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2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ELEMENTOS PARA REFLEXÕES SOBRE SUA

2.1. A idéia de política

O significado de política vem se transformando historicamente a partir da realidade social, recebendo, até em um mesmo momento histórico, diversos significados, em função da ausência de um consenso sobre o que seria e a que se limitaria a esfera política.

Neste sentido, é bastante relevante o preconceito do qual a esfera política padece ao longo da história, por ser comumente relacionada somente à política institucional e quase sempre ligada à corrupção, à usurpação do poder, ou mesmo por ser considerada um peso morto, algo distante, atividade da qual alguns devem se ocupar para que os outros possam estar livres para se dedicar à sua vida particular (ARENDT, 1972, 1998). Paradoxalmente, a política também pode ter seu significado esvaziado por ser utilizada excessivamente: muitos falam de uma inflação da política, onde tudo passa a ser político (MINOGUE, 1998). Considera-se, assim, imprescindível delimitar algumas linhas para que se evite que a política, ao significar tudo, passe a não significar nada (LEO MAAR, 1985).

Indiscutivelmente, o início da idéia de política se dá na Grécia. Derivada do adjetivo pólis (politkòs), que significa tudo aquilo que se referia à cidade, a política grega tem como berço a configuração democrática de Atenas. A ágora era o espaço de realização máxima da política, onde os homens livres, cidadãos, debatiam e persuadiam no processo de governar a cidade (LEO MAAR, 1982).

Pode-se dizer que os dois grandes pensadores da política grega são Platão (428/27 a.C.-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.). Platão acreditava que os filósofos seriam os portadores da sabedoria necessária para governar a cidade, e que através do “domínio” da razão estabeleceriam as “normas” a serem seguidas (ARENDT, 1972), o que não correspondia aos ideais democráticos gregos (LEO MAAR, 1985). Para Aristóteles, a sociedade política seria natural e anterior ao indivíduo, e subordinaria as atividades que teriam

fins particulares (navegação, lazer, etc.), pois visava uma utilidade geral e duradoura que envolvia a felicidade do coletivo, da pólis (BOBBIO, 1997).

Com o Império Romano, a vida política passa a se referir somente ao Estado, à esfera institucional, mudando progressivamente seu foco das “coisas públicas” (res publica) para o aparelhamento do Estado segundo interesses privados (LEO MAAR, 1985).

Maquiavel (1469-1527) é considerado fundador do pensamento político moderno. O pensador de Florença traz uma distinção entre governo e Estado, afirmando que “qualquer um” poderia assumir o poder, assumir o Estado, desde que seguisse determinadas “regras”, demonstrando a virtú necessária para tanto (BOBBIO, 1987).

No pensamento de Marx (1818-1883), o universo político seria o momento superestrutural da sociedade, e juntamente com o universo ideológico seriam determinados pela esfera econômica – estrutural (BOBBIO, 1997). O Estado seria o “resultado” de uma sociedade desigual, onde a classe dominante necessitaria de um aparato coercitivo (o próprio Estado) para manter-se no poder. O Estado seria extinto quando se alcançasse o ideal de uma sociedade sem classes – socialista.

Marx não se questiona sobre como se tornar um governante, mas sim, como passar de classe dominada à classe dominante, ou melhor, como extinguir a sociedade de classes. A atividade política para Marx está atrelada “[à]s relações entre as classes, a lógica do capital e a força de trabalho”, diferentemente de Maquiavel, por exemplo, onde a atividade política tem a ver com as regras das relações entre governantes e governados (LEO MAAR, 1985, p. 43).

Esta idéia marxista foi fértil contemporaneamente, já que a referência à direita ou à esquerda política não remete imediatamente a escolhas ou posicionamentos sobre um tipo de governo, autoritário, democrático, totalitário, mas sim ao capitalismo e ao socialismo.

Contemporaneamente, pode-se abordar as contribuições de Arendt e Bobbio sobre a idéia de política.

Hannah Arendt (1906-1975) destaca principalmente as questões da liberdade, da ação e da pluralidade ao tratar da esfera política. A liberdade, para esta autora, não se identifica com o livre-arbítrio, ou seja, à possibilidade de escolher entre uma coisa ou outra; para Arendt, a liberdade é fazer coisas, dar inícios, transformar o mundo das coisas humanas, com palavras e feitos. E essa liberdade somente se daria na ação com outros homens livres; de acordo com a autora, o homem só se torna livre no momento em que age. E estes homens são livres quando não atrelados às necessidades. Era necessário, assim, um espaço público, onde os homens, através da ação, realizariam sua liberdade na transformação da sociedade e produziriam continuamente a esfera do governo da cidade, pois a política é um produto da ação (ARENDT, 1972). A pluralidade é a base da política, já que se trata da convivência entre os diferentes (ARENDT, 1998).

Norberto Bobbio (1909-2004), ao discutir a política, a define como “atividade ou práxis humana” que está ligada ao poder de um homem sobre outro, que se define na relação governante/governando, comando/obediência, etc. (BOBBIO, 2000, pp.160-161).

No sentido de delimitar claramente a esfera da política, Bobbio (2000) distingue a esfera política e social, caracterizando a esfera política como relacionada à “organização do poder coativo” e a social como restrita as relações econômicas e espirituais. Bobbio (2000, pp.172-173), ao abordar a possibilidade do fim da política, deixa ainda mais claro seu entendimento, ao afirmar que este não seria o fim da organização social, mas o fim da necessidade de uma “organização social que se sustenta no uso exclusivo do poder coativo”.

O autor ainda ressalta que a política não possui nenhum fim pré-determinado, ou seja, não é possível caracterizar determinada atividade como política a partir do fim a que ela se propõe, mas somente pelo meio através do qual ela alcança esses fins. O meio utilizado pela política seria a força. Os únicos fins que podem ser atrelados marginalmente à política são “a

ordem pública nas relações internas e a defesa da integridade nacional nas relações de um Estado com os outros Estados”. (BOBBIO, 2000, p.167).

Cabe assinalar brevemente que a política assume num contexto pós-moderno um reposicionamento das esferas pública e privada, delegando ao indivíduo um papel político relevante, e questionando radicalmente os limites da política (CARVALHO, 2001a, p.383).

Se já havia dificuldade em dar contornos à esfera política, a perspectiva pós-moderna pode pulverizar qualquer esperança nesse sentido, sendo inclusive “acusada”, por vezes, de acabar com o âmbito público-político. Torna-se evidente que, na ausência de consensos, devemos nos aportar em alguns referenciais que nos baseiem na conceituação dada à política.

Dentro deste quadro geral da idéia de política, ressalto que, enquanto atividade humana, a política se refere ao coletivo, ao espaço da cidade, da polis, à forma como os homens coletivamente, através das relações de poder, produzem determinado modo de viver em sociedade. Esta relação com o poder nem sempre é entendida como violência ou em uma relação de subordinação, mas como algo que possa vir a ser compartilhado. A pluralidade, os conflitos, as diferenças são o solo da atividade política.

2. 2. Questão ambiental como questão política

A natureza é um bem comum. Todos precisam e têm direito a estabelecer relações com a natureza no sentido de realizar suas necessidades materiais, simbólicas, etc, estando o ambiente saudável e o acesso a ele intimamente ligados às possibilidades de qualidade de vida.