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2.2 A CONSTRUÇÃO RESULTATIVA

2.2.2 A CONSTRUÇÃO RESULTATIVA EM PB

2.2.2.1 I NEXISTÊNCIA DA CONSTRUÇÃO RESULTATIVA EM PB

Ao contrário do inglês, que apresenta na construção resultativa uma estrutura uniforme para praticamente qualquer tipo de verbo (LEVIN & RAPAPPORT HOVAV,2005; BARBOSA, 2008), os casos apontados na seção anterior como exemplos de construção resultativa do PB apresentam diversas restrições que fazem com que muitos verbos não interajam com a construção resultativa (BARBOSA, 2008). Lobato (2004) aponta uma série de combinações que fariam com que uma construção resultativa se tornasse ilícita. Segundo a autora verbos inacusativos de estado e verbos inergativos não interagem de forma alguma com a construção resultativa. Além disso, a autora se opõe à posição de Marcelino (2000) ao afirmar que resultativas preposicionadas com as

partículas “de” e “até” são ilícitas. Apesar de afirmar que a preposição “em” pode estar presente

no predicado resultativo, Lobato mostra que há restrições para o uso desta preposição e aponta sentenças, ilustradas em (72), que, apesar de serem gramaticais e indicarem um resultado, não indicam um evento do tipo accomplishment. Em outras palavras, as sentenças permitem uma interpretação processual do evento em questão.

(72) a) Ela bateu as claras em neve. b) Ela bateu a manteiga em creme. c) Ela cortou o pão em fatias.

42 Barbosa (2008) aponta alguns testes que demonstrariam que as sentenças utilizadas por Foltran (1999), Marcelino (2000) e Lobato (2004), em verdade, não são instâncias da construção resultativa. De acordo com o autor, a construção resultativa se torna ilícita em contextos de “re-

afixation” (73). Contudo, em PB tal construção apontada como resultativa é licenciada no mesmo

contexto (74).

(73) a) *John re-hammered the metal flat. João re-martelar(PASS) DET metal plano. João remartelou o metal até ele ficar plano. b) *John re-painted the house yellow. João re-pintar(PASS) DET casa amarela. João repintou a casa até ela ficar amarela. (74) a) João re-pintou a casa bem amarelinha.

b) Deus re-criou os homens fracos.

Além disso, Barbosa afirma que quando o sintagma adjetival “again/novamente” é inserido na construção resultativa, a sentença se torna ambígua. Nesse caso, é possível fazer uma leitura repetitiva (75b) e uma leitura restitutiva (75c) a uma sentença como (75a). No PB, ao contrário, a leitura repetitiva (76b) é lícita, mas a leitura (76c) é ilícita para sentenças como (76a).

(75) a) Sally hammered the metal flat again.

Sally marterlar(PASS) DET metal plano novamente. Sally martelou o metal até ele ficar plano novamente.

b) Sally hammered the metal flat, and the metal had been hammered flat before. Sally martelar(PASS) DET metal, e DET metal tinha sido martelado plano antes. Sally martelou o metal até ele ficar plano, e o metal já tinha sido martelado até

ficar plano antes.

c) Sally hammered the metal flat, and the metal had been flat before.

Sally marterlar(PASS) DET metal plano, e DET metal tinha sido plano antes. Sally martelou o metal até ele ficar plano, e ele já tinha sido plano antes. (76) a) João pintou a casa bem amarelinha novamente.

b) João pintou a casa bem amarelinha e a casa já havia sido pintada bem amarelinha antes.

43 Barbosa ainda aponta que há grande diferença entre as sentenças apresentadas por Lobato (2004) e aquelas do inglês que instanciam a construção resultativa. Segundo o autor, os verbos que são apontados por Lobato como formadores de frases que instanciam a construção resultativa não são capazes de formar construção resultativa em inglês. Além disso, enquanto em inglês as resultativas são formadas por eventos de atividade (processo) que se transformam em

accomplishment com a inserção do predicado resultativo, em PB mesmo sem o predicado

resultativo o evento já é do tipo accomplishment.

De acordo com Barbosa (2008), é impossível expressar em PB, a partir do padrão sintático SN- SV-SN-SAdj, todo o conteúdo expresso por uma sentença que instancia a construção resultativa em inglês:

(77) The jackhammer pounded me deaf. A britadeira bateu me surdo.

A britadeira me ensurdeceu batendo/ de tanto bater.

(78) A britadeira bateu até me deixar surdo. (79) *A britadeira me bateu surdo.

A sentença em (78) é uma forma de se apresentar em PB o sentido expresso pelo exemplo de construção resultativa do inglês (77). E em (79) verifica-se que a representação de tal semântica a partir da sintaxe utilizada em inglês gera uma sentença não licenciada em PB.

Parson (1990) alerta para a importância de se analisar se um predicado secundário é de fato um predicado resultativo (80) ou se é o que autor chama de “resultative tags” (81).

(80) X hammered the metal flat. (81) X closes the door tight.

Perceba-se que em sentenças que têm o predicado resultativo, como em (80), o adjetivo realmente descreve o estado atingido pelo argumento. Ou seja, no exemplo (80) o metal foi

44 martelado até atingir o estado de plano/chato. Em outras palavras, o adjetivo “plano/chato” caracteriza o resultado final do tema “metal” após ter sofrido a ação verbal “martelar”. Já em (81) o mesmo não ocorre. O adjetivo “apertada” não caracteriza o estado do tema “porta” após ter sofrido a ação verbal “fechar”. Isso se deve ao fato de que o resultado da ação “fechar a porta” é

ter uma porta fechada. Assim, conclui-se que o adjetivo em (81), em vez de indicar o estado resultativo, caracteriza o tema. Ou seja, “apertada” caracteriza o estado final do tema. Dessa forma, entende-se que a sentença acima quer dizer que a porta foi fechada e, consequentemente, ficou fechada de forma apertada.

Barbosa (2008) propõe que as sentenças do PB (82), ao contrário do que acontece em inglês (83), não obedecem a todas as regras do critério resultativo (84). Mais especificamente, o autor argumenta que o PB viola a regra (i), pois, em vez de denotar um estado resultante, o predicado resultativo modifica o estado resultante, e a regra (iii), pois a mudança de estado é indicada pelo próprio verbo, e não pelo predicado resultativo. Dessa forma, percebe-se que as sentenças do PB violam o critério resultativo, principalmente devido ao fato de o verbo já indicar o resultado da ação independentemente de um predicado resultativo. Em (82), o resultado ação é “estar cortado” e o predicado secundário é apenas um modificador desse resultado.

(82) João cortou o cabelo curto. (83) John hammered the metal flat.

(84) Critério resultativo:

(i) O predicado secundário resultativo denota um estado resultante;

(ii) O objeto atinge o estado resultante por meio de uma mudança de estado; (iii) A mudança de estado é denotada pelo predicado resultativo (e não pelo verbo, que denota o desencadeamento da mudança);

(iv) A mudança de estado é causada por um desencadeador externo (“agente”); (v) O verbo adquire uma leitura causativa (“agente” como desencadeador da mudança de estado);

45 Portanto, os estudos mais recentes (BARBOSA, 2008) apontam para a inexistência da construção resultativa em PB inglês. Assim como os estudos sobre as resultativas do inglês, os trabalhos sobre as resultativas do PB não trazem dados empíricos, o que faz com que a confiabilidade das informações não seja a ideal, já que parecem ser baseadas apenas na introspecção dos linguistas. Neste estudo, diferentemente, dados empíricos serão utilizados para discutir a gramática da construção resultativa em PB e em inglês. Além disso, os dados serão utilizados para que possa ser analisada a aquisição da construção resultativa por bilíngues do par linguístico PB e inglês. Os dados relativos a esse último tópico serão analisados, entre outros, à luz da perspectiva teórica da multicompetência, tema que será discutido no capítulo seguinte.