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1. C URRÍCULO ESPECÍFICO INDIVIDUAL : UMA RESPOSTA EDUCATIVA PARA ALUNOS COM

1.3 G ESTÃO CURRICULAR E NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS

1.3.3 I MPLICAÇÕES DAS NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS

Fazendo jus aos princípios da escola inclusiva, o currículo deve ser suficientemente flexível para atender à diversidade dos alunos, permitindo desenvolver programas que garantam o efectivo direito à diferença (Roldão, 1999b; Soares, 2004). Deve, por isso, ser acessível a todos os alunos, contemplando uma variedade de estilos e ritmos de aprendizagem e de contextos que assegurem a sua participação e sucesso (UNESCO, 2001b). Segundo Roldão (1999b, p. 28),

É o reconhecimento efectivo do direito de todos a uma educação de qualidade que coloca no centro dos problemas curriculares do nosso tempo a necessidade de reinventar a escola de modo a oferecer e construir o currículo como um percurso diferenciado e significativo…

As especificidades das limitações, quer a nível das diferentes funções do corpo, quer da actividade e participação, podem implicar diferentes respostas educativas, em função dos perfis de funcionalidade dos alunos.

Em Portugal, legislação específica22 estabelece a possibilidade de aplicação de apoios especializados abrindo, de facto, a escola regular a todos os alunos. São proporcionadas respostas adequadas para cada caso, mesmo que seja necessário recorrer a percursos educativos muito diferentes dos estabelecidos para a generalidade da população escolar.

Há alunos cujas necessidades educativas especiais não requerem alterações ao currículo regular, o que não quer dizer que este não deva ser examinado em função das mesmas. Há outros para os quais é essencial um currículo especial, o que não significa que não possam participar no currículo regular.

As diferentes necessidades podem, então, implicar a adopção de medidas educativas, atendendo às características individuais, olhando para o desenvolvimento cognitivo, afectivo e psicomotor (Correia, 2003; Emídio, Fernandes, & Alçada, 1992). As medidas podem ser menos ou mais restritivas, tais como:

 uma atenção particular ao ambiente educativo;

 condições específicas de acesso ao currículo, por exemplo através de material adaptado ou de técnicas de ensino especializadas;  uma modificação do próprio currículo.

O grau de modificação do currículo varia, também, em função das características individuais. Há casos em que as necessidades se revestem de contornos muito específicos, exigindo uma adequação curricular, entendida como “…o conjunto articulado de procedimentos pedagógico-didácticos que visam tornar acessíveis e significativos, para alunos em situações e contextos diferentes, os conteúdos de aprendizagem propostos num dado plano curricular.” (Roldão, 1999b, p. 58). Adequar vem do latim adaequare que significa ajustar, apropriar.

22 Através do Decreto-Lei n.º 319/91 (em vigor à data do início deste estudo) e,

Assim, adequar o currículo implica agir sobre o currículo para alguém (Roldão, 1999b). As adequações, previstas no Decreto-Lei n.º 3/2008, são:

A. Adequações curriculares individuais (Artigo 18.º):

 têm como padrão o currículo comum, não pondo em causa a aquisição das competências terminais do ensino básico, ou as competências essenciais das disciplinas no ensino secundário;

 podem consistir na introdução de áreas curriculares específicas, objectivos ou conteúdos que não façam parte da estrutura curricular comum;

 podem traduzir-se na dispensa das actividades que se revelem de inadequadas em função das características individuais.

B. Currículo específico individual (Artigo 21.º): as competências a

desenvolver são definidas em função do aluno, não correspondendo aos diferentes níveis de educação e ensino (a desenvolver em 1.3.4).

Os alunos que apresentem dificuldades ao nível da comunicação oral, de acesso à escrita ou de movimento e coordenação motora, nomeadamente com limitações das funções auditivas, visuais ou motoras, poderão seguir o currículo regular, ainda que seja necessário fazer adequações. Tendo como padrão o currículo comum, podem ser incluídas áreas específicas. Estes alunos podem precisar de:

- aprender diferentes códigos de comunicação oral ou escrita (nomeadamente língua gestual ou leitura e escrita em Braille);

- dominar a utilização de equipamentos específicos (como um computador com interfaces adaptadas ou uma lupa-televisão);

- conhecer meios de locomoção especiais (utilização de uma bengala ou de uma cadeira de rodas, por exemplo).

Podem, também, necessitar de orientação e mobilidade, treino da visão ou actividade motora adaptada, entre outras.

Estas aprendizagens constituem parte integrante do seu programa educativo individual23. A concretização deste programa implica, na generalidade, a intervenção de recursos humanos e físicos particulares, tais como:

 equipamento e materiais pedagógicos específicos;

 colaboração de professores de Educação Especial e/ou de outros técnicos;

 existência de espaços adequados.

Estes alunos podem, ainda, ser dispensados de actividades do currículo comum que se revelem inadequadas e que, comprovadamente, não haja forma de colmatar as suas necessidades específicas.

As limitações acentuadas ao nível de funções mentais (como a atenção, memória, percepção, abstracção, organização e planeamento, gestão do tempo, flexibilidade cognitiva, autoconhecimento, julgamento, resolução de problemas) implicam ritmos próprios. Estão associadas a um processamento de informação que afecta a aprendizagem, reflectindo-se acentuadamente na aquisição de competências. Estas situações podem levar à construção de currículos específicos.

Na elaboração desses currículos é preciso ter em conta o ambiente educativo, o que cada um deve aprender e as características individuais. Em função destas podem ser incluídas áreas como a independência pessoal, motricidade, comunicação, comportamento social, ou de outros conteúdos específicos (Urbano & Jorge, 2000; Vieira & Pereira, 2007), tornando único o respectivo currículo.

23 De acordo com o Decreto-Lei n.º3/2008, o programa educativo individual é o

As limitações acentuadas em funções psicossociais, emocionais, de temperamento e da personalidade, reflectem-se significativamente na realização de acções e tarefas e na interacção com outras pessoas. Afectam, consequentemente, a aprendizagem tanto de conhecimentos, como de atitudes, o que, segundo Lopes (2002, p. 56), “… é demonstrado pela elevadíssima prevalência de problemas de realização académica…”.

Para estes alunos as respostas educativas passam por um elevado grau de individualização - de relações pessoais, de estratégias e actividades, de métodos e até de conteúdos - suficientemente flexível para se ajustar às necessidades específicas de cada aluno em cada momento. É primordial uma definição clara dos objectivos, do estabelecimento e cumprimento de regras e de procedimentos ajustados (Lopes, 2002; Silva, Nossa, & Silvério, 2000).

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