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5. OS SABORES E OS DISSABORES DA MIGRAÇÃO AO JAPÃO

5.1. A identidade dos dekasseguis

Ao se discutir sobre a questão da identidade dos nikkeis, sentimos a necessidade de nos reportarmos à reflexão sobre qual seria sua nacionalidade. Rossini, comenta que:

(...) embora sejam de ascendência japonesa, não são muito aceitos pela sociedade local por não terem os mesmos hábitos e por não falarem a língua. São considerados estrangeiros no Brasil por serem de ascendência nipônica e são também entendidos como estrangeiros no Japão por não terem nascido lá. No fundo são autênticos desenraizados.

(ROSSINI, 1995, p. 28) No entanto, esta é uma questão que só pode ser assim compreendida no momento em que se verifica um certo preconceito à população nipônica do Brasil, uma vez que estes são brasileiros de origem japonesa, ou seja, possuem uma ascendência de uma população de outro país, assim como a maior parte da população brasileira já que este é um país habitado por povos de diversas etnias.

Ainda existe uma discussão se esta seria uma migração de retorno, mas esta só pode ser assim compreendida se avaliarmos que a terra dos dekasseguis é o Japão. Assim como comenta Sasaki:

Podemos pensar numa possibilidade de um duplo retorno nesta mesma migração, isto é, o dekassegui teria dois homelands como referência, que talvez perceba em momentos diferentes na experiência migratória. Num primeiro momento, antes de partir, o país de destino é pensado pelo dekassegui como a terra de seus ancestrais e, em algum lugar no seu imaginário, ele tem um sentimento de pertencimento em relação ao Japão, bem como a possibilidade do mito do retorno à sua origem étnica. Mas, num segundo momento, quando ele chega no Japão e, mesmo sendo um japonês radicado no Brasil (ou um descendente), percebe-se como um estrangeiro. Nesse caso, o país de origem (ou o homeland) é o Brasil.

(SASAKI, 1995, p. 590) Porém, compreendemos que esta é uma característica própria de todas migrações internacionais realizadas por descendentes de outros países, sejam eles japoneses, espanhóis, italianos etc. A imigração de trabalho portanto, enfrenta a

carência de não possuir um lugar para fixar suas raízes, uma migração imposta pelo mercado e que remete o migrante a um sentimento de nostalgia de sua terra natal, porém, estes se encontram impossibilitados de retorno imediato pela dificuldade de acesso ao mercado de trabalho em seus países de origem.

O retorno é naturalmente o desejo e o sonho de todos os imigrantes, é como recuperar a visão, a luz que falta ao cego, mas, como cego, eles sabem que esta é uma operação impossível. Só lhes resta, então, refugiarem-se numa intranqüila nostalgia ou saudade da terra.

(SAYAD, 2000, p.11) Percebemos assim, que a partida para o Japão nem sempre ocorre de forma tranqüila para os dekasseguis, mas impulsionados pela questão salarial, os nikkeis se aventuram, nesta migração, dispostos a enfrentar todo tipo de conseqüências. Mas, sabemos que esta migração acontece com um caráter temporário e, pensando nos benefícios financeiros que eles podem acumular com alguns anos de trabalho no Japão, os dekasseguis se entregam também aos possíveis dissabores que terão de enfrentar com a sua partida. Martins, sobre a condição de migrante temporário comenta que:

É temporário, na verdade, aquele imigrante que se considera a si mesmo ‘fora de casa’, fora do lugar’, ausente, mesmo quando, em termos demográficos, tenha migrado definitivamente. É aquele que se considera fora de seu lugar, fora de ‘suas relações sociais’, e q ue, no limite, não se considera dentro, mesmo quando está. Se a ausência é o núcleo da consciência do migrante temporário, é porque ele não cumpriu e não encerrou o processo de migração, com seus dois momentos extremos e excludentes: a dessocialização, nas relações sociais de origem, e a ressocialização, nas relações sociais de adoção. Ele se mantém, pois,na duplicidade de duas estruturas de relações sociais diversas entre si. Ele vive a marginalidade de duas situações sociais.

(MARTINS, 1986, p.49) Desta forma, podemos analisar que os dekasseguis não possuem um problema de identidade, já que são brasileiros, o que ocorre é que como eles migram para o Japão e permanecem lá por muito tempo, têm de se adaptar àquele país e tentar viver da melhor maneira possível. Mas sabem (ou pelos menos, sonham com isto) que por mais tempo que permaneçam naquele país, é para o Brasil que retornarão e viverão o resto de suas vidas. Neste sentido, podemos pensar que os nikkeis somente migram

por completo (e assumem a postura de japoneses), quando começam a compreender o Japão enquanto seu país e lá pretendem solidificar suas relações.

A migração será definitiva quando a festa também migrar. Quando o reencontro destes dois momentos se der no mesmo espaço e a festa sair do seu ciclo cósmico e entrar no ciclo linear do descanso semanal remunerado, do cinema, do futebol.

(MARTINS, 1986, p. 61) Compreendemos, portanto, que o dekassegui, é um migrante temporário e que é nesta condição que querem permanecer no Japão, pois sonham com o retorno à sua pátria onde lá realizarão seus sonhos. Asari e Yoshioka afirmam que:

Enfim, os dekasseguis são homens do mundo, que se movimentam aos sabores das necessidades econômicas dos países, isto é, com a globalização do mercado de trabalho e a acentuada desigualdade regional que ora se verifica, tornam as migrações, predominantemente, temporárias e aos migrantes cabe o papel de trabalhadores que vivenciam um movimento pendular internacional.

(ASARI e YOSHIOKA 1996, p.10) Percebemos então que o migrante, e em especial os migrantes internacionais, se deslocam de acordo com as regras impostas pelo capital, ou seja, eles buscam melhores oportunidades em terras desconhecidas as quais lhes abrem o mercado para vender sua força de trabalho, seja esta realizada de forma clandestina como é o caso dos migrantes que vão à região dos EUA, ou legalizada como é o caso dos

dekasseguis no Japão.

Assim, compreendemos que os dekasseguis, são trabalhadores brasileiros que partem para o Japão em busca de rendimentos que lhes possibilite a realização de seus sonhos no Brasil de uma forma mais rápida e que este fato é possibilitado pelas mudanças ocorridas no mercado de trabalho capitalista.