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Humberto de Campos e a Caravana da Fraternidade

No documento No Sesc comércio e cultura andam juntos. (páginas 49-55)

A Senhora Ana de Campos Veras (Dona Anica), após longo tempo de viuvez e a perda prematura do filho Humberto de Campos Veras (Miritiba-MA, 26/10/1886 - Rio de Janeiro-RJ,

5/12/1934), deixou a tímida e modesta Parnaíba, dos anos trinta, o frondoso Cajueiro, irmão querido do seu filho, e foi

exilar-se em Fortaleza, estado do Ceará.

José luCiMarde oliveira Jota.oliveira@hotMail.CoM

Foi na cidade alencarina que Leopoldo Machado vindo de Natal-RN com os demais integrantes da Ca- ravana da Fraternidade, que saiu pelo Brasil afora a se- mear a semente da Unificação do Movimento Espírita na Pátria do Cruzeiro, encontrou aquela Senhorinha beirando seus 88 anos, de cabelos embranquecidos pela névoa do tempo, lúcida e vivaz, que os recebeu com alegria e contentamento. Na conversa com Dona Ana, Leopoldo Machado diz: “Quem admira o ilustre filho, incontestavelmente, nosso maior escritor dos úl- timos tempos, tem a sua admiração”.

Ela insiste para que eles bebam um licor especial que ela fez. Ao que ele redarguiu:

— Perdão, não bebemos álcool.

No decorrer da prosa falam sobre seu filho, e de seus escritos vindos do Mundo Espiritual. Até o fa- moso “Caso Humberto de Campos” veio à tona. Disse ela, aos interlocutores, ter sido contra a atitude de sua nora (Catharina de Paiva Vergolino Campos, Dona Pa- quita) e dos netos (Henrique Campos, Maria de Lour- des Campos Campello e Humberto de Campos Filho) cobrarem da Fe- deração Espírita Brasi- leira os direitos autorais das obras psicografadas do seu filho. Por último, Dona Anica indagou a Leopoldo Machado, pre- sidente da Caravana:

— O Senhor vai passar por Parnaíba? Pois fica, então com o compromis- so de abraçar e beijar por mim, em meu nome, o ca- jueiro de meu filho. Leopoldo Machado: cajueiro abraçado,

E assim, fez o ilustre baiano, o desbravador da Uni- ficação, no Brasil dos anos 50, em terras nortistas e nordestinas. Ao chegar em Parnaíba foi logo ao logra- douro público onde o cajueiro já lhe aguardava ansio- so para receber o beijo e o abraço que Dona Anica lhe enviara, mas como estava cercado e o portão que dava acesso se encontrava fechado a cadeado e não se sabia quem tinha a chave, Leopoldo Machado e o outro membro da Caravana, Jordão, resolveram pular o gradil e realizaram, com sucesso e amabilidade, o pedido da gentil velhinha. Este fato foi registrado pela máquina fotográfica de Burgos, outro ilustre membro da Caravana, e assim, se expressou Leopoldo Macha- do ao se referir ao cajueiro:

O cajueiro é uma grande árvore, esgalhada e fron- dosa. A urbanização dela data de 1940, feita na ges- tão do prefeito Mirocles Veras, médico e primo de Humberto, que nos confessara, mais tarde, que não comprou a casinha da mãe de Humberto para trans- formá-la no Museu Municipal da cidade, com receio, por ser parente do grande escritor, do que se dissesse dele. Discordamos de suas cautelas, dizendo que a justiça do futuro compensaria as injúrias do presente.

No adeus a Parnaíba, da Caravana da Fraternida- de, naquela tardinha, dia 26 de novembro de 1950, no Centro Espírita Vida e Progresso, Humberto de Cam- pos se manifesta através do médium notável, poeta e escritor Alarico da Cunha e agradece, comovidíssimo, aos caravaneiros pela visita que fizeram à sua mãe, em Fortaleza, e à gentileza de trazerem, ao seu cajueiro, em Parnaíba, o abraço e o beijo afetuoso da sua san- ta mãezinha. Manifestou-se, também, a respeito da missão dos caravaneiros afirmando:

Meus irmãos, não tenho dúvida quanto ao êxito de vossa missão, por que ela é a síntese do que já vos

tenho dito através do médium de Pedro Leopoldo. Que Deus abençoe a vossa obra de Unificação e de amor... pelo planeta, no plano da carne (HUM- BERTO DE CAMPOS).

A Caravana, já em Teresina, desde 9 horas, do dia 27 de novembro de 1950, após ter sido recebida em clima festivo, encontrou à frente desta comitiva de recepção, uma figura singular do Espiritismo no Piauí – Dr. Heli da Rocha Nunes, então presidente do Centro Espírita Irmão Adriano, em Teresina. Essa foi sua primeira visita foi ao Centro Espírita Piauiense.

No mesmo dia, à noite, retornaram ao Centro, onde, com salão cheíssimo, Leopoldo Machado proferiu uma palestra, após a qual, os caravaneiros realizaram uma mesa-redonda na qual se decidiu fundar a Federa- ção Espírita Piauiense. A iniciativa teve, além da par- ticipação das Casas Espíritas de Teresina, o apoio do movimento espírita de Parnaíba, que enviou mensa- gem conjunta assinada pelos presidentes dos dois Cen- tros Espíritas da cidade, dando plena autorização para que os caravaneiros os representassem na decisão a ser tomada sobre a criação da federativa estadual.

Surgiu então, em 27 de novembro de 1950 a Federa- ção Espírita Piauiense. Fizeram-se presentes, neste ato espírita grandioso, os dignos caravaneiros Leopoldo Machado, Carlos Jordão da Silva, Luiz Burgos Filho e

Francisco Spinelli, ilustres espíritas da época e repre- sentantes dos Centros Espíritas de Teresina - Centro Espírita Piauiense, Centro Espírita Irmão Adriano e o Centro Espírita Bezerra de Menezes.

No dia seguinte, antes da realização de nova pa- lestra proferida por Leopoldo Machado, é lida a Ata de fundação, por Francisco Spinelli, e empossada a primeira Diretoria da Federação Espírita Piauiense, abreviada por FEP. A Diretoria foi assim constituída: Presidente – João Rodrigues Vieira; Vice-Presidente – Francisco de Paula e Silva; 1º Secretário – Joaquim Câmara Cunha; 2º Secretário – Heli da Rocha Nunes e Tesoureiro – Raul Cunha.

No dia 28 de novembro de 1950, a Caravana da Fra- ternidade, ainda se encontrava em Teresina, quando Humberto de Campos retorna, por meio do médium Alarico da Cunha, e se manifesta em nome da plêiade de espíritos-espíritas desejosos de agradecer penhora- damente aos integrantes da Caravana da Fraternidade:

Meus caros irmãos: Naquela tarde serena e magni- fica de Parnaíba, presente ao ‘Grupo Espírita Vida e Progresso’, pretendia fazer dois agradecimentos distintos à ‘Caravana da Fraternidade’. Mas fui in- terceptado por vários irmãos deste plano, que se aglomeravam em arrufos de impaciência, plasma- dos de emoções. Nas apostilas do meu livro ain- da inédito, com o pseudônimo irmão X, apontarei como dogma a resenha do trabalho eficiente da venturosa Caravana. Reitero agradecimentos pela visita e abraços ao meu cajueiro, que representa, no plano físico, um resto vivo do reino vegetal de minha existência material; um grande pedaço in- sensível e, ao mesmo tempo, sensibilizado do meu coração. Capitulando diante do edito misterioso, que se me apresenta no Templo de Ismael, quando declinava mais um dia de trabalho em prol da nova geração, deixei de prosseguir com a mensagem. Poucas foram as palavras que consegui psicogra- far, desataviadas do calor da retórica, mas impreg-

nadas do lampejo de minha solidariedade amiga. Desejo, entretanto, deixar patente que acompanho com viva satisfação o trabalho edificante do irmão Leopoldo Machado e dos seus abnegados com- panheiros de peregrinação. Tenho estado sempre presente a eles, e aqui consigno a minha adesão à luminosa ideia dos Mensageiros do Mestre que nos inspiram” ( HUMBERTO DE CAMPOS)

À guisa de conclusão, estas despretensiosas informações colhidas que foram neste plano físico e as que nos chegaram por intérpretes do plano invisível, têm por finalidade aguçar a curiosidade daqueles que desejam conhecer melhor a passagem da Caravana da Fraternidade pelo Piauí, seus destemidos e valorosos integrantes, sua estada em Parnaíba sob os auspí- cios do escritor, poeta, espírita e médium Alarico da Cunha, as iluminadas saudações do espírito Humber- to de Campos (seu devotamento à sua mãezinha e ao querido Cajueiro), a chegada da Caravana, em Teresi- na, naquela manhã quente de segunda-feira do dia 27 de novembro, no ano que medeia o Século XX (1950) e o desdobramento do destacado evento espiritista na parte da noite, que culminou com a fundação da vene- randa septuagenária Federação Espírita Piauiense, sob as bênçãos sacrossantas do Cristo de Deus, para glória do Evangelho Redivivo de Nosso Senhor Jesus Cristo e a solidificação do Espiritismo no Estado do Piauí.

Referências

MACHADO, Leopoldo. A Caravana da Fraternidade. Editora FEB, 1ª Edição. Brasília/DF, 2010.

CAMPOS, Humberto de. Novas Poesias. Editora Opus, 1ª Edição. São Paulo,1982.

VENTURA, Raul S. A. Revista Nova Aurora. FEPI: 1ª edição, comemo- rativa.Teresina/PI, 2010.

Fachada antiga da sede da Federação Espírita Piauiense.

70 anos de trabalho em prol

No documento No Sesc comércio e cultura andam juntos. (páginas 49-55)

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