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O hospital como espaço de aprendizado para os médicos, enfermeiras e alunas

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2 A IMPLANTAÇÃO DA ASSISTÊNCIA MÉDICA HOSPITALAR EM RIO

2.1 O hospital como espaço de aprendizado para os médicos, enfermeiras e alunas

O Hospital Evangélico de Rio Verde teve seu início de funcionamento por meio da clínica - consultório, inaugurada em primeiro de abril de 1936, na própria casa da família Gordon. Os pacientes chegavam durante o dia todo e também pela noite, cerca de metade deles vinham de distâncias variando de quatro a cento e cinquenta quilômetros da cidade. Dona Helen Gordon, esposa de Dr. Gordon, era responsável pela contabilidade, arquivamento e outros trabalhos burocráticos. Também organizava documentos, atendia aos telefonemas e fazia o serviço da igreja com o seu marido.

Donald Gordon realizava todos os tipos de atendimentos e, muitas vezes, precisava da ajuda de sua esposa. Não havia enfermeiras nesse período e, como as consultas eram na sua própria casa, não havia outra pessoa responsável.

Em anos seguintes, a primeira casa comprada por Donald Gordon que foi usada como residência e clínica e, posteriormente como hospital. Enquanto a clínica estava servindo a pessoas enfermas, durante todo o dia, não era ainda um hospital. Entretanto, houve pelo menos dois casos que não podiam esperar por um hospital real, precisando de solução na própria clínica, sem a estrutura de um hospital.

O primeiro caso se refere a um paciente com uma hérnia estrangulada. A cirurgia era relativamente simples, mas sem a cirurgia ele morreria. Assim, em uma mesa da sala de estar, a operação foi realizada. Para a anestesia, sua esposa Helen forneceu éter, sob a direção de Donald Gordon e o acompanhou no procedimento. O paciente se recuperou, tempos depois.

O segundo caso é de seu próprio filho, Alan, de quatro anos. Alan brincava com seu irmão, escalando e explorando o sótão da sua casa. A maior parte do teto era de madeira, mas um quarto só tinha um teto de tecido. De alguma forma, Alan perdeu o equilíbrio, rasgou o pano e mergulhou de cabeça no chão abaixo, ficando inconsciente por várias semanas. Dr. Gordon tinha um conjunto de livros que o ajudaram a fazer alguns procedimentos, como a contenção e alívio da pressão no cérebro de seu próprio filho. Graças ao tratamento, além de muitas orações, Alan se recuperou.

A Escola de Enfermeiras da Casa de Saúde Evangélica58 teve início na própria casa da família Gordon, com três alunas59 convidadas pelo médico a estudarem os princípios da enfermagem para posteriormente ajudá-lo em seu trabalho missionário, prestando serviços para a comunidade rio-verdense. Dona Helena e Dr. Gordon foram os primeiros professores. A primeira turma se formou no ano de 1941. Esse assunto será tratado posteriormente, nesta pesquisa.

Havia vantagens em receber as estudantes de enfermagem como mão de obra gratuita e mais qualificada, uma vez que as estudantes necessitavam praticar as técnicas aprendidas na escola para posteriormente ensiná-las ou supervisioná-las em suas vidas profissionais.

Não se encontrava mão-de-obra qualificada nessa região, nem poderiam ter conseguido isso se houvesse. Havia médicos evangélicos, mas também de outras religiões. Isso não impedia as ações do projeto missionário. Muito trabalho de caridade era feito, mas se cobrava uma taxa para consultas e procedimentos cirúrgicos. Registra-se que Dr. Gordon realizou todos os tipos de operações. O reconhecimento pela sua competência se espalhou por toda região.

Posteriormente60, eles tiveram uma casa, onde funcionava o hospital com 30 leitos, um quarto para outro trabalho e um prédio para um departamento de paciente externo. Esses edifícios foram concluídos aos poucos com a previsão para expansão quando os meios se tornassem disponíveis. Dr. Gordon teve que financiar a maioria das melhorias com os ganhos

58

Nome inicial da Escola de Enfermagem Cruzeiro do Sul. 59 Maria Bueno, Goitim Nogueira e Herondina Grimbor. 60 De acordo com as fontes, não há data precisa.

advindos dos pacientes, atuar como arquiteto, engenheiro, construtor, além de cirurgião, chefe, médico e superintendente do hospital existente.

FIGURA 13 – Dr. Gordon, a primeira diretora Beatrice Lenington e as três primeiras alunas

da Escola de Enfermeiras da Casa de Saúde Evangélica, s/d

Fonte: Acervo pessoal de Sylvia Woodall Gordon.

A relação entre o Hospital Evangélico e a Escola de Enfermagem era de muita proximidade, ficando evidente nas fontes orais, a estreita relação entre as duas instituições. Para as alunas, era sua verdadeira escola, uma vez que ali elas aplicavam toda teoria que aprendiam. Registra-se que a escola nasceu da necessidade de dar suporte ao hospital.

O espaço destinado a cuidar dos pacientes também servia como um lugar de pregação e do culto protestante, conforme as palavras de Dr. Gordon, proferidas no Seminário de Campinas, em 1973:

No hospital cada manhã nós tínhamos um culto, com o canto de um hino, leitura da Bíblia, às vezes um comentário, dependendo da pessoa, e terminando com uma oração. E foi bem recebido. Mais tarde tivemos um alto-falante nos quartos e nós tínhamos arranjado para que se o doente não quisesse ouvir, era possível desligar o alto-falante daquele quarto. Bem, eu só lembro de um doente uma vez que pediu para desligar o alto-falante do seu quarto. Nós oramos antes da operação, antes de começar a anestesia, há uma oração. Nós estávamos procurando mostrar que, o que procuramos fazer é em nome de Cristo (PALESTRA DE DR. GORDON, 1973).

Outra prática cotidiana que o hospital utilizava era a oração antes das cirurgias. Uma das fontes orais, como a da Dona Cosmira Ferreira de Brito, funcionária do hospital e aluna da escola, no período de 1965 até 1980, em seu relato, confirmou essa hábito:

[...] A oração antes das cirurgias fazia com que a operação terminasse sem pavor, mesmo as mais difíceis. Era como se a gente não tivesse trabalhando [...]. Então, não podia operar um paciente sem oração. Não podia. ERA PROIBIDO! TINHA QUE ORAR! Pedindo a Deus a direção, a benção sobre as mãos dos cirurgiões. O Dr. Wagner Nascimento, ele não era da igreja presbiteriana, ele era católico, eu acho. E o Dr. Wagner Nascimento, eu acho que ele não sabia orar, quando tinha outra pessoa, aí já era quando caía para cima de mim. Quando ele dizia: quem ora, quem ora? Aí ele dizia: Ora Cosmira! É você mesma! (risos). Mas era bom, o Hospital Evangélico era uma coisa fantástica! (BRITO, 2019).

O hospital era a escola prática de todas as alunas e ali era o momento de colocar em práticas tudo que haviam aprendido nas aulas teóricas. Dona Araciara Dias Gonçalves ingressou, em 1960, no curso de graduação em Enfermagem e afirma que “[...] as aulas práticas eram feitas na escola nas salas de laboratório né, então a gente aprendia ali naquelas salas, nos simuladores e depois a gente já ia para o hospital, aplicar tudo [...]” (GONÇALVES, 2019).

No que se refere às aulas práticas no hospital, Cosmira explica, em seu depoimento, como ocorriam durante as cirurgias:

[...] as cirurgias geralmente os médicos operavam. E, quando tava operando e a gente ia ser ou circulante ou instrumentadora e eles ia explicando tudo, explicando tudo, vasos, órgãos, tudo. E no meu primeiro dia, eu não desmaiei para cair, porque me seguraram, aí o Dr. Carlos Patrício mandou eu e outra aluna, leva elas para a salinha ali. Tinha uma salinha própria para isso, dê uma efortil e traga de volta (risos) [...] tinha de decorar, olhar bem os que eles falaram, porque normalmente quando a gente ia para a cirurgia, a gente já tinha visto, aquela disciplina, por exemplo de obstetrícia, a gente já tinha visto, aí tinha o relatório do que a gente aprendeu né [...] (BRITO, 2019).

As aulas de estágio aconteciam em vários departamentos do hospital, a saber: no consultório médico para consultas, obstetrícia, pediatria, enfermarias, ambulatório, dietética e no laboratório do hospital, que não era no prédio, e sim na esquina do quarteirão da saúde, sendo responsável o Senhor Lucas.

[...] Nós tínhamos estágio no ambulatório para fazer, toda aluna tinha. Tinha a parte de obstetrícia, tinha aquela clínica médica, então o paciente era de clínica médica, chegava e a gente ia fazer e mandava para o médico já mastigado [...]. Antes do médico ir, supunha se era apendicite a gente já sabia, a gente estudava os sintomas na teoria, na escola com os professores e a gente já ia mais ou menos em cima daquilo que a gente estudou [...] (BRITO, 2019).

Era constante a preocupação de capacitar as alunas, integrando a teoria à prática, na Escola de Enfermagem. A formação também era ofertada aos professores da Escola de Enfermagem, segundo revela Hélia Emrick de Oliveira, professora da escola, convidada pelo Dr. Gordon para fazer um curso de pós-graduação em São Paulo, com bolsa do Hospital Evangélico.

[...] eu disse a ele que eu tinha vontade de fazer coisas acima do que eu tinha feito, e ele concordou. Ele disse: Vai ser ótimo! Não só para o hospital como para cidade porque eu fazia, mesmo sem eu ter feito a pós-graduação eu fazia partos a domicílio, mas eu não fazia episiotomia. Então, se tivesse uma ruptura eu tinha que levar a mulher para o hospital para suturar o períneo, isso aí depois que eu fiz pós- graduação eu tinha direito a fazer sutura. Então, o Dr. Gordon achava isso muito muito bom, porque as mulheres ficavam todas com ruptura e, no futuro, com prolapso de útero. A gente fazendo a sutura não tinha esse problema, mas o, não sei o que foi que você perguntou. [...] O hospital Evangélico, por intermédio do Dr. Gordon, me forneceu a bolsa, de um ano, foi um ano exato. [...] Fiquei hospedada em São Paulo, no próprio Hospital São Paulo, na Escola de Enfermagem do Hospital São Paulo (OLIVEIRA, 2019).

Os estágios eram realizados no próprio hospital, mas quando surgiu o primeiro posto de saúde, as professoras levaram suas alunas para dentro dessa instituição para aplicarem a Saúde Pública, uma disciplina estudada no currículo do curso. O estágio também era feito na Casa dos Pobres61, “a professora Hildete levava suas alunas, para aplicarem o que tinham aprendido em Saúde Pública, elas adoravam e a Saúde Pública em Rio Verde era muito precária naquele tempo” (OLIVEIRA, 2019).

O hospital se tornava um campo de aprendizagem para os médicos, as alunas- enfermeiras e também para os professores. A semana de plantão era exaustiva, mas necessária para a formação das alunas. O plantão era organizado pela diretora e professoras, não havia interferência do hospital. As professoras sabiam das dificuldades de cada aluna e assim planejavam toda a estrutura do estágio, de modo que o hospital não ficasse prejudicado. Havia uma relação recíproca e harmoniosa entre o hospital e a escola de enfermagem.

[...] A gente ensinava, trazia todos os formulários do hospital, a pasta, para ensinar como ia ser feita a anotação. Ensinava também como fazer relatório no livro, para entregar o plantão de manhã, porque era um livro, um livro não, um caderno grande aonde você fazia anotação. Ali pelas 4h30min da manhã, era a hora de você começar fazer as anotações e ensinava para as alunas. E as alunas faziam plantão mesmo, a noite inteira, né. Era uma semana de plantão (OLIVEIRA, 2019).

61 Uma casa espírita que acolhia, em sua maioria, mulheres, crianças abandonadas e viúvas. Era dirigida por Dona Marieta Ferreira.

Dessa maneira, o atendimento do hospital era ofertado àqueles que precisavam e, consequentemente, atendia às necessidades das alunas-enfermeiras que precisavam aliar a teoria com a prática, a fim de evidenciar a atividade prática, baseada no conhecimento teórico-prático. Esse espaço se tornaria, então, um campo favorável de aprendizagem não só para as alunas, mas para os médicos e aos professores.

2.2 Percurso da enfermagem e sua relação com a saúde pública goiana

A princípio, é importante reconstruir o ensino de enfermagem no Brasil, a partir da criação no Hospício Nacional de Alienados, que criou a Escola Profissional de Enfermeiras e Enfermeiros, localizada na cidade do Rio de Janeiro, por meio da promulgação do Decreto n° 791, de 27 de setembro de 1890, com o objetivo de preparar enfermeiros e enfermeiras para trabalhar nos hospícios e hospitais civis e militares, nos moldes da escola existente em Salpetrière, na França (BRASIL, 1890). A escola formava seus profissionais “através de uma Escola controlada por médicos, dando continuidade à institucionalização do poder médico como elemento central de assistência de saúde [...]” (PIRES, 1989, p. 124).

Nesse processo, foram instituídos outros dois cursos sendo, a Escola de Enfermeiras do Hospital Samaritano62, na cidade de São Paulo. O Curso de Enfermagem, iniciado nesse hospital, trazia todas as características do sistema inglês sendo, inclusive, ministrado nesse idioma, para estudantes recrutadas nas famílias estrangeiras do sul do país e tinha como objetivo precípuo preparar pessoal para atuar nessa instituição. Essa escola nunca chegou a ser reconhecida por se tratar de iniciativa privada e porque visava apenas ao preparo do pessoal para o próprio hospital (CARVALHO, 1972).

E a Escola da Cruz Vermelha63 (CVB), no Rio de Janeiro, fundada em 1908, autorizada a iniciar as atividades pelo Decreto n° 2. 380, de 31 de dezembro de 1910, foi reconhecida pela Cruz Vermelha Internacional em 1912 (BRASIL, 1910). Essa entidade tinha, entre outros objetivos,

prestar diretamente, ou em auxílio ao Governo, socorros a feridos e enfermos e proteção aos necessitados em caso de calamidade pública, quando fossem insuficientes os recursos de defesas sanitárias habituais. Competia à diretoria promover e dirigir a instrução de seus auxiliares e fundar escolas de enfermeiras voluntárias e profissionais (MOTT; TSUNECHIRO, 2002, p. 594).

62 Essa instituição foi “criada e dirigida por enfermeiras inglesas, foi a primeira escola Nigttingale organizada no Brasil” (SILVA, 1989, p. 76).

63 Teve sua origem no movimento internacional de auxílio aos feridos na I Guerra Mundial (GEOVANINI, 1995).

Estabelecendo uma conexão entre o ensino de enfermagem no Brasil e a implementação da Escola de Enfermagem na região sudoeste de Goiás, coloca-se em cena um ator importante para essa compreensão, o médico norte-americano Dr. Gordon e seu projeto missionário.

Parte-se, então, do pressuposto de que a conjunção de um retrato dinâmico das partes que formam o todo perpassa suas aparências, alcançando o âmago da realidade mundial, nacional e local. No entanto, ao analisar o cenário da implementação da Escola de Enfermagem na cidade de Rio Verde, é preciso, a priori, redesenhar os moldes do sistema nightingaleano de enfermagem implantado no Brasil, compreendendo, dessa forma, como um ponto de partida no advento da Enfermagem moderna em nosso país.

Assim, em 1921 o então diretor-sanitarista Carlos Chagas aceitou a Missão de Cooperação Técnica para o Desenvolvimento da Enfermagem no Brasil e, nesse mesmo ano, a Fundação Rockefeller64 trouxe ao Brasil nove enfermeiras norte-americanas para prestarem serviços no Departamento aos comandos das enfermeiras Ethel Parsons e Clara Louise Kieninger.

Esse preparo tinha como intuito organizar o serviço de enfermagem de saúde pública no Brasil e dirigir uma escola de enfermagem, na cidade do Rio de Janeiro. Nota-se que essas enfermeiras vieram para o Brasil para estruturar, dirigir e ministrar o curso que foi reconhecido oficialmente como padrão para todo o país. Doravante, a enfermagem norte- americana passaria a influenciar, de maneira efetiva, as diretrizes da enfermagem brasileira.

Considera-se, entretanto, que a enfermagem moderna foi introduzida no Brasil em 19 de fevereiro de 1923, por meio do Decreto nº 15. 799, de 10 de dezembro de 1922 e mediante a organização do serviço de enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), atual Escola de Enfermagem Anna Nery (BRASIL, 1922). Seu ensino era sistematizado e tinha como propósito formar profissionais que garantissem o saneamento urbano - condição necessária à continuidade do comércio internacional, que se encontrava ameaçado pelas epidemias. Por isso, para solucionar os dois principais problemas como a falta de pessoal capacitado e a falta de uma escola moderna, foi criada a Escola de Enfermeiras do

64 A Fundação Rockefeller é uma instituição criada em 1913 nos Estados Unidos, que define sua missão como sendo a de promover, no exterior, o estímulo à saúde pública, o ensino, a pesquisa e a filantropia. Nas primeiras décadas do século XX, a Fundação Rockefeller atuou de modo decisivo na implementação de ações voltadas para a saúde pública no Brasil, especialmente naquilo denominado de movimento sanitarista. Teve à frente sanitaristas de projeção política como Carlos Chagas e Belisário Penna, articulados ao aparelhamento do Estado e, especificamente, à criação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), em 1920.

Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), nos moldes das escolas americanas, constituindo uma nova era no ensino de enfermagem no Brasil.

A enfermeira Clara Louise Kieninger se tornou a primeira diretora da escola, em 1923, assumindo assim, a direção e o ensino da Escola de Enfermagem. Em seu trabalho, desenvolvido na Fundação Rockefeller, registrou nos seus relatórios a superlotação dos hospitais do Rio de Janeiro, onde a enfermagem era exercida por pessoas consideradas ignorantes, de ambos os sexos, e em condições precárias, igualando-se a da Inglaterra antes de Florence Nightingale65, época em que a profissão era do tipo servil.

Dois anos depois, a direção foi substituída por Loraine Geneviève Dennhardt e somente em 30 de junho de 1931, a direção da escola foi assumida por uma brasileira, a enfermeira Rachel Haddock Lobo66. E, a partir disso, o corpo docente, antes americano, veio sendo substituído por enfermeiras brasileiras. Rachel Haddock Lobo encontrou a dotação orçamentária da escola insuficiente para cobrir despesas como substituição dos ônibus doados pela Fundação Rockfeller, reparos no prédio do Internato e do Pavilhão de Aulas e aquisição de equipamentos e materiais específicos para os laboratórios de ensino. Sua atuação se deu em

65 Florence Nightingale, nascida no ano de 1820, de família nobre britânica, foi educada formalmente, aprendendo diversos idiomas, filosofia, matemática e religião. Era muito devota, religiosa e decidiu fazer um trabalho que considerava ser “de Deus”. Ficou conhecida mundialmente como a pioneira da enfermagem e “a dama da lâmpada”, depois de se voluntariar e reunir outras 38 mulheres para o tratamento dos soldados feridos na guerra da Crimeia em 1854. Nesse período, organizou um hospital no local, o qual atendeu mais de mil e quinhentos soldados, baixando a mortalidade de 40% para 2%, usando métodos renovadores, e por meio da organização dos cuidados, garantiu uma boa qualidade em sua assistência ao criar condições para o bem-estar geral, incentivando e exigindo infraestrutura humanitária e social. Dedicava-se totalmente para trazer conforto aos enfermos, envolvia-se em questões administrativas e, resistindo à burocracia, solicitou materiais específicos, alimentos, leitos e material de higiene pessoal, além de boa limpeza no ambiente. Florence, também conhecida historicamente como a idealizadora da fase profissional da enfermagem mundial, é considerada a divisora de épocas, que é dividida entre a era pré-profissional (antes de sua atuação) e era profissional da enfermagem (após sua atuação). Decorrente de sua atuação, recebeu um prêmio do governo Inglês e empregou o dinheiro para fundar a primeira escola de Enfermagem em 1860 no Hospital Saint Thomas. As bases para o trabalho desenvolvido na educação formal de enfermagem na escola que fundou foram trazidas de suas experiências anteriores da guerra, mas também do Instituto de Diaconisas de Kaiserswerth na Alemanha, onde teve contato com a disciplina na enfermagem, relacionada a regras e horários rígidos, religiosidade, e a divisão do ensino por classes sociais. Outra organização que influenciou a visão e o trabalho de Florence foram as Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo em Paris, no Hôtel Dieu, onde pode acompanhar e estudar o trabalho assistencial e administrativo, suas regras e a forma como cuidavam dos doentes. Para isso, aplicou um questionário que já havia usado na Alemanha e Inglaterra, aprofundando seus estudos e sua organização. Essas experiências influenciaram profundamente o modelo de Enfermagem proposto por Florence (PADILHA; MANCIA, 2005). 66 Rachel Haddock Lobo nasceu no Rio de Janeiro, no dia 18 de junho de 1891. Descendente de importante família de origem portuguesa, estabelecida no Rio de Janeiro. Desenvolveu seus estudos primários e secundários no Colégio Imaculada Conceição, no Rio de Janeiro, e, em 1918, viajou para a França a fim de participar da 1ª Guerra Mundial como voluntária da Cruz Vermelha Francesa. Como recompensa pelos serviços prestados, recebeu do governo francês a "Cruz da Legião de Honra". Retornou à França, no início de 1922, para fazer o Curso de Enfermagem na École des Enfermiéres de L' Assistance Publique, formando-se em 1924. No início de 1925, retornou ao Brasil e trabalhou nos serviços recém-inaugurados da Fundação Graffée Guinle, sob a direção

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