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Fonte: GÓES (2007, p. 29) Fonte: FIEMG (1998, p.22)

1.2.1 Os imigrantes italianos

Antes de se abordar a questão dos imigrantes italianos fixados em Belo Horizonte, é

importante fazer uma breve retrospectiva histórica do processo de imigração ocorrido em todo

Brasil, especialmente, após a abolição da escravatura.

Em 1870, o sentimento antiescravagista pressionava o governo brasileiro a iniciar o

processo de imigração para a substituição da mão de obra escrava e, além disso, fazia-se

necessário povoar o território e criar um mercado assalariado para movimentar a economia do

país.

Buscando viabilizar a imigração, o governo elaborou uma série de medidas para

atrair o imigrante para o solo nacional, utilizando-se, dentre outros recursos, de propagandas

que veiculavam uma imagem do Brasil como uma espécie de “Terra Prometida”.

No panfleto abaixo, distribuído na Itália, lê-se:

Venham construir os seus sonhos com a família. Um país de oportunidade. Clima tropical e abundância. Riquezas minerais. No Brasil vocês poderão ter o seu castelo. O governo dá terras e utensílios a todos.

Figura 1 – Panfleto distribuído na Itália

Fonte: APCBH

Na Itália, tais propagandas surtiram o efeito esperado pois, naquela época, era um

país agrícola bastante limitado e pouco industrializado. Fugindo da guerra e da fome,

acreditando nas promessas do governo brasileiro e idealizando um futuro próspero na

América, muitos italianos vieram para o Brasil.

Descrevendo os acontecimentos que impulsionaram os italianos a emigrarem para o

Brasil, Trento (1989, p. 30) afirma que foi “a miséria a verdadeira causa da emigração

transoceânica entre 1880 e a Primeira Guerra Mundial”; o mesmo autor (2000, p. 37)

acrescenta que se conjugaram, aos incentivos promovidos pelo governo brasileiro, os efeitos

de uma primeira “modernização” do campo na Itália, pelo menos no Norte do país.

Este fenômeno significou a expulsão das camadas mais marginalizadas da população rural – pequenos agricultores e arrendatários, especialmente das áreas montanhosas – das quais a unificação havia tirado a possibilidade de praticar uma economia de subsistência e de sobreviver nas brechas do mercado [...]. A crise agrária, a partir dos anos 80 do século 19, fez com que a situação piorasse também na Itália Meridional. Tanto os imigrantes italianos que se dirigiam aos núcleos coloniais quanto aqueles que foram para as fazendas tinham como objetivo a propriedade da terra. Não por acaso tratou-se, em grande medida, pelo menos até 1915, de uma imigração de núcleos familiares, e não de indivíduos (no caso, homens), como ocorreu em quase todas as outras metas transoceânicas.

Mais à frente, Trento (1989, p. 34), destacando quão significativo foi esse

movimento emigratório em direção ao Brasil, compara algumas estatísticas italianas com

brasileiras, aqui transcritas em forma de gráfico, como se observa a seguir:

Gráfico 1 - Número de italianos que emigraram para o Brasil, segundo

as estatísticas italianas e brasileiras, de 1836 a 1902

1.129.265 936.981 0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000 1.200.000 Estatísticas Brasileiras Estatísticas Italianas

Fontes: Para as estatísticas italianas: ROSOLI, G. (Org.). Um secolo di emigrazione italiana, 1876-1976, p. 353; para as estatísticas brasileiras: MELASINI, E. Brasile: Condizioni naturali ed economiche, p. 405; Boletim do Departamento Estadual do Trabalho, 10 (38-39): 82-84, 1921.

Justificando a diferença de 192.284 imigrantes entre as estatísticas italianas e

brasileiras, Trento (1989, p. 35) salienta que isso se deveu ao fato de que até 1877 as fontes

italianas não registravam o fenômeno de migração.

A série de estatísticas históricas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), revela, na tabela 1 transcrita abaixo, quão superior foi a entrada de italianos no

Brasil, no período de 1886 a 1935, em comparação a outras nacionalidades

Tabela 1 - Entrada de imigrantes no Brasil,

discriminada pela nacionalidade de origem do

indivíduo, no período de 1886 a 1935

Nacionalidades

Número de imigrantes

Italianos

1373702

Portugueses

1149502

Espanhóis

578087

Japoneses

175998

Alemães

155887

Russos

107297

Austríacos

83906

Turcos

79177

Franceses

30278

Ingleses

20840

Argentinos

18417

Norte-americanos

11027

Holandeses

7503

Libaneses

4433

Gregos

4059

Dinamarqueses

2929

Chineses

1644

Total

3.804.686

Fonte: Anuário Estatistico do Brazil 1936. Rio de Janeiro: IBGE, v. 2, 1936.

Em Minas Gerais, tal fato se repetiu, havendo predominância acentuada de

imigrantes italianos – 47.096 (quarenta e sete mil e noventa e seis) pessoas, como se observa

na tabela 2, apresentada a seguir:

Tabela 2 - Entrada de imigrantes, em Minas Gerais, no período de

1894 a 1901

N

ACIONALIDADES

N

ÚMERO DE IMIGRANTES

Italianos

47.096

Italianos etc.

3.001

Espanhóis

1.893

Portugueses

352

Austríacos

188

Gregos

26

Alemães

14

Franceses

6

Armênios

3

Canadenses

3

Total

52.582

Fonte: MONTEIRO, Norma de Góes. Imigração e colonização em Minas Gerais, 1898 – 1930. p. 173.

Nota: Os dados11 são do livro da Hospedaria de Imigrantes Horta Barbosa / Juiz de Fora – MG.

11 Consultamos, por telefone, a autora do livro, Norma de Góes Monteiro, no dia 19/10/2010, sobre o que indica a legenda Ital. etc. Ela nos informou que os dados, encontrados em forma manuscrita, utilizados na tabela 2, foram copiados por ela exatamente como apareciam no livro da Hospedaria Horta Barbosa. Devido à longa história de separação da Itália em pequenas províncias, vários imigrantes italianos se apresentavam, na hospedaria, como vênetos, beluneses, veroneses, lombardos, etc. e não apenas como italianos.

Desse contingente, atraídos, principalmente, pela propaganda das vantagens da

emigração, veiculada por contatos estabelecidos pelo governo mineiro com grupos privados,

incumbidos de arregimentar trabalhadores estrangeiros em seus países de origem, vários

imigrantes italianos se fixaram, já no início da construção da capital mineira, no arraial do

Curral Del Rey.

Outros tantos, que já se encontravam no Brasil, em cidades do interior do estado de

Minas Gerais ou em outras partes do país, empregados, sobretudo, nas lavouras de café do

Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, migraram para a região onde se iniciaria a

construção da Nova Capital de Minas, em busca de oportunidades de trabalho na construção

civil. Além disso, muitos vieram com a intenção de atuar como empreendedores no comércio,

na indústria ou na prestação de serviços, considerando o vasto campo de possibilidades de se

estabelecer negócios, em uma cidade que carecia de pioneiros em todas as áreas e onde a

concorrência era nula ou mínima.

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