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4. A MIGRAÇÃO AO JAPÃO

4.5. A presença brasileira no Japão

4.5.3. A adaptação ao Japão

4.5.3.1. Os alojamentos

Quando chegam no Japão, os dekasseguis são levados aos alojamentos das empreiteiras. Estes, em geral, são pequenos e divididos com mais pessoas. No entanto, os dekasseguis podem optar por alugar apartamentos por conta própria,arcando, portanto, com despesas maiores, já que os preços dos aluguéis de moradias locadas pelas empreiteiras, em geral, são irrisórios considerando o salário que recebem naquele país. Geralmente, quem aluga apartamentos por conta própria são casais, ou famílias que não estão dispostas a dividir sua casa com pessoas estranhas. Um entrevistado nos conta como eram as condições de moradia no Japão.

Nós morávamos num apartamento pequeno, porque no Japão tudo é pequeno, apartamento de quarto, sala, cozinha e banheiro, pagava 700 dólares. Naquela época você não tinha muita opção, ou você alugava por conta própria, ou você se sujeitava a morar no apartamento da empreiteira. Mas na segunda vez eu fiquei no alojamento da empreiteira, porque daí eu já não estava preocupado com o luxo, porque eu fui sozinho, e vinha descontado do salário - uns 300 dólares, bem mais barato, mas era menor também.

(D. N., sansei, 37 anos – esteve duas vezes no Japão sendo que a primeira vez levou a esposa e os filhos e na segunda viajou sozinho)

Foto 3. Exemplo de alojamento mantido por empreiteira. Shiga-Ken – Japão.

A tabela a seguir nos informa os tipos de moradias alugadas pelos nikkeis no Japão.

Tabela 18. Tipos de moradias no Japão

Tipos de moradias Entrevistados Percentual Alojamento das fábricas ou da empreiteira 17 36,17

Apartamento alugado pela empreiteira 16 34,04

Apartamento alugado por conta própria 7 14,89

Hospital 5 10,64

Contêiner 1 2,13

Carro 1 2,13

Total* 47 100,00

*Ressaltamos que a soma é superior ao número de entrevistados pelo fato de alguns terem realizado mais de uma migração ou por terem mudado de emprego e arrumado outra forma de moradia.

Fonte: Pesquisa de campo, Londrina-PR, 2002

Constatamos, com as entrevistas, que existem várias formas de se alugar um imóvel no Japão, no entanto, 72,2% destes são alugados por intermédio da empreiteira a qual desconta do salário dos dekasseguis o valor do aluguel e das despesas com água, luz e gás. A opção de se dividir o apartamento com mais pessoas ajuda a minimizar os gastos que se tem no Japão uma vez que os dekasseguis se encontram naquele país almejando uma poupança. Com uma matéria sobre a divisão de quartos no Japão, o jornal Nippo Brasil, colabora com os fatos evidenciados na pesquisa:

Vivendo no país com o custo de vida mais caro do mundo e com a economia em queda livre, muitos brasileiros estão revendo a lista de gastos domésticos. Um dos itens que mais compromete o orçamento é o aluguel, que consome, em muitos casos, 40% do salário, principalmente feminino. "Só tinha dinheiro para as despesas", queixa-se Edna Sakamoto, 27, de Iwata (Shizuoka), que decidiu dividir o apartamento, alugado por conta própria, com mais duas amigas, transformando em uma espécie de república. Com isto, sobra um extra para o lazer e mandar dinheiro ao filho no Brasil

(Jornal Nippo Brasil, edição 155) Podemos observar, também, que cinco pessoas trabalharam em hospitais ou como acompanhantes de idosos e doentes; nestes casos, os trabalhadores acabam dormindo no hospital ou residindo na casa das pessoas que os contrataram, no entanto, quando o contrato é finalizado ou quando gozam de férias, permanecem no alojamento da empreiteira até arrumarem novos empregos ou retornarem das férias.

Ainda podemos analisar dois fatos isolados: o primeiro de uma pessoa que vivia dentro de um contêiner; este entrevistado relatou que esta forma alojamento era muito comum no Japão, uma vez que lá, os espaços são muito pequenos:

Eu morei num contêiner, só que era térreo, e tinha mais ou menos dois e meio por sete, por 2,5 de altura, era uma casa-conteinêr. Isto é comum porque moradia no Japão é um problema E a empreiteira para resolver este problema, como eles já mexiam com pré- moldados, era fácil, então ela fez vários e morava ou casal, ou no máximo dois. Eu tinha um companheiro, tinha um quarto, lavanderia e cozinha, tudo junto, a única divisão era o banheiro. Eu fiquei bem acomodado, porque mesmo sendo um contêiner era todo equipado, com ar condicionado, porque a região era muito fria, e era novo, água quente, chuveiro, tudo.

(S. O., nissei, 48 anos) A outra situação foi a de um entrevistado que morou dentro de seu carro porque estava passando por um período de crise, havia perdido o emprego e não tinha como pagar aluguel, e a solução que encontrou foi a de dormir dentro do carro, em lugares tranqüilos e tomava banho na lavanderia.

Assim entendemos que:

A moradia, em particular, traz ao trabalhador brasileiro, experiências de várias ordens: desde as instalações físicas, as regras de convivência até as relações informais. Em geral, os brasileiros vivem em bairros periféricos das cidades, onde predominam moradias em condições bastante precárias devido aos preços inferiores dos aluguéis, e convivem com moradores geralmente arredios e estrangeiros.

(KAWAMURA, 1999, p. 151) Este novo estilo de vida a que o nikkei se submete só se torna aceitável pelo fato de estarem no Japão numa condição de trabalhador temporário, ou seja, estes sabem que terão de passar por algumas mudanças na sua concepção de moradia tendo de se adaptar aos padrões japoneses (vide foto 4) e, às vezes, admitindo perder sua privacidade para poderem economizar mais. Klagsbrunn, sobre este fato, afirma que:

É o mesmo espírito de tudo sacrificar, por pouco tempo, que leva os imigrantes a aceitarem empregos que os naturais não aceitam e a viver sob condições muito precárias, dividindo espaço com muitos companheiros em quartos apertados de pensões ou em apartamentos minúsculos.

Foto 4. Exemplo de apartamento alugado por dekassegui. Ibaraki-ken - Japão

Autor: A. P. C. Tukazaki, 1997.

Assim, percebemos, que a condição de moradia é mais uma das situações a que os dekasseguis precisam se adaptar, uma vez que estão acostumados com os padrões de casas brasileiras, que em geral são mais espaçosas.