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4. ESTUDO DE CASO: PROCESSO DE REALOJAMENTO

4.4. A DAPTAÇÃO DOS CENÁRIOS DE REALOJAMENTO À POPULAÇÃO A REALOJAR

4.4.2. O PÇÃO POR TIPOLOGIA DE FAMÍLIA

4.4.2.1. Idosos, pessoas isoladas, com necessidades especiais

Tal como ficou demonstrado nos Capítulos 1 e 3 do presente trabalho, foi possível identificar grupos de pessoas vulneráveis que necessitam de atenção especial aquando da elaboração e aplicação de políticas a diversos níveis. Tais grupos vulneráveis, especialmente relacionados com fenómenos de pobreza e exclusão social, abrangem entre outros, os idosos, as pessoas isoladas e ainda as pessoas com necessidades especiais (também identificadas como alvo de maior protecção social pela APSPBA).

O primeiro grupo, Grupo GI, foi definido pensando em questões directamente relacionadas com: • Fragilidades sentidas pela população mais idosa, que sofre os constrangimentos associados a

pensões baixas (de velhice e invalidez), o que lhes limita o poder de compra e, consequentemente, a qualidade de vida;

Valor das pensões (2008)

Adaptado de: http://www.bpipensoes.pt/xxvi

• Instabilidade associada a pessoas isoladas (com especial importância dos casos de viuvez). A opção pela sua inclusão como grupo específico justifica-se pelo facto de, mesmo que actualmente esse isolamento não seja um facto que provoque constrangimentos, poderá vir a ser numa idade mais avançada;

• Dificuldades sofridas pelos indivíduos com necessidades especiais, em especial os de mobilidade reduzida. A justificação pela inclusão destas pessoas neste grupo não carece de justificações muito elaboradas uma vez que é perceptível para o cidadão comum as dificuldades sentidas por esta camada social.

xxvi

O quadro que aqui se apresenta (Portaria nº 1514/2008 de 24 de Dezembro) pretende mostrar que de facto os níveis das pensões são baixos quando comparados por exemplo com o valor do salário mínimo nacional (€450, Decreto-Lei n.º 246 /2008 de 18 de Dezembro).

GI GII GIII GIV

9,9% 15,7% 49,9% 24,5%

Escalão por anos de carreira contributiva Valor mínimo da pensão (€) <15 anos 243,32 15 a 20 anos 271,40 21 a 30 anos 299,49 >31 anos 374,36

157 A tendência de envelhecimento demográfico xxvii (a população residente em habitação social apresenta um índice de envelhecimento médio que se aproxima dos 133% - ainda assim abaixo do valor médio do concelho do Porto que, em 2001, era de 143.1%) constitui um dos fenómenos mais marcantes da sociedade actual e que se prevê que se irá intensificar nas próximas décadas. As consequências deste envelhecimento demográfico são particularmente importantes nos sistemas de segurança social e de saúde. O aumento da esperança média de vida e a redução da taxa de natalidade e fecundidade terão consequências sobre as pensões de velhice, as quais são suportadas pela população activa. Por outro lado, as consequências destes fenómenos também têm consequências no financiamento do sistema de saúde uma vez que o envelhecimento tende a exigir cuidados médicos continuados (Martins et al., 2008).

A consideração das pessoas com necessidades especiais, de entre as quais se destaca a população com deficiência é, justifica-se porque, tal como pode ser lido no PNAIxxviii, «constitui o grupo cuja multiplicidade de problemas e défice histórico de respostas, torna necessário uma aposta premente e reforçada».

O facto de as políticas de regeneração dos bairros de habitação municipal do município do Porto se começarem a preocupar com estes cidadãos já é um passo importante (o reconhecimento de que os edifícios de habitação que, pela sua idade, não possuem infra-estruturas adequadas, por exemplo). Por outro lado, a existência de uma Provedoria Metropolitana dos Cidadãos com Deficiência e o actual empenhamento do município do Portoxxix nesta matéria mostra a importância da consideração deste grupo de pessoas nas acções de realojamento.

Estas preocupações motivaram a criação do grupo GI e, definido o ‘’alvo’’ de actuação, o raciocínio passa agora por encontrar soluções concertadas e adaptadas à realidade habitacional e económica. A actual situação económica do país, a situação de crescente endividamento dos municípios portugueses, as características das políticas de habitação, o actual parque habitacional, os preços praticados pelo mercado imobiliário (que torna inacessíveis determinados espaços às camadas da sociedade economicamente menos favorecidas), a rede de equipamentos sociais insuficiente, etc., leva a ponderar acções mais específicas, que permitam a conjugação de esforços e recursos.

É então num contexto de ‘’racionalidade’’ que se propõe a existência de políticas Area-Based, tidas, no contexto actual, como uma possibilidade de resposta à falta de recursos que permitam enfrentar as contrariedades existentes.

xxvii Ver Capítulo 1, pontos 1.3.1 e 1.3.5 xxviii PNAI 2006 - 2008

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Fig.4.7 – Grupo I: Idosos, pessoas isoladas, com necessidades especiais

A opção pela aplicação de políticas desse tipo justifica-se na óptica da gestão dos recursos efectivamente existentes.

Na proposta sintetizada no esquema anterior é possível verificar que se indica a actuação das políticas ao nível da freguesia. Isto porque, em primeiro lugar, se acredita que é a este nível que realmente os problemas são mais perceptíveis. Por exemplo, e de acordo com declarações proferidas a 03 de Abril de 2009xxx, num fórum dedicado à temática da habitação (por um presidente de uma junta de freguesia do Porto), é necessário descentralizar recursos e decisões, delegando poderes e competências que, quando controladas, são muito mais eficientes. Por outro lado, também foi referido que seria importante passar a trabalhar segundo uma lógica de parceria entre juntas de freguesia, Câmara Municipal e instituições locais. Das declarações proferidas foi perceptível a insinuação de abandono da população tanto pelo poder local como central e que, para além disso, é ao nível das freguesias que se deve actuar, pois é exactamente aí que se encontram as ferramentas capazes de melhorar o território. A actuação a este nível encontra fundamento nas relações de proximidade que se

159 estabelecem entre os diferentes actores e população. É um facto que a actuação baseada em políticas Area-Based pode gerar desigualdades entre diferentes territórios da cidade. Por isso nunca é demais referir que este tipo de actuação (a uma escala mais pequena) deve ser sempre complementar a acções mais alargadas, de forma a reduzir eventuais desequilíbrios.

Esta ‘’proposta’’ não prevê a deslocalização da população a realojar para outros locais para além da freguesia onde está inserida, uma vez que se acredita que é a melhor forma de reduzir o fenómeno de ‘’dupla violência’’ explicado no capítulo anterior deste trabalho (Gilbert, 2007).

Além disso, não se deve esquecer que a ligação com o bairro, o gosto pelo bairro etc., é mais forte na população mais idosa (e.g. Guerra, 2002).

A política Area-Based sugerida pretende-se que actue em três grandes sectores: a formação profissional, o ‘’empowerment’’ da população residente e a maximização dos recursos humanos e financeiros disponíveis na freguesia.

O principal objectivo será garantir a melhoria efectiva das condições de vida da população sinalizada no grupo GI. A grande questão é ‘’Como conseguir?’’. A resposta pode estar na própria população da freguesia. Se for possível desenvolver acções de formação profissional específicas, de acordo com as necessidades da freguesia, existe a possibilidade de preparar a população para o mercado de trabalho. O contexto actual, de crescente aumento da taxa de desemprego, pode aniquilar iniciativas mais gerais direccionadas para a formação profissional. Por isso, é necessário desenvolver outro tipo de acções de criação de emprego.

No caso específico da freguesia de Lordelo do Ouro, onde o BA se localiza, os dados são os seguintes:

Quadro 4.9 - Principais indicadores socioeconómicos

Fonte: INExxxi

Ao nível dos bairros de habitação social da freguesia, o valor da taxa de desemprego é aproximadamente o triplo do valor verificado para a freguesia. Significa então existência de maiores fragilidades para os que habitam em habitação municipal.

xxxi Ver anexos: Quadro A1

B. Aleixo (2001) Freguesia L.Ouro (2001) Freguesia L.Ouro (hab. Social) (1999)

Pop em idade activa 69,0% 68,2% 68,0%

Índice de envelhecimento 47,0% 112,2% 65,9%

Idosos 9,9% 16,8% 18,0%

ìndice de dependência de idosos 12,6% 24,6% 26,5%

Reformados/Pensionistas 18,6% 19,0% 18,9% Empregados 41,2% 43,9% 37,4% Desempregados 13,8% 5,1% 13,6% s/ actividade económica 45,0% 51,1% 46,2% Taxa de actividade 43,3% 48,9% 47,6% Taxa de desemprego 25,1% 10,4% 12,7%

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Mediante os resultados é possível verificar a existência de elevada percentagem de população com níveis de escolaridade muito baixos nos bairros de habitação social, indicando, dessa forma, a possibilidade de agravamento das situações de pobreza. Estes números tornam especial relevância quando se considera que a população dos bairros sociais tem características de uma população jovem. A população residente na freguesia apresenta um índice de envelhecimento bastante mais elevado do que os registados para nos bairros sociais. O que indica potenciais situações de vulnerabilidade para a população idosa ao nível da freguesia.

Assim sendo, é possível detectar as seguintes fragilidades/potencialidades: população muito jovem ao nível dos bairros de habitação municipal, sendo também a população que apresenta maiores níveis de desemprego; por outro lado, ao nível da freguesia, a população apresenta-se envelhecida. É exactamente para a população envelhecida que se deve olhar de forma multissectorial.

Uma possibilidade seria criar uma rede de cuidados continuados, e de assistência permanente a esta camada da população mais frágil. Para o conseguir seria interessante que as pessoas que integrassem essa rede fossem os próprios desempregados da freguesia, o que seria possível através e formação específica nessa área.

Até este momento apenas parte do problema apresenta uma possibilidade de resolução. É um facto que existe um défice de equipamentos de apoio para o grupo de pessoas que aqui se está a tratar. De acordo com informação relativa ao ano de 2008xxxii existiam na freguesia de Lordelo do Ouro os seguintes equipamentos:

Quadro 4.10 - Equipamentos disponíveis na freguesia de Lordelo do Ouro

Fonte: Martins et al. (2008)

Significa assim que é possível detectar alguns equipamentos que permitem melhorar as condições de vida da população do grupo GI.

xxxii Martins et al. (2008). Anexo A – Rede Local de Equipamentos

Unidades de

Funcionamento Capacidade instalada/nº utentes

Centro de Convívio 4

<

Centro de Dia 3

Serviço de Apoio Domiciliário (Idosos) 2

Lar para Idosos 1

Centro de actividades ocupacionais

(pessoas adultas c/ deficiência) 1

<<

161 No entanto, no grupo de pessoas adultas com deficiência que se detectam as maiores carências. Os dados disponíveis mostram que a capacidade de oferta de equipamentos para estas pessoas é menor do que o número de utentes (o número de utentes é cerca de 25% superior à capacidade instalada). Existe uma série de serviços e equipamentos para pessoas adultas com deficiência ou para pessoas doentes do foro mental/psiquiátrico totalmente ausentes na freguesia de Lordelo do Ouro tais como: lar residencial, transporte de pessoas com deficiência, fórum sócio – ocupacional e unidade de vida protegida.

Mediante o que foi apresentado pensa-se ser legítimo fazer uma crítica ao processo que actualmente decorre na freguesia de Lordelo do Ouro, referente à demolição e consequente realojamento da população do BA.

Como foi mostrado em pontos anteriores deste mesmo capítulo, não foi previsto que o FEII tivesse os seus activos dirigidos (directamente) para quaisquer acções de índole social, nomeadamente a criação de equipamentos sociais.

Pensa-se que, para alcançar a tão esperada requalificação social a que a proposta se refere, deverão ser criados equipamentos de apoio às pessoas mais fragilizadas. É exactamente aqui que as acções de planeamento preventivo devem actuar. O cenário de evolução demográfica que se vem traçando, os problemas de toxicodependência, os problemas de desemprego, etc., são motivos mais do que suficientes para fazer actuar acções centradas na população e desenvolvidas por diversos actores e através do contacto directo com a população. O desenvolvimento das acções carece de ser delineado segundo estratégias de proximidade, através de um planeamento com uma componente de ‘’trabalho de campo’’ muito forte.

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