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Idade e Preconceito

No documento V ELHICE: A DUPLA ESTIGMATIZAÇÃO (páginas 132-136)

Quando questionados sobre a existência de preconceito em decorrência da orientação sexual e se os mesmo já haviam sofrido este tipo de situação obtivemos os seguintes relatos:

“Nunca ninguém me chamou de bicha velha, não saio com pessoas que só fazem sexo por dinheiro”. (Hermes)

“Tem, e velho com velho também. De um velho gostar de outro velho, o idoso ta num ambiente começa de repente a paquera um outro idoso, ele fala: “a vamos sair daqui, tem muito velho aqui dentro”. [...] tem, essa expresses sempre existiram, bicha velha, “será que a bicha velha não se enxerga” não da no couro. Ta vendo aquela bicha louca, vamos sair daqui si não ela vai começar a encher o saco da gente. (bicha velha) Isso é pejorativo, é negativa, justamente é uma questão de educação”. (Hefestos) “Já sim, isso é falta de respeito, os espanhóis tratam as pessoas entendidas de marica, mas mesmo lá no pedaço (Vieira), você sente as pessoas que gostam da gente (velhos) e as pessoas que não gostam.[...] A velhice é vista pelas pessoas com sendo algo negativo, que a pessoa não pode fazer mais nada, a pessoa já ta cansada, a pessoa não tem mais entusiasmo para viver. [...].”

“(Preconceito) É maior, porque a pessoa vai disser, puxa no pejorativo: “uma bicha velha dessa fica com essa safadeza, não sei o que”. A gente vê muito disso, as pessoas descriminam uma pessoa de idade [...] Então eu acho assim: “há essa bicha velha”, não, eu acho uma baixaria muito grande, falta de respeito, a pessoa não imagina que possa ser um velho também.” (Dionísio) “olha há preconceito assim quando homossexual deixa de ter a sua higiene, porque têm muitos homossexuais idosos o “R” é um, se você falar pra ele “troca de roupa” ele fica o mês inteiro, a semana inteira, o ano inteiro com aquela camiseta por baixo, então eu acho que há preconceito quando falta higiene [...] antigamente havia mais preconceito com respeito a homossexuais idosos do que hoje, lá pelos anos 70. Já não queria se relacionar muito já mantinha distância.” (Poseidon)

“Pior ainda, porque ai chama de velho esclerosado, mas não somos esclerosados, nem pensamos. No Brasil a pessoa se aposenta esperando a morte e não é isso a vida, a vida é vida. A gente continua vivendo, mas isso passou pra nós assim, com: “é uma bicha velha”. [...]. Os jovens olham pra os homossexuais mais velhos e acham que a gente não tem mais nada. [...] Eles (jovens) se acham superior a nós. Eu acho que eles não acreditam que vão chegar à velhice. [...].” (Apolo)

“se tem um determinado grupo de homossexuais idosos, 40, 50,60 anos, é lógico que um grupo de jovens não querer está ali, eles querem está.” (Dionísio )

“entre nós tem essa diferença, essa separação [...],Você vai no bailão, você vê as bichas porinhas loucas, velhas, todas cheias de frescuras, de bonezinho, uma pulsão de coisas que não tem nada, falam fininho. São arrogantes, são pretensiosos, são neuróticos e nos não somos.” (Apolo)

Os entrevistados afirmaram não terem sido vitimas desse tipo de situação; para Poseidon, a sociedade age de maneira dissimulada, ao tratar

as pessoas de maneira cordial e educada. Poseidon afirmou que já deve ter sido vitima desse tipo de situação, mas que não atentou para o fato.

Para Eros, Hefestos, Hermes e Apolo, este preconceito é decorrente da atitude dos próprios homossexuais; são eles os culpados, pois têm posturas inadequadas, como a demonstração pública do afeto. Entendem que isto deve permanecer na esfera privada. Sua principal critica recai sobre os homossexuais que portam algum símbolo ou trejeitos, expressões do gênero feminino; são estes que desmoralizam os homossexuais.

“Esse negocio também de ficar de mãozinha dada, pra lá, pra cá, eu acho terrível. Não falo nada contra, porque cada um é cada um, tem que saber de si. [...] Fica de mãozinha dada dentro de casa, quando chegar em casa beija, abraça.” (Eros)

Os mesmos lembram que não sofreram preconceito por serem discretos e não afrontarem a sociedade. Dos depoimentos o que mais chamou a atenção foi à fala de Apolo quando se referiu ao fato ocorrido na Praça da Republica, na década de 90, quando um jovem foi assassinato por um grupo de Skinreds:

“aqui não, você não vai passear, porque senão, você vai ser linchado perfeitamente, como mataram um cara, que eu acho também, que ele fez um absurdo, passear às 02 horas da manhã em plena Praça da República, de mãozinhas dadas. Tinha que ser linchado mesmo, porque você não tem o direito de afrontar a sociedade, nossa sociedade é machista.” (Apolo)

Para Dionísio, cabe aos próprios indivíduos reagirem a essa situação, não abaixando a cabeça. Porém, preconceito entre os próprios homossexuais.

“[...] há entre os próprios, a própria pessoa cria preconceito [...]eu acho assim se todo mundo tivesse o meu ponto de vista de olhar enfrente e nunca baixar a cabeça, eu acho que não existiria isso[...].” (Dionísio)

Poseidon lembra que os próprios homossexuais idosos são preconceituosos quando vivem na sombra do outros.

“[...] o preconceito é do próprio idoso, do próprio homossexual. Eu tenho amigos, tem gente que vai no bailão, entra escondido, vai lá manda o outro comprar o ingresso pra não ficar na fila, pra que isso? [...].” (Poseidon)

Os sujeitos buscam a resposta ao preconceito no próprio meio homossexual. Cito três falas:

“Encher de traveco, mas travestir, mas pessoa discreta não.”

(Hermes)

“O que estraga o homossexualismo é essa meninada que querem aparecer, essa meninada se fosse um pouco mais discreta, o pessoal respeitava um pouco mais o homossexualismo. Então eles acham que todo mundo é igual, então é isso que depõe contra homossexualismo”. (Hefestos)

“Não, porque nunca ostentei nada; se você sai de casa com um salto alto deste tamanho, todo pintado [...]” (Apolo)

Além disso, nenhum dos seis homens afirmou ter sofrido atitudes preconceituosas por causa da sua idade; mas lembram que já presenciaram situações deste tipo elas acontecem até mesmo entre os homossexuais idosos. Isto porque muitos idosos preferem sair com jovens. Normalmente, a atitude de jovens em relação aos velhos é de distanciamento. Apolo lembra que eles se sentem superiores em relação aos velhos.

Trevisan lembra que:

Na verdade, as relativas facilidades culturais e a brandura da punição legal permitem, no Brasil, uma prática homossexual sem obrigatoriedade de se identificar a um novo grupo divergente e visível [...] Além do mais considerando que o Brasil tem consigo mesmo, é evidente que o fenômeno da invisibilidade acontece como tentativa de contornar um estigma social. (2000, p.

No documento V ELHICE: A DUPLA ESTIGMATIZAÇÃO (páginas 132-136)