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Capítulo II Apresentação do estudo: As Relações Interpessoais (professor/criança e

1. Motivação para o estudo

2.2. A turma como um espaço relacional

2.2.2. Importância do comportamento na relação interpessoal (professor/criança e

Antes de mais convém definir comportamento. Fachada (2003) define comportamento como tudo aquilo que o indivíduo faz e diz.

Nem todas as pessoas se comportam do mesmo modo nas mesmas situações, pois cada qual perceciona a realidade à sua maneira e segundo aquilo que perceciona tenta adaptar-se de modo a facilitar as relações interpessoais.

Segundo Monteiro (2007), a forma como nos comportamos perante os outros depende das primeiras impressões que formamos aquando do primeiro contato com os mesmos, atendendo às situações e aos contextos em que acontecem. É a partir dos primeiros contactos que se dá o processo de formação da perceção interpessoal “que nada mais é do que a forma como cada parceiro percebe o outro, ele mesmo e a interacção entre ambos” (Silva, 2011, p.29).

Na escola, mais propriamente na sala de aula, procede-se da mesma forma, uma vez que “as relações no interior da escola são afetadas pela natureza das relações na sociedade” (Postic, 2008, p.133). Como indivíduos inseridos numa sociedade, os nossos comportamentos acabam sempre por afetar positiva ou negativamente a relação que mantemos com os outros.

A relação que se estabelece entre professor/criança depende das opiniões que ambos constroem acerca do outro. Para Monteiro (2007), o professor tende a ter uma melhor relação com as crianças que considera “boas” do que com as crianças que considera “más”, sobre os quais adquire uma postura vigilante, controlo constante, crítica e diminuição do feedback positivo. Segundo Estrela (2002), quando falamos numa melhor relação, neste caso em particular, referimo-nos sobretudo a um discurso de proximidade. À partida, se o professor “não se liga” da mesma forma com todas as crianças é porque cria preconceitos e estereótipos oriundos das primeiras impressões, já referenciadas anteriormente.

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Segundo Jesus (2002), a categorização permite compreender e prever o comportamento do outro, conferindo estabilidade à relação de ambos dado que “o sujeito prevê aquilo com que pode contar da parte do outro, orientando os seus comportamentos para com ele em função dessa previsão” (p10).

Embora a categorização e as expetativas simplifiquem as relações interpessoais é necessário que sejam tidos em conta os efeitos negativos que causam. A categorização que o docente faz da criança adquire uma importância notória na história da sua relação, uma vez que “categorizar uma criança é recusar-lhe à partida o acesso a um outro estado para além daquele em que é encerrado; é, para o educador, desligar-se voluntária e definitivamente dela, é condená-la a resignar-se ou a revoltar-se” (Postic, 2008, p.115).

De acordo com Postic (2008), a relação entre professor/criança é afetada essencialmente por dois fatores: a presença ativa do grupo de colegas e pelo tipo de intervenção do professor, sendo influenciado por ambos. Ou seja, uma criança adquirirá determinado comportamento “tanto pelo que ela percebe dos seus colegas, como pelo que ela percebe do docente” (p.133). Quando observados os comportamentos do docente, dependendo do objetivo da sua intervenção, verificamos que são comportamentos regidos pelo estatuto da criança, pois Estrela (2002) afirma que “os professores têm comportamentos diferenciadores em relação às suas crianças” (p.72).

Postic (2008) dá-nos alguns exemplos que melhor nos farão compreender aquilo que acabamos de referir. Por exemplo, quando o professor faz uma pergunta difícil, o seu olhar recai logo sobre as melhores crianças. Quando se desloca na sala de aula para observar o trabalho das crianças, aproxima-se das crianças com piores resultados ou então quando durante uma aula se apercebe de conversas entre crianças coage imediatamente as crianças que considera mais barulhentas, mesmo que naquela situação possam ser outras a perturbar a aula. Nesta situação “a criança injustamente visada capta assim a imagem que dela tem o professor, sente-se um bode expiatório e passará a fazer o possível para justificar a fama que tem (…). A criança sente-se, portanto, etiquetada” (Estrela, 2002, p.72).

Estas são situações que reforçam as expetativas negativas do professor, não deixando dúvidas para as crianças visadas como para os seus colegas quanto ao mau conceito que o professor tem de si “e de que não deve alimentar esperanças de que a situação possa mudar” (ibidem, p.72).

O criança opta pelo modelo dos colegas ou pelo do professor consoante o estímulo que o docente oferece à criança ou consoante a idade e a pressão dos valores

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que são dos seus colegas. Contudo acredita-se que a criança se deixa influenciar mais rápido pelo julgamento dos colegas. Até aqueles que obtêm bons resultados muitas das vezes se afastam dos “objetivos académicos para adquirirem um prestígio junto dos colegas” (Postic, 2008, p.135), pois veem nos amigos uma forma de afirmar a sua independência.

Porém, segundo Leitão (2011), a influência que o grupo de colegas exerce sobre a criança poderá constituir um fator de risco, se esta passar a comportar-se de forma antissocial, comprometendo o desenvolvimento das relações interpessoais desejáveis.

Como salienta Luiz (2014) a postura do adulto, neste caso do professor, poderá ser para a criança o modelo a seguir, levando-a a reproduzir as ações e atitudes observadas. O adulto, ao ter consciência de que representa um modelo para a criança deve refletir e rever as suas atitudes e ações como profissional da educação, pois é muito frequente a imitação dos nossos atos pelas crianças.

Retomando a ideia de Leitão (2011), pelos processos de interação em sala de aula, cada criança, em certo momento, apercebe-se da importância que os outros lhe atribuem numa dada função. Se a criança é considerada lenta, ao aperceber-se que é isso que os outros pensam sobre ela, sobretudo o professor, vai apresentar um determinado comportamento que se verificará na forma como essa criança comunica com os outros.

Contudo, segundo Fachada (2003), todos os indivíduos devem adaptar-se, em termos comportamentais, àqueles com quem se relaciona. Existe a tendência para moldarmos os nossos comportamentos pelos procedimentos que nos parecem ser apropriados.