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I NSTRUMENTO PARA A NÁLISE V ISUAL

No documento TÂNIA APARECIDA DA SILVA KLEIN (páginas 87-91)

CAPÍTULO 5 – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

5.2 I NSTRUMENTO PARA A NÁLISE V ISUAL

Como delimitado no Capítulo anterior, este trabalho propõe a análise do conteúdo científico a partir da categorização dos significados em domínios e níveis de significação, onde o “domínio” apresenta aspectos amplos de um conceito que pode subdividir-se em níveis específicos inerentes a determinado conceito analisado.

Nesta proposta, o primeiro olhar que descreve os elementos constitutivos da imagem é denominado de domínio interpretativo descritivo. O segundo domínio é denominado de domínio interpretativo científico e o terceiro domínio, domínio interpretativo valorativo.

No caso do domínio científico tal cadeia parte da descrição do objeto científico até a explanação de processos e mecanismos relacionados a biotecnologia: nível de significação descritivo-científico, nível de significação

conceitual e nível de significação técnico ou processual. Já no âmbito do domínio

valorativo, os domínios de significação que podem ser abordados pelo leitor delimitam-se à discussão socioeconômica, discussão ético-moral e discussão ambiental relativas à temática da biotecnologia (Figura 1B).

Uma leitura a partir dos significados estabelecidos no primeiro domínio originam olhares ligados à descrição científica ou valorativa, criando, assim, uma cadeia sígnica com significados de segundo nível.

Cada domínio forma a partir daí cadeias sígnicas de terceiro nível organizadas segundo a construção do conceito. Tal dimensão de interpretação forma cadeias conceituais de significação condizentes com a proposta ausubeliana, onde um conceito existente na rede cognitiva, interage e modifica-se quando um conceito novo é assimilado.

Assim, o verdadeiro produto dessa interação não é apenas o novo significado em si, mas a modificação da ideia âncora que, consequentemente, resulta em um significado composto por ambos: “O significado do novo material emerge, rápida e relativamente sem esforço, pois é diretamente derivável de, ou está implícito em, um conceito ou proposição mais inclusivo já existente na estrutura cognitiva” (MOREIRA, 1989, p. 58).

De maneira semelhante, a proposta peirciana demonstra a complexidade de interação entre os diferentes níveis interpretativos que podem ser alcançados no processo da relação com o objeto.

Com o ressalto de que, no instrumento aqui proposto (Figura 1B), foi necessário articular o objeto conceitual imagético com cada domínio interpretativo de forma independente (domínio descritivo, científico e valorativo), pois, o resultado da construção conceitual de significação, não perpassa, necessariamente, pelos três domínios propostos, mas pode haver uma concentração de produção de significado em um ou outro domínio.

No entanto, no caso do campo de conhecimento da biotecnologia, uma abordagem sistemática em cada um dos domínios, demonstraria a facilidade em permear diferentes âmbitos de discussão, caracterizando a amplitude e o fator da interdisciplinaridade inerentes à complexidade da área da biotecnologia.

No que diz respeito ao desenvolvimento científico, deve-se levar em conta que os elementos constitutivos são estabelecidos para propor ou explicar determinada técnica, processo ou mecanismo de funcionamento de um organismo, como observado nos sistemas biológicos naturais ou processos biotecnológicos de manipulação molecular ou celular.

Por esta razão, os níveis de significação científicos constitutivos do domínio científico estão presentes em um processo dinâmico de interdependência, em uma sequência de organização, onde o primeiro nível torna-se requisito para o nível de significação seguinte. Tendo como base os pressupostos inerentes à organização biológica, este trabalho propõe a análise do conteúdo científico a partir da categorização das “partes” a serem estudadas, considerando que durante o processo de aprendizagem científica os conceitos vão se organizando hierarquicamente e formam redes de significados na mente do aprendiz (AUSUBEL, 1973).

Este esquema analítico foi proposto no intuito de embasar a compreensão que os aprendizes constroem na medida em que interagem com diferentes modos de representar o conceito de biotecnologia, durante as intervenções didáticas, pois o instrumento fornece ferramentas adequadas para uma identificação precisa dos percursos de interpretação que um indivíduo traça, a partir do objeto, uma vez que permite demarcar claramente níveis de complexidade de organização e funcionamento de um sistema, trazendo à tona aspectos da construção de significação conceitual.

Figura 1B – Domínios Interpretativos e Níveis de Significação Estabelecidos a Partir

da Representação do Objeto Imagético.

    nível de significação   técnico ou processual  nível de significação  conceitual  domínio   ético‐moral  nível de significação  referencial 

REPRESENTAÇÃO IMAGÉTICA

  elementos descritivos  primários do objeto  DOMÍNIO    INTERPRETATIVO  CIENTÍFICO  domínio sócio‐ econômico  DOMÍNIO    DESCRITIVO  DOMÍNIO    INTERPRETATIVO  VALORATIVO 

Segundo o modelo estabelecido para a análise, a descrição dos elementos literais da constituição do objeto, como cores ou definição não científica das formas que compõem as figuras, estabelece o plano do domínio descritivo. Nos debates e na construção de mapas de conceitos, em que é analisado o percurso do aluno a partir de objetos conceituais e não de objetos imagéticos, o domínio interpretativo descritivo inclui ainda descrições primárias ou elementares para o contexto da aprendizagem científica, em que estão inseridos estudantes em fase de conclusão do Ensino Médio.

O domínio interpretativo científico inclui termos ou explicações científicas advindas de conceitos, explicações procedimentais e explanações teóricas, com o uso de símbolos e termos específicos inerentes à área da biotecnologia, considerando que pesquisas similares na área do ensino e aprendizagem deste tema, demonstram que o conhecimento biotecnológico apresenta categorias hierárquicas, de acordo com o grau de complexidade e organização funcional: o nível macroscópico, que inclui os produtos biotecnológicos, como óleos, plantas e fermento; o nível microscópico, que inclui

os aspectos celulares ou teciduais (processos celulares); e o nível molecular ou

simbólico, que inclui os modelos de estruturas ou processos biotecnológicos (como

a estrutura do DNA, RNA, ação de enzimas de restrição e eletroforese) (WU, 2003).

O modelo proposto aqui concorda com os pressupostos de uma evolução de níveis de formulação conceitual, onde, a partir de conceitos mais prévios, os aprendizes são capazes de permear diferentes patamares de integração do conceito que está sendo construído, o que contribui para a elucidação do caminho trilhado pelo aprendiz durante a construção de certo conceito. Além disso, o instrumento permite identificar as relações sígnicas possíveis estabelecidas entre os domínios interpretativos, que tendem a crescer e ramificar-se, como em um processo de semiose.

No documento TÂNIA APARECIDA DA SILVA KLEIN (páginas 87-91)