber como defendê-los.

O jus postulandi, desse modo, também está muito distante do ideal de assistência jurídica que se espera para o trabalhador. Conferir capacidade para alguém reclamar direitos para si próprio em juízo, nem sempre se revela viável. Ora, mesmo que o trabalhador possua um “direito bom”, poderá se revelar extremamente difícil comprová-lo em juízo, quando lhe falta conhecimento técnico acerca da proteção desse direito. Isso é bastante intensificado, quando a outra parte detém esse conhecimento, o que, não raro, ocorre.

4. Os advogados

Os advogados são os profissionais investidos de capacidade postulatória, responsáveis pela defesa dos interesses de seus clientes em juízo.

Nossa atual Constituição da República (1988), em seu art. 13314, estabelece que o advogado é indispensável à administração da justiça.

Assim é que, embora na Justiça laboral haja o jus postulandi – como o direito da parte de mover ação e de acompanhá-la, pessoalmente, até o final,

14 Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus

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sem procurador – não se proíbe a intervenção do advogado, pois tanto trabalhador como empregador poderão ser representados por advogado ou estagiário, nos dissídios individuais. Nos dissídios coletivos, ressalva-se, somente os advogados poderão atuar, excluem-se, dessa forma, os estagiários nesse âmbito do processo trabalhista.

Tal representação poderá ser realizada por meio de procuração – advogado regularmente constituído nos autos mediante instrumento de mandato – ou por meio de “mandato tácito”15, em que o advogado comparece à audiência, representando o reclamante ou o reclamado, praticando atos processuais, com seu nome constando na ata de audiência, estando a partir daí, apto a defender seu cliente, apesar de não possuir procuração nos autos.

Vale salientar que o mandato tácito, todavia, somente alcança os poderes do foro em geral, chamados poderes ad judicia, não englobando os poderes especiais, previstos no art. 38 do CPC, tais como o de confessar, transigir, receber e dar quitação, entre outros.

Por fim, cumpre ressaltar que o exercício da advocacia somente deverá ser realizado por advogado habilitado profissionalmente, mediante inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil – OAB.

4.1. Os honorários advocatícios

Tema dos mais polêmicos até aqui estudados trata da condição para que sejam devidos os honorários advocatícios na seara trabalhista.

Em regra, nos processos cíveis comuns, regulados pelo Código de Processo Civil (Lei nº. 5.869, de 11.1.1973), os honorários serão devidos com a mera sucumbência, ou seja, a parte vencida é condenada a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios (art.20 do CPC).

15 Súmula do TST Nº 164 PROCURAÇÃO. JUNTADA (nova redação) - Res. 121/2003, DJ

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Na Justiça do Trabalho, contudo, não funciona dessa maneira.

A Súmula Nº. 219 do Tribunal Superior do Trabalho – TST, acerca da matéria16, disciplina o seguinte:

Nº 219 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. HIPÓTESE DE CABIMENTO (incorporada a Orientação Jurisprudencial nº 27 da SBDI-2) - Res. 137/2005, DJ 22, 23 e 24.08.2005.

I - Na Justiça do Trabalho, a condenação ao pagamento de honorários advocatícios, nunca superiores a 15% (quinze por cento), não decorre pura e simplesmente da sucumbência, devendo a parte estar assistida por sindicato da categoria profissional e comprovar a percepção de salário inferior ao dobro do salário mínimo ou encontrar-se em situação econômica que não lhe permita demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da respectiva família. (ex-Súmula nº 219 - Res. 14/1985, DJ 26.09.1985)

II - É incabível a condenação ao pagamento de honorários advocatícios em ação rescisória no processo trabalhista, salvo se preenchidos os requisitos da Lei nº 5.584/1970. (ex-OJ nº 27 da SBDI-2 - inserida em 20.09.2000)

Dessa maneira é que no processo trabalhista não vigora o principio da sucumbência, pelo qual são devidos os honorários advocatícios pela parte vencida à parte vencedora.

Para tanto, muito autores, dentre eles Giglio, justificam que a inaplicabilidade da sucumbência se mostra acertada haja vista que no processo laboral, em que vigora o princípio da gratuidade, as partes não são obrigadas a se fazerem representar por advogados, podendo elas mesmas intervir diretamente no processo. Seguem argumentando no sentido de que não seria razoável que o vencido sofresse condenação no ressarcimento de despesa desnecessária, efetuada pelo vencedor.

16 A Orientação Jurisprudencial/SBDI-1 Nº.305 dispõe: HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.

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Esse entendimento é frontalmente contrário aos interesses do trabalhador e, por óbvio, aos advogados.

Tal restrição ao pagamento dos honorários, só tende a limitar, a obstaculizar os meios de acesso do trabalhador à justiça17. Não é difícil de visualizar que na grande maioria dos casos submetidos a julgamento da Justiça do Trabalho a presença e a assistência do profissional do direito se revela mesmo indispensável, máxime quando em jogo questões intrincadas de fato ou de direito que o trabalhador e o empregador, especialmente aquele, sem a devida assistência de um profissional competente jamais terá condições de entender e, como conseqüência, de discutir – o que na prática pode redundar em injusto prejuízo para a defesa de seu direito.

Com isso, os requisitos atualmente exigidos para pagamento dos honorários devidos aos advogados revelam-se extremamente injustos, sem razão plausível que os justifiquem.

Por fim, no que toca ao procedimento relativo ao pagamento de tais verbas, observa-se ainda que, sendo beneficiário da assistência judiciária, o trabalhador vencedor, ainda que parcialmente, pode obter a condenação do empregador vencido no pagamento dos honorários advocatícios, mas estes não reverterão em seu favor. Será devida ao Sindicato, a fim de cobrir as despesas efetuadas pela entidade de classe com a manutenção de advogados em número suficiente para atender aos pedidos de assistência. Tal disposição encontra-se, expressamente, estabelecida no art.16 da Lei Nº.5.584/70.

17 Com isso, faz-se referência ao direito de provimento jurisdicional justo e adequado.

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CAPÍTULO III

A DEFENSORIA PÚBLICA

Trata-se de instituição relativamente nova, prevista na Constituição Federal de 1988, sendo disciplinada no Capítulo IV, que trata das funções essenciais à justiça,verbis:

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV.)

§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.

§2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º.

O Congresso Nacional é o órgão competente para, por meio de Lei Complementar, organizar a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios, e prescrever normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.

Nos termos do art.22 do ADCT, o texto constitucional assegurou, de forma excepcional e taxativa, aos defensores públicos investidos na função até a data de instalação da Assembléia Nacional Constituinte o direito de opção pela carreira, com a observância das garantias e vedações previstas no art.134, parágrafo único, da constituição.

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estatal que têm por objetivo o cumprimento do dever constitucional do estado de prestar assistência jurídica integral e gratuita à população que não tenha condições financeiras de pagar as despesas destes serviços18.

1. Defensoria Pública da União

Em 12 de janeiro de 1994, foi promulgada a Lei Orgânica Nacional da Defensoria Pública (Lei Complementar n. 80). Conforme o Defensor Sílvio Roberto M. Moraes esclarece, trata-se de lei nacional, e não federal, pois aquela alcança todos os habitantes do país, ou, no caso, a Defensoria Pública existente em todo o território, não importando se estadual, federal ou do Distrito Federal, enquanto a segunda incidiria unicamente sobre os jurisdicionados da União.

A referida Lei Complementar, além de organizar e estabelecer as normas gerais das Defensorias Públicas da União, dos estados, do Distrito Federal e territórios, enumerou, no art. 4º, algumas de suas funções institucionais. As atribuições contidas nesse dispositivo, longe de serem consideradas como numerus clausus, como se infere da própria redação do caput com a expressão “dentre outros”, possuem um caráter mais exemplificativo e assegurador do que propriamente exaustivo. Nesse diapasão, cabe à lei federal ou estadual, ou mesmo em decorrência do exercício da própria atividade do defensor, orientada pelos princípios institucionais da Defensoria, ampliar o leque.

18 A essencialidade da Defensoria Pública se mostra bem marcante no julgamento, abaixo

transcrito, da questão de ordem levanta no STF:

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Conforme já mencionado, tal lei organiza a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios, segundo as regras de competência estabelecidas nos arts. 21, XIII e 22, XVII da CF/88, além de prescrever normas gerais para a organização das Defensorias Públicas estaduais. Disciplina a carreira dos Defensores Públicos da União, do Distrito Federal e dos Territórios além de instituir normas gerais sobre o regime jurídico da carreira dos Defensores Públicos estaduais. Sendo a todos os Defensores Públicos asseguradas as garantias constitucionais de provimento, na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos e de inamovibilidade e a vedação constitucional de exercício da advocacia fora das atribuições institucionais19.

2. Defensoria Pública dos Estados

Com a EC nº. 45 foram fortalecidas as Defensorias Públicas Estaduais.

19 A título de ilustração da garantia de provimento, veja-se o entendimento do STF:

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A EC nº. 45/2004, dessa maneira, acrescentou ao art.134, o §2º. Neste, prevê-se autonomia funcional e administrativa às Defensorias Públicas Estaduais, bem como a iniciativa de sua proposta orçamentária20. Essa autonomia implica que as dotações orçamentárias que lhes correspondem hão de ser-lhes entregues até o dia 20 de cada mês, em duodécimos. Trata-se de medida muito pertinente, com vistas a inserir, finalmente, nas Defensorias Públicas, a capacidade de estruturar e desenvolver suas atividade-fim sem qualquer interferência estranha.

Com isso, observa-se que a outrora irrelevante e inexistente Defensoria Pública (cuja condição negativa decorria de seus parcos recursos), com a aplicação dessas medidas trazidas pela EC nº. 45/2004, mudou significativamente sua atuação social. Afinal, não se pode falar em autonomia e efetiva participação na vida da população carente se não forem investidos recursos suficientes para a ampla atuação da Defensoria Publica.

Contudo, muito ainda há que ser feito para que as Defensorias Públicas estatais sejam reconhecidas pela sociedade como uma instituição forte, capaz e eficiente. Há um longo caminho a ser percorrido, o importante, no entanto, é que já foram dados os primeiros passos.

20 Muito lúcida a atuação do STF para proteger essa autonomia. Em seus julgados, podemos

perceber isso com muita clareza, verbis:

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A prova dessa tendência construtiva, de aprimoramento da instituição, é a de que em diversos estados, a constituição da Defensoria Pública aparece como um evento muito recente. Citam-se, para tanto, os exemplos dos estados de São Paulo21, Paraná22, Alagoas23, Paraíba24, entre outros.

Válido aqui mencionar que a Defensoria Pública tem se tornado um importante instrumento para a assistência jurídica ampla e gratuita. É que cada vez mais entre os profissionais deste ramo se dissemina a idéia de que essa instituição não funciona e nem deve ser comportar como uma mera advocacia gratuita, destinada tão somente à representação dos pobres em juízo. Vários são os projetos e programas desenvolvidos por essas entidades a fim de promover a justiça aos mais carentes25.

Assim é que a Defensoria Pública tem se revelado como verdadeiro instrumento de democratização do acesso à Justiça, com eficiência e qualidade, contribuindo para concretizar a igualdade jurídica e os mecanismos de inclusão social.

21Constituída pela Lei Complementar nº. 988, de 09 de janeiro de 2006.

22Reorganizada pela Lei Complementar nº. 054 de 07.02.2006.

17Criada pela Lei nº 6.258/2001 e reestruturada pela Lei Delegada nº. 23/2003.

24Organizada pela Lei Complementar nº 39, de 15 de março de 2002.

25 Somente para citar alguns deles: Programa “Manhã da Globo”, Projeto “Defensoria

Participativa” e “Balcão de Direitos 2008”, todos em funcionamento no Estado de Minas Gerais. Projeto “Janela Aberta”, que funciona no Estado do Ceará. “Programa de Investigação de Paternidade e Maternidade por Análise do DNA” do Estado do Rio de Janeiro. Programa de TV “Fala Defensoria”, desenvolvido no Estado do Amazonas. “Defensoria Itinerante” do Espírito Santo. Projeto “Ação Cidadã – Consumidor Consciente” que funciona na Bahia. Projeto “Central de Inquéritos” e Projeto “Paternidade Responsável” do Estado do Maranhão. Projeto

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CAPÍTULO IV

DEFENSORIA PÚBLICA TRABALHISTA

A Lei Complementar nº. 80/1994 ao disciplinar a organização da Defensoria Pública da União estabelece em seu art. 14 suas áreas de atuação, junto às Justiças, quais sejam: Federal, do Trabalho, Eleitoral, Militar e Tribunais Superiores e instâncias administrativas da União.

Também a Lei nº. 5.584/1970, em seu art.17 dispõe acerca da atividade do defensor público no processo trabalhista, verbis:

Art 17. Quando, nas respectivas comarcas, não houver Juntas de Conciliação e Julgamento ou não existir Sindicato da categoria profissional do trabalhador, é atribuído aos Promotores Públicos ou Defensores Públicos o encargo de prestar assistência judiciária prevista nesta lei.

Além dessas previsões legais mencionadas, ainda o §3º do art.477 da CLT estabelece uma outra atribuição à Defensoria Pública, verbis:

Art. 477 - É assegurado a todo empregado, não existindo prazo estipulado para a terminação do respectivo contrato, e quando não haja êle dado motivo para cessação das relações de trabalho, o direto de haver do empregador uma indenização, paga na base da maior remuneração que tenha percebido na mesma emprêsa.

§ 1º - O pedido de demissão ou recibo de quitação de rescisão, do contrato de trabalho, firmado por empregado com mais de 1 (um) ano de serviço, só será válido quando feito com a assistência do respectivo Sindicato ou perante a autoridade do Ministério do Trabalho e Previdência Social.

(...)

§ 3º - Quando não existir na localidade nenhum dos órgãos previstos neste artigo, a assistência será prestada pelo Represente do Ministério Público ou, onde houver, pelo Defensor Público e, na falta ou impedimento dêste, pelo Juiz de Paz.

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infraconstitucional regulando a matéria pode ser apontada como uma das principais, ou se não a principal causa para essa tímida atuação.

Pela leitura de alguns excertos26 de acórdãos dos TRT’s, extraídos de acórdãos do TST, a necessidade de criação de uma Defensoria Pública especializada é facilmente percebida. Veja:

“(...) desde o advento da Constituição Federal vigente que, em seu artigo 5°, LXXIV, garante a assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovem insuficiência de recursos, enquanto não implantada a defensoria pública no âmbito desta Justiça especializada(...)”.

“(...) Ademais, a defensoria pública que pode dar vida ao que está estabelecido no art. 5 o , LXXIV, não funciona junto à Justiça do Trabalho o que obriga o trabalhador a se socorrer de profissionais particulares que, por sua vez, não podem trabalhar gratuitamente(...)”.

“(...) Com o advento da Constituição Federal de 1988, que consagrou a obrigatoriedade do estado de prestar assistência judiciária gratuita aos necessitados (art. 5, LXXIV) e vedou a intervenção do estado nas organizações associativas (art. 8,) e, ainda, considerou o advogado essencial à administração da Justiça (art.133) e, por fim, previu a Defensoria Pública (art. 134), mas não a regulamentou de moda a se fazer presente junto aos órgãos da Justiça do Trabalho, impedindo o trabalhador de ter a real assistência gratuita(...)”

Ante a tudo que até agora foi exposto, a indispensabilidade dessa instituição na seara trabalhista resta configurada.

1. Competência da União ou dos Estados?

Questão interessante é a da vinculação dessa Defensoria Especializada. A quem estaria ligada? À Defensoria Pública da União ou às Defensorias Públicas dos Estados?

26Esses fragmentos aparecem em acórdãos do TST. (RR - 1231/2005-015-04-00. 6ª Turma.

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Em face da ausência de um órgão concreto, realmente voltado para a assistência jurídica gratuita na Justiça do Trabalho, há quem entenda deva ser competência da DPU instituir representação nesse âmbito do direito, haja vista a atuação da DPE abranger tão-somente à Justiça do Estado.

Parece equivocado tal entendimento. Para tanto, veja-se.

Muito perspicaz a observação de Marco Aurélio Lustosa Caminha27 acerca do assunto quando diz ser um absurdo a justificativa de “que os defensores públicos integrantes da Defensoria Pública Estadual só devem patrocinar a defesa dos pobres perante a Justiça Estadual. Seriam esses profissionais incompetentes para atuar na Justiça Federal ou na Justiça do Trabalho, pelo fato de não integrarem a Defensoria Pública da União”. Para ele a “incompetência é um atributo relativo só a órgão jurisdicional”.

Além disso, não se pode esquecer que o defensor público é, na verdade, um advogado. E como tal, parece estranho limitar de forma inflexível o âmbito de sua atuação. Por óbvio que algumas restrições territoriais e até mesmo materiais são bem-vindas desde que signifiquem uma organização necessária ao melhor desenvolvimento das atividades por parte daqueles profissionais e não, obstáculo ao direito de ser assistido pelo necessitado.

Ora, se essas limitações fossem entendidas com demasiado rigor, uma causa patrocinada no juízo de primeiro grau por um Defensor Público Estadual não poderia, jamais, continuar a ser patrocinada por ele em grau de recurso, por exemplo, perante os tribunais superiores.

O STF já se pronunciou nesse mesmo sentido a esse respeito:

“EMENTA: QUESTÃO DE ORDEM. AGRAVO DE

INSTRUMENTO. PEDIDO DA DEFENSORIA PÚBLICA DA

UNIÃO PARA QUE SEJA RECONHECIDA A SUA

IMPOSSIBILIDADE MATERIAL E CONJUNTURAL PARA ATUAR

27 CAMINHA, Marco Aurélio Lustosa. O problema da assistência judiciária, com destaque para

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PERANTE O STF. A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, erigida como órgão autônomo da administração da justiça, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados (art. 134 e parágrafo único da CF/88), sendo inconcebível que o Estado se exonere dessa obrigação constitucional, mormente quando editada a Lei nº 9.020/95, que, mesmo em caráter emergencial e provisório, dispõe sobre a implantação do órgão. Embora se reconheça a dificuldade dos defensores em promover uma defesa satisfatória a seus assistidos, esta não é de todo intransponível a ponto de descaracterizar a finalidade do órgão, ainda mais quando lhe é facultada a requisição irrecusável de servidores da Administração Federal (art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 9.020/95). Questão de ordem que se resolve pelo indeferimento do pedido.” (STF. AI-QO 237400/RS. Relator(a) Ilmar Galvão. DJ: 31.03.2000).

Em verdade, qualquer vinculação restritiva, deveria ser desprezada, por causar embaraço ao livre exercício pela parte de atendimento gratuito por advogado.

2. Estrutura orgânica

A exemplo da divisão adotada para o Ministério Público28, a Defensoria Pública poderia apresentar as seguintes ramificações: da União (aos moldes do Ministério Público Federal, sem a vinculação hierárquica desse órgão aos demais), do Trabalho, dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. Cada um deles sendo dotado de carreiras independentes entre si, tendo cada uma delas organização própria, com concursos públicos de provimento distintos.

3. Atribuições

Por entender que o âmbito da Justiça Trabalhista apresenta diversas peculiaridades em relação aos demais ramos jurisdicionais e que a consecução de determinadas atividades, expostas adiante, pelas Defensorias Públicas Estaduais ou pela Defensoria Pública da União poderia acarretar ineficiência a uma dessas instituições é que se propõe a constituição de uma nova Defensoria.

(40)

Portanto, para demonstrar que não se trata de uma divisão vazia e ausente de sentido, comentar-se-á a seguir algumas das mais importantes atribuições da instituição em comento.

3.1 Promover, extrajudicialmente, a conciliação entre as partes em conflito de interesses

Não interessa a ninguém a propositura de sucessivas ações que, em diversas vezes, poderiam ter sido evitadas com uma conversa prévia. Desse modo é que percebo a fundamental importância de uma Defensoria para a promoção de um “diálogo aberto” às partes.

Por essa razão é que foram instituídas as Comissões de Conciliação Prévia29, previstas nos arts. 625-A e seguintes da CLT.

No Processo Trabalhista, mesmo com a reclamação já ajuizada, tenta-se sempre promover uma conciliação entre as partes. Essa característica torna-se mais acentuada na seara laboral do que na comum, pois a própria CLT prevê expressamente que sejam empreendidas, ao menos, duas tentativas de

29 As comissões de conciliação prévia constituem instâncias extrajudiciais prévias, com a

finalidade de mediar e tentar conciliar os conflitos individuais advindos da relação de emprego, as quais poderão ser instituídas tanto nas empresas como nos sindicatos. Sendo que neste último caso as normas de constituição e funcionamento serão estabelecidas em negociação coletiva. Já quanto àquelas instituídas nas empresas, a Lei nº.9.958/00 dispõe sobre o seu procedimento.

Assim o empregado deverá apresentar a demanda à comissão, a qual marcará sessão de tentativa de conciliação em dez dias. Havendo acordo, o termo de conciliação é título executivo extrajudicial e terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas

Caso não haja conciliação deverá ser elaborada uma declaração constando a tentativa de conciliação frustrada com a descrição do seu objeto, a fim de que possa ser juntada à eventual reclamação trabalhista (§2º, art. 625-D).

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conciliação. A primeira no momento da abertura da audiência (art. 846). E a segunda, ao final da instrução (art.850).

Assim é que a Defensoria Trabalhista deverá atender às partes e aos interessados de modo a tentar, sempre, a conciliação, antes de promover a ação cabível.

3.2. Patrocinar reclamação trabalhista bem como sua defesa e reconvenção

Em não sendo possível um acordo entre as partes, a Defensoria Trabalhista exercerá papel significante na representação processual de seu assistido – o trabalhador hipossuficiente que “elegeu” a via judicial para compor seu conflito.

Inicialmente, a Defensoria postulará a concessão de gratuidade de justiça para os necessitados. Como patrono do obreiro, deverá atuar no processo em seu favor, cumprindo com zelo e presteza, tempestivamente, os atos processuais, inclusive requerendo aqueles que se façam imprescindíveis à representação.

Uma vez ajuizada a reclamação, deverá acompanhar e comparecer aos atos processuais, de modo a impulsionar os processos. Atender ao expediente forense e participar dos atos judiciais, quando for obrigatória a sua presença. Sustentar, oralmente ou por memorial, os recursos interpostos e as razões apresentadas em sua defesa ou postulação.

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3.3. Assegurar aos seus assistidos, em processo judicial ou extrajudicialmente, o contraditório e a ampla defesa, com recursos e meios a ela inerentes

A Defensoria Trabalhista deverá, assim, interpor recurso para qualquer grau de jurisdição, promovendo revisão de decisões judiciais sempre que cabível, de modo a assegurar o princípio do duplo grau de jurisdição – princípio de ordem pública segundo o qual toda causa tem direito a um reexame por uma segunda instância.

O princípio do contraditório, por sua vez, significa que, no meio processual, sempre que formulado um pedido ou tomada uma posição por uma parte, deve ser dada à outra parte, oportunidade de se pronunciar antes de qualquer decisão. Assim, oferecida uma prova por uma das partes, a parte contrária deve ser chamada a contestá-la e ambas sobre ela têm o direito de se pronunciar, garantindo-se, desse modo, o desenvolvimento dialético do processo.

No que toca ao princípio da ampla defesa, diz respeito aos meios de persuasão da defesa possíveis no campo processual, ou seja, a defesa técnica elaborada por profissional legalmente habilitado para tanto. Por esse princípio é que se garante a efetividade de realização da defesa em todos os momentos do processo cabíveis, com a possibilidade de todas as provas admissíveis – que além de serem admitidas em direito sejam também necessárias a elucidação dos fatos que constituem o direito.

3.4. Defender os empregados em inquérito para apuração de falta grave

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Essa ação somente será possível contra empregado estável. Vale salientar, contudo, que com o advento do regime do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS, acabou a estabilidade decenal prevista para o empregado nos arts. 492 e ss da CLT. Assim, atualmente, a ação de inquérito é admissível somente contra o empregado estável (na realidade, que possui garantia provisória ou estabilidade temporária) dirigente sindical, dirigente de cooperativa ou outros empregados beneficiados por estabilidade criada por convenção coletiva, acordo coletivo, decisão normativa ou cláusula de contrato individual.

Assim, por se tratar de espécie de processo – em verdade, processo administrativo – deve contar o trabalhador com as mesmas garantias que lhes são inerentes em processos judiciais comuns – devido processo legal, contraditório, ampla defesa entre outras.

Válido lembrar que não existe qualquer tipo de restrição quanto aos meios de prova admitidos no inquérito para apuração de falta grave, sendo os mesmos de um processo normal. O que muda, aqui, é o número de testemunhas, haja vista que na ação de inquérito, cada parte tem o direito de ouvir até seis testemunhas, enquanto nas reclamações comuns esse número é de três testemunhas.

Sendo assim, como em qualquer outra reclamação, aos que necessitem de defesa técnica e não possuam recursos financeiros para pagá-la, devem ter a possibilidade de contar com o patrocínio da Defensoria Pública Trabalhista. Ressalta-se, por fim, a relevância da defesa aqui, no inquérito, que poderá ensejar em sérias conseqüências ao empregado, caso, ao fim da ação reste comprovado o cometimento de sua falta grave.

3.5 Patrocinar ação civil pública trabalhista

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delineadas as hipóteses em que se configuravam os interesses difusos, limitou-se, em um primeiro momento, às causas expressamente previstas na lei.

Com a Constituição Federal de 88, em seu art. 129, III, admitiu-se a defesa de "outros interesses difusos e coletivos" não elencados expressamente, dando vida nova ao dispositivo anteriormente vetado. Dessa maneira é que a Lei nº. 8.078/90, ao instituir o Código de Defesa do Consumidor, deu ao inciso IV do art. 1º da Lei da Ação Civil Pública sua redação originalmente aprovada pelo Congresso Nacional, permitindo incluir os interesses difusos e coletivos de natureza trabalhista entre aqueles passíveis de serem discutidos através desse instrumento processual.

Em principio, só possuíam legitimidade para propor a ação civil pública, na Justiça do Trabalho, o Ministério Público do Trabalho (CF, art. 129, III), os Sindicatos (CF, art. 129, § 1º; art. 8º, III), e os entes públicos (art. 5ºda Lei nº 7.347/85). Com o advento da Lei nº. 11.448, de 2007, esse rol foi ampliado, figurando, agora, também como legitimados: a Defensoria Pública, a meu ver, nela inclusa, a Defensoria Pública Trabalhista, da União, dos Estados e do Distrito Federal; a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; e a associação que, concomitantemente esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil e que inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Trata-se de hipótese típica de legitimidade concorrente.

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CAPÍTULO V

ASSISTÊNCIA JURÍDICA IDEAL NO PROCESSO TRABALHISTA

A ideal promoção da assistência jurídica gratuita no Processo do Trabalho, todavia, não se encerra na instituição de uma Defensoria Pública Trabalhista. Outros aspectos da atual prestação de assistência judiciária devem ser enfrentados com maior sensibilidade pelos operadores do direito.

Conforme abordado no segundo capítulo desta monografia, o atual sistema de representação processual prestado ao trabalhador brasileiro possui muitas falhas. Partindo delas é que se passa a expor algumas propostas de soluções viáveis.

1. Assistência judiciária gratuita desvinculada dos sindicatos

A prestação da assistência judiciária gratuita exercida somente pelos sindicatos representa uma das maiores deficiências dessa assistência, verdadeira afronta ao direito de liberdade, à livre escolha do empregado hipossuficiente.

Por mais que essa atuação não esteja adstrita aos seus filiados, tornar obrigatória uma representação processual por um sindicato que o próprio obreiro não escolheu é demasiadamente rigoroso para com o trabalhador menos favorecido economicamente. O filiado sindical deve ter o direito de escolha sobre seu representante processual, e o não filiado, igualmente.

Além disso, muitos são os doutrinadores que defendem ser a assistência judiciária gratuita um dever prestado pelo Estado, conforme já tivemos oportunidade de comentar anteriormente.

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