• Nenhum resultado encontrado

Conforme já foi abordado na introdução do capítulo, são muitas e variadas as abordagens sobre identidade, e se desenvolvem a partir de um conceito que envolve a dimensão individual e coletiva. Entre os muitos estudiosos da área, Berger e Luckmann (2005, p. 230) colocam que: “a identidade é um fenômeno que deriva da dialética entre um indivíduo e a sociedade”. Ou seja, a identidade é o resultado das diversas interações entre o indivíduo e o seu ambiente social, próximo ou distante. Na perspectiva dos autores, a identidade social é caracterizada pelo conjunto de suas vinculações em um sistema social: vinculado a uma classe sexual, a uma classe de idade, a uma classe social, a uma nação etc. É a identidade que

dá condições ao indivíduo de se localizar em um sistema social e de ser localizado socialmente.

A identidade também se “constitui como uma categoria de atribuição de significados específicos a tipos de pessoas em relação umas com as outras [...]” (BRANDÃO, 1990, p. 10). O autor reforça a ideia do condicionamento da identidade pessoal em relação às expectativas que o grupo social estabelece para com seu portador.

A formação e conservação das identidades, de acordo com Berger e Luckmann (2005), são condicionadas por processos sociais determinados pelas estruturas sociais, por isso, a identidade social não diz respeito apenas aos indivíduos, mas também aos grupos – todo grupo apresenta uma identidade que está de acordo com a sua definição social, que o situa no conjunto social. Dessa forma, a identidade social pode ser ao mesmo tempo inclusão e exclusão. É inclusão porque só fazem parte do grupo aqueles que são idênticos sob certo ponto de vista. É exclusão porque, sob o mesmo ponto de vista, são diferentes de outros.

A construção da identidade é realizada dentro dos contextos sociais, os quais determinam a posição dos agentes, orientando suas representações e escolhas. Sua construção é dotada de eficácia social e produz efeitos sociais reais. A identidade é uma construção elaborada numa relação que opõe um grupo aos outros grupos com os quais está em contato e é um modo de categorização utilizado para organizar suas trocas.

Castells (1999), em sua contribuição mais recente, chama a atenção para o fato de que é nas condições do mundo globalizado que “as pessoas resistem ao processo de individualização e atomização, tendendo a agrupar-se em organizações comunitárias que, ao longo do tempo, geram um sentimento de pertença e, em última análise, em muitos casos, uma identidade cultural, comunal”. (CASTELLS, 1999, p. 79). O autor acredita que, por meio de processos de mobilização social e da participação em movimentos em que defendem interesses em comum, as pessoas participam de uma dinâmica de fortalecimento de identidades.

Tal pensamento encontra reforço em Hall quando ele afirma que: “o fortalecimento de identidades locais pode ser visto na forte reação defensiva daqueles membros dos grupos étnicos dominantes que se sentem ameaçados pela presença de outras culturas” (HALL, 2006, p. 85).

No mundo atual, na visão de Castells,

as comunidades são construídas a partir dos interesses e anseios de seus membros, o que faz delas fontes específicas de identidades. Essas identidades podem nascer da intenção em manter o status quo, ou de resistir aos processos dominantes e às efemeridades do mundo globalizado, ou ainda de buscar a transformação da estrutura social. Em todas elas existem processos de identidade, objetivos e interesses em comum, a participação em prol deste objetivo, o sentimento de pertença, oriundo da identidade em questão (CASTELLS 1999, p. 84).

É possível que nas contribuições de Castells (1999) e Hall (2006) encontrem- se elementos que permitam entender a questão das identidades e os processos comunitários. Para os Estudos Culturais, o fenômeno da identidade se estabelece no constante processo histórico das relações e interações sociais e na ativa construção da nossa história, bem como a sua efetiva influência nos nossos modos de ser, ver e pensar o mundo.

Os conceitos de Identidade Social e Memória, bem como do Jornalismo Comunitário e suas áreas de domínio e de interação traçam as relações entre passado e memória, imbricados com a constituição de memória e da Identidade Social. Trazem para a cena o Jornalismo como prática social e como atividade, explicitando os gêneros jornalísticos, conteúdo essencial para posterior desenvolvimento da análise. Ancoram o conteúdo trabalhado, Moscovici (1978), Guareschi e Jovchelovitch (1997), Duveen (apud MOSCOVICI, 2004), Jodelet (2002), Pollak (1992), Halbwachs (1990), Castells (2000), Lopes (In: RIBEIRO; PEREIRA, 2007), Melo (2003), Medina (1978), Piza (2003), Kossoy (apud BRAGANÇA; MOREIRA, 2005), Berger (In: BRAGANÇA; MOREIRA, 2005), Castilho (2011), Guareschi (2004), Peruzzo (2002), Chauí (2003), Benjamin (1993), entre outros.

Conforme Pollak (1992), a memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletivo, construído no conjunto pelas experiências e vivências, do indivíduo e de seu grupo. E, são esses os elementos responsáveis pelo estabelecimento dos laços afetivos entre as pessoas. A memória pode ser submetida a transformações constantes, transmite a cultura local herdada e é constituída por acontecimentos vividos socialmente. Para o autor, a memória é seletiva, pois nem todos os fatos ficam registrados e os indivíduos só têm recordações dos momentos a que dão importância e que, por alguma razão, ficaram

marcados subjetivamente. Parte das lembranças também pode ser herdada dos acontecimentos relacionados aos antepassados como, por exemplo, quando os sujeitos contam as experiências vividas por seus pais e avós.

Ainda na perspectiva de Pollak (1992), os acontecimentos históricos são auxiliares na nossa memória; não desempenham outro papel, senão as divisões do tempo assinaladas em relógio ou determinadas pelo calendário. É o que se percebe nos conteúdos do jornal comunitário em estudo. Um indivíduo, para lembrar seu passado, tem que se remeter às lembranças dos outros, que se constituem em pontos de referência onde estão fixados pela sociedade. Desta forma, a memória coletiva envolve sentimentos de pertença e identidade, já que ela é sempre dependente das interações e dos grupos sociais.

As fontes iconográficas são importantes na linguagem jornalística, pois na perspectiva de Kossoy (In: BRAGAÇA; MOREIRA, 2005, p. 50), “dentre as diferentes formas de informação transmitidas pela mídia, as imagens, em geral, se constituem num dos sustentáculos da memória”.

Lima (2012, p. 145) afirma que:

Quando se fala em memória, estamos trabalhando com pessoas, representações sociais, tempos, espaços, significados, valores culturais, sentimentos individuais e coletivos. Essas memórias sejam individualizadas e/ou coletivas constituem e organizam a história juntamente com as práticas culturais de um determinado local, construindo suas identificações conforme as relações com o outro.

A memória, para Le Goff (2003), é expressa de forma tanto individual quanto coletiva. Cada sujeito revela uma subjetividade, manifestada tanto em alguma coisa representativa do passado quanto a partir do momento em que suas lembranças e experiências são compartilhadas pelos diferentes grupos sociais, quando a memória se torna coletiva. É então que a memória contribui para sejam apropriados saberes estabelecidos por experiências de grupos sociais.

Assim, por meio do referencial teórico estudado, pode-se inferir que a memória é uma construção social, produzida pelos homens e grupos sociais a partir de suas relações, de seus valores e de suas experiências vividas. A história dos indivíduos toma um novo rumo, que sofre transformações à medida que o tempo passa, em função do que se pode dizer que a memória não é apenas um registro histórico dos fatos, mas uma combinação de construções sociais passadas, com

fatores da vida social do presente que se tornam significativos e, portanto, está sendo permanentemente reconstruída, a memória é viva.