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IDADE DAS ESCRAVIZADAS COMERCIALIZADAS NA PROVÍNCIA DA PARAHYBA ANO QUANTIDADE PORCENTAGEM

0-14 15-39 40> N.C 0-14 15-39 40> N.C 1857 10 23 4 17 18,50% 42,60% 7,40% 31,50% 1859 2 17 8 2 6,90% 58,60% 27,60% 6,90% 1865 8 29 8 0 17,80% 64,40% 17,80% 0,00% 1868 9 13 1 0 39,10% 56,50% 4,40% 0,00% 1869 10 28 9 0 21,30% 59,60% 19,10% 0% 1870 12 15 6 2 34,30% 42,80% 17,20% 5,70% 1875 12 17 11 0 30,00% 42,00% 27,50% 0,00% 1880 5 16 8 0 17,20% 55,20% 27,60% 0% 1881 5 16 2 0 21,70% 69,50% 8,80% 0,00% 1882 2 13 2 0 11,70% 76,60% 11,70% 0,00% Total 75 187 59 21 22,00% 54,70% 17,20% 6,10%

outubro de 1865, a cativa Josefá, de 45 anos foi vendida por Henrique José Pacheco d' Aragão para D. Adriana do Rosário Neves pelo valor de 850$00075. No mesmo ano, Primo Pacheco Borges vendeu para João Francisco de Albuquerque Maranhão, a escravizada Delfina de 12 anos, por 800$00076. Diante desses casos, foi possível perceber que Josefa foi vendida com o preço maior do que Delfina, mesmo tendo 45 anos de idade. Percebeu-se, então, que as escravizadas mais velhas eram compradas por escolha dos(as) comprador(as), e não por terem um menor valor. Tais interesses podem estar relacionados à procura por escravizadas que podiam auxiliar em serviços domésticos, mas também para trabalhar no comércio, como quitandeiras, ajudando financeiramente a(o) seu(sua) senhor(a).

O vendedor de Delfina, Primo Pacheco, foi um importante negociante da província. Nos jornais paraibanos, o mesmo aparece como dono de escritório e de armazém, e comercializando barris de pólvora, madeiras, e instrumentos ligados ao processamento de açúcar e de algodão77. Em nossa pesquisa em jornais não foi encontrada menção sobre compra ou venda de escravizados(as) por Primo Pacheco, no entanto, foi encontrado nos livros de meia sisa o comerciante ora vendendo, ora comprando pessoas escravizadas, o que nos leva a supor que também poderia ser um negociante de cativos(as), mesmo que apensas dentro da província da Paraíba, haja vista que encontramos registros de comercialização em seu nome nos livros de despacho de escravizados(as) para outra província. Mesmo após sua morte em 1882, seus herdeiros confirmaram em anúncio do Jornal da Parahyba, a“continuação da casa comercial,

‘gyrando em todos os ramos de negocio’, 14 de março de 1882”78. Acreditou-se que a data no

anúncio, 14 de março de 1882, foi o dia em que os herdeiros escreveram a notícia para o jornal, que a publicou apenas no dia 22 de março, tendo ocorrido a morte de Primo Pacheco dias antes. Além disso, encontrou-se a compra da cativa Joaquina, de 14 anos de idade, no nome de Primo Pacheco, no dia 15 de março de 1882, ou seja, após sua morte79. Assim, ou tal transação foi registrada posteriormente a finalização do negócio, ou os herdeiros de Primo Pacheco ainda estavam realizando algumas negociações em nome do pai, pelo menos a princípio.

Já em 1883 o anúncio de fuga do cativo Jacob, pertencente a Joaquim Martins de Carvalho e Irmão, no distrito de Pedras de Fogo, alerta que caso o cativo fugitivo fosse encontrado na capital da província, o mesmo deveria ser entregue no “armazem de Primo

75 Livro de Meia Sisa – 1865. APMA. 76 Livro de Meia Sisa – 1865. APMA.

77 Consta em variadas edições do jornal O Publicador, no ano de 1864. Disponível em <http://hemerotecadigital.bn.br>. Acesso em: 03 abr. 2016.

78Jornal da Parahyba, 22 de março de 1882, p. 3, IHGP. 79 Livro de Meia Sisa, 1882, artigo 10. APMA.

Pacheco Borges e Filho”80. Tal possibilidade à primeira vista pode parecer indicar apenas uma ligação entre o dono do escravizado fugitivo e os donos do Armazém Primo Pacheco Borges e Filhos, como numa rede de sociabilidade ou solidariedade dos senhores. No entanto, pode-se pensar também num laço profissional. Teriam os herdeiros de Primo Pacheco vendido o cativo fugitivo para Joaquim Martins de Carvalho e Irmão? Será que o armazém do finado Primo Pacheco era local costumeiro de negociações de cativos? E de capitães do mato com fugitivos? Apesar de não sabermos a resposta para esse caso, as informações vistas até aqui nos indicam que os herdeiros de Primo Pacheco não só continuaram a desenvolver as atividades comerciais do seu pai vendendo mercadorias ligadas ao processamento do algodão e açúcar e outros, como também deram continuidade ao comércio de pessoas escravizadas. O certo é que muitos interesses estavam em jogo, mesmo numa época em que a escravidão estava em desagregação, ou seja, em crise, e que era condenada moral e economicamente por muitas pessoas, inclusive de elite, os herdeiros de Primo Pacheco parecem ter prosseguido com os “negócios da escravidão”.

Nessa comercialização, apesar de, a princípio, não ser um fator fundamental essencial na compra e venda de cativos(as), acreditou-se que perceber a origem étnico-racial/cor das escravizadas é importante para traçar o perfil das cativas que estavam sendo vendidas no interior da província da Paraíba. Assim, o quadro 7 aponta que na maioria das negociações, nada constava a respeito dessa informação (74,70 %). A ausência dessa informação pode nos sugerir que a descrição das características físicas das pessoas escravizadas não fosse tão exigida quanto o sexo, uma vez que, os dados mais importantes num registro de imposto poderiam ser o sexo, o valor da meia sisa e o preço de cada pessoa escravizada comercializada.

Quadro 7: Origem racial/cor das escravizadas comercializadas (1857-1882)

MNA= Números Absolutos, % = Porcentagem.

Fonte: Livros de meia sisa da província da Paraíba do Norte. Anos :1857-1882. Acervo: APMA.

O quadro 7 também nos mostra que, seguido dos registros em que nada consta, tem-se “crioula”, ou seja, a primeira geração de africanos, em 9,0% dos dados as escravizadas comercializadas eram crioulas. As cativas de cor “mulata” seguem com 5,5%, “parda” com 4,4%, “cabra” com 2,6%, “fula” e “angola” com 1% cada. Interessante perceber a mestiçagem na província da Paraíba através dos dados obtidos. Acerca da cor parda, que indica ser uma pessoa mestiça, no grupo das pessoas escravizadas. O “crioulos” com maior representação, apontam a descendência de escravizados(as) africanos(as) na província.

Destaca-se a presença de uma escravizada africana, da qual foi registrada como “Angola”, trata-se de Maria, com idade e vendedor(a) não informado, que foi vendida juntamente com Joaquim, também “Angola” e com idade não informada. Ambos foram vendidos para Joaquim da Silva Coêlho em quatro de julho de 1857, por um valor de 601$000, sendo pago 12$020 de imposto81. Nesse caso pode-se nos questionar sobre a falta do dado referente a idade da africana e do africano. Como já foi mencionado, essa ausência pode ocorrer devido à desatenção de quem escrevia o registro, mas também pode ter sido intencional. Pode- se pensar na possibilidade de que quem escreveu o registro tenha optado por não informar a idade de Maria e Joaquim, pois, essa poderia indicar que os africanos tivessem chegado ao Brasil após 1831 ou pós 1850 sendo portando, escravizados ilegalmente.

Em relação ao preço das escravizadas, a historiografia afirma que as mesmas tinham valor inferior aos dos homens escravizados. De acordo com Mattoso (1982, p. 86), “o sexo é

81 Livro de Meia Sisa, 1857, artigo 29. APMA.

ORIGEM ÉTNICO-RACIAL DAS CATIVAS