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Igreja de São Gião da Nazaré (Do século V ao século XII)

Advertência:

O facto da Igreja de São Gião se encontrar coberta por uma protecção não nos permitiu visualizar os seus alçados.

Para obter uma imagem do seu aspecto exterior tivemos que recorrer a outras fontes de informação fotográfica.

Neste sentido alguns documentos fotográficos apresentados são provenientes do espólio de alguns particulares e de algumas entidades públicas.

Neste Anexo serão sempre identificadas as proveniências dos documentos apostos.

Todas as fotografias que foram tiradas pelo autor deste trabalho serão identificadas como: (Foto: Carlos Fidalgo)

1 – A arquitectura de São Gião 1.1 – Os capiteis de São Gião

Segundo Borges Garcia o capitel de São Gião é um elemento visigótico porque «a escultura, embora rude, não há dúvida que é constituída por folhas de acanto, e por isso cremos tratar-se de elemento visigótico.» GARCIA (1962:243)

Theodor Hauschild refere que na igreja de São Gião «os capitéis são executados com simplicidade semelhante (estilizadas): por cima de um bocel há duas filas de folhas; caules e folhas estão representados apenas sob formas planas e caneladas.

Enquanto aqui predominam formas claras, de tradição romana…» HAUSCHILD (1986:168)

Como verificamos, as folhas de acanto já surgiam nas composições vegetalistas antes e após o período visigótico como é exemplo o capitel representado na foto nº 2 e na foto nº 5, o primeiro identificado com o período pré-romano, o segundo como pertencendo

Foto: 01 – Capitel da igreja de São Gião. (Foto de Carlos Fidalgo)

Foto: 02 – Capitel pré-romano. Église St. Pierre de Montmartre. (Foto retirada do livro: Documents de Sculpture Française. Paul Vítry and Gaston Brière, Edition Arno – Press, New York, 1969, PL – III)

Foto: 03 – Coluna da igreja de São Gião. Em relação à linha vertical pode verificar- se o maior diâmetro da zona central da coluna, em relação aos extremos superior e inferior.

(Foto de Carlos Fidalgo)

Foto: 04 – Colunas com capitel de São Frutuoso de Montélios.

Note-se a diferença de espessura do capitel em relação à coluna que também apresenta uma ligeira forma oval.

(Foto de Carlos Fidalgo)

Apesar desta questão sobre a origem dos capitéis com coluna de São Gião, consideramos que após a nossa intensa pesquisa não encontrámos uma tipologia de capitel idêntica à de São Gião.

Mesmo os que estão referenciados como capitéis visigóticos apresentam uma maior protuberância das folhas e caules e apenas em São Frutuoso de Montélios aparece a base e o fuste construídos a partir de uma só peça.

Quanto ao capitel ou capitéis de São Frutuoso, atribuídos à época visigótica, as folhas e os caules possuem uma leitura mais proeminente.

Apesar das questões que também envolvem a data de edificação de São Frutuoso, 1 podemos apontar os capitéis da mesma como exemplo comparativo com São Gião. (ver foto nº 04)

Foto: 05 – Capitel classificado como sendo do século IV, proveniente da Capela de Nossa Senhora da Guia, Beja.

(Foto: Catálogo do Núcleo Visigótico, Museu Regional de Beja.)

Existem algumas semelhanças no capitel apresentado na foto nº5, nomeadamente na simplicidade de apresentação dos elementos vegetalistas, assim como a sua geometria se assemelha, em alguns pormenores, aos de São Gião.

No nosso entendimento, a particularidade das colunas existentes em São Gião reside no facto de serem monolíticas, i.e., a base o fuste e o capitel estão integradas apenas numa única peça de calcário com 1.51 mts de altura. (ver foto nº 03)

Após analisarmos o local e termos tirado as medidas ao perímetro da coluna, constatámos que a mesma possuía os seguintes valores:

Base = 0.96 mts.

Centro da Coluna = 0.94 mts. Inicio do capitel = 0.86 mts.

Topo do capitel. (Secção Quadrada) = 0.96 mts.

Conforme se pode observar pelas medidas apresentadas, a coluna de São Gião possui uma forma ligeiramente oval, onde os elementos vegetalistas, existentes no capitel, se encontram “embutidos” na coluna, o que nos permite assumir que as folhas de acanto

Normalmente as colunas são constituídas pelos elementos que já mencionámos, mas aqui, apesar de se identificar a zona do capitel, a separação entre os vários elementos constituintes da coluna é assegurada pelo bocel, existindo um localizado na base da coluna e outro na transição do falso fuste para o capitel.

A descrição do capitel de Beja refere que se trata de um «capitel corintizante ostenta duas coroas de folhas de acanto em que se nota ainda o enrolamento clássico. Em três dos quatro campos centrais do cesto inscrevem-se outras tantas rosetas em final de voluta.» [5]

Pela comparação que fizemos dos tipos de capitel aqui representados e com outros observados na vasta bibliografia que consultámos, pensamos que os capitéis de São Gião se podem identificar com o capitel apresentado na imagem nº5, embora não se encontre qualquer roseta nem o “enrolamento”, a que se faz menção no parágrafo anterior.

Contudo, a geometria das folhas e caules entre os dois capiteis, juntamente com a falta de volume dos motivos vegetalistas representados, leva-nos a considerar que os capitéis de São Gião poderão ter uma datação aproximada àquela que foi atribuída ao capitel representado na foto nº5, século IV. O facto de serem monolíticos pode também contribuir para uma interpretação de um reaproveitamento de material anterior.

Bibliografia:

GARCIA, Eduíno Borges. (1962) - Achados Arqueológicos em Famalicão da Nazaré. Do paleolítico ao Período Árabe. Publicações do XXVI Congresso Luso-Espanhol para

o Progresso das Ciências, Porto, p. 243.

HAUSCHILD, Theodor.(1986) - Arte Visigótica, História da Arte em Portugal, 1, Do

Paleolítico à Arte Visigótica, Lisboa, Publicações Alfa.

Registos Fotográficos:

01 – Capitel da igreja de São Gião da Nazaré. (Foto: Carlos Fidalgo.)

02 – Capitel pré-romano da Église St Pierre de Montmartre. In VÍTRY, Paul and BRIÉRE, Gaston, (1969) - Documents de Sculpture Française, Edition Arno – Press, New York, PL – III)

03 – Coluna da igreja de São Gião. (Foto: Carlos Fidalgo)

04 – Colunas com capitel de São Frutuoso de Montélios. (Foto: Carlos Fidalgo)

05 – Capitel do Século IV. In Catálogo do Núcleo Visigótico, Museu Regional de Beja, Edição Subsidiada por: Fundação Calouste Gulbenkian; Fundação Oriente; Somincor –

1.2 – Elementos arquitectónicos e escultóricos de São Gião da Nazaré

Antes de iniciarmos a apresentação de alguns elementos arquitectónicos e escultóricos existentes em São Gião, considera-se pertinente ressalvar que, nas datações das peças, será avançado um período cronológico entre a época visigótica e o final das incursões muçulmanas, verificadas nesta zona ainda durante o século XII.

No estudo comparativo que fizemos entre a Igreja de São Gião e outras igrejas, a maior parte dos autores depara-se com o problema da datação exacta, não só do edifício em si mas dos elementos escultóricos que existem na sua composição interior.

Tomou-se como exemplo o trabalho de Luis Caballero Zoreda e Fernando Sáez Lara na igreja de Santa Lúcia Del Trampal, Alcuéscar (Cáceres), porque verificámos que existem muitas semelhanças nas formas escultóricas existentes entre São Gião e a igreja espanhola.

Durante os trabalhos de prospecção de arqueologia, os autores concluem que: «Las inscripciones romanas se fechan en el siglo II-III, mientras que el edifício se há situado hasta ahora en el s. VII y hoy lo fechamos a fines del s. VIII o en el s. X. No parece existir ningún nexo cronológico entre tan amplio compás cronológico. (…) Los arcos de herradura tienen un peralte de un tercio del radio, como los arcos de las iglesias consideradas visigodas. Tienen el mismo trazado de los arcos mayores de Melque, aunque, de seguir las normas de los de esta iglesia toledana, los de Sta. Lúcia, por su tamaño, deberían ser aún más peraltados. También se asimila por su metrologia, distribución de unidades y modulación, a las iglesias de Melque, asturianas y burgalesas. Creemos posible que tuviera una torre-campanario para la que no encontramos paralelos hispánicos anteriores al siglo IX/X – considerando la de Nazaré de esta cronologia.» ZOREDA e LARA (1999:326)

Parece-nos que este problema se identifica com a questão da igreja de São Gião, que, embora nunca tenha sido estudada tão exaustivamente como esta em Espanha, possuí todos estes problemas temporais que a colocam também numa lacuna cronológica como a referida pelos autores espanhóis.

De referir que Zoreda estudou também a igreja de São Gião, mantendo as mesmas dúvidas sobre a sua datação, tendo concluído que esta igreja, com base na análise dos vários elementos estudados, «implica necesariamente la contextualización de Nazaré en la arquitectura altomedieval peninsular, donde estas nuevas características amplían sin

techumbre de madera), el iconostasis y la tribuna occidental no facilitan su inclusión en el grupo considerado visigodo del siglo VII. Muchos de estos elementos se encuentran, por el contrário, en la arquitectura del prerromânico asturiano del siglo IX.

Por otro lado, tampoco se puede desprender una cronología absoluta para este primer momento, donde, de nuevo, la tipologia arquitectónica y decorativa vuelven a ser el instrumento de datación determinante…» ZOREDA (2003)

Aceita-se o exposto por Zoreda, indo também de encontro ao que defendemos no I Volume, sobre a importância do estudo dos elementos escultóricos para uma datação da igreja de São Gião e, consequentemente, uma maior sustentação nas questões do povoamento daquela zona durante o período em causa, século V a XII.

Neste sentido, faremos nesta fase uma apresentação de alguns elementos escultóricos e arquitecturais da igreja de São Gião, mantendo o intervalo cronológico entre o século VII e XII, o primeiro coincidindo com a eventual chegada dos visigodos a esta zona e o segundo período com as últimas incursões muçulmanas nesta zona, 1184 e 1195, conforme referimos no I Volume, ponto 3.1.

Bibliografia:

ZOREDA, Luis Caballero e LARA, Fernando Sáez, (1999) – La Iglesia Mozárabe de Santa Lucía del Trampal, Alcuéscar, (Cáceres), Mérida, Edición: Junta de Extremadura, Consejería de Cultura.

ZOREDA, L. C., SÁINZ, F.A., AGUDO, Utrero, M. de los A. (2003) – São Gião de Nazaré – Un tipo original de iglesia, Arqueologia de la Arquitectura, Nº2, pp. 75 a 79.

Ficha: 01

Instituição/Proprietário: Ministério da Cultura. Local: Igreja de São Gião.

Freguesia: Famalicão. Concelho: Nazaré. Distrito: Leiria.

Super-Categoria: Arquitectura. Categoria: Estrutural e Funcional Denominação: Iconóstase.

Período Cronológico: séc. VII a X.

Função/Uso: Parede divisória entre o cruzeiro e a nave central. Estado de Conservação: Razoável.

Foto: 06 – Vista da Iconóstase de São Gião tirada da Nave Central. (Foto: Carlos Fidalgo)

Observações: Segundo Meyrelles de Souto, «a iconóstase é uma espécie de divisória transversal das igrejas coptas e gregas, com o significado literal de “lugar de ícones”. (…) Ela fecha o santuário propriamente dito, heikal, e protege o altar onde o celebrante (pope) exerce seu ministério e realiza os sacros mistérios, furtando-se assim aos olhares dos profanos fora dos actos litúrgicos. (…) Antigamente constituída por tríade de arcos justapostos, nas modernas esse pormenor arquitectónico e decorativo, ritual, é substituído por armação de madeira, recamada de ícones.» SOUTO (1969:13)

Ficha: 02

Instituição/Proprietário: Ministério da Cultura. Local: Igreja de São Gião.

Freguesia: Famalicão. Concelho: Nazaré. Distrito: Leiria.

Super-Categoria: Arquitectura. Categoria: Escultura.

Denominação: Imposta decorada. Conjunto de palmas ou ciprestes. Período Cronológico: Desconhecido.

Função/Uso: Ornamental.

Estado de Conservação: Razoável.

Foto: 07 – Pormenor das três palmas ou cipreste existentes na zona do transepto. (Foto: Carlos Fidalgo)

Observações: Segundo Borges Garcia estas palmas ou ciprestes «lembram o martírio (palmas) ou enterramento (ciprestes). Lindo desenho talhado em bisel em material romano de aproveitamento.» (GARCIA:1966)

Bibliografia:

GARCIA, Eduíno Borges, ALMEIDA, Fernando de. (1966) - S. Gião: Descoberta e Estudo Arqueológico de um Templo Cristão -Visigótico na Região da Nazaré, Lisboa, Separata da revista Arqueologia e

Ficha: 03

Instituição/Proprietário: Ministério da Cultura. Local: Igreja de São Gião.

Freguesia: Famalicão. Concelho: Nazaré. Distrito: Leiria.

Super-Categoria: Arquitectura. Categoria: Escultura.

Denominação: Imposta decorada. Quadrifólios e SS. Período Cronológico: Desconhecido.

Função/Uso: Ornamental.

Estado de Conservação: Razoável.

Foto: 08 – Imposta – ábaco decorado com Quadrifólios e ”SS” encadeados. (Foto: Carlos Fidalgo)

Ficha: 04

Instituição/Proprietário: Ministério da Cultura. Local: Igreja de São Gião.

Freguesia: Famalicão. Concelho: Nazaré. Distrito: Leiria.

Super-Categoria: Arquitectura. Categoria: Escultura.

Denominação: Imposta decorada. Período Cronológico: Desconhecido. Função/Uso: Estrutural e ornamental. Estado de Conservação: Mau.

Foto: 10 – Imposta no lado NE da Iconóstase. (Foto: Museu Dr. Joaquim Manso. s.d.)

Foto: 09 – Imposta no lado NE da Iconóstase. (Foto: Carlos Fidalgo)

Observações:

Figura: 01 - Uma imposta parecida com a que apresentamos agora encontra-se na Igreja de Santa Lúcia Del Trampal, Alcuéscar (Cáceres).

Figura 02 – Composição gráfica dos motivos vegetalistas que se encontram na iconóstase de São Gião.(Composição: Adriano Monteiro, Eng.º.)

Bibliografia:

ZOREDA, Luis Caballero e LARA, Fernando Sáez, (1999) – La Iglesia Mozárabe de Santa Lucía del Trampal, Alcuéscar, (Cáceres), Mérida, Edición: Junta de Extremadura, Consejería de Cultura.

Figuras:

01 – in: ZOREDA, Luis Caballero e LARA, Fernando Sáez, (1999) – La Iglesia Mozárabe de Santa Lucía del Trampal, Alcuéscar, (Cáceres), Mérida, Edición: Junta de Extremadura, Consejería de Cultura. , p.137.

Ficha: 05

Instituição/Proprietário: Ministério da Cultura. Local: Igreja de São Gião.

Freguesia: Famalicão. Concelho: Nazaré. Distrito: Leiria. Super-Categoria: Arquitectura. Categoria: Escultura. Denominação: Mísula.

Período Cronológico: Desconhecido. Função/Uso: Estrutural e ornamental. Estado de Conservação: Razoável.

Foto: 11 – Mísula localizada na zona do Cruzeiro, acima da Iconóstase. A existência desta peça pode justificar a existência de um torreão na zona do cruzeiro uma vez que a sua decoração e/ou localização deveria ter uma continuidade arquitectónica, nomeadamente de apoio de uma estrutura.

Ficha: 06

Instituição/Proprietário: Particular. Local: Igreja de São Gião.

Freguesia: Famalicão. Concelho: Nazaré. Distrito: Leiria. Super-Categoria: Arquitectura. Categoria: Escultura. Denominação: Mísula.(Fragmento) Período Cronológico: Desconhecido. Função/Uso: Estrutural e ornamental. Estado de Conservação: Razoável.

Ficha: 07

Instituição/Proprietário: Ministério da Cultura. Local: Igreja de São Gião.

Freguesia: Famalicão. Concelho: Nazaré. Distrito: Leiria. Super-Categoria: Arquitectura. Categoria: Escultura. Denominação: Imposta.

Período Cronológico: Desconhecido. Função/Uso: Estrutural e ornamental. Estado de Conservação: Razoável.

Foto: 13 – Imposta. Está a ser utilizada para tapar um vão que dava para SE. Existem algumas semelhanças com a da igreja de Santa Lucía del Trampal, Alcuéscar, (Cáceres).

(Foto: Carlos Fidalgo)

Bibliografia:

ZOREDA, Luis Caballero e LARA, Fernando Sáez, (1999) – La Iglesia Mozárabe de Santa Lucía del Trampal, Alcuéscar, (Cáceres), Mérida, Edición: Junta de Extremadura, Consejería de Cultura.

Figuras:

03 – in: ZOREDA, Luis Caballero e LARA, Fernando Sáez, (1999) – La Iglesia Mozárabe de Santa Lucía del Trampal, Alcuéscar, (Cáceres), Mérida, Edición: Junta de Extremadura, Consejería de Cultura. p.140.

1.3 – Análise Arquitectónica de São Gião

Figura 04 – Composição estratigráfica da iconóstase de São Gião com as impostas. (Autor: Adriano Monteiro).

Figura 05 – Planta do piso 0 da Igreja de São Gião. Indicação da localização dos elementos, escultóricos, funcionais e arquitectónicos.

Figura 06 – Perspectiva conjectural da Igreja de São Gião. (Autor: Adriano Monteiro e Carlos Fidalgo).

Nesta perspectiva conjectural da Igreja de São Gião, mostra-se a iconóstase, embora consideremos que esse elemento deverá ter sido construído posteriormente à edificação do transepto e da ábside central.

Caballero Zoreda defende que a diferença nos materiais aplicados é notória nas várias fases de construção em relação às impostas da iconóstase. É muito explícita a sua opinião, referindo que «…entre las cuales situamos las impostas de origen romano del arco de triumfo que separa ábside y transepto y los cimacios y las comnas e impostas norte del arco septentrional de los arcos dobles del transepto. Un segundo grupo, de

Conforme defendemos na figura 05,a igreja primitiva deveria ter a tipologia apresentada, constituída por uma nave central, um transepto e uma ábside central.

Estamos de acordo com o exposto por Luís Fontes, quando refere que a «construção do edifício original, em zona desaterrada (…) rompeu edificações pré existentes.» FONTES (2003)

De facto, no lado setentrional da nave, conforme já referimos, existe uma estrutura construtiva organizada, mas que no nosso entendimento não faria parte da estrutura primitiva “desta” igreja que se encontra ainda parcialmente edificada.

Quando nos referimos a essa zona, considerámos que o aparelho construtivo denotava uma diferença substancial na sua organização, que nos levou a pensar e a sustentar serem fundações de um edifício mais antigo que o actual, indo, assim, ao encontro do referido por Luís Fontes.

Foto: 14 – Vista da zona escavada por Luís Fontes, onde se pode verificar os anexos referidos, e uma zona central de passagem. (Foto: Carlos Fidalgo)

A questão coloca-se quando se verifica a diferença de cota existente entre a nave central e esta zona, cerca de 0.58 mts, abaixo, o que, no nosso entender, não se torna impeditivo, mas dificultaria o acesso directo à nave pela porta que se encontra tapada a partir desta zona.

Defendemos a existência de um vão, que neste momento se encontra tapado, que faria a ligação entre a nave central e o exterior, funcionando desta forma como um acesso alternativo ao interior da igreja.

Foto: 15 – Vão de porta tapado, que deveria dar acesso aos anexos laterais da igreja. (Foto: Carlos Fidalgo)

Foto: 16 – O mesmo vão de porta, visto do anexo. O traço a vermelho define o piso interior da nave central. (Foto: Carlos Fidalgo)

Uma outra questão que se coloca é a eventual existência de uma tribuna, uma espécie de coro – alto, que deveria existir na zona da entrada na nave central, segundo indicação de Helmut Schlunk.

Este autor apresenta uma perspectiva da igreja de São Gião, com a qual não estamos completamente de acordo. Por tal facto, tentámos justificar essa diferença de opinião

A’ A B’ B C’ C

Esta mísula Cencontra-se no lado C’oposto à porta

Este balcão não deve ter existido Schlunk, deve ter sido influenciado pela existência das mísulas BB’que estão sobre a porta da entrada. Tecnicamente a haver um balcão, as mísulas estariam nos pontos AA’como vimos na igreja do mosteiro de Roriz - Santo Tirso, e não nos pontos BB’como vemos em S. Gião.

A sua colocação deve ter sido para outro fim, colocação de imagens por exemplo, já que elas aparecem igualmente em CC’e não tiveram esse fim.

Além da janela Gexistem vestígios de uma Janela Dna parede do lado Norte e outra Edo lado Poente o que pressupõe a existência de uma quarta Fdo lado Sul e portanto a existência de uma torre que Schlunk não regista.

O colorido é nosso G

D F

E

Figura: 07 - Igreja de São Gião. Reconstituição em perspectiva, segundo Schlunk, 1971. In 2.000 anos de Arte em Portugal, de Paulo Pereira, p. 119, ed. Temas e Debate, Lisboa, 1999. (As parte que aparecem a colorido é da nossa autoria: Adriano Monteiro e Carlos Fidalgo)

Relativamente à indicação da mísula na zona do cruzeiro, Schlunk coloca-a no lado oposto onde ela efectivamente está. (cf.: Ficha nº5, deste Anexo)

Quanto à tribuna, parece-nos não ser muito provável a sua existência por dois motivos: o acesso e o facto de diminuir, em cerca de 0.15mts, o vão de porta da entrada na nave central.

Também Caballero Zoreda questiona a solução de Schlunk, quando refere que: «La hipótesis de Schlunk (1971) respecto a una iglesia conventual com espacios de uso diferenciados y jerarquizados arquitectónicamente necesita una revision: auque hallamos estos elementos en otras iglejas (iconostasis de Santullano y La Nave, tribuna de Quintanilla, Lillo, Lena o Valdeviós, entre otros), no los encontramos combinados como en Nazaré.» ZOREDA (2003)

Podemos constatar, através da colocação de uma vara de madeira, certamente menos larga que um eventual lintel de madeira, a diminuição do vão de entrada na nave central.

Foto: 17 – Porta de entrada na nave central com a régua de madeira apoiada nas mísula/cachorros que, segundoSchlunk, serviriam de apoio à estrutura que suportava a tribuna. (Foto: Carlos Fidalgo)

Parece-nos que esta solução deveria contemplar uma porta cuja cota de soleira fosse mais baixa, o que não sabemos, ou que deveriam existir vestígios de apoios laterais para a sustentação da eventual tribuna.

Quanto ao acesso, concordamos com a teoria de Caballero Zoreda quando defende que: « litúrgicamente, la tribuna, la habitación alta y los nichos requieren una interpretaçión funcional así como la consecución de unos paralelos. Los accesos a la tribuna y la habitación este se desconocen, no se ha constatado ninguna escalera o estructura que facilitase el aceso a estos vanos, por lo que podemos pensar en escaleras de madera. El enlucido tanto interior como exterior de la puerta norte impide conocer su momento secuencial, como ocurre igualmente en el vano sur.» ZOREDA (2003)

Pelo acima exposto, considera-se que a probabilidade da existência de uma tribuna parece-nos muito pouco provável, uma vez que, após a demonstração da altura a que

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