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Identificação e Classificação das Inovações sob a Perspectiva Setorial 90 

4  ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 71 

4.1  ANÁLISE INDIVIDUAL DOS CASOS (WITHIN CASE) 71 

4.1.2  POLICLÍNICA JAGUARIBE 89 

4.1.2.1  Identificação e Classificação das Inovações sob a Perspectiva Setorial 90 

Policlínica Jaguaribe é uma empresa de atendimento policlínico (o qual abrange diversas especialidades médicas), pertencente ao setor clínico de saúde, cujos serviços prestados são essencialmente direcionados ao atendimento, por meio de consultas clínicas e exames por som e imagem. A empresa possui um direcionamento focado em pessoas que

procuram seus serviços pela qualidade apresentada e preço acessível, e que, muitas vezes, são dependentes do sistema público de saúde para atendimento médico e exames, como informado pelo Entrevistado 1:

[...] a vantagem da policlínica é que atinge um público que não tem convênio, mas não tem muito dinheiro também. É um público de baixa renda, mas que tem o dinheiro para pagar uma consulta, já que a fila do Sistema Único de Saúde (SUS) é muito grande e demora-se para conseguir um atendimento, a exemplo, uma consulta que leva em torno 1 a 2 meses.

O setor de saúde pública tem se apresentado ineficiente quanto a sua prestação de serviços, sendo o público de baixa renda o maior prejudicado, pois, muitas vezes, depende unicamente do SUS, devido à condição financeira, que não permite a contratação de um plano de saúde.

De acordo com Schumpeter (1934), Abernathy e Clark (1985), Gopalakrishnan e Damanpour (1994), OCDE (2005), Tidd, Bessant e Pavitt (2008), Crossan e Apaydin (2010), considera-se que a Policlínica Jaguaribe representa uma melhoria dos serviços disponíveis no mercado, por meio da prestação ou comercialização, aparentemente, de qualidade superior aos já existentes, classificando-se como uma inovação de processo. Tal segmento atende a uma fatia do mercado cuja assistência prestada pelos órgãos de saúde públicos foge aos padrões do que pode ser considerado aceitável, devido a sua qualidade e morosidade no atendimento clínico e realização de exames.

A Policlínica Jaguaribe representa, de acordo com Schumpeter (1934), uma inovação de mercado . Apesar da existência de outras clínicas em sua proximidade, percebeu- se a existência de uma fatia de mercado que se encontrava desassistida, logo, buscou-se explorar uma oportunidade de mercadopor meio da instalação de um empreendimento do tipo.

Alinhado ao que é proposto por Prahalad e Hart (2002) e Prahalad e Hammond (2002) no que concerne à qualidade do serviço prestado, o fato de cobrar um preço mais acessível aos seus clientes não implica em ofertar um produto de característica inferior, como informado pelo Entrevistado 1:

[...] todos os nossos equipamentos são novos, equipamentos de ponta, eu sou proprietário dono de uma clínica particular, [...] os mesmos equipamentos que eu tenho na minha clínica particular são idênticos ao que eu tenho aqui na policlínica. Então nós pensamos em manter um nível de equipamento de primeira. O corpo médico são professores, médicos renomados que se dispõe a atender aqui e em seu consultório particular. Não é o fato de ser policlínica com preços mais baixos que vamos baixar o nível também.

De acordo com Prahalad e Hammond (2002), a lucratividade da empresa torna-se possível por meio da massiva quantidade de clientes que procuram seus serviços. Diariamente, a Policlínica Jaguaribe atende em média 300 clientes, conforme pôde ser constatado na observação in loco. Os valores variam entre 60 e 100 reais para os atendimentos clínicos, e entre 60 e 70 reais para os exames.

Os atributos do serviço prestado tornaram-se tão perceptíveis que, segundo os Entrevistados 1 e 2, mesmo a policlínica estando focada no público de baixa renda, pessoas de poder econômico mais elevado utilizam os serviços da empresa devido à qualidade. Afinal, como Prahalad e Hammond (2002) destacam, é por meio da qualidade percebida que se alcança o aumento do número de clientes.

Por outra perspectiva, baseando-se no que é proposto por Tidd, Bressant e Pavitt (2008), foi analisada a inovação da Policlínica Jaguaribe sob uma ótica de processos, níveis de componentes e a representação como algo novo para empresa ou para o mundo.

Nesse sentido, é possível perceber que a empresa adota melhorias no que se refere a seus processos por meio da utilização de equipamentos e profissionais que lhe conferem qualidade na prestação de serviço. Pode ser considerado uma inovação, de acordo com Dosi (1988) e OCDE (2005). No entanto, não significa algo novo para mercado. A diferença da empresa em relação aos seus concorrentes consiste na existência de outras especialidades, o que representa uma melhoria dos serviços que compõem o atendimento.

A luz da tipologia apresentada por Gallouj e Weinstein (1997), se comparadas às demais clínicas atuantes no mercado, a mesma foi responsável por uma inovação radical, vez que utiliza-se de novas competências, assim como foram modificadas características técnicas e finais, todavia mantendo-se serviço.

A inovação é passível de análise sob duas perspectivas que envolvem questões de mercado e competências, utilizando como base o que é proposto por Abernathy e Clark (1985) em seu Mapa de Transiliência.

É possível afirmar que, adotando as perceptivas mercadológicas e de competências, a Policlínica Jaguaribe se configura como uma inovação arquitetural, como observado na Figura 19:

Figura 19 – Posicionamento da Policlínica no Mapa de Transiliência

Fonte: Elaboração própria (2014)

De acordo com o Mapa de Transiliência proposto por Abernathy e Clark (1985), o eixo vertical representa como as inovações se apresentam para o mercado, em especial à criação ou não de novas relações com os clientes.

A Policlínica, no quesito mercadológico, foi responsável pela criação de novas relações com o mercado, direcionando seu atendimento a um público cujas condições financeiras não permitem ter acesso aos serviços de saúde com qualidade, dependendo muitas vezes do SUS. Logo, o seu direcionamento está voltado a uma fatia de clientes ainda pouco ou nada atendido (PRAHALAD; HAMMOND, 2002), o que significa a criação de novas ligações com o segmento da BP. No entanto, o fato da empresa ser uma policlínica e competir com clínicas já existentes no mercado não significa que está apenas replicando as práticas.

O segundo ponto a ser observado no Mapa de Transiliência dá-se em relação ao desenvolvimento de competências por meio de novas tecnologias ou formatos de produção, representados pelo eixo horizontal.

Ao analisar o negócio Policlínica, percebe-se que o mesmo desenvolve novas competências de atendimento ao público por meio da disponibilização de novas especialidades médicas, por meio da contratação de profissionais especializados em áreas ainda não exploradas e também do investimento em novas tecnologias presentes em equipamentos modernos.

em si, a Policlínica Jaguaribe apresenta um alinhamento ao que é proposto por Prahalad e Hart (2002) no que tange às estratégias de baixo preço para alcançar um público economicamente restrito. Para isso, foram desenvolvidas novas competências no que diz respeito ao atendimento clínico de diversas áreas médicas e prática de preços acessíveis pela consulta a ser realizada e a realização de exame. O atendimento se diferencia em qualidade daqueles já existentes no mercado, independentemente do seu público alvo. Dessa maneira, a Policlínica Jaguaribe está localizada no quadrante superior direito do Mapa de Transiliência.

Analisando-se as dimensões: desempenho, abrangência dos clientes e a disponibilidade dos serviços, bem como o impacto do modelo de negócio relacionado à lucratividade, é possível identificar o tipo de inovação, à luz de Christensen (2001), entre sustentadora, disruptiva de baixo ou novo mercado.

Inovações do tipo sustentadoras são caracterizadas por apresentarem desempenho e progressos tecnológicos que ultrapassam a capacidade de absorção por parte do mercado, não sendo tais características nitidamente percebidas ao longo da entrevista com a empresa em estudo. No serviço ofertado, mesmo estando a empresa voltada ao atendimento de pessoas da BP, existe uma convergência no que se refere ao desempenho e à expectativa dos seus clientes, pois a qualidade apresentada no atendimento clínico e exames representa um diferencial positivo, que por meio da inovação, de acordo com Vrakking (1990). Damanpour e Gopalakrishnan (2001) e Tidd, Bessant e Pavitt (2008), proporciona uma vantagem competitiva a mesma.

Apesar de não ser responsável pela abertura de um novo mercado, a empresa tem um direcionamento de seus serviços a uma fatia populacional cuja exigência é considerada inferior, se comparada às classes médias e altas, sendo composta por um público que apresenta condições financeiras restritas e que tem reduzida capacidade de acesso aos serviços. Entretanto, a Policlínica Jaguaribe utiliza profissionais conceituados no mercado e equipamentos de qualidade superior na prestação de serviços.

Considerando os serviços ofertados pela empresa, em se tratando de uma policlínica, caracterizada pela variedade na oferta de atendimentos clínicos e a prática de preços acessíveis ao consumidor de baixa renda, observa-se uma diferenciação das práticas comuns. Por exemplo, como informado pelo Entrevistado 2, nos exames de ultrassom a empresa disponibiliza as imagens em uma mídia digital (CD), prática esta que não é adotada pelas demais policlínicas. Logo, a empresa apresenta melhorias no que se refere ao seu atendimento, representando assim uma evolução de algo previamente existente.

Policlínica Jaguaribe. Não se caracteriza como algo revolucionário, mas sim serviços que envolvem menor complexidade e que são baratos. É ofertado pela empresa o atendimento clínico e a realização de exames, cobrando baixos preços, no entanto tais práticas não alteram a qualidade ou eficiência na prestação de serviço.

Em relação ao retorno financeiro esperado, observa-se que o preço cobrado pela empresa é relativamente inferior ao que é praticado normalmente por outros tipos de clínicas. Consequentemente, as margens individuais de lucro acabam sendo menores, corroborando Christensen (2001), se comparadas às daquelas especializadas, existentes no mercado; no entanto, acredita-se que o retorno ocorre devido à quantidade de atendimentos, que chega a uma média de 300 por dia.

De acordo com o que foi apresentado a respeito da Policlínica Jaguaribe, e considerando o que foi proposto por Christensen (2012), percebe-se que as características dos serviços prestados pelas policlínicas em geral, e a Policlínica Jaguaribe em particular, geraram disrupções no setor clínico de saúde, por meio de inovações disruptivas de baixo e novo mercado, caracterizando-se uma disrupção mista.

Inicialmente, devido a empresa possibilitar o acesso de uma fatia de mercado a serviços de atendimento clínico, ou seja, uma população que passou a ter condições de contratar um determinado serviço, quando antes não era possível, faz com que a Policlínica se caracterize como uma inovação disruptiva de novo mercado.

Todavia, devido as características apresentadas ao longo do seu funcionamento, a mesma passou a ser frequentada por pessoas pertencentes a camadas sociais mais elevadas, pois a qualidade superior e o preço baixa as atraiu, pois apesar de terem condições financeiras para pagar atendimento em outras clínicas, satisfazem-se com aquele prestado pela Policlínica, caracterizando-se, para este público, uma disrupção de baixo mercado.