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Capítulo II Apresentação do estudo: As Relações Interpessoais (professor/criança e

1. Motivação para o estudo

1.1. Identificação do problema e objetivos da investigação

O tema da investigação que nos propomos desenvolver visa dar resposta à seguinte questão problema: Será que na relação que se estabelece entre professor/criança e criança/criança o comportamento gera comportamento?

Para dar resposta a esta questão delinearam-se os seguintes objetivos:

1. Analisar as perceções das crianças sobre as práticas educativas dos professores; 2. Analisar as perceções dos professores sobre as suas práticas educativas;

3. Diagnosticar comportamentos disruptivos em contexto educativo;

4. Compreender de que forma o comportamento interfere nas relações interpessoais.

Para tal, concebemos um quadro conceptual que num primeiro momento foca, de forma objetiva, o enquadramento teórico relativo às relações interpessoais (professor/criança e criança/criança), a sua importância, os fatores que influenciam essas relações em contexto de sala de aula e a influência que o comportamento poderá ter na construção das relações interpessoais. Aliamos o comportamento às relações

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interpessoais, uma vez que é da relação entre estas duas variáveis que pretendemos obter resposta à questão-problema.

2. Relações Interpessoais

Segundo Fachada (2003), existem fatores que determinam os diferentes tipos de relações. Do meio onde as pessoas estão inseridas bem como as experiências quotidianas depende o tipo de relações que as pessoas estabelecem entre si. Aliás, para Santos (2014), poucas são as tarefas, situações ou profissões que não envolvam relações interpessoais, dado que, diariamente, estamos em contato com outras pessoas nas mais variadíssimas situações do quotidiano.

Partindo desta ideia, Fachada (2003) refere que em cada contexto de vida particular, seja na vivência entre familiares, na escola, na comunidade ou no local de trabalho, verifica-se um conteúdo de relação interpessoal específico. No seio familiar predominarão conteúdos de carater mais pessoal, em que os indivíduos tendem a falar de si e das suas vivências. No grupo de amigos os conteúdos incidem sobre os interesses, valores, as crenças e as necessidades de cada um. Já no contexto de trabalho os conteúdos da relação interpessoal são os que se relacionam com as condições, o ritmo e as tarefas profissionais.

Se os contextos de vida diferem de pessoa para pessoa também os papéis que cada um desempenha são diferentes e determinam as relações interpessoais. Barbosa (2000) define papel como “o tipo de atuação pedido ou esperado do indivíduo que ocupa uma certa posição no sistema de relações” (p.74). A mesma pessoa pode desempenhar o papel de pai, de filho, de chefe, entre outros. Obviamente que o que carateriza a relação com o seu filho não é o mesmo que carateriza a relação com os seus funcionários, enquanto chefe.

O interlocutor é outro fator que determina o tipo de relação, uma vez que todos nós possuímos determinadas caraterísticas, valores, conhecimentos e atitudes. São estas informações que constroem a nossa personalidade e que nós damos a conhecer ao outro, com quem queremos estabelecer relação, para que este se consiga orientar. De acordo com aquilo que conhecemos do nosso interlocutor escolhemos os conteúdos e a forma de os comunicar, pois é importante ter em conta o nível de desenvolvimento da compreensão de quem nos ouve. Assim, o tipo de relação que criamos com uma criança não é o mesmo que criamos com um adolescente ou adulto.

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Em casos que se enquadrem em parâmetros designados de normais, o nível etário acompanha sempre um nível de capacidade cognitiva. É através da evolução quer dum quer de outro que a experiência de relacionamento com os outros varia.

Na prática educativa, a relação interpessoal, ou relação pedagógica, que se estabelece entre adultos e crianças é fundamental.

De acordo com Alves (s/d) a trajetória das relações interpessoais, especialmente a relação pedagógica entre professor/criança, tem sido pautada pelo autoritarismo, “onde uma espécie de intranquilidade de um em relação ao outro (…) [compromete] um melhor rendimento no trabalho de ambos” (p.3).

Segundo Luiz (2014), citando vários autores, entre os quais Estrela (2002), entende-se por relação pedagógica

o contacto interpessoal [ou o conjunto de relações sociais] que se gera entre os intervenientes de uma situação pedagógica [por exemplo entre o educador e aqueles que educa] e o resultado desses contactos, relação essa que possui caraterísticas cognitivas e afetivas identificáveis (p.19).

Do ponto de vista de Estrela (2002), a relação pedagógica no seu sentido lato parte da definição acima referida e abrange todos os intervenientes desde professores, funcionários e pais. Já num sentido restrito abrange apenas a relação professor/criança e criança/criança dentro das situações pedagógicas.

No conceito de Meirieu (2002, cit. por Luiz, 2014), a relação pedagógica/educativa acontece quando existe disponibilidade do adulto para ir além da gestão que faz dos seus afetos para chegar a uma aventura recíproca, de partilha de saberes entre ele e a criança, em que os dois interagem e aprendem, sendo ambos valorizados e ativos no processo de aprendizagem.

Nesta perspetiva, a relação pedagógica estabelece-se no processo de construção do saber e “ao contrário de outras relações humanas, como a amizade ou o amor, não tem o propósito de se perenizar (…) ela é uma espécie de acordo temporário, o qual se esgota na realização do seu objetivo” (Cordeiro, s/d, p.69) que é garantir o acesso a um conjunto de saberes.

Ainda que as tentativas de definir relação pedagógica sejam muitas, pois cada autor define-a de forma diferente, o facto é que se verifica um consenso quando se afirma que a relação pedagógica é um elemento insubstituível no total desenvolvimento da criança uma vez que incentiva a confiança no outro e a sua autonomia, na exploração do mundo. Essas relações de confiança conduzirão ao desenvolvimento físico e ao

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equilíbrio emocional da criança. A relação pedagógica torna-se não só importante para o desenvolvimento pessoal e social da criança como também do professor, pois é na relação com o outro que a pessoa se constrói, se desenvolve e faz desenvolver.