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Honorários periciais e sucumbenciais

2 O TRATAMENTO DE ACESSO À JUSTIÇA NA

2.3 A reforma trabalhista e o acesso à Justiça

2.3.2 Honorários periciais e sucumbenciais

Com a alteração do artigo 790-B da CLT a isenção que havia para o pagamento dos honorários periciais da parte sucumbente que fosse beneficiária da gratuidade de justiça deixou de existir. Com a nova redação, esse beneficiário somente não arcará com esse pagamento se não tiver obtido “em juízo créditos capazes de suportar a despesa (...), ainda que em outro processo”, nesse caso, será a União a responsável pelo encargo (art. 790-B, § 4º, da CLT).

Alguns doutrinadores como Mauricio Godinho Delgado e Gabriela Neves Delgado têm demonstrado preocupação com a nova redação, pois claramente ela afronta a Constituição Federal que assegura o direito de acesso à justiça aos que não possuem condições econômicas para arcar com as custas processuais. Sobre essa alteração, eles afirmam:

A análise desse preceito, (...) evidencia o seu manifesto desapreço ao direito e garantia constitucionais da justiça gratuita (art. 5º, LXXIV, CF) e, por decorrência, ao princípio constitucional do amplo acesso à jurisdição (art. 5º, XXXV, CF). Se não bastasse, desconsidera as proteções e prioridades que o ordenamento jurídico confere às verbas de natureza trabalhista, por sua natureza alimentar, submetendo-as a outros créditos emergentes do processo100.

Apesar da evidente colisão do referido artigo com a Constituição Federal, e dos possíveis danos que sua aplicação possa ocasionar ao trabalhador hipossuficiente que busca o acesso à justiça, ainda não há um posicionamento do Superior Tribunal Federal sobre esse tema. Diante disso, a recomendação do jurista Schiavi merece ser destacada.

99 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. Cit. p 360.

100 DELGADO, Mauricio Godinho e DELGADO, Gabriela Neves. A reforma trabalhista no Brasil. In:

Em sua concepção, ao se deparar com essa situação, os magistrados deverão ter muita sensibilidade ao fixar os honorários periciais àqueles que foram beneficiados com justiça gratuita, para não inibir o acesso à justiça. Defende que o juiz ao estabelecer tais honorários estipule valores compatíveis com o estado de pobreza da parte101. Ao que parece, enquanto não há um pronunciamento do STF, essa é a melhor ação a ser tomada para evitar injustiças, assim como o controle de constitucionalidade no caso concreto.

Outro ponto controverso da Reforma Trabalhista é a responsabilidade do beneficiário da justiça gratuita pelos honorários advocatícios previstos no art. 791-A,

caput e §§ 3º e 5º, CLT. Os honorários sucumbenciais são devidos a advogados e não à

pessoa jurídica da sociedade da de advocacia, e se aplicam também aos advogados em causa própria102. A margem para fixação dos honorários é de 5% a 15% “sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa” (art. 791-A, caput, CLT).

Desse modo, os valores dos honorários somente serão conhecidos ao final do processo e não durante a fase de conhecimento. Nos casos em há obrigação de fazer, como “dar baixa” na carteira profissional, entregar documentos como carta de referência ou dados previdenciários, etc., a base de cálculo será o valor atualizado da causa. O beneficiário sendo a parte sucumbente terá que pagar os honorários sucumbenciais, mesmo nos casos em que houver procedência parcial. Ainda que tenha obtido a gratuidade da justiça, sua responsabilidade se mantém, e caso tenha obtido créditos em juízo, suficientes para suportar a despesa, ainda que em outro processo, serão utilizados para o pagamento dessa obrigação. Se não tiver obtido tais créditos,

as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário (art. 791-A, § 4º, CLT).

A Reforma Trabalhista trouxe disciplina em dissonância com os entendimentos fixados nas Súmulas ns. 219 e 329 do TST, que declaravam que “na Justiça do Trabalho,

101 SCHIAVI, Mauro. Op. Cit. p 411.

a condenação ao pagamento de honorários advocatícios não decorre pura e simplesmente da sucumbência”. A instituição de honorários advocatícios e a sucumbência recíproca é considerada a mudança mais significativa da nova legislação. Essa previsão na legislação do trabalho pode inviabilizar ou inibir o acesso dos trabalhadores à justiça, pois muitos deles, diante do receio da possibilidade de ter que arcar com o pagamento de honorários sucumbenciais, podem desistir de pleitear suas demandas perante a Justiça.

Sobre a sucumbência recíproca, Jorge Luiz Souto Maior e Valdete Severo advertem:

(...) há de se reconhecer que sucumbência recíproca não existe no aspecto específico da quantificação do pedido. Isto é, se, por exemplo, o pedido de dano moral, com valor pretendido de R$ 50.000,00, for julgado procedente mas no patamar fixado pelo juiz de R$ 5.000,00, não se terá a hipótese de “procedência parcial”, da qual advém a hipótese de sucumbência recíproca, porque, afinal o pedido foi julgado procedente e a própria lei autoriza fixar as indenizações em outro patamar, que não é de um valor exato.

Destaque-se que mesmo na dinâmica do processo civil, a compreensão doutrinária, já refletida em jurisprudência e em lei, é a de que os honorários advocatícios não servem para conferir um proveito econômico à parte que não tem razão; ou, dito de outro modo, não constituem instrumento para penalizar a parte economicamente desprovida e que vai à Justiça pleitear os seus direitos. Vide, neste sentido, a Súmula n. 326 do STJ: “Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca. ” E, também, o teor do parágrafo único do artigo 86: “Se um litigante sucumbir em parte mínima do pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas despesas e pelos honorários103.

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