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Identificação da temática do retorno ou ainda sobre o fluxo e o refluxo

No documento edimodealmeidapereira (páginas 182-200)

5 COLONIALISMO, PÓS-COLONIALISMO E DINÂMICAS DO RETORNO NO

5.3 Identificação da temática do retorno ou ainda sobre o fluxo e o refluxo

Podendo ser considerada uma das linhas de investigação do presente trabalho, senão o mote inicial para as indagações e pesquisas que dele fazem parte, a temática do retorno, que também poderíamos identificar como uma dinâmica do fluxo e do refluxo de identidades culturais, apresenta-se de modo multifacetado nas narrativas da trilogia Alma da África.

No universo das experiências diaspóricas, conforme discutido em capítulos anteriores, o desejo de uma volta ao solo de origem aparece sob a perspectiva do retorno redentor para o ex-escravizado, inclusive o ex-escravizado que permanece vivendo no Brasil, que se vê liberto – seja por fuga, por expulsão, ou por alforria – em condições de se aventurar pelos caminhos de retomada da vida na terra natal. Esse é o foco narrativo, acrescentado dos processos de reconstrução/construção

identitária, apresentado e desenvolvido por Antonio Olinto no romance A casa da água.89

Por outro lado, é também o tema do retorno que orienta as linhas de O rei de Keto. Não o retorno/refluxo redentor de identidades negras diaspóricas a que alude Stuart Hall em sua obra Da diáspora: identidades e mediações culturais, consoante discussões por nós desenvolvidas nos Capítulos 3 e 4 dessa investigação, mas o retorno ao projeto individual e compromissado da personagem Abionan, mercadora itinerante, determinada em dar à luz o alaketo ou o futuro monarca do reino de Keto. Além disso, de certa maneira, O rei de Keto é ainda a narrativa de retorno às antigas tradições culturais de uma África a que Aduké, a mãe de Abionan, encontra-se vinculada, impedida – por interdito da tradição – de conhecer o mar.

No que respeita ao romance Trono de vidro, significativas configurações daquilo que aqui denominamos dinâmica do retorno podem ser identificadas a partir de elementos que vão desde as estratégias narrativas para a tessitura de um liame entre os romances até a abordagem de aspectos teóricos a propósito da experiência diaspórica vivenciada por muitos dos intelectuais oriundos das ex-colônias europeias, os quais vieram a se tornar importantes nomes no âmbito dos Estudos Multiculturais.

Nesse sentido, a narrativa inscrita em Trono de vidro tem início a partir da manifestação do desejo de Mariana em retornar da França em direção ao seu país de origem, o Zorei, com o intuito de ingressar na carreira política, ato que assinala, igualmente, a volta da família Silva à vida pública, que fora interrompida em razão do atentado fatal à existência do personagem Sebastian Silva, pai de Mariana e presidente daquele país. Tais aspectos são assim relatados pelo narrador olintiano, preenchendo com simbolismos o instante do reencontro entre a jovem Mariana e a velha Mariana, como podemos verificar no trecho que se segue.

89

Tratando dos movimentos de retorno à África, Richard David Ralston (2010, Vol. VII, p. 876) assinala que “(...) o retorno de milhares de negros brasileiros para a África ocidental, pelo menos até a abolição oficial da escravatura no Brasil (1888), também suscitou importantes interações. A competência técnica e comercial, bem como as aspirações políticas dos afro‑brasileiros que se reinstalaram em suas terras de origem ou próximas, na Nigéria, Daomé (atual Benim), Togo e Costa do Ouro (atual Gana), tiveram aparentemente grandes repercussões sobre a situação social, econômica e politica desses países. Talvez por não terem formado nessas regiões uma comunidade distinta de colonos – como se passou na Libéria –, os afro‑brasileiros perseguiram objetivos sociais e políticos que pouco se diferenciavam dos almejados pelos autóctones.”

(...) os olhos apertados, numa indagação direta, a jovem disse: – Quero voltar ao Zorei.

Fez uma pausa antes de acrescentar: – Com sua aprovação.

A velha Mariana pareceu não entender, a voz contudo soou clara:

– Para quê?

A outra deixou que a pergunta ficasse um pouco no ar, juntou as mãos e fixou os olhos nos olhos ainda apertados da avó:

– Recebi muitos apelos, de amigos, conhecidos e até de desconhecidos, pedindo-me que volte.

A mulher mais velha concentrou sua pergunta numa palavra: – Política?

Jamais conseguia responder à avó imediatamente após uma pergunta, como se tudo o que ela fosse dizer tivesse de ser pensado cuidadosamente, sem pressa, e a jovem passou mais de um minuto quieta, a avó parecia não dar importância à demora, esperava apenas que a outra continuasse.

– Política, sim, vó.

E foi como se tudo ficasse imediatamente resolvido, a angústia em que vivera antes de falar desaparecera, o mundo tinha seus caminhos inarredáveis, como se um acontecimento chamasse outro, a jovem Mariana imaginou ter ouvido a avó fazer um “hum” de aquiescência, mas devia ter sido imaginação, pois o que se ouvia era o barulho do mar que em certos dias chegava nítido ao sobrado, aumentava de tom e o vento vinha com ele, o mesmo vento que lhe batera nas pernas de menina quando o pai fora enterrado na areia e a avó dera um grito que passara a viver no corpo da menina e depois da moça, ouvira de novo o grito em várias ocasiões ou melhor sentira-o no peito, nos seios que naquele tempo ainda não existiam, (...) (OLINTO, 1987, p. 13-14).

A volta de Mariana ao país natal e o ingresso da jovem na carreira política representam o retorno à tradição e à militância inauguradas por seu pai. Ao longo de toda a narrativa, a personagem carregará a responsabilidade de ser filha do ex-presidente, responsável pela emancipação da antiga colônia francesa. Essas marcas aparecem em diversos momentos da trama, inclusive na denominação do movimento que culminará na candidatura política da personagem, qual seja, o “Sebastianismo”. Como sabemos, a história do Rei de Portugal, Dom Sebastião – o Desejado, remonta ao século XVI. O monarca desapareceu durante a Batalha de Alcácer Quibir, em 1578, sem que seu corpo tenha sequer sido encontrado. Tendo em vista que Portugal caíra, consequentemente, sob o domínio castelhano, após o desaparecimento do Desejado, o povo passou a nutrir a crença no mito messiânico de que o soberano retornará a Portugal para retomar seu lugar e para conduzir a

nação aos dias de glória a que sempre esteve divinamente predestinada. A essa crença, que perdura fortemente entre os portugueses até os dias de hoje, dá-se o nome de Sebastianismo. No romance em comento, Antonio Olinto trabalha a imagem do retorno heroico da jovem Mariana, associando-a à imagem do retorno messiânico do jovem Dom Sebastião. Assim sendo, o esperançoso retorno de Mariana como se fosse a Ilufemi (nome que corresponde à redução de Ilufemiloyê: “eles me querem para chefe”), a qual – consoante a noção corrente entre os organizadores da campanha política empreendida pela personagem – deverá promover a libertação de seu povo do jugo representado pela ação colonizadora europeia e pela ditadura de uma elite militarista instalada no fictício Estado do Zorei pós-independente, demonstra, com os devidos ajustes, os mesmos elementos que delineiam a crença no mito sebastianista. Todos esses aspectos aparecem, assim, inscritos nas seguintes linhas olintianas:

À noite apareceu Thomás da Silva, longo traje amarelo, filá marrom, queria saber se ela estava decidida a voltar, lembrou-se das palavras dele “você não é você apenas”, “peço para você assumir o espírito de seu pai”, e agora vinha pedir conformação, o país sofria e ele havia inventado um nome para o movimento que levaria Mariana à chefia de Zorei, o movimento se chamava sebastianismo, seria uma campanha sebastianista para a volta do espírito que presidira a presença do presidente Sebastian Silva.

– A moça terá de assumir a liderança de um movimento sebastianista em Zorei.

Tudo voltava, tudo se repetia e Mariana pensou nos estudos de assuntos portugueses e brasileiros que fizera em Paris e nas palavras de um professor do Rio de Janeiro, “toda civilização tem um Messias que todos esperam, um Messias que ainda não veio ou já veio, mas tem de voltar para melhorar a comunidade, e em Portugal o sebastianismo é o desejo de que Dom Sebastião, o rei morto na batalha de Alcacequibir, volte para corrigir os males, condenar os maus e premiar os bons, é a base de um espírito messiânico e espiritualista que mantém muito país de pé”, e agora ela tomaria a frente de um novo sebastianismo capaz de melhorar sua terra e sua gente, (...) (OLINTO, 1987, p. 20).

Para além desses elementos, em Trono de vidro, podemos notar a configuração de uma era de retorno à narrativa do romance anterior, O rei de Keto, verificado na vivência do reencontro da jovem Mariana com a amiga Abionan e com os outros membros da família Silva.

Mariana foi ver a cruz de madeira do túmulo do pai que talvez devesse ter sido enterrado na terra que libertara, a avó fora contra dizendo que ali no areal, não muito longe da casa em que se criara e onde ela também seria enterrada ali é que ele devia estar, com o vento do mar batendo na cruz, e quando forte, jogando areia na madeira em que estava escrito apenas “Sebastian Silva, 10-10-1910 – 14-02-1968”, nem a palavra “Presidente” a avó quisera, nem trecho da Bíblia ou de qualquer livro, nem pedaço de reza, só o nome e as duas informações, quando nasceu, quando morreu, (...)

Mariana lembrou-se de seu amigo, um brasileiro de Paris, Adriano era da terra da avó, o lugar chamado Piau, vivia falando no Espírito Santo, padroeiro da igreja de lá, nela a velha Mariana fora batizada e, em menina, assistira a missa e festas, o padre continuara falando, repetia as palavras três dias, mencionava livros que podia ler nesse período, primeiro o do pai, editado havia poucos meses na França, Pensamento do Presidente Sebastian Silva,

(...)

Depois do padre, visitou Abionan, a amiga do mercado, que tivera um filho destinado a ser rei de Keto.

(...)

A jovem Mariana pensou nos parentes nigerianos, em Ainá, a tia médica, hoje com perto de oitenta anos, no tio Joseph, mais velho ainda, nos primos Adebayo, Alexandre, Augusto, (...) (OLINTO, 1987, p. 17-19).

Outro significativo retorno a ser considerado é aquele que se faz representado pela retomada do episódio da prisão por que passara Sebastian Silva no romance A casa da água, durante o período em que articulava um grupo interessado em promover a independência de seu país. Na narrativa de Trono de vidro, ocorre de igual maneira a prisão da jovem Mariana, que restará detida no mesmo prédio em que estivera preso o seu pai. Entretecendo esses dois pontos, Antonio Olinto aproxima e dá continuidade à narrativa, amalgamando os três romances que retratam o longo percurso iniciado pela ex-escravizada Catarina. Em ambos os episódios de prisão, cada um a seu tempo, será marcante a presença da velha Mariana, conforme podemos verificar nos seguintes trechos de A casa da água e de Trono de vidro, respectivamente:

Como saber os inimigos que uma pessoa tem?, não há necessidade de razão para inimizade, ó Xangô que tens o machado duplo da justiça não permitas que os inimigos de meu filho prevaleçam sobre ele, mas no dia seguinte Mariana soube que Sebastian fora preso pelos franceses, na mesma hora pegou o carro, atravessou a fronteira, encontrou Segui cercada de amigos, o

Professor Castelller dava uma explicação qualquer, deixou de falar quando viu Mariana, foi no meio de um grande silêncio que ela perguntou:

– Por que é que ele está preso? – Porque falou de independência.

Mariana sentou-se pensando, sentiu o silêncio da casa se prolongando pela cidade, Segui aproximou-se dela, beijou-lhe a mão, a voz da mulher mais velha era forte:

– Quero ver meu filho.

Saíram num grupo unido pela rua, diante do edifício em que Sebastian estava preso havia um soldado africano que, vendo tanta gente reunida, abriu uma porta e pareceu dizer qualquer coisa, um oficial branco veio para fora, parou a poucos metros dos que chegavam e esperou, enquanto Mariana avançava dizia:

– Quero ver meu filho Sebastian Silva que está aí dentro. O francês olhou para ela:

– Então, a senhora é a mãe? – Sou.

– Pois vai ter que pedir licença em outro lugar porque aqui ninguém tem autoridade para permitir que o preso seja visitado.

Segui adiantou-se, pegou Mariana por um braço, puxou-a para trás, dizendo:

– Não adianta.

O grupo voltou, homens e mulheres começaram a gritar ao mesmo tempo, havia opiniões sobre o que se devia fazer, o melhor seria uma comissão procurar o governador na manhã seguinte, Mariana quase não falou, quando todos se retiraram entrou no quarto, esperou que o silêncio caísse sobre as coisas, depois saiu, atravessou a cidade quieta, sentou-se num banco da praça que ficava em frente à prisão, botou as mãos no colo e deixou que o tempo passasse, começou a pensar no que ouvira, a independência, muitos acharam que Sebastian se precipitara, ainda não era hora disso, os mais jovens tinham concordado com o filho, quanto mais cedo melhor, Mariana se sentiu ligada àquele chão, estava na África há tempo suficiente para saber que suas imagens eram daquelas terras, tornara-se africana antes de tudo, (...), todas as imagens se concentraram na espera, uma quase felicidade ia tomando conta de cada pedaço das pernas, depois do ventre, do peito, dos ombros, do pescoço, e a cabeça permaneceu virada para a porta da prisão, (...), a luz da manhã começava a bater nas paredes quando o oficial branco saiu da casa, viu a mulher sentada, aproximou-se:

– Que está fazendo aí?

– Esperando para falar com meu filho.

– Eu já disse que tem de arranjar licença de cima. – Eu espero (OLINTO, 1988, p. 311-313).

(...) Ali Haddad surgira com olhos de quem fora acordado naquele instante, a velha perguntara:

– Onde está a menina?

– Presa naquela prisão que os franceses tinham na praça. – A mesma?

O outro não entendeu, a velha mandara o carro seguir, a iluminação não estava melhor do que a de antigamente, Ali viera correndo, apontara:

– Aquele edifício.

O mesmo, as coisas bem antigas voltavam com facilidade à lembrança, era a mesma prisão em que os franceses haviam posto Sebastian, ela passara dias naquele jardim até que soltaram o filho, agora escolheu um ponto no centro da praça e disse:

– Uma cadeira.

Tudo voltava, como se o corpo também voltasse a ter mais força, apareceu a cadeira, tinha braços fortes, sentou-se e dormiu, Bernadette notou que as mãos de vez em quando lhe tremiam, cobriu a velha com um xale grande, a noite avançava e gente começava a chegar, ao surgir a manhã havia perto de cinquenta pessoas cercando a mulher sentada, o corpo largado, o sol nascera e o silêncio continuava, quando Mariana acordou a multidão estava muito maior, ao passar os olhos pelos rostos ao redor vira que voltava aos tempos da luta do filho, a praça pouco mudara, o edifício da prisão estava com paredes sem pintura, mas fachada e janelas eram as mesmas, Jorge Haddad viera caminhando, um copo de leite quente na mão, era como se o filho Sebastian fosse aparecer de repente, depois de tomar o leite, pôs os olhos na prisão e não mexeu mais, Bernadette abriu um guarda-sol grande sobre ela, por volta do meio-dia um ruído mais forte saiu da multidão, como um longo suspiro, o povo enchia todos os espaços até a entrada do palácio, um oficial de farda impecável, rosto firme, duas marcas na testa, abriu o portão e atravessou o aglomerado de gente, aproximou-se do lugar de Mariana:

– O que está acontecendo aqui?

Então já Thomás, Joseph, Georm, Gaston, Ayodelê e o grupo todo que viera acompanhando a jovem Mariana montava guarda à velha Mariana, Joseph Adelajá respondera apontando a mulher sentada:

– É a avó de Ilufemi, a que está presa. – Avó?

Ficara sem saber o que fazer, olhara para a multidão, afastara-se dizendo:

– Não quero confusão na praça.

Pouco depois a porta principal da prisão se abriu e dela saiu outro oficial, chegou perto e perguntou, a ninguém em particular:

– O que é que ela quer? Georm:

– Libertar a neta (OLINTO, 1987, p. 168-170).

É necessário considerarmos, além disso, o retorno à história do pai de Mariana, Sebastian Silva, como estratégia narrativa não apenas de retomada e de estabelecimento de ligações com os romances anteriores mas também como forma de abordagem de aspectos teóricos em torno da experiência diaspórica, de ocorrência tipicamente pós-colonialista, igualmente vivenciada por jovens

intelectuais das ex-colônias europeias por todo o mundo. À mesma maneira de Sebastian Silva, Mariana perfaz o percurso desde a Nigéria para estudar na Europa e ao voltar, procura aplicar os conhecimentos adquiridos na metrópole – assim como os conhecimentos sobre a agenda colonialista metropolitana – para guiar os rumos da história de sua nação, agora, uma ex-colônia francesa.

Cabe, nesse momento, um merecido destaque aos pensamentos de Sebastian Silva com relação ao seu contato com a cultura francesa. Esse ponto de vista revelado pelo migrante africano em terras francesas aparece no romance A casa da água, sobretudo nas cartas que são enviadas pelo jovem estudante à mãe, Mariana Silva. Outrossim, será necessário levarmos em conta o pensamento que o africano intelectualizado retornado à terra natal explicita a respeito de seu próprio país e a propósito do modo de ser de sua gente, aspecto que é trabalhado por Antonio Olinto por intermédio dos escritos de Sebastian Silva, revelados no romance O rei de Keto, no episódio em que a jovem Mariana (a neta) se mostra resolvida em publicar um livro com os pensamentos de seu pai, livro a que chamará Pensamento do Presidente Sebastian Silva. Com efeito, na referida passagem, Mariana lê para os amigos, Abionan, a mercadora, Victor Ajayi, o escultor, e o padre da cidade de Keto, os cadernos do pai Sebastian Silva – que mais tarde dariam origem ao mencionado livro – nos quais estavam inscritas reflexões e ideias a respeito de variados temas, dentre os quais, a política colonial praticada pela Europa em detrimento da África, os regimes políticos totalitários e democráticos, a visão de mundo do africano, externadas em posicionamentos como os seguintes: “A política, tal como a concebem e executam os europeus, é uma atividade eminentemente desonesta: promove a injustiça, admite a calúnia, estimula a mentira e em muitos momentos aprova crimes de morte.”; “A diferença entre o regime democrático e o totalitário é que o primeiro, mesmo quando politicamente desonesto, dispõe de instituições que têm força para lutar em favor de um mínimo de respeito aos direitos humanos básicos. No segundo, a tese da única solução certa, às vezes a da ‘solução final’ para qualquer problema, aceita como dogma pelo partido no poder, não admite que possa existir indivíduo e opinião diferente. Como ele não pode existir, como terá qualquer direito humano?”; “Para o africano em geral, a política é um meio talvez ainda primitivo de prover às necessidades diárias de comida, bebida, casa e proteção contra o mau tempo, as pragas, os animais ferozes e contra outros homens que sejam inimigos da comunidade em que vive. Talvez seja por isto que as

sociedades africanas aceitem em geral, acatem e aplaudam, os homens fortes e ricos, os corajosos e os bem-falantes, que surgem como capazes de garantir essas necessidades imediatas.”; “O africano não dança: ele é a dança. O africano não esculpe uma figura de madeira: ele é a figura que esculpe.”; “O africano que esculpe uma figura de madeira faz-se a si mesmo. Fazendo-se, descobre-se. Descobrindo-se, chega ao ser.”; “Até o revolucionário europeu pode ser colonialista em relação à África e a regiões onde a Europa teve colônias. No fundo, para qualquer europeu, somos todos crianças na África, na América Latina e na Ásia, não sabemos o que fazemos, e é preciso que a Europa nos ensine o caminho.” (OLINTO, 2007, p.161-163).

Constatamos que, nos pensamentos externados pelo personagem Sebastian Silva, outrossim, é-nos possível verificar a preocupação com a real configuração e com a afirmação de uma identidade africana que se faça capaz de se descobrir e de alcançar a efetiva existência enquanto sujeito (“O africano não dança: ele é a dança. O africano não esculpe uma figura de madeira: ele é a figura que esculpe.”; “O africano que esculpe uma figura de madeira faz-se a si mesmo. Fazendo-se, descobre-se. Descobrindo-se, chega ao ser.”). Também podemos observar a presença de uma visão crítica a propósito do modo equivocado – ou seja, sem o devido interesse e engajamento – como a política pode ser genericamente encarada pelos africanos enquanto instância fomentadora de práticas de clientelismo e de subserviência dos menos favorecidos em relação aos ricos e poderosos e de

No documento edimodealmeidapereira (páginas 182-200)