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Iniciamos com um breve apanhado histórico, contextualizando o período que acima citamos. Procuraremos perceber qual a situação política, econômica, social e religiosa da Europa, com destaque para a realidade espanhola, porque a história da América ainda não havia iniciado para a história oficial e iniciará apenas no momento da chegada das caravelas. Não é nossa intenção sermos exaustivos, mas apenas situar- nos.231

2.1.1 – Situação mundial

Os séculos XV e XVI caracterizam-se por fortes tensões, pois com a queda de Constantinopla, em 1453, inicia um novo período histórico: termina a Idade Média e inicia a Idade Moderna. A transição nunca é pacífica: a nova Idade inicia sobre as cinzas da anterior. Toda transição dá-se no conflito, onde haverá derrotados e vencedores. Os derrotados da Idade Média serão os senhores feudais, bem como toda a estrutura feudal. O poder passa às mãos dos reis e burgueses, que introduzem o mercantilismo como solução dos grandes problemas que se apresentavam. O mercantilismo, por sua vez, tinha duas grandes preocupações: acumular metais preciosos e a manutenção de uma balança comercial favorável. Para a segunda preocupação, centralizam-se forças na produção interna, na redução das importações e na busca de novas colônias para delas trazer riquezas que pudessem suprir as necessidades internas.

As novas colônias acabavam, pois, por transformarem toda a metrópole: forneciam muitas riquezas, geravam crescimento e concentração nas cidades, aumentavam o poder de alguns e marginalizavam muitos outros que não podiam dar-se o luxo de apossar-se das riquezas. Verifica-se uma discriminação social muito maior que a ocorrida no feudalismo; há uma enorme expansão do comércio e uma redução do comércio com regiões vizinhas, como as cidades italianas; fato importante, também, é que a modernidade gerou o espantoso reaparecimento da escravidão em massa como meio de produção nas colônias.

O poder do rei cresce e começam a surgir as monarquias nacionais. A exemplo da França e da Inglaterra, a Espanha luta por sua unificação. Esta luta pela unificação nacional dispende muitos recursos, o que empobrece a Espanha. A luta que trava contra os muçulmanos, também chamados mouros ou sarracenos, dura séculos, pois desde o ano 711 os muçulmanos estão presentes na Península Ibérica. Somente em 1492, os espanhóis conseguem expulsar os últimos muçulmanos de Granada e, assim, consolidar a plena unificação. Esta expulsão ocorre exatamente no ano da invasão das ( 2:-*^ / 2 "L 2 = >, - $ " ! " " ( ( : " " % % " " " " ! L L 6 67 4* 87 , 6 -7)C ," " " " "% % + ! ? ( ! $ " ' (= 3-7 ," " ." M " " 5 1 ! $ " e '" = , -*3 $ " 4-+ f ! g= * + < $ " " " 0(= 3-73* //* ) * -* 37 8 # + 8 @ AAA & ! $ " " " 00= , -7 8 # ) " . < B < 6 8 7 "! 0

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Índias.Os Reis Católicos governam a Espanha de 1474 a 1516. Seguem-se os Imperadores Carlos V (1519-1556) e Filipe II (1556-1598).

Extingue-se o feudalismo, instala-se o mercantilismo, gerando muitos excluídos neste novo modelo econômico. Mas as transformações não param aí: ressurge com muita força a literatura e a arte clássica; os grandes inventos, principalmente no campo da navegação, traçam novos rumos para a história. Esta época prima por grande nomes: Guttenberg, Nicolau Copérnico, Maquiavel e Galileu Galilei.

2.1.2 – Situação eclesial

A realidade eclesial também não é diferente. Nela, o momento é de mudança e de tensão. A cristandade medieval entra na sua derradeira crise e, se no período da cristandade o Papa detém o poder absoluto, na Idade Média, o poder papal e eclesial entram em declínio e, por isso, apresenta-se de forma autoritária e violenta. Já o Concílio de Constança (1414-1418) tentou reduzir o poder do Papa ao afirmar a supremacia do Concílio sobre o Papa. O poder supremo do Papa coloca-se em questão dentro e fora da Igreja. Este poder tenta afirmar-se a partir da violência, violência esta vista como legítima, portanto, boa. E quando sai dos limites, procura-se escondê-la. É o tempo da Inquisição, que executa milhares de pessoas por motivos mais diversos, mas sempre porque não se permitia nenhuma diferença de pensamento ou de concepção. Joana D’Arc, Savonarola são nomes conhecidos que perderam a vida na Inquisição. Galileu Galilei teve que se retratar para não perder a vida. Da mesma forma que na astronomia, a terra deixava de ser o centro, a Idade Moderna troca o centro do poder: do Papa para os Reis nacionalistas. A própria cultura vai deixando seu centro, desligando-se da religião. A Inquisição é uma reação eclesial para garantir a posse absoluta do poder.232

A situação interna da Igreja é terrível: Papas estão mais interessados na arte que na pastoral; Bispos têm como centro as riquezas e estão distantes do povo; o clero, totalmente sem formação, provoca os mais diversos escândalos; em crise estão as Ordens Religiosas. E tudo isso ficará muito evidente naqueles que chegam às Índias, como veremos mais adiante. Podemos perguntar-nos: e o povo? A história oficial pouco fala do povo, pois sua história está baseada nos que detém o poder econômico, político e religioso: papas, reis e imperadores, senhores feudais e burgueses. Mas podemos imaginar que o povo se encontre totalmente sem rumo, “como ovelhas sem pastor” (Mt 9, 36); e com muito medo, pois pratica-se a religião do terror, mas é também um povo ( ," '" &" D " " " M ' E '" ! E ! ! ' " ' " ' % ! ' " ' !"! ! " % < % " ! 6 b ' !" " " *!"! ,<! " !" ! ; & '" M ! "' " !"! ! L"!" ! + " L !" % " D " ! ; " "! ; ! ' # L ' ' #YJ ' " " * *% K" " " ! ' ; " ' " + # L A " & " 7 " ' " L '" " " "A$ " ! & " ! " ' M ! ' # " " "A$ ' "!" " " L !" 3 L ," '" &" "A" # "! ' " " L ! D 'E' ! ! " *% K" ! ' !" & " ) " '" D 'E' 1 E ! "? " " ' " " " ! " " # " " < L " ' " "% L EL !" " # " ! L " * "! "; " ! + 3 " " ! D 'E' ! ! < L< ' L '" !" <= ? " ! ! ! L ! ! ! " " L ! '" # " *% K" < ' ' " ! ! * < " ' " " " % ! " D ! ! ! L ! % ! " " ! " M ! "! " ! " = '? " '" E % !" ' " !"! ! "' ' " !" *% K"; "! "! < " < % L "! !" *% K" !" " " # " " 6 $ % L "! ! "! ' #YJ ' " $ ! " " " L ! " ' A$ ' M '" " ! " ' " = !? 7 " % % " ! " "' " ! " *% K" < ! '"!" ' ' " ' " !"! ' % ! $ " ! " " ! ' " ! " L"A$ " % " " " " ' ' " %" '" ' " L" "AP " W " % ! ! E ' M ' " *% K" "'" " '&" " >) 7G7 ," '" &" ! 2 < $ " " " 0 ; = ' " < ) ) 3-* < 8 3 ! 0 ?

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com muita sede de Deus. Esta sede será muito evidente quando, na Reforma Protestante, boa parte da Europa deixa o catolicismo e assume o protestantismo.

Dentro da Igreja surge um grande homem que quer a renovação da Igreja e a volta à proposta original: Martinho Lutero. Por ser uma pessoa radical, não teve a compreensão da hierarquia, que logo viu-o como inimigo e tratou de combatê-lo, o que levou ao cisma entre protestantes e católicos que dividiu a Europa. A Igreja católica reage contra tudo isso e convoca o Concílio de Trento (1555-1559). Sem dúvida, Trento foi um dos maiores Concílios da Igreja, apesar de muito tumultuado por causa da confusão interna que reinava na Igreja, pelas intromissões do Imperador que queria um diálogo mais aprofundado com os protestantes, enquanto o Papa apenas pensava em combatê-los, pela incerteza que reinava no campo eclesial. O Concílio, apesar de tudo isso, conseguiu atingir dois grandes objetivos: definir os dogmas católicos contra os erros luteranos e dar início à reforma eclesiástica. E a estrutura eclesial concebida nesta Concílio pouco difere da atual estrutura da Igreja católica.233

É a partir destas circunstâncias que a América nasce para a história oficial. Sem estar integrada a esta história, a América nasce sofrendo todas as conseqüências dela decorrentes. Sem ser responsável por nada do que acontecia, atrai sobre si tudo o que é pior: a cobiça dos invasores e uma evangelização fundamentada num poder decadente.