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No Sesc comércio e cultura andam juntos.

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Academic year: 2021

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sescpi sesc.piaui www.pi.sesc.com.br comércio e cultura andam juntos.

O comércio sempre esteve presente na sua vida e ele pode transformar seu jeito de viver. No Sesc Piauí você tem cultura, educação, saúde, lazer, esporte, turismo e assistência. Em 2021 Teresina ganha o maior e mais completo Centro Cultural do Nordeste. Tudo isso para lhe proporcionar momentos inesquecíveis. O Sesc é cultura pra você!

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Diretora

Rosa Maria da Silva Araújo

Diretora-aDjunta

Osmarina Oliveira da Silva Pires

Conselho eDitorial

Francisca Neuza de Almeida Farias. Marko Galleno da Costa Araújo Alves

Ornálio Bezerra Monteiro Osmarina Oliveira da Silva Pires

Paulo Fernandes Moura

jornalista responsável

George José dos Santos Lima (DRT-PI: 1280 MTb)

revisão

Francisca Neuza de Almeida Farias

Capa/ projeto GráfiCo

Paulo Moura/IrmãodeCriação

fotos

Fontes bibliográficas diversas

reDação

Rua Olavo Bilac, 1394 – Centro/Sul Teresina/PI – CEP 64.001-280

Fone/Fax; (86) 3221-2500 www.fepiaui.org.br / aurorafepi@gmail.com

Diretoria Executiva 2019/2021

presiDente: Cristina Maria de Sousa Miranda 1º viCe-presiDente: Igor Linhares de Araújo 2º viCe-presiDente: Maria de Jesus de Alencar Lisboa

3º viCe-presiDente: José Lucimar de Oliveira 1º seCretário: Vanessa Alves Nascimento 2º seCretário: Higina Maria Vieira Monteiro 1º tesoureiro: Antônio Moura de Freitas Neto

2º tesoureiro: Elias da Silva Farias Júnior

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Sumário

Editorial • 5 Mediunidade com lágrimas • 7

joannaDe ÂnGelis/DivalDo franCo

Necessidade do exercício da caridade • 11

ruth Meireles Barros

Ampliando a consciência de imortalidade • 13

anDré luiz peixinho

Necessário e supérfluo • 19

josé CarlosDa silva silveira

O estilo de vida consumista do cristão contemporâneo • 23

Marko Galleno

Para que estamos aqui? • 26

franCy CarMen Carvalho

No mundo tereis aflições • 29

osMir freire

Meus direitos • 33

Marko Galleno

O aprendizado além da pandemia • 36

kátia MaraBuCo

Fé Inabalável em Tempos de Pandemia • 43

luCiana pessoa

Humberto de Campos e a Caravana da Fraternidade • 49

josé luCiMarDe oliveira

FEPI: 70 anos de trabalho em prol da unifi-cação do Movimento Espírita Piauiense • 55

rosa MariaDa silva araújo

Linha do Tempo - Fatos Marcantes • 58 Casas Espíritas no Piauí, em 2020 • 67 Mensagem Maurícia /2020 • 71 Mensagem da Presidente da FEPI • 74

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Editorial

A revista Nova Aurora, no lançamento da 11ª edi-ção, celebra com a sociedade piauiense os 70 anos de existência da Federação Espírita Piauiense - FEPI. Nesta edição, ressaltamos: a valorosa contribuição da FEPI junto à comunidade piauiense, que durante sete décadas vem contribuindo com a formação da mentalidade cristã e solidária; os aspectos da come-moração em meio à pandemia COVID-19 e refle-xões dos colaboradores, expressos em artigos com temas que possibilitam a ampliação do conhecimen-to sobre as realidades do mundo espírita.

Assim, a FEPI, ciente de seu compromisso e reco-nhecedora de sua tarefa, tem desenvolvido ao longo dos 70 anos, ações pautadas na Codificação Espírita apresentada por Allan Kardec, contando também com a contribuição de abnegados voluntários que compartilham ensinamentos do Evangelho de Je-sus, fazendo nascer ou ampliando o verdadeiro sen-timento de fé, fraternidade e deveres sociais entre aqueles que procuram a instituição.

A comemoração dos 70 anos da Federação, em 2020, em face do contexto vivido em todo o

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pla-estruturar práticas e experiências alinhadas com a realidade posta pelo surgimento desta pandemia. Isso nos remete a uma oportunidade de mensurar a valorosa contribuição de Kardec em favor da grande causa, conforme citação abaixo.

[...] Nós trabalhamos para dar a fé aos que em nada creem; para espalhar uma crença que os torna melho-res uns para os outros, que lhes ensina a perdoar aos inimigos, a se olharem como irmãos, sem distinção de raça, casta, seita, cor, opinião política ou religiosa; numa palavra, uma crença que faz nascer o verdadeiro sentimento de caridade, de fraternidade e deveres so-ciais. (KARDEC, Allan. Revista Espírita de 1863 – 1. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. – Janeiro de 1863.)

A partir daí, reconhecemos a necessidade da con-tinuidade do trabalho, como destaca o codificador, bem como da contribuição da FEPI e de seus colabo-radores, a fim de servir fortalecendo o sentimento de caridade, fraternidade e deveres sociais no exercício de mudança a que a situação atual nos incita.

Ainda como forma de alinhar a realidade a qual estamos vivenciando, há de se destacar que a Fe-deração Espírita Piauiense, no ano em curso, vem desenvolvendo suas atividades através do sistema online, com a utilização de plataformas e recursos digitais, garantindo o atendimento ao público.

De igual modo, esta nova edição da revista Nova

Aurora, em trabalho colaborativo e de divulgação

da mensagem Espírita, está sendo apresentada no formato digital. Nesta edição, a revista oferece aos leitores textos de caráter educativo e doutrinário, com temas que ajudam a esclarecer e consolar os que procuram assistência da FEPI.

Boa leitura.

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Quase genericamente as criaturas estertoram sem o equilíbrio necessário a um comportamento saudável, manipuladas pelo noticiário faccioso decorrente dos interesses vulgares dos multiplicadores de opinião.

As múltiplas necessidades imediatas de desenvolvi-mento do intelecto assim como dos sentidesenvolvi-mentos, im-põem lutas pessoais desafiadoras para a conquista dos recursos, em favor da sobrevivência.

Além desse impositivo, a propaganda muito bem urdida em torno do êxito e da felicidade em padrões que não correspondem à realidade, facultam voos da imaginação ambiciosa e os falsos conceitos em torno da beleza e do prazer arrastam as multidões desassi-sadas, atirando-as em competições tormentosas e an-seios injustificáveis.

São promovidos os gozos imediatos a qualquer pre-ço como se o objetivo exclusivo da vida física fosse a conquista das glórias mentirosas da ilusão e do desta-que social.

De um lado, as ofertas de facilidades para a con-quista das variadas propostas da moda desenfreada e

joanna De ÂnGelis/DivalDo franCo incontáveis conquistas e as infelizes paixões em desbordamento irrefreado,

a existência humana vê-se assaltada pelas mais variadas manifestações do

sentimento e da razão.

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dos hábitos de ocasião atraem os incautos para o des-frutar do momento, e do outro, ante a ausência de re-cursos para consegui-lo, os mecanismos do suborno e da indignidade passam a servir de meios hábeis ao alcance dos mais audaciosos.

Cada pessoa, no entanto, tem o seu futuro estabele-cido pelos atos pretéritos praticados, que lhes consti-tuem a base para o programa da evolução.

Nada se perde no curso das existências, acumulan-do-se em formas de experiências vividas assim como de necessidades retificadoras.

A reencarnação propicia os abençoados tesouros para o refazimento das consequências das atitudes equivocadas, traçando as linhas de recuperação moral naqueles que se encontram incursos nas leis do pro-gresso.

Desse modo, as situações facilitadoras ou proble-máticas para a evolução do Espírito são os programas nos quais todos se encontram inscritos.

Na área do comportamento espiritual, a mediunida-de se apresenta como instrumento valioso mediunida-de recupe-ração moral e de ascensão iluminada.

As condutas ignóbeis de ontem, que geram obses-sões indescritíveis, também surgem no desabrochar das faculdades de intercâmbio mediúnico, muitas ve-zes, afligentes e perturbadores.

Acreditava-se, e ainda muitos pensam, que se trata de castigo divino, como se a Justiça de Deus se cons-tituísse de penalidades cruéis, conforme a visão hu-mana.

Ocorre que a necessidade de evoluir é imperiosa, e cada qual, infrator ou benemérito, não dispõe de outros meios senão aqueles que lhe são impostos pela própria conduta.

É graças, portanto, ao passado espiritual, que se colhe no presente os frutos para a manutenção da existência.

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Como consequência, todo desenvolvimento e educa-ção da mediunidade, dá-se com o auxílio das lágrimas purificadoras.

Se és portador de sensibilidade mediúnica, cuida de educar os próprios sentimentos, armazenando paciência e compaixão, a fim de que o amor se te insculpa nos re-folhos da alma.

A mediunidade é concessão divina para o cresci-mento espiritual da humanidade.

Veículo de comunicação com os irmãos desencarna-dos, sempre oferece lições de aprendizagem das leis de justiça e de amor da Divindade.

Por seu intermédio adquire-se a certeza inabalável da sobrevivência do ser ao fenômeno da morte, facul-tando-lhe a entrega às leis morais que regem o Uni-verso.

Tendo como base a ação da caridade, tem a função hospitalar de deter alguns pacientes desencarnados ou não no seu raio de vibração, gerando, muitas vezes, mal-estar, tristeza ou dor, conforme se encontre o hós-pede que necessita de socorro.

De outras vezes, Espíritos inferiores que não se conformam com o estado em que se encontram, inves-tem contra os médiuns, por inveja, mágoa ou revolta, proporcionando-lhes sofrimentos, que lhe são úteis no aprimoramento de si mesmo e na conquista de títulos de nobreza fraternal, ajudando-os.

As suas provas e expiações igualmente fazem-se em simultâneo, dando a ideia de que é muito pesado o fardo das responsabilidades e dos desejos pessoais, e produzem distonias nervosas, ansiedades, receios...

Nada porém, que se não possa suportar com tran-quilidade e confiança em Deus, como mecanismo de purificação.

Bem utilizada, torna-se uma simbólica escada de Jacó que alça ao infinito. No entanto, quando mal

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entendida ou aplicada à futilidade, ao egoísmo e ao orgulho ou fins indignos, faz-se campo para disputas terríveis por mentes perversas e dedicadas ao mal, que se comprazem em afligir e malsinar.

Por essa e outras razões, a sua pedagogia educacio-nal tem no Evangelho de Jesus as disciplinas próprias para utilização em qualquer situação, transformando--se em bênção de incomparável significado que propi-cia a plenitude.

Allan Kardec, referindo-se à mediunidade, asse-vera que ela deve ser exercida cristãmente, conforme Jesus a viveu na condição de Médium de Deus.

Reflexiona em torno das tuas faculdades mediúni-cas e cuida de preservá-las do controle dos Espíritos maus, sintonizando, sempre que possível, no Bem e nas ações correspondentes à caridade.

Transforma as lágrimas de dores que decorrem da mediunidade no seu exercício natural em estrelas lu-minosas a clarear a noite das almas em desespero, a ti também iluminando.

E serve, sem cessar, recordando-te que és médium em todo instante e não apenas no horário reservado às sessões especializadas.

Onde estejas, com quem te encontres, o que faças, seja sempre na condição de intermediário do Mundo Maior, diluindo as barreiras que dificultam melhor as-similação das vibrações do amor divino ao alcance de todos.

Joanna de Ângelis

(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na Mansão do Caminho, no dia 28 de agosto de 2019, em Salvador, Bahia.)

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Necessidade do

exercício da caridade

Allan Kardec, o codificador da Doutrina

Espírita, foi muito bem inspirado quando

estabeleceu como lema do Espiritismo

“Fora da caridade não há salvação”.

O exercício da caridade é o amor em ação, que aos poucos nos liberta do egoísmo, esse grande mal que ainda temos dentro de nós precisando ser trabalhado para o alcance da nossa evolução espiritual. É a pró-pria transformação moral de foro íntimo. A verdadeira

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caridade é ser útil ao próximo. O seu exercício poderá trazer alguns obstáculos e quando estes surgirem não deverão ser motivo de desistência da prática do bem, pois serão entendidos como testadores da capacidade de resistência daqueles que estão a serviço da frater-nidade legítima.

A pessoa caridosa é aquela que se preocupa com o sofrimento do próximo, que auxilia, estende a mão e ampara. A prática da ação da caridade é o inicio do processo do desprendimento material pela compreen-são do nosso estado de pessoas carentes e necessitadas da caridade seja ela material ou espiritual e de que so-mos os primeiros beneficiados quando a praticaso-mos.

Se todos nós somos filhos de Deus, somos irmãos. Mesmo que estejamos em posição social diferente, a compreensão dessa verdade amplia a nossa visão de mundo e a capacidade de amar incondicionalmen-te. Por conseguinte, alarga os limites emocionais do nosso sentimento de amor, segundo o ensinamento de Jesus, que disse: “Em verdade vos digo que, quando fizerdes a um destes pequeninos irmãos, é a mim que o fazeis”.

Muitos são os irmãos em provas que buscam apoio e consolo para as atribulações que atravessam e se constituem em grandes desafios de sua trajetória exis-tencial, por não saberem porque sofrem, necessitando de uma palavra de esperança aos seus corações.

“A moral dos espíritos superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica: Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem, ou seja, fazer o bem e não fazer o mal. O homem encontra nes-se princípio a regra universal de conduta, mesmo para as menores ações”. (KARDEC).

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Ampliando a consciência

de imortalidade

Consta dos escritos de Allan

Kardec que uma das principais

tarefas do Espiritismo é

destruir o materialismo

1

.

Embora este último, como visão de mundo, ofereça grandes vantagens à civilização no plano da sobrevi-vência, do conforto e dos prazeres materiais, não re-solve o drama humano centrado na finitude e na an-gústia da morte.

Para manter-se coerente, o materialismo estimula o consumismo, o egocentrismo, a competição. Ao re-duzir todos os fenômenos existenciais à manifestação da matéria, mesmo aqueles conhecidos como paranor-mais, nega qualquer possibilidade de transcendência material, de vida após o decesso físico, de

espiritu-1 Veja-se, por exemplo, o item “utilidade prática das manifestações”, no capítulo 1 da obra O que é o Espiritismo.

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alidade plena. Tal concepção restringe o sentido da vida a uma autorrealização transitória, através da vida sensorial e intelectiva comum, oferecendo, no máxi-mo, uma transcendência de si mesmo através de um humanismo empobrecido.

Constatamos, hoje, que a sociedade cada vez mais parece imbuída de uma concepção materialista, ao negar progressivamente antigas lições espirituais, re-ligiosas e filosóficas, e se deleitar com os avanços tec-nológicos. E por desconhecer realidades espirituais, centra-se na busca das posses materiais, da exaltação da juventude corporal, ou desce os despenhadeiros comportamentais através do uso de drogas. Persisten-temente, luta por direitos pessoais, mantém preconcei-tos de raça, cor, sexo, religião, além de experimentar a afirmação de seu poder, mediante a destruição indivi-dual ou coletiva dos outros. Em nosso entendimento, o materialismo é forte no mundo porque a consciência do ser espiritual é frágil, incipiente e muito restrita a algumas pessoas e momentos existenciais. Em outras palavras, o mundo reflete e reforça nosso estágio de consciência.

Para atender ao objetivo espírita de superar a fase ma-terialista da consciência, transcendendo-a e aproveitan-do-a mediante uma inclusividade autêntica, podemos, com base no conhecimento espírita, delinear algumas propostas e atividades decorrentes, conforme veremos a seguir:

1. Conhecer a si mesmo enquanto ser imortal,

transcendente à matéria, potência divina, essência – Este conhecimento nos trará a percepção de que ani-mamos um corpo, possuímos um veículo de mani-festação modelador – o perispírito – mas não somos nenhum dos dois. Ambos são criações evolutivas, nos-sas dependentes, mutáveis, transitórias. Pertencem,

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portanto ao mundo da impermanência, e nele está contido todo o mundo materialista. E mesmo o mun-do espiritual ou erraticidade é uma construção nossa, adaptada às nossas necessidades evolutivas transitó-rias. Para alcançar tal objetivo – a consciência de si mesmo enquanto essência – precisamos exercitar nos-sa capacidade de desidentificação das formas que ge-ramos como espíritos para nos manifestar no mundo e superarmos as leis que o regem, principalmente aque-las referentes ao espaço e ao tempo. Assim reconhece-remos distintamente o que temos – corpo e perispírito – do que realmente somos: espíritos. Afirmando que “não há progresso possível sem observação atenta de nós mesmos”, Léon Denis (1987, p. 355-371) recomen-da algumas práticas de autoaprimoramento:

a) Controlar ofísiCo – “Primeiramente, regular

a vida física, reduzir as exigências materiais ao neces-sário, a fim de garantir a saúde do corpo, instrumento indispensável para o desempenho de nosso papel ter-restre.”

B) reGularas eMoções – “(...) disciplinar as

im-pressões, as emoções, exercitando-nos em dominá--las, em utilizá-las como agente de nosso aperfeiço-amento moral; aprender principalmente a esquecer, a fazer o sacrifício do ‘eu’, a desprender-nos de todo o sentimento de egoísmo.”

C) orDenareelevaropensaMento – Ao situar o

pensamento como causa primordial de nossa elevação e de nosso rebaixamento, elemento que engendra “to-das as descobertas da Ciência, to“to-das as maravilhas da Arte, mas também todas as misérias e todas as vergo-nhas da Humanidade”, Denis conclui não haver “as-sunto mais importante que o estudo do pensamento, seus poderes e ação”.

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Observa que “... refletimos os mil pensamentos in-coerentes do meio em que vivemos. Poucos homens sabem viver do próprio pensamento, beber nas fontes profundas, nesse grande reservatório de inspiração que cada um traz consigo, mas a maior parte ignora”. Por fim, convida a “aprender a fiscalizar os pensamen-tos, a discipliná-los, a imprimir-lhes uma direção de-terminada, um fim nobre e digno”.

Progressivamente, alcançaremos o estágio de per-cepção dos nossos veículos2 como tais, desidentifi-cando-nos deles e manejando-os conforme as necessi-dades e circunstâncias; ao mesmo tempo, conscientes do ser essência que somos, compreenderemos a nossa condição de imortalidade e de criaturas nascidas do Amor Divino, que transcende as barreiras do tempo e do espaço.

2. Reconhecer e experienciar a vida da erratici-dade ou mundo espiritual – O contato com leituras e

experimentos sobre o mundo espiritual pode ser uma primeira aproximação e, assim, começa um processo de experimentação de algo além dos cinco sentidos. A observação de comunicações mediúnicas também é um auxiliar nesse processo.

A vivência ou experienciação do próprio mundo es-piritual em si mesmo possui maior poder de conversão. Algumas práticas podem ser delineadas neste sentido:

a observação da mente, isto é, dos pensamentos, até

discernir a sua origem, se pessoal ou extrapessoal;

o estudo através de observações sistemáticas das suas próprias capacidades paranormais, tais como

2 O autor diferencia os veículos de manifestação (plano da existência) do espírito (plano da essência), longamente elaborados no processo evolutivo e que são atributos, não devendo ser confundidos com o ser que os cria e os possui. Entre esses veículos, contam-se o corpo e o períspirito em uma ca-mada existencial mais superficial; em um nível mais profundo e “próximo” do ser essencial, contam-se a mente, as emoções e as sensações. Para uma abordagem preliminar, veja-se Peixinho (2007a; 2007b; 2007c).

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a telepatia, a psicocinesia, a precognição, a premoni-ção, a clarividência no mundo físico e outras formas incluídas no rol das interações entre a mente e a maté-ria; o trabalho prático de conhecer o mundo

espi-ritual através das vivências dos sonhos e dos

chama-dos desdobramentos espirituais ou projeções astrais; a

identificação, em si mesmo, de faculdades mediúni-cas e seu grau de desenvolvimento, precisão e qualidade

em “laboratórios” específicos, fartamente difundidos no meio espírita, como sessões de desenvolvimento mediú-nico. Neste caso, recomenda-se seguir as instruções de Allan Kardec e Léon Denis, que continuam validadas por continuadores destes estudos, tanto entre encarnados quanto entre desencarnados.

3. Identificar sua participação em Deus e tomar consciência da unidade fundamental – Esta é a

so-lução definitiva. Como afirma Paulo, o Apóstolo, em comunicação publicada em O Livro dos Espíritos, nos-sa vida deveria gravitar em torno de Deus. A união com a Divindade foi divulgada por Jesus, através da parábola do filho pródigo, da sua informação de que Ele era um com o Pai Celestial, bem como do seu ape-lo para que nEle nos uníssemos. Para nós, este estágio de consciência pode significar sentir-se espírito em plenitude. Poderíamos dizer que se trata da superação de toda separatividade, da participação na onipresen-ça, da libertação de toda impermanência.

Para buscar experienciar tal estado, é preciso:

es-tabelecer a pureza de coração, conforme assegura

Jesus, pois este estado é condição necessária para se ver a Deus em estado de bem-aventurança;

aprimo-rar a percepção do Universo pelo estudo das suas

leis e pela contemplação, pois ‘‘o Ser Supremo não existe fora do mundo, porque este é sua parte inte-grante e essencial. Ele é a Unidade central onde vão

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desabrochar e se harmonizar todas as relações”; “O Universo oferece-nos o espetáculo de uma evolução incessante, para a qual todos concorrem, da qual todos participam. A essa obra gigantesca preside um prin-cípio imutável” (DENIS, 1989, p. 119). Desenvolver

novos estados de consciência: Segundo Léon Denis,

a consciência sensorial nos faz perceber Deus como múltiplo; fazemos deuses todas as forças da Natureza: “assim nasceu o Politeísmo”. Visto pela inteligência, Deus é espírito e matéria; daí o dualismo. À razão esclarecida, ele é alma, espírito e corpo, forjando-se assim as religiões trinitárias, como o Hinduísmo e o Cristianismo. “Percebido pela vontade, faculdade so-berana que resume todas as outras, compreendido pela intuição íntima (...), Deus é Uno e Absoluto.” (ibid., p. 122-123).

4. Consideração final: uma proposta de ação: Estas

reflexões apontam para variadas formas de organiza-ção das atividades no Centro Espírita e, à medida que forem aplicadas, poderemos avaliar nosso trabalho na construção de comunidades de espíritos encarnados, mais conscientes de sua condição de seres espirituais, vivendo uma experiência humana.

SUGESTÕES PARA LEITURA

ÂNGELIS, Joanna de. Consciência e Hábitos. In:______ Momentos de Consciên-cia. 3.ed. Salvador: LEAL, 2008. cap. 12. Psicografia de Divaldo Pereira Franco. DENIS, Léon. A disciplina do pensamento e a reforma do caráter. In:______ O problema do ser, do destino e da dor. 14.ed. Brasília: FEB, 1987. cap. XXIV. _______. O Universo e Deus. In:______ Depois da morte. 15.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1989. cap. IX.

PEIXINHO, André Luiz. O despertar do espírito. In:_____ A face eterna do ser. 1.ed. Salvador:

Fundação José Petitinga, 2007a. cap. 17.

_______. Consciência de ser espírito. In:_____ A face eterna do ser. 1.ed. Salvador: Fundação José Petitinga, 2007b. cap. 18.

_______. Essência, existência e evolução. In:_____ A face eterna do ser. 1.ed. Salvador: Fundação José Petitinga, 2007c. cap. 58.

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Necessário

e supérfluo

Joalheria israelense produziu uma máscara anti-Covid-19 com 3.600 dia-mantes, vendida por R$ 8,1 milhões.

Como pode o homem conhecer

o limite do necessário? “O sensato o conhece

por intuição. Muitos só o conhecem

à custa de suas próprias experiências.”

i

José Carlosda silva silveira Csilveira440@gMail.CoM

Segundo o Espiritismo, a natureza traça o limite de nossas necessidades, por meio da organização física que nos dá, mas os vícios alteram essa constituição, criando necessidades não reais.ii

Temos, portanto, necessidades verdadeiras, defi-nidas pela natureza, e necessidades fictícias, geradas pelo livre arbítrio. Conquanto sejam todas elas base de nossa motivação para agir, apenas as necessidades

(20)

reais interessam ao futuro espiritual. As outras, por serem fruto de desvio da vontade, não podem, com efeito, trazer benefícios. Desse modo, será de extre-ma relevância a distinção entre ambas, ou, em outras palavras, a separação entre o necessário e o supérfluo. Há que se levar em conta, para isso, que tanto as ne-cessidades autênticas quanto as artificiais transcendem as exigências do organismo físico, motivando-nos para ações outras, de caráter pessoal e social. Dessa maneira, a questão do necessário e do supérfluo deve ser tratada em contexto abrangente, para ser bem entendida.

O Espiritismo, ao desvelar o porvir rumo à perfei-ção moral, facilita, por sua vez, esse entendimento, tornando altamente significativo o conceito de ne-cessário. Ao revelar a Lei de justiça, amor e caridade como suprema diretriz do Universoiii, ele esclarece que o essencial à existência será sempre o amor, em suas expressões cada vez mais sublimes de justiça e caridade, uma vez que esse sentimento se apresenta como síntese perfeita da mencionada lei.

Se, no cotidiano, indagássemos de nós mesmos se nossas necessidades exprimem o amor, que alenta a vida universal, não encontraríamos tantos óbices para reconhecer o necessário, no meio desse amálgama de supérfluos em que nos habituamos a viver. Efetiva-mente, o marco da diferença entre o necessário e o supérfluo é o mesmo que existe entre o bem e o mal. O necessário será sempre o bem e o supérfluo, o mal, operando-se a identificação entre o bem e o mal pela consulta à lei divina: “O bem é tudo o que é conforme a lei de Deus, e o mal é tudo o que dela se afasta.”iv Nesse amplo panorama de bem e de mal, aflora o amor como único indicativo válido de nossas necessidades reais.

Vê-se claramente, por isso, que o necessário se pren-de aos interesses do Espírito imortal, enquanto que o

(21)

supérfluo são apenas as demandas da personalidade humana transitória. Consequentemente, toda condu-ta que leva ao aperfeiçoamento do Espírito consistirá manifestação do necessário, enquanto as atitudes que priorizam as ânsias materialistas do ser, em sua breve passagem pela Terra, serão, em verdade, inequívoca demonstração de supérfluo. Isso posto, cumpre-nos considerar, em reforço, interessante prisma apontado por Allan Kardec no seguinte comentário:

O limite do necessário e do supérfluo nada tem de ab-soluto. A civilização criou necessidades que o selvagem desconhece (...). Tudo é relativo, cabendo à razão colocar cada coisa em seu devido lugar. A civilização desenvolve o senso moral e, ao mesmo tempo, o sentimento de cari-dade que leva os homens a se prestarem mútuo apoio.v Decerto, conforme assinala Kardec, o necessário, dentro do quadro da civilização, não será o mesmo que se evidencia no estado de natureza. Note-se, en-tretanto, que esse necessário, diante das leis naturais, será sempre o bem, como vimos. Por conseguinte, todas as necessidades que trazem implícita potencia-lidade de dano, a nós ou ao próximo, constituem re-presentações do mais inegável supérfluo. Em hipótese alguma, poderiam tais necessidades integrar o cenário genuíno do processo civilizatório.

A civilização, como diz bem o Codificador,

desen-volve o senso moral e o sentimento de caridade. Logo,

as necessidades do mundo civilizado, para serem ver-dadeiras, e não, ilusórias, devem atender ao aprimora-mento do Espírito, sob pena de entravar o processo de sua evolução.

O critério de discernimento entre

o necessário e o supérfluo é a

permanente observação da Lei de

(22)

Em suma, podemos dizer que o critério de discerni-mento entre o necessário e o supérfluo é a permanen-te observação da Lei de justiça, amor e caridade, em seu sublime conteúdo de amor. Dessa forma, à medida que se nos apure a capacidade de amar, mais amplas condições teremos de apreender o necessário. Quanto ao supérfluo, tão afagado no bojo de nossas carências, será definitivamente esquecido, pela efetiva percepção de seus malefícios ante os objetivos maiores da vida.

i Kardec, Allan. O livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1ª. ed. FEB Comemorativa do 1º Sesquicentenário (bol-so), 2007, q. 715.

ii _____. ____, q. 716. iii _____. ____, q. 648. iv _____. ____ , q. 630. v _____. ____, q. 717.

(23)

O estilo de vida consumista

do cristão contemporâneo

No início da era cristã, os adeptos da mensagem de Jesus enfrentaram um imenso desafio para a manutenção de sua fé, em

decorrência da brutal perseguição promovida pelas autoridades hebraicas e, posteriormente, pelo Império Romano.

Apesar das prisões, ameaças, torturas e mortes, o Cristianismo chegou aos nossos dias, graças ao sa-crifício e abnegação de muitos mártires, ao longo da história. Atualmente, o desafio dos cristãos é o de se manterem firmes em suas convicções, diante de tantos apelos ao excesso de consumo de bens e facilidades, que anestesiam a fé, geram inquietação constante na busca do efêmero e nos desviam a atenção dos valores morais imperecíveis.

A civilização ocidental contemporânea adotou um modelo de desenvolvimento baseado no consumo, no qual as pessoas precisam sempre comprar produtos novos com o objetivo de gerar empregos e renda. Para isso, são criadas campanhas de mídia que nos incitam uma insatisfação constante com a nossa vida. Nunca estamos totalmente contentes com o nosso guarda--roupa, nossa casa, nossos eletrodomésticos, nossos itens tecnológicos, nossos veículos, pois sempre surge um produto mais novo, da moda e com mais funções.

(24)

Assim, deixamos de nos alegrar com o que temos, apesar de ainda ser útil, funcional e com pouco tempo de aquisição e passamos a sentir uma “necessidade” de comprar o novo.

O modelo de desenvolvimento econômico em que estamos inseridos considera a prosperidade do indiví-duo de acordo com os bens materiais que este venha a possuir. Por esse motivo, sem percebermos, nos entre-gamos a uma busca frenética para comprar produtos que muitas vezes nem precisamos. Não são raras as vezes em que passamos horas por dia longe da famí-lia, além de sacrificarmos nossa saúde física e emocio-nal, para alcançar o tão almejado padrão de consumo ditado pela publicidade. Dessa forma, a maior parte do nosso tempo e energia são voltados para pagar as inúmeras dívidas e financiamentos que fazemos, com o propósito de adquirir os objetos dos desejos. Esse comportamento consumista, muitas vezes, também desconsidera a importância da sustentabilidade am-biental e os danos socioeconômicos sofridos por gru-pos mais vulneráveis.

Essa armadilha ilusória do consumo captura mui-tos de nós, cristãos invigilantes, apesar das diversas advertências que o Mestre Jesus nos fez: não vos

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afa-digueis pela posse do ouro1; é mais fácil um camelo entrar no buraco de uma agulha que um rico entrar no Reino dos Céus2; não acumuleis tesouros na Terra3; não se pode servir a Deus e à riqueza4; a vida do ho-mem não consiste na abundância das coisas que pos-sui5; a parábola do rico insensato6, entre outras passa-gens que nos alertam sobre o que é essencial para o espírito imortal.

É muito bom quando podemos adquirir bens que nos proporcionam conforto e comodidade, tanto para nós mesmo como para nossa família. Quando a posse dos bens materiais é fruto de um trabalho honesto, ela é legítima e não é contrária a uma vida alinhada às leis morais universais. As advertências de Jesus fo-ram com relação ao apego e à valorização excessiva dos bens materiais, quando esses são colocados como nossa maior meta de vida, muito mais que a conquista dos valores do espírito.

Façamos uma reflexão sobre nossa postura frente a esse modelo de desenvolvimento, baseado em pre-ceitos materialista e hedonista, para que não abando-nemos as fileiras do trabalho cristão, desviados pelo brilho do ouro, pelas quimeras ou pelos anseios in-quietantes de nosso orgulho e egoísmo. Lembremos de Jesus que nos alertou para colocarmos como prio-ridade a conquista do bem e do amor, pois só assim, sentiremos abundância e saciedade, quando nos disse: “buscai, primeiramente, o Reino de Deus e sua justiça e tudo o mais vos será acrescentado”7.

Referências 1 – Mt 10:9 2 – Mc 10:25 3 – Mt 6:19 4 – Mt 6:24 5 – Lc 12:15 6 – Lc 12:16-21 7 – Mt 6:33

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Para que estamos aqui?

“No mundo tereis aflições, mas tende bom

ânimo. Eu venci o mundo” (João,16:33)

Diante das inúmeras adversidades que a vida nos apre-senta, e partindo do entendimento de que somos espíritos eternos, ainda imperfeitos e necessitados de muita luz; vale ressaltar a importância dessa máxima de Jesus em nossas vidas, para não nos deixarmos vencer pelo desâ-nimo.

Ele próprio, viveu momentos de muitas adversida-des quando aqui esteve, mas nos deixou o seu exemplo de força espiritual, fé no Pai que nunca nos desampara e confiança na sua própria capacidade de superar os desafios do caminho.

Se somos espíritos provenientes dessa Força maior, causa primeira que rege o universo, temos em nós o poder de cocriar com essa Energia Suprema uma vida vitoriosa, apesar das adversidades que precisamos en-frentar pelo caminho, em decorrência da nossa neces-sidade de evolução moral e espiritual.

Com Jesus, aprendemos que a força de um propó-sito é capaz de nos sustentar e nos manter firmes e

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serenos na nossa jornada. As dores que os espinhos do caminho possam causar nos nossos pés, já tão can-sados e calejados nessa estrada da vida, serão melhor suportadas e elaboradas, à medida que consigamos en-tender qual a finalidade da nossa vinda a este planeta. Por que e para quê estamos aqui agora? Qual deve ser a principal tarefa a desempenhar ao longo da nossa existência? O que você, eu e cada um dos espíritos encarnados, nesse momento, no planeta Terra, não po-dem partir sem ter realizado?

Encontrar essa resposta e entrar em ação para fa-zermos o que precisa ser feito, nos trará a coragem e a disposição para sermos pessoas mais proativas e conscientes da autorresponsabilidade na construção da nossa história de sucesso reencarnatório.

Deus almeja uma vida vitoriosa a cada um de nós. Mas, a execução desse desejo e o resultado alcançado, dependem única e exclusivamente da nossa disposição em nos colocarmos em ação.

Portanto, mais importante do que a distância per-corrida até aqui e o tamanho dos obstáculos que temos de superar, é entendermos o objetivo principal de toda a nossa jornada.

Jesus tinha total clareza do objetivo principal da sua vinda ao planeta Terra e , por ter essa consciência desperta, em nenhum momento teve dúvidas se conti-nuaria ou não a sua jornada, muito menos desanimou diante dos inúmeros obstáculos que teve de superar.

Haverá dias durante os quais precisaremos relem-brar essa frase de jesus: “No mundo tereis aflições,

mas tende bom ânimo. Eu venci o mundo”.

Busque-mos descobrir qual é o nosso “para quê” nessa encar-nação e, certamente, ao entendermos e aceitarmos o que viemos fazer aqui, conseguiremos ter bom ânimo como nos recomenda Jesus, para fazermos o que pre-cisa ser feito, ao mesmo tempo em que conseguiremos

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despertar em nossos corações o sentimento de grati-dão que nos possibilitará atrair para perto de nós, os bons espíritos que se alegrarão em nos auxiliar na ta-refa de autoiluminação rumo à nossa vitória evolutiva. Somente através da fé raciocinada, da autorreflexão e da força propulsora da vontade de evoluir sempre, chegaremos, um dia, a dizer a nós mesmos: “Eu venci o meu mundo”.

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No mundo

tereis aflições

osMir Freire

No conceito comum, aflição significa um estado de profunda tristeza, mágoa ou desgosto, ansiedade, angústia. Na visão espírita, temos como oportunida-des de reajuste perante a Lei de Deus, sendo

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necessá-rio compreendê-las e aceitá-las como lições valiosas. Cada criatura tem a aflição que lhe é própria.

De acordo com Kardec, em O Evangelho

Segun-do o Espiritismo, “as vicissitudes da vida têm, pois,

uma causa e, visto que Deus é justo, essa causa há de ser justa.” As causas das aflições podem se encontrar na atual existência ou remontar de tempos recuados, quando o homem, fazendo uso do livre-arbítrio, se comprometeu com as leis naturais.

Em O Céu e o Inferno, Cap. VII, quando trata do Código penal da vida futura, é-nos dito que “o bem e o mal são voluntários e facultativos; sendo livre, o homem não é fatalmente impelido nem para um, nem para outro.” (KARDEC). Importante considerar, en-tão, que a maioria dos males humanos, que constituem verdadeiros tormentos, derivam de atos do presente, frutos da imprudência, do orgulho, da vaidade, da am-bição e dos excessos de toda ordem, conforme assinala o Evangelho. Assim, os tormentos voluntários são em número bem maior do que os tormentos determinados pela lei de ação e reação.

As aflições são, portanto, fruto das imperfeições humanas, consequências das escolhas equivocadas do homem em qualquer época, durante sua trajetória evolutiva. O sofrimento, sendo o padecimento de uma dor física, moral, emocional ou psicológica, está in-trinsecamente relacionado ao processo de evolução do Espírito, enquanto prevalecer a natureza animal sobre a natureza espiritual do ser.

A Pedagogia Divina dispõe de inúmeros recursos para dinamizar nosso processo evolutivo, respeitando e seguindo os ditames da Lei do Progresso, a que tudo e todos estão submetidos. A nós, cabe o exercício do livre-arbítrio que trabalhará em favor de nossa rápida ou lenta ascensão, ou ainda como é pontuado em O

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Às penas que o Espírito sofre na vida espiritual vêm somar-se as da vida corpórea, que são consequentes às imperfeições do homem, às suas paixões, ao mau uso das suas faculdades e à expiação de faltas presentes e passadas. É na vida corpórea que o Espírito repara o mal praticado em existências anteriores, pondo em prática resoluções tomadas na vida espiritual (KARDEC).

Desse modo, sendo filhos de Deus, fomos criados simples e ignorantes, tendo como objetivo e meta che-gar à perfeição, fazendo uso do livre-arbítrio e do es-forço próprio, contando sempre com os mecanismos de apoio e segurança oferecidos por Deus. Lembra-mos, contudo, que no âmbito do código divino não existem privilégios a ninguém, assim, cada criatura humana colherá o fruto decorrente da semente planta-da, recebendo o reflexo de cada ação praticada.

Compreendendo que tudo o que nos acontece é para o nosso bem, devemos procurar a melhor forma de conviver em cada situação que se apresente. Temos de ter uma visão positiva da vida. A Doutrina Espírita colabora muito com essa percepção, na medida que revela as leis de Deus, facilitando a compreensão de tudo que se dá conosco.

Nos flagelos, como nesta pandemia que afeta toda a Humanidade, as pessoas se mostram solidárias, se juntam para se ajudarem e se surpreendem com o re-sultado positivo dessa união. O isolamento tem sido uma oportunidade para refletirmos sobre a vida, ocu-parmos bem o tempo com atividades nobres, enrique-cedoras e nos dedicarmos mais à família.

É natural que o medo abale muitas pessoas em decorrência de um flagelo, mas deve ser bem admi-nistrado, para não gerar pânico e, assim, paralisar a pessoa. O medo deixa a pessoa em situação de vul-nerabilidade, porque ataca as suas defesas. Devemos

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nos educar com a visão espiritual da vida, nos esti-mulando na coragem e na fé, sabendo que não esta-mos sozinhos, tampouco desamparados. Jesus está no comando de tudo.

Aproveitemos a tecnologia para ocupações cons-trutivas, atualizações e aprimoramentos, em temas de nosso interesse, usando o meio virtual. Além dessas reflexões, é recomendável a prece por nós mesmos e especialmente a prece solidária, que pode ser dirigida a todos aqueles que podem ser alcançados pelos nos-sos pensamentos, como familiares e amigos, profis-sionais que auxiliam os doentes e os que sofrem.

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Meus direitos

Diante de tantas flagelos no mundo, A mim, somente dou o direito de ser bom, De estender minhas mãos para aplacar a dor do semelhante,

De servir como instrumento de consolo e esclarecimento, Nos campos de trabalho da humanidade agonizante.

Diante de tanta indiferença,

A mim, somente dou o direito de ter compaixão, De perceber aqueles que se afligem pela dor, De cuidar das frágeis criaturas curvadas pela tribulação,

E abraçar meus irmãos, com ternura e fervor.

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Diante de tantas críticas ferinas, A mim, somente dou o direito de ser tolerante, De não julgar ninguém por suas escolhas e tropeços, De perceber os que erram e fraquejam como aprendizes,

Aos quais a vida sempre permite recomeços. Diante de tantas manifestações de violência, A mim, somente dou o direito de ser pacífico,

De construir entendimento e conciliação, De reprimir os meus impulsos animalescos,

Geradores da ferina agressão. Diante de tantas lágrimas de tristeza, A mim, somente dou o direito de ser grato, De olhar o que a vida e as pessoas têm de melhor,

De extrair algo de bom em cada situação, Fazendo o que me compete ao meu redor.

Diante de tanta diversidade,

A mim, somente dou o direito de ser acolhedor, De respeitar decisões, emoções e comportamentos,

De tentar entender e aprender com os outros, Através da empatia em todos os momentos.

Diante de tanta arrogância,

A mim, somente dou o direito de ser simples, De evitar impor meu jeito ou vontade, De reconhecer quando não estiver com a razão,

E lutar para vencer a ilusão da vaidade. Diante de tanta iniquidade, A mim, somente dou o direito de ser justo,

De rejeitar qualquer vantagem imerecida, De não aceitar nenhum tipo de opressão, E que o medo não impeça a verdade de ser vivida.

Assim, em todas as situações, Buscar a sintonia com a lei maior de Deus, Ter Jesus como mestre e modelo de conduta,

Fazer o possível para que o amor prevaleça, E alcançar a merecida paz após a labuta.

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O aprendizado além da

pandemia da Covid-19

Na escala das diversas categorias dos mundos habitados, de acordo com o grau de adiantamento

ou de inferioridade dos seus habitantes, a Terra vem, progressivamente, evoluindo de um mundo inferior, onde a materialidade impera.

kátia MaraBuCo

assoCiaçãode MédiCos esPíritasdo Piauí

Nessa categoria, a agressividade da animalidade é a tônica da vida terrena, onde as lutas sangrentas e as disputas de paixões desenfreadas são cenários dan-tescos e inconcebíveis para o homem moderno e para aquele cuja espiritualidade já brilhou nos céus de suas melhores construções e idealizações mentais.

No entanto, este mundo de provas e expiações, é ainda o mundo no qual vivemos, porque somos os mesmos espíritos de antes. Os que hoje são

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refina-dos, cultos e probos, já foram, em sua grande maioria, quem sabe, os brutos, arrogantes e talvez os pusilâni-mes de outrora.

No desenvolvimento do planeta e sua humanidade, pelo caráter de mundo de provas e expiações, as tragé-dias e os flagelos, estão previstos na Lei de destruição, necessários para a renovação e avanço do progresso dos mundos. Essa Lei de destruição está descrita no Livro dos Espíritos no capítulo VI, na pergunta 728: “Preciso é que tudo se destrua para renascer e se rege-nerar. Porque, o que chamais de destruição, não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos”.

Vivemos, hoje, uma pandemia causada por um ví-rus que parou a humanidade, contudo, ao analisar-mos a história, encontraanalisar-mos momentos semelhantes, de outras tragédias, pestes, pandemias, aparecimento de novas enfermidades e recrudescências de antigas doenças, que adquiriram um caráter tão agressivo, com uma intensidade ainda não vista, como é o caso de um tipo de tuberculose que acomete certas popula-ções do Mar do Aral - localizado entre o Uzberquistão e o Cazaquistão na Ásia Menor, que teve como uma das causas de seu agravamento o grande desequilí-brio ambiental local : a destruição do meio ambiente pelo homem foi tamanha nesta região.

Este mar, que já fora o quarto maior em extensão do planeta, perdeu 90% de sua área, tornando-se um grande amontoado de areia, ocasionando o apareci-mento de vários tipos de patologias, dentre elas res-piratórias, hepáticas, um tipo de anemia profunda que acomete as grávidas, levando à gravidez de risco e a recém-nascidos prematuros e de baixo peso, como também uma tuberculose muito resistente ao trata-mento convencional. Isto tudo, em uma população já tão depauperada pelas dramáticas alterações do meio

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ambiente, que não possuem as defesas orgânicas ne-cessárias para combater as doenças.

Irmão X, pela psicografia de Francisco Cândido Xa-vier, no livro Boa Nova, capítulo intitulado Maria Mag-dala, nos fala da lepra no tempo em que Jesus, o Mestre Incomparável, habitou entre nós. Ele assim narra:

[...] a mensageira do Evangelho, reunia a turba de leprosos vindo da Idumeia e a partir daí todas as tardes Maria lhes dizia os ensinamentos de Je-sus. Os rostos ulcerados, enchiam-se de alegria, olhos sombrios e tristes tocavam-se de nova luz. Passado algum tempo... Em breve, a epiderme de Maria apresentava igualmente manchas violáceas e tristes. Ela compreendeu a sua nova situação e compreendeu a recomendação do Mestre: — Vai Maria!...Sacrifite e ama sempre. Longo é o ca-minho, difícil a jornada, estreita é a porta, mas a fé remove obstáculos... Nada tema: é preciso crer somente!

A lepra, por muito tempo estigmatizante e destrui-dora, foi a grande divisora de mundos, entre os cha-mados puros e impuros, foi a terrível doença de provas e de expiações, que segregou famílias, amigos e criou uma sociedade amedrontada. A peste negra provoca-da pela bactéria Yersinia peste, dizimou um terço provoca-da população europeia no século XIV, entre 1348 a 1350, a mortandade foi tão grande que a Europa demorou 200 anos para a população retornar aos números pré--epidemia. Mais recentemente, outras pandemias e epidemias assolaram a humanidade, a cólera, a gripe espanhola e o crescente aumento dos casos de câncer no mundo. Acrescidos aos flagelos das doenças, temos também os cataclismos e destruições de ordem natu-ral, que sacudiram violentamente a face do planeta e, como bem nos disseram os Espíritos, falando sobre esta Lei : “os agentes de destruição servem para

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man-ter o equilíbrio e o contrapeso. Na medida que o físico e o moral se achem mais depurados, essa necessidade de destruição cessa”.

Como toda grande comoção que abala a humanida-de, a SARSCoV-2, desempenha esse papel de agente catalizador, acelerando o processo de transformação do mundo e, por algum tempo, alterará bastante as relações humanas, a economia e a saúde. Entretanto, é oportuno fazermos algumas considerações sobre as mudanças de hábitos, os propósitos que a pandemia nos trouxe.

Construímos monumentos, grandes edifícios, ar-quiteturas deslumbrantes, prodígios de engenharia. A grande maioria das cidades possuem grandes magazi-nes, verdadeiros templos de consumo, com tudo o que é útil, mas também o que é supérfluo e desnecessário; museus extraordinários, suntuosos restaurantes, todas as comodidades que satisfazem o homem cosmopoli-ta e afeito ao conforto e privilégios das conquiscosmopoli-tas da nossa sociedade. Porém, tudo o que conhecíamos de superlativo se apequenou e passou a não ter a importân-cia que lhe dávamos.

Hoje, o espaço onde vivemos e que nos é precioso é o nosso lar, em torno de nós a família. Nos comuni-camos com o mundo lá fora suficientemente, através de um pequeno aparelho que nos conecta com tudo e com todos - isto quem tiver acesso à tecnologia. A navegação pela rede se tornou algo indispensável para muitos de nós, o que nos proporciona um leque inima-ginável de escolhas, desde as melhores, requintadas e promotoras de fartos conhecimentos às deprimen-tes e grodeprimen-tescas. Mas as escolhas que cada qual traça, as conquistas e as derrocadas da consciência de cada um aciona, impreterivelmente, a Lei de Ação e Reação que reverberará na trajetória de suas próprias vidas presentes e futuras.

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Se antes sabíamos que uma multidão de olhos nos seguia e vigiava, agora mais ainda, tanto do mundo visível como invisível, afinal desde o século passado já havíamos sido alertados por André Luiz, em Os

mensageiros através da mediunidade abençoada de

Francisco Cândido Xavier que:

As transições essenciais da existência da Terra encontram a maioria dos homens absolutamente distraídos das realidades eternas. A mente humana abre-se, cada vez mais, para o contato com as ex-pressões invisíveis, dentro das quais funciona e se movimenta.

Passageiros desta grande nave, não compreendía-mos a extensão da interdependência da ecologia pla-netária, o quanto dependíamos uns dos outros. Con-finados em casa, nossos valores foram questionados, como se de repente um tribunal da própria consciên-cia nos chamasse para a reflexão. Muitos sucumbiram, pois, as fugas espetaculares, às quais haviam se acos-tumado, não mais existiam, era olhar para si e para o próximo, que agora estava muito mais próximo e se perguntar: amo minha vida? Sou feliz com o que vivo? Quem são essas pessoas que estão ao meu lado?

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Eu as conheço, ou são apenas transeuntes que passam no dia a dia da minha vida vazia, de repente não mais alimentada por todas as modernidades passageiras e ilusórias? Passamos a perceber, que precisávamos cui-dar de nós e dos outros, para evitarmos adoecer e so-brevivermos a essa cratera que rasgou profundamente o seio da humanidade.

São questionamentos profundos, que surpreende-ram as pessoas e uma onda de insatisfação, ansiedade, medo, melancolia e depressão, retratando quão doente estava o mundo, tomou conta de muitos. Nos demos conta de que subterfúgios, fugas e os anestesiantes es-tímulos sensoriais, normalmente usados para acionar o circuito das sensações, eram ilusórios e danosos à nossa verdadeira essência. Presenciamos o exagero de vermos pessoas necessitando de altas doses de adre-nalina para satisfazerem-se e sentirem prazer, arris-cando suas próprias vidas. O usual não mais satisfazia e o desgaste era tamanho, que uma síndrome de es-gotamento, o Burn out adoecia e era a causa de tantos sucumbirem de forma dramática e triste.

Deus, então, nos abriu as portas para nós mesmos: HOMEM, CONHECE-TE A TI MESMO, e nos so-correu, ao mesmo tempo em que nos liberta deste ma-rasmo espiritual que nos estancava o passo. Lemos, estudamos e não praticamos. Falta tempo para o si-lêncio, para ouvirmos Deus e entender suas palavras e mensagens, para organizar a casa interior, para o sus-surro da prece, ver e ouvir as coisas simples, sentir a presença do outro, não apenas tolerar, mas ver o quan-to o outro é importante em nossas vidas, o respeiquan-to por nós mesmos, pelos nossos ciclos de vida, o nosso envelhecer, o nosso lento aprendizado da sabedoria da vida.

Precisamos alcançar o prazer de aproveitar a pre-ciosa vida, que como fruto maduro deve ser saboreado

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na estação correta, nem antes nem depois. Nos emo-cionarmos com as alegrias e sofrermos com as perdas e as dores do outro e perceber que estamos intimamen-te ligados a toda humanidade e que nos importamos com todos. Precisávamos de tudo isso e muito mais, que só a intimidade com o Divino nos favorece. São as grandes revelações da dor, como nos ensinou o insigne Léon Denis: “Não há bem sem dor, ascensão sem suo-res e esforço.”

São as dores do crescimento espiritual a nos expe-rimentar... a nos provar que o caminho é diverso, que a humanidade estava indo em um caminho solitário, individualista, viciante e imediatista. Mas, calma! Te-mos também nossas grandes conquistas, nem tudo es-tava do lado do avesso, em todos os momentos da hu-manidade e nas crises de cada um, a luz que desponta saindo da escuridão, harmoniza e aprimora, porque já tínhamos o ponto de partida, o acumulado acervo e a sabedoria universal que reside em cada um de nós, só precisa despertar em cada um e seguir.

Certamente, é esse o caminho que nos espera nos séculos vindouros, a retomada do progresso espiritu-al ao quespiritu-al todos temos direito, por filiação divina. E os grandes prepostos do Senhor, atentos ao evoluir, abrem as portas de par a par para aqueles que, de boa vontade, ouvem o chamamento do Senhor.

Escute ... sua consciência tem um segredo para lhe revelar.

Referências:

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Terceira parte. As Leis Mo-rais. Capítulo VI- A Lei de destruição.

LUIZ, André. Psicografia de F.C.Xavier. Os Mensageiros. Ed. FEB: Brasíia-DF, 1944.

ALMEIDA, João Ferreria de. Bíblia. Isaias.50.

DENIS, Léon. O problema do ser, do destino e da dor.Ed. FEB: Bra-sília: DF.

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Fé Inabalável em

Tempos de Pandemia

Geralmente, é à noite, antes de dormir, que fazemos

nossas orações mais completas e mais sentidas.

luCiaNa Pessoa

Embora o cansaço, continuamente, insistamos em forçar o corpo a desligar e libertar o espírito antes de as primeiras frases fazerem sentido, pois a oração de encerramento do dia é importante veículo de conexão com Deus.

Assim, a cada noite, fechando o ciclo diário de tra-balho e lutas, o momento é de refletir sobre as expe-riências, presenças e ausências de um dia inteiro de oportunidades. Seguindo o conselho de Santo Agosti-nho, ao responder à questão 919 de O Livro dos

Espí-ritos, devemos indagar a nossa consciência acerca dos

deveres que deixamos de cumprir, das mágoas que provocamos e daquelas que sentimos, para, a partir daí, traçarmos o caminho da autotransformação, do melhoramento íntimo e da resistência ante o mal.

Esse é o meio mais eficaz de que dispõe a criatura humana na sua jornada evolutiva, em especial,

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quan-do as atribulações da vida parecem exigir de nós uma compreensão além do que imaginamos possuir. Em tempos de pandemia, pois, nossas habilidades são tes-tadas.

Vivemos uma situação inesperada e, por isso, nos encontrávamos, de início, despreparados para enfren-tá-la. Nos deparamos com a mudança repentina de nossos hábitos mais triviais, a privação do convívio, a proibição das válvulas de escape nos passeios e aglo-merações, desemprego, desencarnes coletivos... É ine-vitável sentir insegurança e medo. Mas, após a apre-sentação da prova, cabe a cada um fazer as reflexões propostas por Santo Agostinho.

Muitos não se deram conta de que a pandemia – problema de dimensão mundial – é uma provação in-dividual, pois requer o despertar da consciência para o papel de cada indivíduo no cenário coletivo. “Como eu me comporto diante de tudo isso?” Eis a indagação que nos auxiliará no processo de autoconhecimento e autotransformação.

Alguns correram para os mercados, fazendo esto-ques insanos de produtos que foram apontados como auxiliares na proteção contra o contágio, acumulan-do-os sem a preocupação de deixar para outras pes-soas. Houve quem se automedicasse incautamente, na

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demonstração de desesperado. Há os que se refugiam na negação para fugir de seus deveres e justificar a não alteração de sua rotina. Há quem se isolou em radical aflição, transferindo a outrem a obrigação dos cuida-dos do próprio lar.

Existem, porém, os que renunciam ao seu conforto para dividir e também somar, que cuidam de desco-nhecidos, que mantêm a serenidade e seguem adap-tando-se para vencer a si mesmo. Quem assim age é porque aprendeu a lidar consigo mesmo, identificando que há, dentro de nós, forças que nos reprimem e for-ças que nos impulsionam. Escolher qual vai predomi-nar é o que nos diferencia.

Nesse contexto, a fé é a ferramenta que sustenta a decisão de não temer. Ter fé é confiar que o objetivo será alcançado e, por isso, saber que pode seguir tran-quilo. A fé permite vislumbrar o caminho a ser per-corrido com mais nitidez e segurança e, dessa forma, aquele que a possui não oscila entre os extremos.

Na lição de O Evangelho Segundo o Espiritismo (Capítulo XIX) a fé robusta, sincera e verdadeira não vacila. Ela dá perseverança e energia para vencer qualquer obstáculo e, ainda, confere ao seu detentor a paciência apoiada na inteligência e na compreensão das coisas, destacando que “calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança; a violência, ao con-trário, denota fraqueza e dúvida de si mesmo”.

A pandemia, portanto, é mais uma oportunidade de avaliar a qualidade da nossa fé. Se, de fato, ela for ina-balável, as atitudes serão de calma, pois, sem diminuir a importância do fenômeno, a inteligência conduz à reflexão crítica e sensata acerca do papel de cada um. As questões relevantes serão priorizadas e as preocu-pações frívolas da matéria serão superadas.

É importante ressaltar que fé inabalável, como gra-fou Kardec na folha de rosto de O Evangelho Segundo

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o Espiritismo, é “somente aquela que pode encarar a

razão, face a face, em todas as épocas da humanida-de”. Assim sendo, a fé não se vincula à total falta de lágrimas e à postura inalterável do indivíduo, mas sim à consciência e compreensão dos flagelos que nos de-frontam. Portanto, à luz do conhecimento científico, a fé se robustece.

Chorar ou pedir a Deus que cessem as dores não reve-la fé fraca, apenas demonstra nossa humanidade, sensi-bilidade e empatia, porque é difícil lidar com as perdas e as renúncias. A postura que esperamos de alguém que tem fé inabalável é, apesar da dor, saber compreender a necessidade de sua existência. Como nos esclarece Pas-torino: “Quando a dor nos visita, agradeçamos a Deus o privilégio de poder conviver algum tempo com a maior mestra da humanidade”.

A atual pandemia, assim como os flagelos destrui-dores e os cataclismos apontados por Kardec, no ca-pítulo XI de A Gênese, é uma ocasião de chegadas e partidas coletivas, como forma de renovar, com espí-ritos mais elevados, a população encarnada do plane-ta, para trazer progresso moral e intelectual. É, então, um processo mais acelerado de renovação, mas para o qual existe planejamento e acompanhamento, razão porque devemos nos posicionar de forma mais tran-quila e coerente com os ensinos da Doutrina que apre-goa a imortalidade da alma.

Em qualquer conjuntura, é a fé inabalável que dá sentido à existência. Sem ela, perdemos o propósito de nos aperfeiçoar. É nesse sentido que Meimei, por intermédio de Chico Xavier, nos convida a confiar sempre, afirmando que:

De todos os infelizes os mais desditosos são os que perderam a confiança em Deus e em si mesmo, por-que o maior infortúnio é sofrer a privação da fé e

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prosseguir vivendo. Ele-va, pois, o teu olhar e caminha. Luta e serve. Aprende e adianta-te.

Aceitemos o convite! Não é na calmaria, mas nas tem-pestades, a melhor ocasião de testarmos a nossa fé. A pandemia é o momento da entrega total nas mãos de Deus. É oportunidade de avaliarmos se estamos agin-do em coerência com as leis divinas. A fé, fundamentada na razão e em reflexões sobre o sentido de nossa existência pode, nas palavras de Joanna

de Ângelis, “enfrentar os problemas e solucioná-los sem amargura nem conflito, para atender a situações penosas com tranquilidade, porque identifica em todas essas situações as oportunidades de crescimento inte-rior para o encontro com a verdade”.

Referências

FRANCO, Divaldo Pereira. Pelo Espírito Joanna de Ângelis.

Atitudes renovadas. Salvador – Livr. Espírita Alvorada Editora,

2009.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Araras-SP: IDE, 1997. ____ O Evangelho Segundo o Espiritismo. Brasília: FEB, 1986.

____ A Gênese. Araras-SP: IDE, 1997.

PASTORINO, C. Torres. Sugestões Oportunas: guia para a sa-bedoria. Petrópolis: Vozes, 1997.

XAVIER, Chico. Pelo espírito Meimei. Confia Sempre. Áudio Disponível em https://www.verdadeluz.com.br/confia-sempre-meimei-chico-xavier/ Acesso em 29.09.2020

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Humberto de Campos e a

Caravana da Fraternidade

A Senhora Ana de Campos Veras (Dona Anica), após longo tempo de viuvez e a perda prematura do filho Humberto de Campos Veras (Miritiba-MA, 26/10/1886 - Rio de Janeiro-RJ,

5/12/1934), deixou a tímida e modesta Parnaíba, dos anos trinta, o frondoso Cajueiro, irmão querido do seu filho, e foi

exilar-se em Fortaleza, estado do Ceará.

José luCiMarde oliveira Jota.oliveira@hotMail.CoM

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Foi na cidade alencarina que Leopoldo Machado vindo de Natal-RN com os demais integrantes da Ca-ravana da Fraternidade, que saiu pelo Brasil afora a se-mear a semente da Unificação do Movimento Espírita na Pátria do Cruzeiro, encontrou aquela Senhorinha beirando seus 88 anos, de cabelos embranquecidos pela névoa do tempo, lúcida e vivaz, que os recebeu com alegria e contentamento. Na conversa com Dona Ana, Leopoldo Machado diz: “Quem admira o ilustre filho, incontestavelmente, nosso maior escritor dos úl-timos tempos, tem a sua admiração”.

Ela insiste para que eles bebam um licor especial que ela fez. Ao que ele redarguiu:

— Perdão, não bebemos álcool.

No decorrer da prosa falam sobre seu filho, e de seus escritos vindos do Mundo Espiritual. Até o fa-moso “Caso Humberto de Campos” veio à tona. Disse ela, aos interlocutores, ter sido contra a atitude de sua nora (Catharina de Paiva Vergolino Campos, Dona Pa-quita) e dos netos (Henrique Campos, Maria de Lour-des Campos Campello e Humberto de Campos Filho) cobrarem da Fe-deração Espírita Brasi-leira os direitos autorais das obras psicografadas do seu filho. Por último, Dona Anica indagou a Leopoldo Machado, pre-sidente da Caravana:

— O Senhor vai passar por Parnaíba? Pois fica, então com o compromis-so de abraçar e beijar por mim, em meu nome, o ca-jueiro de meu filho. Leopoldo Machado: cajueiro abraçado,

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E assim, fez o ilustre baiano, o desbravador da Uni-ficação, no Brasil dos anos 50, em terras nortistas e nordestinas. Ao chegar em Parnaíba foi logo ao logra-douro público onde o cajueiro já lhe aguardava ansio-so para receber o beijo e o abraço que Dona Anica lhe enviara, mas como estava cercado e o portão que dava acesso se encontrava fechado a cadeado e não se sabia quem tinha a chave, Leopoldo Machado e o outro membro da Caravana, Jordão, resolveram pular o gradil e realizaram, com sucesso e amabilidade, o pedido da gentil velhinha. Este fato foi registrado pela máquina fotográfica de Burgos, outro ilustre membro da Caravana, e assim, se expressou Leopoldo Macha-do ao se referir ao cajueiro:

O cajueiro é uma grande árvore, esgalhada e fron-dosa. A urbanização dela data de 1940, feita na ges-tão do prefeito Mirocles Veras, médico e primo de Humberto, que nos confessara, mais tarde, que não comprou a casinha da mãe de Humberto para trans-formá-la no Museu Municipal da cidade, com receio, por ser parente do grande escritor, do que se dissesse dele. Discordamos de suas cautelas, dizendo que a justiça do futuro compensaria as injúrias do presente.

No adeus a Parnaíba, da Caravana da Fraternida-de, naquela tardinha, dia 26 de novembro de 1950, no Centro Espírita Vida e Progresso, Humberto de Cam-pos se manifesta através do médium notável, poeta e escritor Alarico da Cunha e agradece, comovidíssimo, aos caravaneiros pela visita que fizeram à sua mãe, em Fortaleza, e à gentileza de trazerem, ao seu cajueiro, em Parnaíba, o abraço e o beijo afetuoso da sua san-ta mãezinha. Manifestou-se, san-também, a respeito da missão dos caravaneiros afirmando:

Meus irmãos, não tenho dúvida quanto ao êxito de vossa missão, por que ela é a síntese do que já vos

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tenho dito através do médium de Pedro Leopoldo. Que Deus abençoe a vossa obra de Unificação e de amor... pelo planeta, no plano da carne (HUM-BERTO DE CAMPOS).

A Caravana, já em Teresina, desde 9 horas, do dia 27 de novembro de 1950, após ter sido recebida em clima festivo, encontrou à frente desta comitiva de recepção, uma figura singular do Espiritismo no Piauí – Dr. Heli da Rocha Nunes, então presidente do Centro Espírita Irmão Adriano, em Teresina. Essa foi sua primeira visita foi ao Centro Espírita Piauiense.

No mesmo dia, à noite, retornaram ao Centro, onde, com salão cheíssimo, Leopoldo Machado proferiu uma palestra, após a qual, os caravaneiros realizaram uma mesa-redonda na qual se decidiu fundar a Federa-ção Espírita Piauiense. A iniciativa teve, além da par-ticipação das Casas Espíritas de Teresina, o apoio do movimento espírita de Parnaíba, que enviou mensa-gem conjunta assinada pelos presidentes dos dois Cen-tros Espíritas da cidade, dando plena autorização para que os caravaneiros os representassem na decisão a ser tomada sobre a criação da federativa estadual.

Surgiu então, em 27 de novembro de 1950 a Federa-ção Espírita Piauiense. Fizeram-se presentes, neste ato espírita grandioso, os dignos caravaneiros Leopoldo Machado, Carlos Jordão da Silva, Luiz Burgos Filho e

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Francisco Spinelli, ilustres espíritas da época e repre-sentantes dos Centros Espíritas de Teresina - Centro Espírita Piauiense, Centro Espírita Irmão Adriano e o Centro Espírita Bezerra de Menezes.

No dia seguinte, antes da realização de nova pa-lestra proferida por Leopoldo Machado, é lida a Ata de fundação, por Francisco Spinelli, e empossada a primeira Diretoria da Federação Espírita Piauiense, abreviada por FEP. A Diretoria foi assim constituída: Presidente – João Rodrigues Vieira; Vice-Presidente – Francisco de Paula e Silva; 1º Secretário – Joaquim Câmara Cunha; 2º Secretário – Heli da Rocha Nunes e Tesoureiro – Raul Cunha.

No dia 28 de novembro de 1950, a Caravana da Fra-ternidade, ainda se encontrava em Teresina, quando Humberto de Campos retorna, por meio do médium Alarico da Cunha, e se manifesta em nome da plêiade de espíritos-espíritas desejosos de agradecer penhora-damente aos integrantes da Caravana da Fraternidade:

Meus caros irmãos: Naquela tarde serena e magni-fica de Parnaíba, presente ao ‘Grupo Espírita Vida e Progresso’, pretendia fazer dois agradecimentos distintos à ‘Caravana da Fraternidade’. Mas fui in-terceptado por vários irmãos deste plano, que se aglomeravam em arrufos de impaciência, plasma-dos de emoções. Nas apostilas do meu livro ain-da inédito, com o pseudônimo irmão X, apontarei como dogma a resenha do trabalho eficiente da venturosa Caravana. Reitero agradecimentos pela visita e abraços ao meu cajueiro, que representa, no plano físico, um resto vivo do reino vegetal de minha existência material; um grande pedaço in-sensível e, ao mesmo tempo, sensibilizado do meu coração. Capitulando diante do edito misterioso, que se me apresenta no Templo de Ismael, quando declinava mais um dia de trabalho em prol da nova geração, deixei de prosseguir com a mensagem. Poucas foram as palavras que consegui psicogra-far, desataviadas do calor da retórica, mas

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